Alforriados […] certamente investiram em habilidades, em informações, em comportamentos, em práticas cotidianas, em sentimentos, para, tempos mais tarde, serem eles os escolhidos pelo proprietário moribundo, entre todos os outros companheiros, para, então, “ganharem” suas Cartas de Liberdade.
(PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século
XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos.
São Paulo: Annablume, 1995, p. 62.)
O excerto anterior discorre sobre algumas estratégias empregadas pelos escravos no Brasil colonial para a obtenção das cartas de alforria. Sobre tais estratégias e as práticas de alforria no Brasil colonial, assinale a afirmativa INCORRETA.
- A) Muitos escravos trabalhavam com afinco, tinham bom comportamento, mirando uma possível carta de alforria.
- B) Nas Minas Gerais do ouro, os escravos tinham mais possibilidades de alcançarem sua alforria, principalmente aqueles que trabalhavam por jornal, podendo, assim, acumular pecúlio para a compra da alforria.
- C) A prática de alforrias foi algo bastante recorrente no nordeste açucareiro, haja vista que os senhores de engenho premiavam os bons escravos com a carta de alforria, dando a eles liberdade após um tempo de trabalho.
- D) Alguns escravos investiram em comportamentos bem vistos pelos senhores, criando até mesmo vínculos como, por exemplo, ao convidarem seus senhores para batizarem seus filhos, o que, futuramente, poderia ser convertido em uma carta de alforria.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) A prática de alforrias foi algo bastante recorrente no nordeste açucareiro, haja vista que os senhores de engenho premiavam os bons escravos com a carta de alforria, dando a eles liberdade após um tempo de trabalho.
Gabarito: ALTERNATIVA C
(PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablume, 1995, p. 62.)
O excerto anterior discorre sobre algumas estratégias empregadas pelos escravos no Brasil colonial para a obtenção das cartas de alforria. Sobre tais estratégias e as práticas de alforria no Brasil colonial, assinale a afirmativa INCORRETA.
- a) Muitos escravos trabalhavam com afinco, tinham bom comportamento, mirando uma possível carta de alforria.
Ora, a alternativa praticamente repete as informações apresentadas no enunciado. A senilidade do senhor de escravo poderia ser um momento decisivo para o cativo, quando poderia receber a liberdade pela carta de alforria. Então, demonstrar docilidade, empenho no trabalho e simpatia eram formas de cativar o senhor ao longo do tempo, tornando-se um dos preferidos entre os muitos escravos. Essa preferência, esperava-se, poderia ser traduzida numa alforria ao final da vida do senhor por meio de uma construção de lealdade e afetividade. Sem erros na alternativa.
- b) Nas Minas Gerais do ouro, os escravos tinham mais possibilidades de alcançarem sua alforria, principalmente aqueles que trabalhavam por jornal, podendo, assim, acumular pecúlio para a compra da alforria.
A ideia de compra da alforria era uma espécie de indenização que o escravo pagaria ao seu senhor em troca da concessão da liberdade. Ainda que fosse uma operação de grande insegurança, poderia o escravo acumular riqueza durante anos para oferecer esses ganhos ao seu senhor como forma de comprar a carta de alforria. Para os cativos que trabalhavam terceirizados, recebendo diárias que seriam divididas com seus senhores, a jornada diária de trabalho poderia render um fluxo constante de riqueza, principalmente com os ganhos na mineração. Esse acúmulo poderia, sim, ser utilizado para a compra da alforria. Sem erros na alternativa.
- c) A prática de alforrias foi algo bastante recorrente no nordeste açucareiro, haja vista que os senhores de engenho premiavam os bons escravos com a carta de alforria, dando a eles liberdade após um tempo de trabalho.
A alternativa está em claro desacordo com o texto apresentado no enunciado. A carta de alforria jamais foi uma recompensa pelo bom trabalho; afinal, um escravo que trabalha bem é capaz de produzir mais para o seu senhor, o que torna a libertação completamente desinteressante para os proprietários de bons escravos. A estratégia representada no texto não estava só relacionada ao "bom trabalho", mas também a pequenas incursões afetivas ao longo do tempo, seja com demonstrações de trabalho, seja com relações pessoais bem azeitadas; isso, na melhor da hipóteses, levaria o escravo à condição de preferido entre os demais por uma questão de sentimental, e não econômica/racional. A rotina do trabalho braçal em si estava presa a todos os flagelos da escravidão e os abusos produtivos da plantation, não sendo essa a chave para a alforria. Por conter erros, esta é a ALTERNATIVA CORRETA.
- d) Alguns escravos investiram em comportamentos bem vistos pelos senhores, criando até mesmo vínculos como, por exemplo, ao convidarem seus senhores para batizarem seus filhos, o que, futuramente, poderia ser convertido em uma carta de alforria.
Mais uma vez, a alternativa está em linha com o que traz o texto do enunciado. Ser bem visto pelos senhores era uma estratégia crucial para os escravos, o que exigia a absorção de certos costumes e de práticas da casa grande, destacando-se entre os demais como alguém necessariamente próximo e agradável aos senhores. Então, estratégias como o compadrio religioso e os vínculos de cumplicidade eram formas possíveis de acessar essa preferência senhorial, o que poderia, no futuro, significar a alforria. Sem erros na alternativa.
Sem mais, a única a apresentar erros é a ALTERNATIVA C.
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