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Leia atentamente o texto abaixo:

“Mas na ‘preferência’ pelo africano revela-se, cremos, mais uma vez, a engrenagem do sistema mercantilista de colonização; esta se processa, repitamo-lo tantas vezes quanto necessário, num sistema de relações tendentes a promover a acumulação primitiva na metrópole […] a acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía para a metrópole, realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa ‘mercadoria’. Esse talvez seja o segredo da melhor ‘adaptação’ do negro à lavoura… escravista. Paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão africana colonial e não o contrário.

(NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial. 1777-1808. São Paulo: Hucitec, 1979, p.105.)

Este texto, hoje um clássico da historiografia nacional, faz uma leitura da sociedade colonial na América Portuguesa entre os séculos XVI e XVIII como sendo uma “peça de um sistema, um instrumento da acumulação primitiva da época do capitalismo mercantil” (NOVAIS, 1979, p.70). Logo, segundo essa tese:

Resposta:

A alternativa correta é letra C) A existência do escravismo africano no Brasil é resultado de uma imposição metropolitana.

Gabarito: ALTERNATIVA C

   

 

(NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial. 1777-1808. São Paulo: Hucitec, 1979, p.105.)

 

    Note bem o estudante que a banca pede nesta questão apenas que se faça uma interpretação sobre a tese do autor acerca do lugar do tráfico atlântico de escravos nas engrenagens maiores do império português. Consequentemente, deve o candidato se ater às informações propostas no enunciado, e não a outras fontes de informação - afinal, o que se pede é que se assinale a alternativa que mais bem represente a tese de Fernando Novais. Assim, observemos as alternativas propostas.

     
    • a)  A baixa densidade demográfica portuguesa impediu que a Metrópole trouxesse para a sua colônia na América mão de obra para sustentar a empresa açucareira.

    Há clara discordância entre a alternativa e o texto do enunciado. Não se tratava de uma questão demográfica, mas sim da organização de todo um sistema mercantil para a acumulação primitiva de capital. Ou seja, jamais se ponderou a sério a possibilidade de transferir cidadãos portugueses para o trabalho na lavoura colonial; havendo dois "inconvenientes": o custo do trabalho assalariado sobre a agroexportação e a diminuição dos lucros altíssimos do tráfico de escravos. Alternativa errada.

     
    • b)  A dificuldade dos colonos portugueses em prear e manter grupos de indígenas em cativeiro foi o que levou ao uso do escravo africano.

    O excerto citado no enunciado vai de encontro a exatamente este tipo de interpretação. A maior "facilidade" de se empregar mão de obra escrava oriunda da África era apenas uma justificativa para a manutenção de um comércio extremamente lucrativo para Portugal. Portanto, a escravização de indígenas tinha o "inconveniente" de se diminuir a demanda por escravos africanos, arrefecendo a acumulação de capitais resultante do tráfico negreiro. Alternativa errada.

     
    • c)  A existência do escravismo africano no Brasil é resultado de uma imposição metropolitana.

    É um tanto quanto "arrojado" se falar em uma imposição metropolitana para assuntos coloniais, uma vez que havia múltiplos caminhos de negociação e de trocas entre a colônia e o poder central. No entanto, é inegável que, para Novais, o interesse metropolitano foi crucial para a adoção de cativos africanos em larga escala nas plantations da América portuguesa. Isso se deveu, sobretudo, aos grandes ganhos econômicas que o comércio de escravos rendia a Portugal; afinal, era um setor inteiramente dominado por mercadores portugueses, concentrando os capitais no reino. Assim, manter o sistema escravocrata da plantation não era interessante apenas pela diminuição dos custos de produção, mas também pelas grandes engrenagens movidas pela escravização de africanos, gerando grandes ganhos econômicos para a metrópole. ALTERNATIVA CORRETA.

     
    • d)  O início da Revolução Industrial na Europa demandava grandes contingentes de mão de obra nas fábricas nascentes, levando Portugal a buscar a alternativa africana.

    A alternativa é completamente despropositava, porque a Revolução Industrial data de meados do século XVIII, enquanto o tráfico atlântico de escravos ocorria desde o século XVI. Além disso, o mundo industrial exige a formação de grandes mercados consumidores para absorver a nova escala produtiva, o que só é possível com a introdução do trabalho monetariamente remunerado. Consequentemente, não faz sentido se pensar que a Revolução Industrial, que demorou muito a se aproximar de Portugal, pressionaria no sentido da escravização. Alternativa errada.

     
    • e)  Os conflitos entre a Igreja Católica e a Coroa Portuguesa envolvendo a escravização de indígenas forçou a busca pela alternativa africana.

    De fato, havia uma pressão da Igreja Católica para que fosse proibida a escravização de indígenas aldeados e convertidos ao cristianismo, o que era uma forma de proteger a obra dos missionários do Novo Mundo. Mas isso foi acatado pelo rei português ainda no século XVI, quando se restringiu a escravização de indígenas àqueles bravios que se recusassem à cristianização. No entanto, o argumento de Novais não passa por esta questão; para ele, a lucratividade exorbitante do tráfico de escravos tornava, para o Estado português, inconveniente a escravização de indígenas e incontornável o emprego em grande escala de cativos africanos na América portuguesa. Alternativa errada.

       

    Por fim, note o estudante que um esforço de interpretação de texto seria mais do que suficiente para eliminar todas as alternativas erradas. Ainda que o trecho citado não fosse o de mais fácil interpretação, com alguns conhecimentos prévios e muito atenção à leitura, seria possível encontrar a alternativa (bastante simples) que mais bem espelha o argumento do autor. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA C.

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