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Assinale a alternativa que apresenta dois movimentos ocorridos em prol da independência da Colônia brasileira e da consciência nacional.

Resposta:

A alternativa correta é letra D) Inconfidência Mineira e Conjuração dos Alfaiates.

Gabarito da banca: ALTERNATIVA D.

 

Nosso gabarito: ANULADA.

 

Assinale a alternativa que apresenta dois movimentos ocorridos em prol da independência da Colônia brasileira e da consciência nacional.

 

a)  Campanha de Canudos e Guerra do Paraguai.

A maneira mais fácil de eliminar esta alternativa seria pela caminho cronológico. Ambos os acontecimentos são da segunda metade do século XIX; ou seja, quando o Brasil já havia consolidado sua independência. A Campanha de Canudos se deu no sertão baiano entre 1893 e 1894, opondo o arraial de Canudos às forças regulares enviadas pelo governo republicano. Sob a liderança milenarista e religiosa de Antônio Conselheiro, organizou-se Canudos num arraial que, de maneira difusa, via na recém-implantada República um governo ilegítimo e esperando pelo regresso santo da monarquia. Temendo o contágio político nos interiores do Brasil, o governo republicano entendeu ser necessária a intervenção armada contra Canudos, o que levou a uma longa campanha militar contra o arraial, que resistiu em armas a ação do Exército. Já a Guerra do Paraguai se deu totalmente sob o Segundo Reinado, estendendo-se de 1864 a 1870. Respondendo à agressão armada paraguaia, Argentina e Brasil - juntamente com Uruguai - formaram a Tríplice Aliança para deter Solano López, ditador paraguaio, e fazer refluir os seus planos no bacia platina. Ou seja, em nenhum dos casos tem qualquer relação com o desmonte do sistema colonial - ainda que, de fato, a Guerra do Paraguai tenha contribuído para a consolidação da identidade nacional. Alternativa errada.

 

b)  Guerra dos Mascates e Campanha de Canudos.

Como apontado acima, a Campanha de Canudos não pertence ao período colonial e sua menção é mais do que suficiente para desconsiderar a alternativa. De todo modo, cumpre esclarecer que a Guerra dos Mascates ocorreu no início do século XVIII. Olinda, então capital da capitania de Pernambuco, vivia um delicado declínio de sua produção açucareira e o comprometimento do comércio que sempre sustentou a cidade. Paralelamente, Recife - um subúrbio de Olinda - crescia em importância pela atuação dos comerciantes locais, que praticavam juros abusivos. Em 1710, a Coroa portuguesa autorizou a separação de Recife com a criação de uma Câmara Municipal e de um Pelourinho; provocando a ira dos senhores de engenho, que acabariam invadindo Recife, acusando os comerciantes ("mascates") pela penúria econômica de Olinda. Portanto, tratou-se de uma tensão local que extrapolou para um agravamento generalizado, com a ascendente Recife sendo enfrentada pelos locais - principalmente os mazombos, isto é, os "portugueses" já nascidos na América. De toda forma, era muito importante que o estudante se questionasse qual seria o interesse da Coroa portuguesa de estancar o lucrativo comércio de açúcar e de escravos, o que representava enormes ganhos metropolitanos. O dinamismo produtivo e exportador da colônia acabava sendo muito importante para o sucesso da empresa colonial - e, portanto, a Guerra dos Mascates tinha certos laivos emancipacionistas e colorações de nacionalidade, mas nada definitivo.

Alternativa errada.

 

c)  Guerra dos Mascates e Guerra do Contestado.

Ainda que se tenha a referência à Guerra dos Mascates, aqui, novamente, a alternativa poderia ser desmontada pela cronologia. A Guerra do Contestado aconteceu entre 1912 e 1916, quando a República já era uma realidade estabelecida e as discussões sobre a independência brasileira já distavam quase um século. A Guerra do Contestado (1912-1916) se desenrolou no interior dos estados de Santa Catarina e do Paraná durante os governos de Hermes da Fonseca e de Venceslau Brás. Ou seja, trata-se de uma revolta muito posterior à queda do marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891), cuja sucessão não era propriamente regida pela Constituição promulgada em seu governo, mas sim pela ordem do golpe de Estado que resultou na Proclamação da República (1889). A queda do primeiro presidente brasileiro se deu em meio a uma forte crise econômica e política em meio à qual Fonseca ordenou a dissolução do Congresso Nacional, ato que levou à Primeira Revolta da Armada (1891), quando o presidente renunciou sob a ameaça de bombardeio contra a capital federal. De qualquer maneira, o candidato deveria olhar com desconfiança para a ideia de uma revolta fundamentalmente rural se basear numa inobservância sobre a sucessão presidencial no final do século XIX, quando boa parte dos interiores brasileiros era analfabeta e desconectada da capital federal.  A Guerra do Contestado em si foi deflagrada pelo processo de desalojamento de grande número de famílias camponesas resultante da construção de uma estrada de ferro entre o Rio Grande do Sul e São Paulo. Sob a liderança do monge José Maria, essas famílias se organizaram sob um poderoso aparato religioso contra a República, identificando na nova forma de governo a raiz de todas as suas mazelas. A região do Oeste catarinense e paranaense vinha se transformando rapidamente com a expansão ferroviária e a instalação de madeireiras, alterando profundamente a vida daqueles camponeses. Ainda que não houvesse uma motivação política claramente organizada, todas as insatisfações se voltaram contra o símbolo da República. Alternativa errada.

