O Estado Novo foi arquitetado como um Estado autoritário e modernizador que deveria durar muitos anos. No entanto, seu tempo de vida acabou sendo curto, pois não chegou a 8 anos.
O que teria ocorrido?
Os problemas do regime resultaram mais na inserção do Brasil no quadro das relações internacionais do que das condições políticas internas do país.
(Boris Fausto, História do Brasil, p. 326.)
Acerca da inserção do Brasil no quadro das relações internacionais, é correto afirmar que
- A) a forte aproximação do presidente Vargas com os regimes nazifascistas recebeu a retaliação dos Estados Unidos, que impuseram a entrada do Brasil na Segunda Guerra, mas sem vantagens econômicas, diferente do que ocorreu com a Argentina.
- B) houve uma articulação diplomática entre Argentina e Brasil no sentido de pressionar os Estados Unidos a se manterem neutros diante do conflito bélico que atingia a Europa, mas essa ação fracassou, provocando a perda de popularidade de Getúlio Vargas.
- C) existiam forças políticas, até então próximas a Getúlio Vargas, que discordavam da postura do presidente em atacar a proposta da Argentina e do Chile para que a América do Sul não tivesse qualquer envolvimento com a guerra deflagrada na Europa.
- D) a maior parte do ministério de Getúlio Vargas, após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra, pediu demissão porque entendia que o Brasil deveria honrar os acordos com a Alemanha e manter-se neutro diante desse conflito bélico.
- E) com a entrada do Brasil na Segunda Guerra e os preparativos para enviar a FEB à Itália, personalidades da oposição começaram a explorar a contradição existente entre o apoio do Brasil às democracias e o Estado Novo.
Resposta:
A alternativa correta é letra E) com a entrada do Brasil na Segunda Guerra e os preparativos para enviar a FEB à Itália, personalidades da oposição começaram a explorar a contradição existente entre o apoio do Brasil às democracias e o Estado Novo.
Gabarito: ALTERNATIVA E
Tratando sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, a questão propõe as seguintes alternativas:
- a) a forte aproximação do presidente Vargas com os regimes nazifascistas recebeu a retaliação dos Estados Unidos,
que impuseram a entrada do Brasil na Segunda Guerra, massem vantagens econômicas,diferente do que ocorreu com a Argentina.
A alternativa inverte a realidade do que foram as relações brasileiras entre Alemanha e Estados Unidos no período abordado.
Durante a segunda metade da década de 1930, o Brasil se equilibrou entre Alemanha e Estados Unidos na chamada equidistância pragmática, que preconizava que o interesse maior brasileiro não estaria no alinhamento ideológico, mas sim na ampliação das possibilidades de industrialização. Vargas entenderia que as diferenças entre o liberalismo e o totalitarismo ofereciam importantes oportunidades para o país viabilizar novos caminhos internacionais para a sua industrialização e, portanto, essa deveria ser a chave de interpretação e de inserção internacional do Brasil. Com o agravamento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as margens de atuação brasileiras foram bastante reduzidas e crescia a pressão para um compromisso mais claro junto aos Estados Unidos. No entanto, Vargas optou por fazer uma distensão gradual da equidistância pragmática negociando sistematicamente novas formas de cooperação com os EUA em troca do afastamento brasileiro em relação ao Eixo. O ponto crítico desse processo se daria a partir de dezembro de 1941, quando o Japão ataca os EUA no Pacífico e o governo americano opta por entrar na guerra. A partir desse ponto, o governo americano insistiria decisivamente em estabilizar as Américas como força de resistência ao Eixo e o Brasil era importante em duas frentes: fornecimento de matérias-primas estratégicas para o esforço de guerra e as posições privilegiadas no Nordeste para o lançamento de ataques aéreos contra a Alemanha no Norte da África. Cada concessão brasileira em favor dos Estados Unidos passou pelo filtro de intensas negociações em favor dos interesses industriais brasileiros, ainda que as margens de resistência do Brasil estivessem bastante reduzidas. O ponto mais expressivo desse processo foi o compromisso americano em financiar e transferir tecnologia para a construção da primeira siderúrgica brasileira, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em favor do adensamento definitivo do alinhamento brasileiro aos aliados. Além disso, haveria pressão de Vargas para o rearmamento das Forças brasileiras e para a viabilização de uma indústria bélica nacional. Portanto, não se pode entender a atuação brasileira frente aos Estados Unidos no período sem observar a política industrial que emoldurava as ações do Estado Novo. A Argentina, por seu turno, tinha um envolvimento muito mais profundo com o nazifascismo, mantendo-se neutra no conflito até praticamente o seu final, sendo o último país das Américas a romper com o Eixo. Alternativa errada.
