O documento abaixo é um fragmento do Tratado de Bardo assinado entre a França e a Tunísia no processo conhecido como “Partilha” da África, durante a expansão imperialista dos países europeus no Continente Africano. Leia-o com atenção:
“Art. 2 – Para facilitar ao governo da República Francesa a realização das medidas que ele deve tomar para atingir o fim a que se propõem as altas partes contratantes, S. A. o Bey de Túnis consente que a autoridade militar francesa faça ocupar os portos que ela julgar necessários para assegurar o restabelecimento da ordem e a segurança das fronteiras e do litoral […]
Art. 5 – O governo da República Francesa será representado junto a S. A. o Bey de Túnis por um ministro residente, que velará pela execução do presente ato e que será intermediário dos contatos do governo francês com as autoridades tunisianas para todos os negócios comuns dos dois países.”
PRECLIN, Edmond et al. Textes et documents d’histoire: l’époque contemporaine (1871-1914), p. 177-181
apud MESGRAVIS, Laima. A colonização da África e da Ásia: a expansão do imperialismo europeu no século XIX.
São Paulo: Atual Editora, 1994, p. 34-35.
Glossário:
Bei (Bey): título de soberanos vassalos do sultão turco; governadores.
Sultão: antigo título do imperador da Turquia; título dado a alguns príncipes maometanos e tártaros.
Um dos aspectos referentes à “Partilha” da África mencionado no documento é a(s)
- A) intervenção militar dos colonizados, mais bem aparelhados belicamente, nos interesses dos colonizadores, tendo inclusive de manter a segurança dos portos e das fronteiras para o devido restabelecimento da ordem, medida fundamental para os negócios imperialistas.
- B) transferência do excedente populacional das colônias para as metrópoles, para melhor desenvolvimento dos negócios entre as duas potências, o que exigia portos bem aparelhados e ausência de problemas sociais.
- C) estratégia de fundar áreas de influências, onde o colonizador, mantendo o poder nas mãos do governante local, o Bei, permitia o controle dos negócios pelas elites locais, ficando com o que elas achassem justo na mediação entre os dois países, sem interferir na administração da colônia.
- D) diferentes formas de administrar as colônias adotadas pelas potências imperialistas, como, por exemplo, o Protetorado francês na Tunísia, que mantinham os governantes locais (Bei) no poder, mas, para defender interesses imperialistas, era nomeado um representante, residente no país, que de fato governaria.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) diferentes formas de administrar as colônias adotadas pelas potências imperialistas, como, por exemplo, o Protetorado francês na Tunísia, que mantinham os governantes locais (Bei) no poder, mas, para defender interesses imperialistas, era nomeado um representante, residente no país, que de fato governaria.
Gabarito: ALTERNATIVA D
O documento abaixo é um fragmento do Tratado de Bardo assinado entre a França e a Tunísia no processo conhecido como “Partilha” da África, durante a expansão imperialista dos países europeus no Continente Africano. Leia-o com atenção:
“Art. 2 – Para facilitar ao governo da República Francesa a realização das medidas que ele deve tomar para atingir o fim a que se propõem as altas partes contratantes, S. A. o Bey de Túnis consente que a autoridade militar francesa faça ocupar os portos que ela julgar necessários para assegurar o restabelecimento da ordem e a segurança das fronteiras e do litoral [...]
Art. 5 – O governo da República Francesa será representado junto a S. A. o Bey de Túnis por um ministro residente, que velará pela execução do presente ato e que será intermediário dos contatos do governo francês com as autoridades tunisianas para todos os negócios comuns dos dois países.”
PRECLIN, Edmond et al. Textes et documents d’histoire: l’époque contemporaine (1871-1914), p. 177-181 apud MESGRAVIS, Laima. A colonização da África e da Ásia: a expansão do imperialismo europeu no século XIX. São Paulo: Atual Editora, 1994, p. 34-35.
Glossário:
Bei (Bey): título de soberanos vassalos do sultão turco; governadores.
Sultão: antigo título do imperador da Turquia; título dado a alguns príncipes maometanos e tártaros.
- Um dos aspectos referentes à “Partilha” da África mencionado no documento é a(s)
Note o estudante que o próprio enunciado delimitava o espectro da resposta: deveria o candidato se ater aos aspectos presentes no documento citado, e não fazer digressões muito amplas sobre o contexto da corrida imperialista sobre a África. Ter clareza sobre isso, em grande medida, reduz a questão a um esforço de interpretação de texto, ainda que o candidato não tenha conhecimentos mais aprofundados sobre o imperialismo europeu. Assim, observemos as alternativas propostas.
