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Diferentemente dos primeiros dois romances de Doyle, que se situam principalmente ao sul do Tâmisa, entre Lambeth e Camberwell [áreas pobres de Londres], os contos publicados no Strand Magazine, de 1891 em diante, focalizam quase inteiramente o West End e a City (áreas ricas). Como os primeiros romances não tiveram muito sucesso, ao passo que os contos foram de imediato extremamente populares, Holmes pode muito bem ter devido seu sucesso a essa mudança de local com a qual Doyle adivinhou o espaço certo para a ficção de detetive. Em outras palavras, crime ficcional na Londres da riqueza; crime real na Londres da pobreza. (…) O mundo criminoso real é o resultado quase inevitável da pobreza urbana: é uma realidade visível, generalizada que não apresenta absolutamente nenhum mistério. Para a ficção de detetive, entretanto, o crime deve ser exatamente um enigma, um acontecimento inaudito, um caso, uma aventura. E essas situações requerem um cenário (…) de hotéis luxuosos, mansões que dão para o parque, grandes bancos, segredos diplomáticos. MORETI, Franco. Atlas do romance europeu. São Paulo: Boitempo editorial, 2003, pp.145-146. (Adaptado) Considerando as transformações nas sociedades europeias, no século XIX, verifica-se que o texto:

Diferentemente dos primeiros dois romances de Doyle, que se situam principalmente ao sul do Tâmisa, entre Lambeth e Camberwell [áreas pobres de Londres], os contos publicados no Strand Magazine, de 1891 em diante, focalizam quase inteiramente o West End e a City (áreas ricas).
Como os primeiros romances não tiveram muito sucesso, ao passo que os contos foram de imediato extremamente populares, Holmes pode muito bem ter devido seu sucesso a essa mudança de local com a qual Doyle adivinhou o espaço certo para a ficção de detetive.
Em outras palavras, crime ficcional na Londres da riqueza; crime real na Londres da pobreza. (…) O mundo criminoso real é o resultado quase inevitável da pobreza urbana: é uma realidade visível, generalizada que não apresenta absolutamente nenhum mistério. Para a ficção de detetive, entretanto, o crime deve ser exatamente um enigma, um acontecimento inaudito, um caso, uma aventura. E essas situações requerem um cenário (…) de hotéis luxuosos, mansões que dão para o parque, grandes bancos, segredos diplomáticos.
MORETI, Franco. Atlas do romance europeu. São Paulo: Boitempo editorial, 2003, pp.145-146. (Adaptado)

Considerando as transformações nas sociedades europeias, no século XIX, verifica-se que o texto:

Resposta:

A alternativa correta é D)

O texto de Franco Moretti, ao analisar a obra de Arthur Conan Doyle, revela uma importante característica da ocupação do espaço urbano no século XIX, especialmente em cidades europeias marcadas pela industrialização. A mudança de cenário nos contos de Sherlock Holmes – das áreas pobres ao sul do Tâmisa para o luxuoso West End e a City – reflete uma divisão socioespacial típica desse período. Essa segregação não era apenas geográfica, mas também simbólica, pois o crime ficcional passou a ser associado aos ambientes ricos, enquanto o crime real permaneceu vinculado à pobreza.

A industrialização acelerada do século XIX transformou radicalmente as cidades europeias, criando bairros operários e áreas nobres. Londres, como centro do capitalismo industrial, exemplificou essa dinâmica. O texto de Moretti sugere que Doyle, ao reposicionar seus enredos nos espaços da elite, capturou não apenas o imaginário do público, mas também uma realidade urbana em que a riqueza e a pobreza coexistiam de forma contrastante. Essa segregação espacial não era exclusiva de Londres, mas uma tendência observável em outras metrópoles europeias em processo de industrialização.

A opção D) é a que melhor sintetiza essa análise, pois reconhece que o texto apresenta um tipo de ocupação do espaço urbano típico do século XIX, moldado pela industrialização. As outras alternativas ou distorcem o sentido do texto (como a C), que atribui a Doyle uma visão igualitária sobre o crime) ou focam em aspectos secundários (como a B), que menciona uma suposta novidade na determinação de espaços sociais). O texto de Moretti, portanto, oferece uma chave para entender como a literatura refletiu – e em certa medida, naturalizou – as divisões sociais da cidade industrial.

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