Do século XVII ao XIX, capitais particulares possibilitaram o estabelecimento de antigos núcleos baleeiros e a exploração da pesca da baleia na costa brasileira. Engenho de frigir, casa grande da Armação, campanhas de baleeiros, capela, senzalas e dezenas de construções ergueram-se nas proximidades dos aglomerados humanos marítimos e lembraram o velho engenho de moer cana, para o qual convergiam as múltiplas dependências da antiga indústria açucareira. Concentraram técnicas, aparelhagens e mão-deobra assalariada e servil, para as arriscadas lidas marítimas a primeira e a segunda destinadas às fábricas de beneficiamento do óleo das baleias e aos serviços terrestres, capital humano representado pelo escravo incorporado àquela indústria. (…) Tantos cuidados não receberam os assalariados… Quanto aos outros males, escravos estuporados, paralíticos de um ou mais membros, coxos, curvados pela cintura, defeituosos, reumáticos, de pé cortado, com erisipela ou com moléstia crônica, trêmulos, cegos, caolhos, atacados de gota, doentes do peito eram frequente e muitos denunciam certamente más condições de vida e de trabalho dos antigos entrepostos baleeiros do Brasil”..
GÂNDAVO, P. M. Tratado da Terra do Brasil: História da Província Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980 (adaptado).
Sobre o tema, é correto afirmar que o texto
- A) apresenta o investimento na produção de óleo de baleia, fundamental à lavoura açucareira que necessitava desse combustível para as caldeiras dos engenhos.
- B) destaca a real função das feitorias litorâneas: garantir a extração de óleo derivado do cetáceo e exportado para Lisboa para ser utilizado na iluminação e na construção civil.
- C) difere da história colonial tradicionalmente marcada pelos ciclos econômicos do pau-brasil, açúcar, mineração e gado e destaca trabalhos assalariados no período.
- D) demonstra que a prática indígena de extração de óleo de baleia foi rapidamente assimilada e apropriada pelo comércio europeu, que dominou o setor.
- E) sugere melhores condições de trabalho dadas aos escravos de ganho e usados na pesca e pecuária do que aos escravos das lavouras de açúcar e café.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) difere da história colonial tradicionalmente marcada pelos ciclos econômicos do pau-brasil, açúcar, mineração e gado e destaca trabalhos assalariados no período.
Gabarito: ALTERNATIVA C
Do século XVII ao XIX, capitais particulares possibilitaram o estabelecimento de antigos núcleos baleeiros e a exploração da pesca da baleia na costa brasileira. Engenho de frigir, casa grande da Armação, campanhas de baleeiros, capela, senzalas e dezenas de construções ergueram-se nas proximidades dos aglomerados humanos marítimos e lembraram o velho engenho de moer cana, para o qual convergiam as múltiplas dependências da antiga indústria açucareira. Concentraram técnicas, aparelhagens e mão-de-obra assalariada e servil, para as arriscadas lidas marítimas a primeira e a segunda destinadas às fábricas de beneficiamento do óleo das baleias e aos serviços terrestres, capital humano representado pelo escravo incorporado àquela indústria. (…) Tantos cuidados não receberam os assalariados… Quanto aos outros males, escravos estuporados, paralíticos de um ou mais membros, coxos, curvados pela cintura, defeituosos, reumáticos, de pé cortado, com erisipela ou com moléstia crônica, trêmulos, cegos, caolhos, atacados de gota, doentes do peito eram frequente e muitos denunciam certamente más condições de vida e de trabalho dos antigos entrepostos baleeiros do Brasil”.
- Sobre o tema, é correto afirmar que o texto
Numa questão dessa natureza, há sempre o estudante de ter clareza sobre o que pede a douta banca: que seja feito um exercício de interpretação de texto inteiramente voltado para o excerto que abre ao enunciado. Na prática, isso significa que o candidato não deve recorrer a nenhuma informação além do texto apresentado, devendo apenas indicar a alternativa que mais bem represente as ideias expressas pelo autor. Desta forma, analisemos as alternativas que seguem.
- a) apresenta o investimento na produção de óleo de baleia, fundamental à lavoura açucareira que necessitava desse combustível para as caldeiras dos engenhos.
Note bem o estudante que o que o autor faz é uma comparação entre as duas produções, dizendo que, assim como a indústria açucareira, a produção de óleo de baleia exigia a construção e a manutenção de uma série de estruturas, envolvendo tanto imóveis quanto aparelhos. Ou seja, não tinha nenhuma relação direta de abastecimento entre os polos produtivos aqui abordados. Alternativa errada.
- b) destaca a real função das feitorias litorâneas: garantir a extração de óleo derivado do cetáceo e exportado para Lisboa para ser utilizado na iluminação e na construção civil.
Não há qualquer referência, no texto, sobre o destino da produção de óleo de baleia (mamífero aquático; ou seja, classificado como cetáceo) produzido na América portuguesa. O autor se concentra sobre a estrutura produtiva e a realidade do trabalho nessas feitorias, e não tanto na produção e no comércio em si. Alternativa errada.
- c) difere da história colonial tradicionalmente marcada pelos ciclos econômicos do pau-brasil, açúcar, mineração e gado e destaca trabalhos assalariados no período.
De fato, trata-se de uma abordagem pouco usual sobre a economia colonial, uma vez que a bibliografia, de uma maneira geral, concentrou-se nos grandes circuitos econômicos; ou seja, àquelas atividades que mais atraíram investimentos, bem como concentraram maior atenção das autoridades coloniais. Ou seja, para se abordar o tema das feitorias baleeiras do período, é necessário que se desvie da narrativa dos grandes ciclos, observando circuitos econômicos menos lucrativos, mas não necessariamente menos complexos. E, de fato, há uma preocupação sobre se pensar o lugar do trabalho assalariado dentro dessa realidade, buscando observar se havia trajetórias relevantes do trabalho livre nessas feitorias. No entanto, o autor é muito claro ao apontar que os recursos humanos eram inteiramente abastecidos pelo trabalho compulsório, o que, dada a natureza da atividade, implicava em terríveis flagelos aos cativos; praticamente inexistindo trabalho assalariado nessa atividade. ALTERNATIVA CORRETA.
- d) demonstra que a prática indígena de extração de óleo de baleia foi rapidamente assimilada e apropriada pelo comércio europeu, que dominou o setor.
Não há qualquer referência à atividade indígena no trecho citado no enunciado. Além disso, a exploração de óleo de baleia exigia uma série de tecnologias que as nações indígenas presentes na América portuguesa não dominavam. Como fica claro no texto, a produção exigia a organização da produção com ampla aparelhagem, o que inexistia antes da presença europeia na região. Alternativa errada.
- e) sugere melhores condições de trabalho dadas aos escravos de ganho e usados na pesca e pecuária do que aos escravos das lavouras de açúcar e café.
A alternativa é completamente descabida. Atente o estudante que, ao final do texto, o autor explora justamente as péssimas condições de trabalho e de vida dos escravizados nessas feitorias. A própria natureza da atividade impunha riscos terríveis a todos os trabalhadores, o que se traduzia em perdas humanas e danos irreversíveis à saúde. Portanto, ainda que não se possa achar qualquer qualidade no flagelo da escravidão, há de se observar que a situação de cativos em outras atividades era incomparavelmente melhor do que a daqueles dedicados à exploração do óleo de baleia. Alternativa errada.
Note, portanto, que nada mais temos aqui do que um exercício de interpretação de texto, já que todas as alternativas erradas apresentam informações incompatíveis com a leitura do texto proposto no enunciado. Assim, está correta a ALTERNATIVA C.
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