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A respeito do processo de colonização europeia no Oriente Médio durante as primeiras três décadas do século 20, julgue (C ou E) o item a seguir.

A França valeu-se do status de protetor dos povos e dos locais sagrados cristãos no Império Otomano, reconhecido por meio do Tratado Franco-Otomano, de 1535, para justificar sua intervenção no Líbano e na Síria em 1860 e suas aspirações coloniais na região durante a I Guerra Mundial.

Resposta:

A alternativa correta é letra A) Certo

Gabarito: CORRETO

   

Trata-se, aqui, da longa relação da França com o Oriente Médio, que só teria um desfecho mais claro no século XX durante as independências múltiplas. Há, no entanto, algumas dificuldades importantes na construção do item. Em primeiro lugar, a bibliografia costuma se referir a uma Aliança Franco-Otomana, e não propriamente um tratado. Além disso, há discrepâncias na bibliografia acerca da data exata do tratado, com as informações variando entre 1535 e 1536. Certo é, no entanto, que, em 1535, o Império Otomano estava reorganizando as suas relações com o Ocidente depois de grandes campanhas militares em direção à Europa e a França foi o único reino importante disposto a firmar acordos com um Estado marcadamente islâmico - o que causou grande escândalo entre a cristandade, que insistia num discurso de desconfiança contra os muçulmanos.

 

A aliança estabelecia os direitos de comércio da França com todo o Império Otomano, o que não era concedido aos demais europeus, assim como dava condições especiais para os cidadãos franceses residentes nos domínios otomanos, atribuindo ao cônsul francês a capacidade de julgar e guardar esses indivíduos. Além disso, o sultão Suleimão I atribuía à França, na figura do rei Francisco I, a condição de protetor de todos os cristãos e de todos os locais sagrados no Império Otomano, o que era algo absolutamente impensável até então.

 

Anteriormente, Francisco I já pedira auxílio a Suleimão I por ocasião da sua derrota contra o Sacro Império Romano-Germânico de Carlos V, que apresaria o rei francês e o forçaria a abrir mão de territórios assinando o Tratado de Madri de 1526. Tal pedido convergia para a disposição otomana em fustigar os Habsburgos e seus domínios no sudeste europeu, animando uma aproximação entre franceses e otomanos. Depois de intensas trocas diplomáticas, as concessões otomanas a Francisco I seriam, de fato, consolidadas na forma de uma aliança em 1536.

 

A aliança, no entanto, seria rompida em 1798, quando Napoleão Bonaparte, aproveitando da fragilidade do Império Otomano, lançou uma campanha militar contra o Egito. A vitória francesa marcaria o fim de toda uma era das relações entre França e a região; no entanto, uma nova aproximação ocorreria em 1860, quando a população maronita (cristã) passou a ser vítima de um massacre na região da Síria. Sem conseguir conter os acontecimentos, o Sultão Abdul Mejide I solicitou ajuda de Napoleão III, soberano francês, para proteger a população cristã em seu território. Isso resultou no envio de um corpo expedicionário de doze mil soldados para a Síria com consentimento explícito do Império Otomano e com o compromisso francês de não se imiscuir em assuntos domésticos do império. A intervenção, de fato, estender-se-ia em direção ao Líbano, para onde os drusos, etnia que perseguia os maronitas, retiraram-se após pouco tempo de enfrentamento contra os franceses. Ou seja, podemos, sim, questionar a construção do item, a qual, tal como está feita, dá-nos a impressão de que a França, em 1860, acionou uma declaração do século XVI para, unilateralmente, agredir o território otomano, o que não foi o caso.

 

Em 1916, com a Primeira Guerra Mundial ainda em curso, França e Reino Unido celebraram secretamente o Acordo Sykes-Picot, que, prevendo a derrota final do Império Otomano, definia as zonas de influências de cada um dos impérios coloniais no Oriente Médio. Tratava-se de uma forma de pactuar, de maneira absolutamente colonialista, a ordem do pós-guerra entre aliados; já que os termos do acordo definiam até mesmo as áreas que seriam apenas protetorados e as áreas que seriam realmente ocupadas militarmente pelos dois impérios coloniais. Ainda que a França, de fato, tenha estendido suas áreas de influência sobre o Líbano e a Síria, há de se observar que os locais sagrados do cristianismo, nos termos do Acordo, seriam entendidos como territórios internacionais, bem como a Palestina ficaria sob controle britânico. Ou seja, ainda que isso tenha feito parte da argumentação francesa em 1916, é muito exagerado fazer uma transposição absoluta.

 

Concluímos, portanto, que a construção do item é muito frágil para que seja considerado integralmente correto. As dúvidas sobre as datas e a forma duvidosa de expressar os episódios de 1860 criam dúvidas demais para que possamos ter uma postura firme acerca do que expressou a banca. Desta forma, na nossa avaliação, o item deveria ser ANULADO.

 

Nosso gabarito: ANULADO

Gabarito da banca: CORRETO

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