As últimas décadas do século XVIII foram marcadas por acontecimentos internacionais com reflexos no Brasil. A conjuntura econômica e política agravava a situação do lado de cá do Atlântico, pois tinha início a passagem de um regime de monopólios para o de livre concorrência. A crise do sistema colonial foi explorada por três conspirações capazes de revelar a influência dos ideais de liberdade disseminados pela Revolução Francesa, e a ideia de que uma eventual independência da América portuguesa tomava forma.
Mary Del Priore e Renato Venâncio. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Ed. Planeta do Brasil, 2010, p. 143-4 (com adaptações).
Tendo o texto acima como referência inicial, julgue (C ou E) o item seguinte, considerando o processo de independência do Brasil.
Enquanto as ideias iluministas, que fundamentaram a Revolução Francesa em 1789, chegavam ao Brasil e incendiavam os movimentos pela independência, que se multiplicavam pela colônia, a independência das treze colônias inglesas da América do Norte foi ignorada tanto nas colônias hispânicas quanto no Brasil.
- A) Certo
- B) Errado
Resposta:
A alternativa correta é letra B) Errado
Gabarito: ERRADO
Tendo o texto acima como referência inicial, julgue (C ou E) o item seguinte, considerando o processo de independência do Brasil.
- Enquanto as ideias iluministas, que fundamentaram a Revolução Francesa em 1789, chegavam ao Brasil e incendiavam os movimentos pela independência, que se multiplicavam pela colônia, a independência das treze colônias inglesas da América do Norte foi ignorada tanto nas colônias hispânicas quanto no Brasil.
Neste item, o avaliador deu algumas oportunidades para que o candidato pudesse acertar, analisemo-las. Primeiro, foi explorada uma falácia muito comum em manuais, que pretendem isolar o Iluminismo à experiência político-intelectual francesa, ignorando a força de pensadores como Adam Smith, David Hume e Immanuel Kant. O universo iluminista atraiu atenções muito além da Revolução Francesa, apesar de essa ter sido, de fato, uma de suas expressões mais extremadas. Portanto, é equivocado tratar a Independência do Estados Unidos como um fenômeno a parte do pensamento iluminista, uma vez que os "pais fundadores" americanos estavam em franco diálogo com a filosofia política do século XVIII, adotando noções como: a tripartição dos poderes (Montesquieu), o direito à revolta contra um regime tirano (J. Locke), o livre mercado e a livre iniciativa (A. Smith) e a importância das liberdades individuais (D. Hume e B. Constant). Não se pode esquecer ainda que Benjamin Franklin, um dos líderes da independência americana, foi um dos mais proeminentes pensadores iluministas na América. Ou seja, o item já estaria errado por divorciar a independência das treze colônias e o Iluminismo.
Segundo, seria muito duvidoso falar de uma multiplicação de movimentos independentistas na América portuguesa do século XVIII. Os dois principais fenômenos desse gênero no período foram a Conjuração Baiana (1798-1799) e a Inconfidência Mineira (1789), sendo a última debelada antes mesmo do seu início. Ainda que tenham sido movimentos importantes e realmente influenciados pelo Iluminismo, não se pode dizer que qualquer um deles tenha de fato posto em risco o domínio português sobre a colônia. Nessa mesma esteira, é necessário relativizar a adesão ao Iluminismo dos levantes na América hispânica e no Brasil: ainda que houvesse, sim, um influência explícita, não se pode supor que todos esses movimentos desenvolviam as mesmas pautas, tampouco que convergiam para um ponto único. Enquanto a Revolução Haitiana (1791-1804) levantava a bandeira da igualdade para acabar com a escravidão e depor a administração colonial, a Inconfidência Mineira era liderada por membros da elite local, incluindo senhores de escravos, mais preocupados com a independência das Minas Gerais e muito distante de qualquer posição clara sobre a igualdade entre os homens. Ainda nesse âmbito, a experiência americana fez ascender uma nova direção para as demais colônias do continente, já que provava ser viável a conversão de antigos súditos de coroas europeias em cidadãos de legítimas repúblicas americanas. Portanto, colocar todos esses fenômenos como iguais e negar o peso do simbolismo da república norte-americana sobre as experiências coloniais do final do século XVIII na América também são erros bastante importantes.
Por fim, destaque-se que o item incorre num erro cronológico bastante claro ao relacionar a Inconfidência Mineira à Revolução Francesa. Os acontecimentos brasileiros se concentraram no primeiro trimestre de 1789, enquanto a Queda da Bastilha, símbolo maior e inconteste do triunfo revolucionário francês, só ocorreria em 14 de julho de 1789. Portanto, é cronologicamente impossível que os inconfidentes tenham recebido influência do triunfo dos cidadãos franceses sobre o absolutismo; no entanto, é importante destacar que a experiência francesa seria de grande influência sobre a Conjuração Baiana (1798). Portanto, o item está ERRADO.
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