- b)
houve uma articulação diplomática entre Argentina e Brasil no sentido de pressionar os Estados Unidos a se manterem neutrosdiante do conflito bélico que atingia a Europa, mas essa ação fracassou, provocando a perda de popularidade de Getúlio Vargas.
A alternativa é completamente absurda. Como Brasil e Argentina, duas forças semiperiféricas, poderia fazer exigências diretas à maior potência industrial e econômica do mundo? Não houve nenhuma articulação desse tipo, mas sim o Brasil, uma vez entendendo a mudança drástica do cenário internacional após o ataque japonês contra os Estados Unidos em dezembro de 1941, assumindo um certo protagonismo regional ao apoiar as ações americanas no rompimento com o Eixo. A Argentina, por sua vez, tentaria forçar uma neutralidade generalizada da América Latina, cabendo ao Brasil formas de ser um agente importante na coordenação de ações regionais para definir a defesa hemisférica sob liderança dos Estados Unidos, mas com posições brasileiras importantes na conformação regional. Alternativa errada.
- c) existiam forças políticas, até então próximas a Getúlio Vargas, que discordavam da postura do presidente em
atacar a proposta da Argentina e do Chile para que a América do Sul não tivesse qualquer envolvimento com a guerra deflagrada na Europa.
A questão da guerra, para o Brasil, estava voltada para a sua dimensão atlântica, e não propriamente para a América Latina. Ainda que a Argentina insistisse numa certa posição de neutralidade, essas disputas não mobilizavam grande atenção no Brasil, sendo mais importantes as conversações com os Estados Unidos do que coordenações regionais. As principais disputas domésticas sobre o tema se davam entre germanófilos e americanófilos. Afirmativa errada.
- d)
a maior parte do ministério de Getúlio Vargas, após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra, pediu demissãoporque entendia que o Brasil deveria honrar os acordos com a Alemanha e manter-se neutro diante desse conflito bélico.
Lembre-se o estudante de que, naquele momento, o Brasil vivia a ditadura do Estado Novo (1937-1945) com grande centralização do poder e um personalismo forte em torno de Getúlio Vargas. Ou seja, a proximidade do seu gabinete, de uma maneira geral, levava a acompanhar as mudanças dos rumos do regime. Especificamente nesse caso, os dois principais ministros envolvidos - Oswaldo Aranha (Relações Exteriores) e Eurico Dutra (Guerra) - já eram defensores do alinhamento brasileiro aos Aliados e, portanto, permaneceriam em seus cargos seu qualquer constrangimento após o rompimento com o Eixo. Alternativa errada.
- e) com a entrada do Brasil na Segunda Guerra e os preparativos para enviar a FEB à Itália, personalidades da oposição começaram a explorar a contradição existente entre o apoio do Brasil às democracias e o Estado Novo.
O governo de Getúlio Vargas (1930-1945) insistiu para a participação militar brasileira no terreno, o que foi acolhido pelos Estados Unidos, que também atuou para reaparelhar as forças armadas brasileiras com material bélico moderno. Paralelamente, o governo brasileiro criou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) em 1943, que combinaria o Exército e algumas unidades da Força Aérea num efetivo de cerca de 25 mil homens. O processo de organização da FEB envolveu profunda cooperação com os EUA, que treinou parte do oficialato brasileiro quanto ao uso dos novos equipamentos e à adaptação às técnicas e às estratégias modernas de guerra (lembre-se que o Exército brasileiro era, até então, adepto da escola bélica francesa, que se mostrara superada). O contato entre as cúpulas militares decidiu, no final de 1943, que a FEB integraria o esforço aliado na Campanha da Itália ao lado do V Exército Americano para pressionar as tropas alemãs em suas posições no Mediterrâneo e evitar uma nova reorganização nazista na França. Por fim, há de ser observada a confluência história do fim do conflito na Europa (abril de 1945) com o colapso do Estado Novo (outubro de 1945). Sem uma ameaça externa para unir a discussão política e com o totalitarismo completamente derrotado na Europa, as bases do Estado Novo estavam gravemente erodidas no país. Pior do que isso: o Brasil havia enviado sua juventude para combater pela liberdade, enquanto a vida doméstica vivia a contradição de uma ditadura de ares totalitários à semelhança da italiana. Ou seja, é inequívoco o desgaste do regime ditatorial varguista, principalmente frente às Forças Armadas brasileiras após o esvaziamento da campanha militar. ALTERNATIVA CORRETA.
Portanto, está correta a ALTERNATIVA E.
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