- a) intervenção militar dos colonizados, mais bem aparelhados belicamente, nos interesses dos colonizadores, tendo inclusive de manter a segurança dos portos e das fronteiras para o devido restabelecimento da ordem, medida fundamental para os negócios imperialistas.
Especificamente no século XIX, havia um salto tecnológico dos equipamentos militares que foi crucial na sorte da expansão europeia na África e na Ásia: a produção em grande escala de armas de repetição. Ainda que as armas de fogo estivessem muito difundidas no mundo inteiro àquela altura, as armas de repetição davam uma vantagem devastadora aos exércitos europeus, o que desequilibrou as batalhas de maneira decisiva. Além disso, fica claro, no texto, que se tratava de movimentações de tropas francesas nos territórios tunisianos; ou seja, os colonizadores instalando bases e exércitos para controlar pontos estratégicos. Não faz sentido algum, portanto, dizer que havia superioridade militar dos colonizados ou que o tratado estava privilegiando os lugares das forças tunisianas. Alternativa errada.
- b) transferência do excedente populacional das colônias para as metrópoles, para melhor desenvolvimento dos negócios entre as duas potências, o que exigia portos bem aparelhados e ausência de problemas sociais.
Não existe referência alguma de transferência de contingentes populacionais em qualquer um dos sentidos no texto citado. Além disso, pelo contrário, o esforço de colonização pressupunha o envio de pessoas das metrópoles em direção às colônias. Isso, em grande medida, aliviava as pressões domésticas, já que o processo de industrialização e as transformações no mundo rural criaram grandes excedentes populacionais nas potências europeias durante as décadas de paz do século XIX. A densidade populacional chegava a níveis alarmantes sem que a atividade econômica como um todo conseguisse absorver todos esses contingentes. Ao mesmo tempo, o empreendimento colonial permitia a tomada de terras para a redistribuição entre os metropolitanos e a formação de uma nova elite urbana na instalação de uma administração colonial. Alternativa errada.
- c) estratégia de fundar áreas de influências, onde o colonizador, mantendo o poder nas mãos do governante local, o Bei, permitia o controle dos negócios pelas elites locais, ficando com o que elas achassem justo na mediação entre os dois países, sem interferir na administração da colônia.
O espírito geral do texto citado é diametralmente oposto ao que propõe a alternativa: a França impondo condições e fortes restrições à soberania da Tunísia e constrangendo o governo local a aceitar as movimentações metropolitanas. Sequer sobre quais portos a autoridade francesa tomaria para si o Bey de Túnis poderia arbitrar, sendo previamente submetido ao jugo e às arbitrariedades metropolitanas. As elites locais também estariam dramaticamente constrangidas pelas forças metropolitanas sob a representação de um governo colonial sem maiores espaços para a justa mediação de conflitos. Alternativa errada.
- d) diferentes formas de administrar as colônias adotadas pelas potências imperialistas, como, por exemplo, o Protetorado francês na Tunísia, que mantinham os governantes locais (Bei) no poder, mas, para defender interesses imperialistas, era nomeado um representante, residente no país, que de fato governaria.
A alternativa é bastante completa e deixa pouquíssimo espaço para dúvidas. O documento citado representa um dos vários modelos ensejados para a organização das administrações coloniais. No caso específico da Tunísia, submetia-se o antigo soberano à condição de Protetorado francês, mantendo-se a autoridade local para fins representativos, mas transferindo as funções realmente sensíveis para um representante metropolitano ("um ministro residente"). Ou seja, ainda que se fornecesse aspectos simbólicos de respeito às formas políticas locais, a prática as autoridades de Túnis estavam sob controle metropolitano, fazendo triunfar a vontade imperialista. Em outras regiões, no entanto, havia o estabelecimento direto de governos coloniais, negando qualquer forma de representação aos colonizados. ALTERNATIVA CORRETA.
Como dito no comentário preliminar, todas as alternativas erradas poderiam ser adequadamente desmontadas por um simples esforço de interpretação de texto, o que ficava subentendido já no enunciado. Ter esse tipo de percepção sem cair em desesperos por não dominar o tema pode ser um fator decisivo no momento da prova. Afinal, mesmo um candidato pouco preparado no campo da História conseguiria perfeitamente superar esta questão com uma leitura adequada do enunciado e das alternativas. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA D.
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