Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito. Eram pardos, todos nus. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros. Os cabelos seus são corredios.
CAMINHA, P. V. Carta. RIBEIRO, D. et al. Viagem pela história do Brasil: documentos.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997 (adaptado).
O texto é parte da famosa Certa de Pero Vaz de Caminha, documento fundamental para a formação da identidade brasileira. Tratando da relação que, desde esse primeiro contato, se estabeleceu entre portugueses e indígenas, esse trecho da carta revela a
- A) preocupação em garantir a integridade do colonizador diante da resistência dos índios à ocupação da terra.
- B) postura etnocêntrica do europeu diante das características físicas e práticas culturais do indígena.
- C) orientação da política da Coroa Portuguesa quanto à utilização dos nativos como mão de obra para colonizar a nova terra.
- D) oposição de interesses entre portugueses e índios, que dificultava o trabalho catequético e exigia amplos recursos para a defesa da posse da nova terra.
- E) abundância da terra descoberta, o que possibilitou a sua incorporação aos interesses mercantis portugueses, por meio da exploração econômica dos índios.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) postura etnocêntrica do europeu diante das características físicas e práticas culturais do indígena.
Gabarito: Letra B
postura etnocêntrica do europeu diante das características físicas e práticas culturais do indígena.
De acordo com Kalina Silva e Maciel Henrique Silva, etnocentrismo pode ser definido como uma visão de mundo fundamentada rigidamente nos valores e modelos de uma dada cultura.
Isso ocorre quando um determinado grupo, com traços culturais característicos e uma visão de mundo própria entra em contato com outro grupo que apresenta práticas culturais distintas, o estranhamento e o medo são as reações mais comuns.
A carta de Pero Vaz de Caminha é conhecida como a “certidão de batismo do Brasil”, pois foi o primeiro documento escrito por alguém que esteve na viagem de Pedro Álvares Cabral que atracou no litoral brasileiro.
Por não saber quem são aqueles homens e mulheres, o que podemos observar dos trechos é um certo estranhamento do autor em relação às características físicas dos indígenas, principalmente o tom de pele e o hábito de andar nu. Depois, notamos o seu relato sobre elementos culturais como o arco e flecha e o costume de colocar pequenos ossos nos lábios.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: preocupação em garantir a integridade do colonizador diante da resistência dos índios à ocupação da terra.
Não notamos no trecho da carta de Caminha qualquer indício de resistência indígena. Pelo contrário, trata-se do registro primeiramente de um avistamento. Nem chegou ainda a ser um contato direto.
Letra C: orientação da política da Coroa Portuguesa quanto à utilização dos nativos como mão de obra para colonizar a nova terra.
Não notamos no trecho da carta de Caminha qualquer indício de uma política de exploração da mão de obra indígena. Trata-se do registro primeiramente de um avistamento dos habitantes daquela localidade.
Letra D: oposição de interesses entre portugueses e índios, que dificultava o trabalho catequético e exigia amplos recursos para a defesa da posse da nova terra.
Não há indícios apontando elementos ou práticas religiosas e muito menos conflito de interesses entre portugueses e indígenas. Como já dito, foi o primeiro avistamento dos portugueses para só então travarem maiores contatos com os indígenas.
Letra E: abundância da terra descoberta, o que possibilitou a sua incorporação aos interesses mercantis portugueses, por meio da exploração econômica dos índios.
Isso ocorreria mais tarde quando a lógica colonial entrou em ação sobre o Brasil com a retirada da madeira do pau-brasil e a exploração da mão de obra indígenas. Em um primeiro momento só observamos os contatos entre portugueses e os povos nativos.
Referência:
SILVA, Kalina Vanderlei e SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo : Contexto, 2009.
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