Leia o texto para responder à questão.
A casa-grande, residência do senhor de engenho, é uma vasta e sólida mansão térrea ou em sobrado; distingue-se pelo seu estilo arquitetônico sóbrio, mas imponente, que ainda hoje empresta majestade à paisagem rural, nas velhas fazendas de açúcar que a preservaram. Constituía o centro de irradiação de toda a atividade econômica e social da propriedade. A casa-grande completava-se com a capela, onde se realizavam os ofícios e as cerimônias religiosas […]. Próximo se erguia a senzala, habitação dos escravos, os quais, nos grandes engenhos, podiam alcançar algumas centenas de “peças”. Pouco além serpenteava o rio, traçando através da floresta uma via de comunicação vital. O rio e o mar se mantiveram, no período colonial, como elementos constantes de preferência para a escolha da situação da grande lavoura. Ambos constituíam as artérias vivificantes: por meio delas o engenho fazia escoar suas safras de açúcar e, por elas, singravam os barcos que conduziam as toras de madeira abatidas na floresta, que alimentavam as fornalhas do engenho, ou a variedade e a multiplicidade de gêneros e artigos manufaturados que o engenho adquiria alhures […].
(Alice Canabrava apud Déa Ribeiro Fenelon (org.).
50 textos de história do Brasil,1986.)
Quanto à organização da vida e do trabalho no engenho colonial, o texto
- A) destaca a ausência de quaisquer relações de trabalho e de amizade dos senhores com os seus escravos.
- B) demonstra a distribuição espacial das construções e seu papel no funcionamento e na lógica do poder dentro do engenho.
- C) enfatiza a predominância do trabalho compulsório e os lucros obtidos na comercialização de escravos de origem africana.
- D) denuncia o descaso dos senhores de engenho com a escolha da localização para a instalação do engenho.
- E) atesta a irracionalidade do posicionamento das edificações e os problemas logísticos trazidos pela falta de planejamento espacial.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) demonstra a distribuição espacial das construções e seu papel no funcionamento e na lógica do poder dentro do engenho.
Gabarito: Letra B
demonstra a distribuição espacial das construções e seu papel no funcionamento e na lógica do poder dentro do engenho.
A questão poderia ser resolvida com base na interpretação do texto.
Podemos notar que o trecho do texto demonstra a existência de construções ao longo do engenho e como essas construções estavam distribuídas espacialmente obedecendo a uma lógica de poder.
A casa-grande, sendo a edificação principal do engenho, era a residência do proprietário, da sua família e de agregados, que reunia funções de fortaleza, hospedaria e escritório. A capela era quase uma continuidade da casa-grande, local de realização de atividades religiosas, demonstrando a presença do catolicismo dentro do engenho. Por fim, a senzala, local de habitação de dezenas ou centenas de escravizados, com frequência presos pelos pés e braços, deitados em chão de terra e em péssimas condições de higiene.
O trecho ainda fala que o engenho era erguido próximo aos rios a fim de aproveitar a comunicação fluvial com o mar, além de ser um importante meio para levar água aos moinhos do engenho e também a floresta de onde se obtinha madeiras para a utilização como combustível para as máquinas que produziam o açúcar.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: destaca a ausência de quaisquer relações de trabalho e de amizade dos senhores com os seus escravos.
O trecho não trata de relações de trabalho e de amizade dos senhores com os seus escravos diretamente. O texto está falando das construções que existiam no engenho bem como as paisagens que existiam nessa unidade produtiva. Podemos inferir que existiam relações de trabalho através da presença dos escravizados, que habitavam as senzalas em oposição à casa-grande, local de moradia do senhor de engenho e de sua família.
Letra C: enfatiza a predominância do trabalho compulsório e os lucros obtidos na comercialização de escravos de origem africana.
O texto faz uma pequena menção aos escravizados como moradores da senzala. Sabemos que eles realizavam trabalho compulsório nos engenhos de cana-de-açúcar, mas o texto em si não aborda os lucros obtidos da atividade escravista.
Letra D: denuncia o descaso dos senhores de engenho com a escolha da localização para a instalação do engenho.
Pelo contrário, a escolha da localização do engenho parece obedecer a uma lógica que visa obter matérias-primas como combustível para as máquinas do engenho, assim como a proximidade aos rios de onde se faz a comunicação para obter água para o engenho, produtos para consumo interno e ligação com o mar para exportação do açúcar e produtos de origem do engenho.
Letra E: atesta a irracionalidade do posicionamento das edificações e os problemas logísticos trazidos pela falta de planejamento espacial.
O texto demonstra uma lógica de poder onde o posicionamento das edificações reforça as diferenças sociais e hierárquicas. Não havia falta de planejamento espacial. Notamos que as construções no engenho possuem finalidades específicas, assim como a própria organização do engenho que segue uma lógica geográfica, aproveitando as paisagens próximas à unidade produtiva.
Referência:
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
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