Questões Sobre Medievalidade Europeia - História - concurso

No que se refere à história da cultura, das linguagens, das artes, das ciências, da técnica e da filosofia no mundo ocidental, é importante analisar criticamente a visão tradicional sobre a Idade Média. O período medieval frequentemente é retratado como uma era de obscurantismo intelectual e estagnação técnica, supostamente causada pela influência da Igreja Católica. No entanto, essa perspectiva simplista não corresponde à realidade histórica.

A afirmação de que a Idade Média foi marcada por um "anti-intelectualismo" generalizado e pelo fechamento das universidades romanas é equivocada. Na verdade, foi durante a Idade Média que surgiram as primeiras universidades europeias, como as de Bolonha, Paris e Oxford, que se tornaram centros importantes de produção e transmissão do conhecimento. A Igreja Católica, longe de ser uma força anti-intelectual, foi a principal mantenedora e promotora dessas instituições educacionais.

Quanto ao desenvolvimento técnico, a Idade Média testemunhou avanços significativos em diversas áreas, como a agricultura (com a invenção do arado pesado e o sistema de rotação de culturas), a arquitetura (com as inovações da construção gótica) e a tecnologia militar (com o desenvolvimento de armaduras e armamentos mais sofisticados). Além disso, a preservação e tradução de textos clássicos por monges e estudiosos medievais foi fundamental para o posterior florescimento do Renascimento.

Portanto, a afirmação contida no item está incorreta. A Idade Média não foi um período de completo declínio intelectual ou técnico, mas sim uma época de transformações e continuidades culturais que prepararam o terreno para os desenvolvimentos posteriores da civilização ocidental.

No que diz respeito à periodização histórica, é correto afirmar que a divisão tradicional em Idade Antiga, Média e Moderna foi estabelecida pelos intelectuais renascentistas, enquanto a Idade Contemporânea foi incorporada posteriormente, no século XIX, durante a reestruturação do ensino de história na França.

A classificação proposta pelos humanistas do Renascimento buscava diferenciar a cultura clássica da Antiguidade do período medieval, visto como uma fase de declínio. Já a Idade Moderna representava o renascimento do saber clássico e os novos tempos. Contudo, somente no século XIX, com as transformações sociais e políticas decorrentes da Revolução Francesa e da Revolução Industrial, é que se consolidou a necessidade de uma nova periodização, dando origem à Idade Contemporânea.

Portanto, a afirmação apresentada está correta, pois reflete o desenvolvimento histórico da periodização, mostrando como as categorias temporais foram construídas em diferentes contextos intelectuais e sociais.

A respeito do feudalismo e de sua passagem para o capitalismo, é importante analisar a afirmação sobre a estrutura fundamental do sistema feudal, especificamente a relação de senhorio (dominium). O texto sugere que essa relação era estabelecida entre a nobreza (classe senhorial) e os camponeses (vassalos), o que está incorreto.

No feudalismo, a relação de vassalagem era, na verdade, um laço de dependência mútua entre nobres, onde um senhor concedia terras (o feudo) a um vassalo em troca de lealdade e serviços, principalmente militares. Os camponeses, por sua vez, estavam submetidos a uma relação distinta, conhecida como servidão, na qual trabalhavam a terra em troca de proteção e do direito de usufruto, mas não eram considerados vassalos no sentido político-jurídico do termo.

Portanto, a afirmação de que os camponeses eram vassalos da nobreza está errada, pois confunde dois tipos de relações distintas dentro do sistema feudal: a vassalagem (entre nobres) e a servidão (entre senhores e camponeses). O gabarito correto é E) ERRADO.

A respeito do feudalismo e de sua passagem para o capitalismo, é importante analisar a estrutura social descrita no enunciado e o motivo pelo qual o gabarito indica a alternativa "E) ERRADO".

A sociedade feudal não possuía uma estrutura hierárquica quádrupla tão rígida e definida como apresentada. Embora a nobreza e o clero ocupassem posições privilegiadas, a divisão entre comerciantes, burgueses e camponeses não era tão linear. Durante o feudalismo, a economia era essencialmente agrária, e a maior parte da população consistia de servos, vinculados à terra e subordinados aos senhores feudais.

Os comerciantes e burgueses, por sua vez, ganharam relevância apenas no final do período feudal, com o ressurgimento das cidades e do comércio, fatores que contribuíram para a transição ao capitalismo. Portanto, a descrição apresentada no item simplifica e distorce a complexidade da organização social feudal, justificando a resposta "ERRADO".

A respeito do feudalismo e de sua passagem para o capitalismo, é importante analisar a afirmação que relaciona o surgimento do capitalismo à Itália do século XIII, com o aparecimento dos banqueiros e das letras de câmbio.

De fato, o capitalismo como sistema econômico está intrinsecamente ligado à acumulação e circulação de capital. Nesse sentido, a Itália do século XIII desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento das primeiras práticas capitalistas, especialmente em cidades como Florença e Veneza. Foi nesse período que surgiram os primeiros bancos modernos, operações de crédito e instrumentos financeiros como as letras de câmbio, que facilitaram o comércio e a movimentação de recursos.

Embora o feudalismo ainda fosse predominante na Europa medieval, essas inovações financeiras na península itálica representaram um marco na transição para uma economia mais dinâmica e baseada no capital. Portanto, é correto afirmar que o capitalismo teve seus primórdios na Itália do século XIII, ainda que em uma forma embrionária.

Assim, o gabarito C) CERTO está correto, pois a afirmação reflete adequadamente o papel histórico da Itália no surgimento das primeiras estruturas capitalistas.

