Como tratar com os índios
A experiência de trezentos anos tem feito ver que a aspereza é um meio errado para domesticar os índios; parece, pois, que brandura e afago são os meios que nos restam. Perdoar-lhes alguns excessos, de que sem dúvida seria causa a sua barbaridade e longo hábito com a falta de leis. Os habitantes da América são menos sanguinários do que os negros d’África, mais mansos, tratáveis e hospitais.
VILHENA, L. S. A Bahia no século XVIII. Salvador: Itapuã, 1969 (adaptado).
O escritor português Luís Vilhena escreve, no século XVIII, sobre um tema recorrente para os homens da sua época. Seu posicionamento emerge de um contexto em que
- A) o índio, pela sua condição de ingenuidade, representava uma possibilidade de mão de obra nas indústrias.
- B) a abolição da escravatura abriu uma lacuna na cadeia produtiva, exigindo, dessa forma, o trabalho do nativo.
- C) o nativo indígena, estereotipado como um papel em branco, deveria adequar-se ao mundo do trabalho compulsório.
- D) a escravidão do indígena apresentou-se como alternativa de mão de obra assalariada para a lavoura açucareira.
- E) a escravidão do negro passa a ser substituída pela indígena, sob a alegação de os primeiros serem selvagens.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) o nativo indígena, estereotipado como um papel em branco, deveria adequar-se ao mundo do trabalho compulsório.
Gabarito: Letra C
(o nativo indígena, estereotipado como um papel em branco, deveria adequar-se ao mundo do trabalho compulsório.)
O que notamos no trecho do escritor português é a defesa da utilização do trabalho indígena na colônia. E para defender seu ponto de vista, menciona que os nativos são mais mansos, melhores nas relações, são hospitaleiros, menos sanguinários do que os negros, ou seja, por serem mais gentis e dóceis, se tratados com menos violência e aspereza poderiam ser convertidos em mão de obra para os empreendimentos coloniais.
Esse trecho do escritor se insere nos debates promovidos ao longo dos séculos sobre qual a melhor mão de obra a ser utilizada na colônia: a indígena ou a africana.
De qualquer modo, ambas forças de trabalho eram compulsórias e não assalariadas.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: o índio, pela sua condição de ingenuidade, representava uma possibilidade de mão de obra nas indústrias.
O índio representava uma possibilidade de mão de obra na lavoura canavieira, do fumo ou algodoeira.
Letra B: a abolição da escravatura abriu uma lacuna na cadeia produtiva, exigindo, dessa forma, o trabalho do nativo.
No século XVIII, momento em que o autor está escrevendo, a abolição da escravidão não acontecera. O século XVIII ainda faz parte da era da escravidão no Brasil, que só termina em fins do século XIX.
Letra D: a escravidão do indígena apresentou-se como alternativa de mão de obra assalariada para a lavoura açucareira.
Era uma alternativa de mão de obra em relação aos negros, porém não assalariada. Mão de obra sempre escrava.
Letra E: a escravidão do negro passa a ser substituída pela indígena, sob a alegação de os primeiros serem selvagens.
O autor está falando de um momento em que ocorreu o contrário, quando a mão de obra indígena declinou e passou a ser substituída pela mão de obra africana, processo que se iniciara no século XVI e se tornou constante nos demais séculos até ocorrer o fim do tráfico em 1850 e depois o fim da escravidão em 1888.
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