O alfaiate pardo João de Deus, que, na altura em que foi preso, não tinha mais do que 80 réis e oito filhos, declarava que “Todos os brasileiros se fizessem franceses, para viverem em igualdade e abundância”.
MAXWELL, K. Condicionalismo da independência do Brasil. SILVA, M. N. (Org.)
O império luso-brasileiro, 1750-1822. Lisboa: Estampa, 1986.
O texto faz referência à Conjuração Baiana. No contexto da crise do sistema colonial, esse movimento se diferenciou dos demais movimentos libertários ocorridos no Brasil por
- A) defender a igualdade econômica, extinguindo a propriedade, conforme proposto nos movimentos liberais da França napoleônica.
- B) introduzir no Brasil o pensamento e o ideário liberal que moveram os revolucionários ingleses na luta contra o absolutismo monárquico.
- C) propor a instalação de um regime nos moldes da república dos Estados Unidos, sem alterar a ordem socioeconômica escravista e latifundiária.
- D) apresentar um caráter elitista burguês, uma vez que sofrera influência direta da Revolução Francesa, propondo o sistema censitário de votação.
- E) defender um governo democrático que garantisse a participação política das camadas populares, influenciado pelo ideário da Revolução Francesa.
Resposta:
A alternativa correta é letra E) defender um governo democrático que garantisse a participação política das camadas populares, influenciado pelo ideário da Revolução Francesa.
Gabarito: Letra E
(defender um governo democrático que garantisse a participação política das camadas populares, influenciado pelo ideário da Revolução Francesa.)
A Conjuração Baiana foi a mais ampla e popular das rebeliões coloniais. Participaram dela padres, profissionais liberais (como médicos e advogados), alguns membros da elite intelectual e, sobretudo, pessoas dos grupos sociais mais pobres, como sapateiros, ex-escravizados, soldados e vários alfaiates. Por isso, também ficou conhecida como Revolta dos Alfaiates.
O contexto da rebelião popular está ligado ao período de difusão de ideias iluministas pela Europa que chegaram à América Portuguesa, mais especificamente em Salvador, palco da agitação. Circulavam pela cidade ideias como liberdade, fim da opressão e da tirania, igualdade, justiça e soberania popular. Além disso, as informações sobre os acontecimentos revolucionários da França e do Haiti animaram os participantes do movimento que lutaram pela proclamação de um governo republicano, democrático e livre de Portugal; o fim da escravidão e dos preconceitos contra negros e mulatos; a liberdade de comércio e o aumento dos salários dos soldados.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: defender a igualdade econômica, extinguindo a propriedade, conforme proposto nos movimentos liberais da França napoleônica.
A Conjuração Baiana foi um episódio ocorrido no Brasil e está ligado ao contexto revolucionário francês. Ela aconteceu em 1798, um pouco antes da chegada de Napoleão ao poder.
Letra B: introduzir no Brasil o pensamento e o ideário liberal que moveram os revolucionários ingleses na luta contra o absolutismo monárquico.
O pensamento e o ideário liberal que moveram os participantes da conjuração tinham sua origem no movimento iluminista francês. Eles não queriam enfraquecer o poder do rei como os ingleses fizeram. Queriam separar a Bahia e transformá-la em uma república parecida com as ideias de Rousseau e concretizada na prática no período jacobino que se estendeu de 1792 a 1794.
Letra C: propor a instalação de um regime nos moldes da república dos Estados Unidos, sem alterar a ordem socioeconômica escravista e latifundiária.
Os participantes do movimento queriam instalar um regime democrático pregando a igualdade entre brancos, negros e pardos, sem qualquer discriminação. Seu exemplo não era os EUA, mas a França jacobina e republicana de 1792-1794.
Letra D: apresentar um caráter elitista burguês, uma vez que sofrera influência direta da Revolução Francesa, propondo o sistema censitário de votação.
Os participantes do evento eram de origem popular, logo não representavam a burguesia e nem a elite.
Referências:
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
VICENTINO, Cláudio. Teláris - história, 8º ano: ensino fundamental, anos finais. São Paulo: Ática, 2018.
Deixe um comentário