A respeito do feudalismo e de sua passagem para o capitalismo, julgue os itens subsequentes.

O protecionismo foi fator significativo para a transformação do sistema feudal para o capitalismo. Enquanto na Idade Média ele ocorria localmente, com as corporações de ofício de cada cidade responsáveis pela sua aplicação, a partir do século XIV, com a centralização do poder nos Estados, os reis e príncipes passaram a ser responsáveis pela criação e pelo cumprimento de leis de proteção às atividades econômicas.

• C) CERTO
• E) ERRADO

O gabarito correto é C).

Sobre o feudalismo, que perdurou em grande parte da Europa medieval, todas as alternativas estão corretas, exceto a:

• A) Dentre as origens romanas que colaboraram para a formação do sistema feudal pode-se citar o “colonato”, que acabou formando os servos medievais.
• B) O sistema feudal não contou com a antiga estrutura escravista do Império Romano, utilizando-se da mão-de-obra servil.
• C) A formação do feudalismo, de um modo geral, iniciou com a desagregação do Império Romano do Ocidente e as invasões dos povos bárbaros na Europa Ocidental.
• D) Em sua fase inicial se caracterizou por uma economia de mão-de-obra assalariada e de uma interdependência econômica entre os diversos feudos estabelecidos na Europa.

O gabarito correto é D), pois a alternativa descreve uma característica que não condiz com a realidade do feudalismo em sua fase inicial. O sistema feudal baseava-se na relação de servidão, não em uma economia assalariada, e os feudos eram unidades autossuficientes, sem grande interdependência econômica entre si.

O texto apresentado aborda a visão distorcida da Idade Média como uma "idade das trevas", uma perspectiva construída principalmente por intelectuais renascentistas e iluministas. Essa interpretação foi marcada por uma abordagem racionalista, liberal e anticlerical, característica de um período em que o humanismo questionava os fundamentos teocêntricos da Igreja e defendia o progresso da razão e das "luzes" do conhecimento.

No entanto, como aponta o excerto de José Rivair Macedo, essa visão simplista e negativa do medievo não corresponde à realidade histórica. Entre os elementos que contradizem essa narrativa está o surgimento das universidades (alternativa C), uma das contribuições mais significativas do período medieval para o desenvolvimento intelectual da humanidade. As universidades, que emergiram a partir do século XII, foram centros de produção e disseminação do conhecimento, abrigando debates filosóficos, teológicos e científicos.

As outras alternativas apresentadas não correspondem a marcas do mundo medieval. As formas democráticas de governo (A) e a conquista de direitos políticos pelas mulheres (D) são fenômenos muito posteriores. A proibição do trabalho infantil (B) é uma conquista moderna, enquanto a ideia de República (E), embora tenha raízes na Antiguidade, não foi uma invenção medieval. Portanto, a alternativa correta é de fato a letra C, que destaca um dos aspectos mais luminosos do período medieval.

Ensaio sobre o controle do corpo feminino na Idade Média

O trecho de Michele Perrot revela a profunda relação entre poder e corpo feminino, especialmente no contexto medieval europeu. A autora descreve como a mulher era vista como uma ameaça potencial, cuja existência em liberdade representava perigo tanto para a ordem social quanto para si mesma.

Na Idade Média, como corretamente apontado na alternativa C, a obediência e submissão eram consideradas virtudes fundamentais para as mulheres. O casamento funcionava como uma instituição de controle social, onde a mulher era transferida como propriedade entre famílias, com o objetivo principal de procriação e manutenção de alianças políticas ou econômicas.

Esta visão está diretamente relacionada com a descrição de Perrot sobre o corpo feminino como objeto de "perpétua suspeita". A necessidade de enclausuramento ou ocultação do corpo feminino (através de véus ou espaços controlados) refletia o medo social da sexualidade feminina e da autonomia das mulheres.

A resposta correta (C) destaca precisamente este aspecto: a mulher medieval ideal deveria ser obediente e submissa, tanto dentro quanto fora do casamento. Seu valor social estava diretamente ligado à sua capacidade de seguir normas morais rígidas, que incluíam a negação de qualquer expressão de autonomia ou prazer sexual.

As outras alternativas incorretas revelam justamente os equívocos comuns sobre o período: as mulheres não tinham direitos iguais na sucessão (A e B), estavam sujeitas a castigos físicos por parte dos homens da família (D), e o prazer sexual feminino era visto como pecaminoso, não como algo a ser demonstrado (E).

O texto de Perrot e a questão analisada demonstram como o controle do corpo feminino foi historicamente um mecanismo fundamental de manutenção de estruturas de poder patriarcal, com raízes profundas no período medieval.

A partir do texto fornecido, é possível identificar que o contexto histórico em questão é o feudalismo medieval. O período descrito, que se inicia por volta do ano 1000, apresenta características marcantes desse sistema, como o crescimento populacional associado a avanços tecnológicos na agricultura, a organização das comunidades em torno da igreja e do castelo, e a estrutura social baseada em relações de vassalagem e servidão.

As inovações mencionadas, como a charrua, o uso do cavalo na lavoura e a rotatividade de culturas, foram fundamentais para o aumento da produção agrícola e, consequentemente, para a melhoria das condições de vida na Europa medieval. Esses elementos são típicos do feudalismo, um sistema que predominou na Idade Média e que se diferencia claramente de outros modelos econômicos e sociais, como o escravismo antigo, o capitalismo industrial, o socialismo soviético ou o mercantilismo moderno.

Portanto, a alternativa correta é a D) feudalismo medieval, pois é a que melhor se adequa às características descritas no texto.