Em 1968 surge uma coletânea de artigos, Brasil em Perspectiva, na qual a cientista política M. do Carmo C. de Souza começa a por em dúvida uma “noção geralmente aceita”: a de que o movimento de 1930 teria sido um embate entre latifúndio (e estruturas agrárias) e indústria (e estruturas urbanas nascentes), “à semelhança da revolução burguesa no desenvolvimento capitalista europeu”. Um capítulo de Boris Fausto sobre “A revolução de 1930” discute as interpretações dessa revolução pensando-as “dentro de uma dinâmica própria” do movimento e de suas contradições. Este autor endossa a explicação de Francisco Weffort sobre um “Estado de compromisso” criado depois de 1930 e que perduraria por toda a década.
[Vavy Pacheco Borges, Anos trinta e política: história e historiografia.
Em Marcos Cezar de Freitas (org.).
Historiografia brasileira em perspectiva. Adaptado]
A categoria “Estado de compromisso” significa que
- A) a ordem nascida em 1930 atendia, preferencialmente, aos interesses das classes populares e da classe média rural.
- B) o Estado não representaria nenhum setor da sociedade e o governo assumiria o papel de árbitro das lutas políticas.
- C) as instituições estatais são frágeis e as principais decisões são tomadas no âmbito do espaço privado, caso das associações de classe.
- D) o Estado brasileiro, que até 1930 defendia a burguesia cafeeira, alinhou-se aos interesses da burguesia comercial exportadora.
- E) a governabilidade na Era Vargas foi possível em função da aliança entre as classes médias urbanas e a burguesia financeira.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) o Estado não representaria nenhum setor da sociedade e o governo assumiria o papel de árbitro das lutas políticas.
Gabarito: ALTERNATIVA B
Em 1968 surge uma coletânea de artigos, Brasil em Perspectiva, na qual a cientista política M. do Carmo C. de Souza começa a por em dúvida uma “noção geralmente aceita”: a de que o movimento de 1930 teria sido um embate entre latifúndio (e estruturas agrárias) e indústria (e estruturas urbanas nascentes), “à semelhança da revolução burguesa no desenvolvimento capitalista europeu”. Um capítulo de Boris Fausto sobre “A revolução de 1930” discute as interpretações dessa revolução pensando-as “dentro de uma dinâmica própria” do movimento e de suas contradições. Este autor endossa a explicação de Francisco Weffort sobre um “Estado de compromisso” criado depois de 1930 e que perduraria por toda a década. [Vavy Pacheco Borges, Anos trinta e política: história e historiografia. Em Marcos Cezar de Freitas (org.). Historiografia brasileira em perspectiva. Adaptado]
- A categoria “Estado de compromisso” significa que
No pensamento de Boris Fausto, o Estado de compromisso seria uma resultante do colapso da elite cafeeira num momento em que nenhum outro grupo era forte o suficiente para assumir o poder de maneira solitária e comandar os rumos do país. Estabelecia-se, assim, um certo vácuo de poder ao mesmo tempo em tínhamos regionalismos bastante atuantes. Com a ascensão de uma nova classe dirigente sem vínculos diretos de representação (o governo resultante da Revolução de 1930 não tinha esse contato direto), foi necessária a formação de um amplo compromisso entre as frações da sociedade e o novo governo para criar alguma forma de legitimação em meio ao vácuo de poder. Sem representar propriamente nenhuma força social bem delimitada e de feições claras e sem forças para uma imposição cabal de vontades, caberia ao Estado o papel de intermediador geral dos conflitos e de construtor de um certo direcionamento maior para o país. Assim, observemos as alternativas propostas.
- a) a ordem nascida em 1930 atendia, preferencialmente, aos interesses das classes populares e da classe média rural.
Como dito acima, o governo de 1930 não tinha essa identificação clara com nenhuma classe; bem como o mundo rural ainda estava dominado pela decadente burguesia cafeeira. Alternativa errada.
- b) o Estado não representaria nenhum setor da sociedade e o governo assumiria o papel de árbitro das lutas políticas.
ALTERNATIVA CORRETA.
- c) as instituições estatais são frágeis e as principais decisões são tomadas no âmbito do espaço privado, caso das associações de classe.
Como colocado acima, não havia nenhum grupo social forte o suficiente para impor a sua vontade. A Revolução de 1930 iniciou um movimento geral de centralização político-administrativa, mas esse percurso foi permeado por esse Estado de compromisso, que necessitava da dinâmica das elites regionais para equilibrar a transição política do país. Alternativa errada.
- d) o Estado brasileiro, que até 1930 defendia a burguesia cafeeira, alinhou-se aos interesses da burguesia comercial exportadora.
Ora, a orientação maior da produção cafeeira era exatamente a agroexportação. Não se pode entender um sem a dimensão comercial do outro. Além disso, a Revolução de 1930 emergiu no momento de colapso dessas estruturas, sendo necessário tanto dialogar com elas quanto equilibrar as outras forças disponíveis no cenário brasileiro. Alternativa errada.
- e) a governabilidade na Era Vargas foi possível em função da aliança entre as classes médias urbanas e a burguesia financeira.
Em 1930, o Brasil ainda estava distante de ter uma classe média urbana bem organizada e numerosa para se poder pensar em um governo baseado nela. Muito pelo contrário, o país herdado da Primeira República era profundamente rural e dependente da agroexportação e as cidades só cresceriam de maneira mais expressiva ao longo daquela década. A burguesa financeira, por sua vez, também tinha um poder muito restrito e sofrera perdas expressivas com a desorganização econômica brasileira decorrente da depressão mundial. Alternativa errada.
Além de se pensar no próprio Estado de compromisso, poderia o candidato se guiar pelas forças políticas existentes em 1930 para ir eliminando as alternativas erradas. Todas elas coincidiam na insistência de uma descrição muito equivocada sobre o cenário político do período, elencando forças políticas de maneira bastante desorganizada. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA B.
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