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Leia, atentamente, o texto:

 

O dia em que o capitão-mor, Pedro Álvares Cabral, levantou a cruz, que no capítulo atrás dissemos, era 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz, em que Cristo Nosso Senhor morreu por nós, e por essa causa pôs nome à terra, que havia descoberto de Santa Cruz, e por esse nome foi conhecida muito anos. Porém, como o demônio, com o sinal da cruz, perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando também perder o muito que tinha nos dessa terra, trabalhou para que se esquecesse o primeiro nome, e lhe ficasse o de Brasil (…)

 

SALVADOR, Frei Vicente. História do Brazil (1500-1627). Curitiba: Jurua, 2005, p.37.

 

Com base no trecho acima, é CORRETO afirmar que

Resposta:

A alternativa correta é letra C) a crença na interferência de Deus e do demônio no cotidiano colonial, apresenta-se como chave interpretativa fundamental, no entendimento do processo de ocupação da nova terra.

Gabarito: ALTERNATIVA C

Com base no trecho acima, é CORRETO afirmar que

  • a)  a religiosidade tinha pouca relevância no estabelecimento da colonização do Brasil, ocupando apenas papel secundário na percepção da natureza e do comportamento dos colonos.

Nessa alternativa, o avaliador mais parece ter procurado examinar a capacidade de interpretação de texto do candidato. Ora, se o texto proposto discorre exatamente sobre a primeira missa portuguesa na América e sobre o batismo da Terra de Santa Cruz, como poderia ser a religião um elemento secundário? Além disso, o fator religioso era basilar para todo o esforço das Grandes Navegações (séculos XIV-XVI), tendo na propagação da fé católica um dos seus maiores fatores de justificação. Não se pode explicar o fenômeno das navegações sem passar pelo esforço de cristianização; como também o estudante há de se recordar que a Cruz da Ordem de Cristo estampava as velas das naus, bem como as expedições contavam com clérigos em suas tripulações. Portanto, alternativa errada.

  • b)  opiniões como a de Frei Vicente do Salvador não eram consideradas de modo geral, uma vez que eram entendidas como uma leitura assentada no obscurantismo da Igreja medieval.

Há dois caminhos básicos para que o candidato entenda o erro dessa alternativa. Primeiro, Frei Vicente do Salvador (1564-1636) sempre ocupou um lugar de deferência na historiografia brasileira, sendo amplamente reconhecido como um dos maiores pioneiros no esforço da organização da história da colonização portuguesa na América. Segundo, é bastante equivocada a construção que iguala o pensamento religioso da Idade Média ao obscurantismo. Há de se recordar o estudante que São Tomás de Aquino e Santo Agostinho foram lumiares do pensamento universal exatamente dentro da Igreja medieval, momento de surgimento de um caldo de cultura intelectual muito potente que ecoaria de diferentes formas nos séculos seguintes. Ainda que os temas sejam fortemente dominados por questões religiosas entre o Bem e o Mal, a capacidade analítica sobre as novas realidades não pode ser desconsiderada. Portanto, alternativa errada.

  • c)  a crença na interferência de Deus e do demônio no cotidiano colonial, apresenta-se como chave interpretativa fundamental, no entendimento do processo de ocupação da nova terra.

A banca foi muito feliz ao trazer a expressão "chave interpretativa". A presença cotidiana da divindade e do demônio na vida colonial constituía, também, uma maneira de interpretar o mundo e todos os seus fenômenos. As discussões iam muito além da vontade obscura de seres de outros planos, mas se embrenhavam na construção de explicações complexas para a realidade observada a partir das lentes religiosas. A ação divina e os descaminhos malignos tinham quase que a mesma materialidade da realidade palpável dentro da compreensão do cotidiano colonial, principalmente nos séculos XVI e XVII. Portanto, essa religiosidade repleta de intervenções terrenas constitui, sim, uma chave interpretativa para o longuíssimo caminho da colonização e da ocupação branca no Novo Mundo. Assim, ALTERNATIVA CORRETA.

  • d)  questões como a levantada por Frei Vicente do Salvador não tiveram qualquer peso no período colonial, uma vez que todos os colonos se preocupavam, exclusivamente, com a obtenção de vantagens econômicas, pouco se importando com questões espirituais.

Apesar de as leituras baseadas no materialismo histórico sempre pressionarem no sentido da observação das vantagem econômicas, o candidato precisa ter claro que o mundo vivido por Frei Vicente do Salvador tem marcas profundas da religiosidade. Os colonos portugueses se lançavam ao Novo Mundo com a certeza da proteção e do dever católicos; e o enfrentamento de todas o desconhecido que era a América era municiado pela absoluta certeza sobre a vontade divina. Some-se a isso as dúvidas levantadas pelo catolicismo contra o enriquecimento descontrolado e a imoralidade da usura: as mentes dos colonos eram atormentadas pelo risco do inferno para aqueles que se distanciassem da fé na busca descontrolada pelo crescimento material individualizado. Portanto, é erro grave atribuir aos colonos dos dois primeiros séculos a ganância desenfreada e apartada da fé, deixando de lado todas as contradições e dúvidas vividas por aqueles durante o processo de ocupação da América portuguesa. Assim, alternativa errada.

Repare o estudante que as alternativas que negam a centralidade da fé no cotidiano colonial acabam por se anularem, já que não pode haver mais do que uma resposta correta. Atente que três alternativas depõem contra o lugar da religiosidade no século XVII, enquanto apenas uma vai no sentido contrário. Perceber essas nuances estruturais pode ser um bom caminho para superar dúvidas no momento da prova. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA C.

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