Após quinze anos no poder, Getúlio estava pronto para retornar a São Borja, sua cidade natal. Durante o longo tempo em que permaneceu à frente dos destinos da nação, o país sofreu transformações significativas — políticas, econômicas e sociais. Os setores da manufatura mais tradicional assistiram à expansão do parque industrial de base, representado em particular pela área metal-mecânica. A vasta obra de regulamentação das relações entre capital e trabalho serviu como estratégia de sustentação política do regime e, pela força da propaganda, foi anunciada como concessão benevolente do Estado às classes trabalhadoras.
Lira Neto. Getúlio: do governo provisório à ditadura do Estado Novo (1930–1945). São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 490 (com adaptações).
Tendo o fragmento de texto acima como referência inicial, julgue o item seguinte, relativo à Era Vargas.
Administrar conflitos de classe e cooptar lideranças operárias, prática conhecida como peleguismo, constituíram aspectos fundamentais do regime varguista no contexto da implantação dos direitos sociais no Brasil. Contudo, a recusa de Getúlio em legitimar-se por meio do apoio popular, sobretudo das camadas mais pobres, fez dele refém das elites que a Revolução de 1930 visava, em tese, combater.
- A) Certo
- B) Errado
Resposta:
A alternativa correta é letra B) Errado
Gabarito: ERRADO
Após quinze anos no poder, Getúlio estava pronto para retornar a São Borja, sua cidade natal. Durante o longo tempo em que permaneceu à frente dos destinos da nação, o país sofreu transformações significativas — políticas, econômicas e sociais. Os setores da manufatura mais tradicional assistiram à expansão do parque industrial de base, representado em particular pela área metal-mecânica. A vasta obra de regulamentação das relações entre capital e trabalho serviu como estratégia de sustentação política do regime e, pela força da propaganda, foi anunciada como concessão benevolente do Estado às classes trabalhadoras.
Lira Neto. Getúlio: do governo provisório à ditadura do Estado Novo (1930–1945). São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 490 (com adaptações).
Tendo o fragmento de texto acima como referência inicial, julgue o item seguinte, relativo à Era Vargas.
- Administrar conflitos de classe e cooptar lideranças operárias, prática conhecida como peleguismo, constituíram aspectos fundamentais do regime varguista no contexto da implantação dos direitos sociais no Brasil. Contudo, a recusa de Getúlio em legitimar-se por meio do apoio popular, sobretudo das camadas mais pobres, fez dele refém das elites que a Revolução de 1930 visava, em tese, combater.
Ora, o excerto citado no enunciado é mais do que suficiente para desmontar o item proposto. No trecho, Lira Neto expõe que: "A vasta obra de regulamentação das relações entre capital e trabalho serviu como estratégia de sustentação política do regime e, pela força da propaganda, foi anunciada como concessão benevolente do Estado às classes trabalhadoras". Ou seja, a implantação dos direitos sociais no Brasil em torno do surgimento de um operariado foi uma estratégia fundamental de cooptação das grandes massas para a base de apoio do varguismo - o chamado discurso trabalhista. Portanto, não faz o menor sentido, à luz do próprio enunciado, dizer que Vargas recusou o apoio popular na sua manutenção no poder.
De toda forma, é mister esclarecer os pontos essenciais do item. A noção de desenvolvimento nacional enunciada por Vargas estava diretamente atrelada à industrialização e à modernização geral do Estado, o que implicaria na transformação das cidades brasileiras - fazendo com que o país vivesse seu primeiro grande surto de urbanização - e demandaria todo um esforço de formação de um trabalhismo brasileiro. Principalmente a partir da guinada autoritária do Estado Novo em 1937, a questão da industrialização foi o centro de grande parte das políticas públicas elaboradas pelo Estado brasileiro no período. Entre essas dificuldades e desafios, o presidente viu uma possibilidade de cravar a sua sustentação política lançando-se como o grande artífice do trabalhismo e protetor das grandes massas. Cooptava-se o novo operariado brasileiro ao mesmo tempo em que o exortava à missão desenvolvimentista: partiam da figura de Getúlio Vargas o culto ao trabalho e as "concessões" de direitos. Ou seja, comprometia-se o povo com a causa da industrialização ao mesmo tempo em que esse novo operariado passava a integrar a base de sustentação popular de um regime autoritário.
Os avanços da legislação trabalhista desse período ecoavam lutas antigas, ainda da Primeira República, mas foram apresentados às massas como concessões pessoais do presidente. Com uma propaganda massiva e com a cooptação dos sindicatos, Vargas se colocava como o mártir dos trabalhadores brasileiros, aquele único capaz de agir em favor das massas e dos desvalidos. Ainda que os sindicatos tenham ampliado as possibilidade de representação dos trabalhadores, o peleguismo organizado pelo Estado limitava o grau de contestação dessas organizações, que acabavam sendo tragadas para as bases de apoio do próprio regime, deixando em segundo plano a missão de representação dos interesses dos trabalhadores. A propaganda dava ao presidente capacidades simbólicas muito expressivas: o sacrifício presidencial em nome da causa, exortando os trabalhadores a se unirem a ele num grande esforço. Com medidas como essa, Vargas confundia as conquistas sociais com a sua vontade individual ao mesmo tempo em que organizava os trabalhadores em sindicatos que lhe eram fiéis. Isso foi fundamental para manter as estruturas ditatoriais ao mesmo tempo em que o país passava por grandes transformações sociais e econômicas sem sofrer maiores abalos contestatórios. Portanto, item ERRADO.
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