 

d)  Inconfidência Mineira e Conjuração dos Alfaiates.

Esta é uma alternativa muito delicada e incorre em alguns equívocos conceituais bastante importantes. A Conjuração Baiana (1798-1799) emergiu das contradições e das dificuldades vividas no ambiente da sua capitania. Salvador vivia ciclos de fome ao mesmo tempo em que a sociedade assumia uma configuração bastante singular: negros e mulatos (livres e libertos) vinham constituindo uma classe de trabalhadores urbanos (muitos deles, alfaiates) e autônomos com importante capacidade de articulação política. Nos anos anteriores, a escassez de alimentos atingiu níveis gravíssimos e deflagrou revoltas e saques em diversos pontos de Salvador. Paralelamente, negros e mulatos compunham cerca de 80% da população da capitania, e a noção de pertencimento e de revolta dos libertos contra a escravidão dava uma capacidade explosiva às mobilizações sociais na Bahia. Influenciados pelos acontecimentos no Haiti, pela Revolução Francesa e pelo pensamento iluminista, esses trabalhadores urbanos conspiraram pela proclamação de uma republica baiana independente, com fortes vínculos com a França revolucionária e livre da escravidão. Ou seja, a revolta tinha como ponto focal as questões mais importantes da vida da capitania, pretendendo libertá-la; do que, conclui-se, não se tratava de um esforço de independência de toda a América portuguesa ou de um ponto decisivo de formação da identidade (ou nacionalidade) brasileira: os assuntos gravitavam em torno da capitania. O mesmo se dará quanto à Inconfidência Mineira (1789). Apesar de muito festejado por uma historiografia mais tradicionalista, o ciclo do ouro das Minas Gerais teve uma duração relativamente curta, ainda que tenha formado uma nova sociedade e uma série de novos núcleos urbanos na capitania. O movimento mineiro reunia a elite intelectual e econômica de Vila Rica, principal cidade de Minas Gerais, numa conspiração para deflagrar a independência da capitania mineira frente ao domínio português. Entre as principais causas da revolta estava a cobrança de pesados impostos sobre a mineração, mesmo com o grave declínio da atividade mineradora no último quarto do século XVIII. À época, Portugal cobrava, em impostos, tanto a quinta parte de toda produção aurífera na colônia quanto estabelecia que anualmente a capitania deveria pagar uma quantia fixa em impostos (a chamada "Derrama"). Acossados pelos impostos em tempos de declínio, os principais membros da sociedade colonial ligada à mineração planejaram uma revolução para libertar apenas a capitania de Minas Gerais (e não toda a colônia) frente a Portugal, fundando uma república na América. Novamente, não se tratava de um movimento que pensava a formação brasileira, mas sim se estruturava em torno da vida da capitania. O que ocorre é que a historiografia tradicional brasileira, principalmente aquela ligada às primeiras décadas da República, adotou esses movimentos como grandes manifestações incontestes do sentimento nacional, formas de expressar a emancipação como uma força nativa, e não como um processo oriundo das elites que formariam a monarquia no início do século XIX. Trata-se, de toda forma, de rematado erro factual generalizar esses processos como esforços emancipacionistas brasileiros e como traços incontestes de uma nacionalidade nativista generalizada. Alternativa errada.

 

e)  Conjuração dos Alfaiates e Campanha de Canudos.

Como comentado acima, é impossível associar a Campanha de Canudos ao processo de independência do Brasil, já que lhe é posterior. Alternativa errada.

 

IMPORTANTE!

A questão não apresenta nenhuma alternativa correta, isto é fato bastante claro. O gabarito, infelizmente, baseia-se em uma bibliografia há muito superada dentro dos estudos historiográficos brasileiros, o que é algo muito grave num concurso desta natureza. No entanto, no momento da prova, é importante que o candidato tenha uma conduta pragmática; afinal, o que está em jogo é a sua pontuação, e não os destinos historiográficos do Brasil. Isto é, há sempre de se perseguir, no momento da prova, a alternativa mais plausível; deixando para as instâncias recursais todo o concentrado bibliográfico disponível para formular uma argumentação.

 

Nesse sentido, há de se observar que, cronologicamente, as alternativas A, B, C e E são absolutamente impraticáveis. Ou seja, não há a menor possibilidade de sustentação factual para apontar qualquer uma delas como correta - já que seus erros são cronológicos e extremamente banais. Restaria, portanto, ao candidato resignar-se à alternativa D, que é apontada como correta pelo gabarito. No entanto, durante os recursos, deveria, sim, a banca ter acatado argumentações sobre o gravíssimo erro em torno da questão, já que há caudalosa bibliografia que contesta o caráter do nacionalismo brasileiro atribuído aos movimentos citados. Portanto, ainda que fosse possível o acerto no momento da prova por um candidato prudente, não se pode descartar que há flagrante erro material na alternativa apontada como correta. Assim, não há outra possibilidade que não se optar pela ANULAÇÃO da questão.

 

Gabarito da banca: ALTERNATIVA D

Nosso gabarito: ANULADA

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