A liberdade pouco valia para o indivíduo pobre que o mundo da produção e os aparelhos de poder esmagavam sem trégua, e no entanto ele era homem livre numa sociedade escravista. Aproveitado de modo intermitente mas regular pelo Estado e pelos homens bons, a sua utilidade real e empiricamente detectável era revestida por um ônus que o deixava sem razão de ser. A formulação dessa inutilidade justificava o sistema escravista, e o atributo da vadiagem passava a englobar toda uma camada social, desclassificando-a: no meio fluido dos homens livres pobres, todos passavam a ser vadios para a óptica dominante. Vadios e inúteis, era como se não existissem, como se o país não tivesse povo — pois, cativo, o escravo não era cidadão. E assim, inexistindo ou sendo identificado à animalidade, o homem livre pobre permaneceu esquecido através do século.
(Laura de Mello e Souza. Desclassificados do ouro:
a pobreza mineira no século XVIII, 2015. Adaptado.)
Ao tratar dos “desclassificados” na sociedade das Minas Gerais do século XVIII, o texto caracteriza-os como
- A) uma camada marcada pela ambiguidade e que revelava os mecanismos de exclusão sociopolíticos do período.
- B) uma classe potencialmente rebelde, que recorria a ações clandestinas e ilegais para subverter a ordem social.
- C) um setor improdutivo da economia local, que gerava gastos para os governantes, mas sem produzir ganhos e rendimentos.
- D) um grupo à margem da sociedade, que conseguia escapar dos tributos e dos rigores do trabalho.
- E) um segmento de técnicos e profissionais liberais, que era socialmente desprezado, mas fundamental na exploração de ouro.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) uma camada marcada pela ambiguidade e que revelava os mecanismos de exclusão sociopolíticos do período.
Gabarito: ALTERNATIVA A
(Laura de Mello e Souza. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII, 2015. Adaptado.)
Ao tratar dos “desclassificados” na sociedade das Minas Gerais do século XVIII, o texto caracteriza-os como
- a) uma camada marcada pela ambiguidade e que revelava os mecanismos de exclusão sociopolíticos do período.
A ambiguidade a que a alternativa faz referência é a condição do homem livre e pobre na sociedade colonial. Esse grupo era sistematicamente excluído do funcionamento da sociedade e, mesmo conservando sua condição de homem livre, eram sintomaticamente enquadrados como inúteis e desclassificados dentro da sociedade. Ou seja, não eram abarcados pela organização social, o que revela os tais mecanismo de exclusão. ALTERNATIVA CORRETA.
- b) uma classe potencialmente rebelde, que recorria a ações clandestinas e ilegais para subverter a ordem social.
O excerto citado no enunciado não faz referência alguma a movimentos de subversão da ordem social. Apenas diz que eram desclassificados e sistematicamente excluídos da sociedade, sendo eventualmente utilizados por suas estruturas, mas jamais sendo de fato incluídos. Alternativa errada.
- c) um setor improdutivo da economia local, que gerava gastos para os governantes, mas sem produzir ganhos e rendimentos.
Segundo o texto do enunciado, esse grupo social era invisibilizado pela administração pública, sendo esquecidos pelas políticas públicas. Ou seja, não havia gastos governamentais destinados a esses indivíduos, que, no máximo, eram usados pela máquina pública eventualmente. Alternativa errada.
- d) um grupo à margem da sociedade, que conseguia escapar dos tributos e dos rigores do trabalho.
Não se tratava de um grupo que procurasse fugir dos rigores do trabalho ou dos tributos, mas sim de desvalidos e excluídos da sociedade. Ou seja, não era uma iniciativa voluntária, mas sim uma forma de exclusão social. Alternativa errada.
- e) um segmento de técnicos e profissionais liberais, que era socialmente desprezado, mas fundamental na exploração de ouro.
Ao que aponta o excerto, eram pessoas vadias, ou seja, sem nenhuma ocupação fixa. Portanto, não há que se falar em técnicos ou profissionais liberais. Alternativa errada.
Veja o estudante que a questão era totalmente ancorada no excerto citado no enunciado. Ou seja, tratava-se de um esforço de interpretação de texto, e não de compreensão acerca da sociedade colonial do século XVIII. Assim, está correta a ALTERNATIVA A.
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