O mestre-de-campo Inácio Corrêa Pamplona, “bruto e rústico”, conhecedor, provável partícipe e denunciante dos planos inconfidentes, tal e qual um Brancaleone dos trópicos, levava consigo, nas expedições contra os quilombolas, músicos, poetas populares e clérigos. Às barbaridades provavelmente cometidas por seus homens na caça ao “negro fugido”, expressas na extração de alguns “pares de orelhas” como indicadores do êxito da empreitada, sucediam-se sessões de declamação poética, recitais de música e orações que procuravam exaltar os propósitos civilizadores da expedição.
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Tomás Antônio Gonzaga, outrora poderoso ouvidor de Vila Rica, mesmo ocupado com os poemas à sua doce Marília de Dirceu e, provavelmente na segunda metade da década de 1780 já às voltas com “pasquins” e “conspirações literárias” traduzidas na publicação das Cartas Chilenas, não deixaria de encontrar tempo para exercer com certo zelo alguns de seus afazeres de ministro da casa real portuguesa e de ter, assim, obtido a desafeição do Tiradentes, que se queixara dos excessos e “prepotências” do poeta a D. Luís da Cunha Meneses, o tristemente célebre “Fanfarrão Minésio” das mesmas cartas.
(João Pinto Furtado, Imaginando a nação: o ensino da história da Inconfidência Mineira na perspectiva da crítica historiográfica. Em: Lana Mara de Castro Siman e Thaís Nívia de Lima e Fonseca (org.), Inaugurando a História e construindo a nação; discursos e imagens no ensino de História)
Os perfis desses dois personagens ligados à Inconfidência Mineira colaboram para a compreensão deste evento como
- A) uma ação revolucionária, dirigida pelas classes médias urbanas, que defendia a ruptura política com a Metrópole, o fim gradual da escravidão e a formação de uma república popular nas Minas Gerais.
- B) uma tentativa de revolta contra as arbitrariedades das autoridades lusas que atuavam na colônia e que não chegou a eclodir porque havia divergência sobre onde seria a capital das Minas Gerais independentes.
- C) uma rebelião inspirada na Revolução Haitiana e que considerava positiva a política colonial de D. Maria I em relação ao Brasil, mas entendia que o governador da capitania de Minas Gerais era tirano.
- D) uma conspiração da elite letrada das Minas Gerais, assim como dos traficantes de escravos, contra o aumento das restrições mercantilistas, que impedia a circulação de mercadorias entre as capitanias do Brasil.
- E) um movimento bastante heterogêneo, tanto no que respeita à extração social dos agentes e suas motivações econômicas quanto às ideias que alimentavam acerca do sentido último do projeto sedicioso.
Resposta:
A alternativa correta é letra E) um movimento bastante heterogêneo, tanto no que respeita à extração social dos agentes e suas motivações econômicas quanto às ideias que alimentavam acerca do sentido último do projeto sedicioso.
Vamos analisar cada alternativa, para identificar a interpretação correta dos perfis dos personagens ligados à Inconfidência Mineira.
A) Uma ação revolucionária, dirigida pelas classes médias urbanas, que defendia a ruptura política com a Metrópole, o fim gradual da escravidão e a formação de uma república popular nas Minas Gerais.
INCORRETO. A Inconfidência Mineira não era uma ação revolucionária liderada pelas classes médias urbanas, mas sim por membros da elite colonial, como fazendeiros, comerciantes, clérigos e militares. Além disso, não há evidências de que os inconfidentes defendiam o fim gradual da escravidão. O movimento não chegou a ter uma proposta clara de governo, mas a ideia de uma república popular nas Minas Gerais não era consensual entre os inconfidentes. Portanto, essa alternativa é incorreta.
B) Uma tentativa de revolta contra as arbitrariedades das autoridades lusas que atuavam na colônia e que não chegou a eclodir porque havia divergência sobre onde seria a capital das Minas Gerais independentes.
INCORRETO. A Inconfidência Mineira foi de fato uma tentativa de revolta contra as arbitrariedades das autoridades lusas, mas a divergência sobre onde seria a capital de Minas Gerais independentes não foi o motivo pelo qual a revolta não eclodiu. A revolta foi descoberta antes que pudesse ser realizada, devido à traição de Joaquim Silvério dos Reis, que denunciou o plano às autoridades em troca do perdão de suas dívidas. Portanto, essa alternativa é incorreta.
C) Uma rebelião inspirada na Revolução Haitiana e que considerava positiva a política colonial de D. Maria I em relação ao Brasil, mas entendia que o governador da capitania de Minas Gerais era tirano.
INCORRETO. A Inconfidência Mineira não foi inspirada na Revolução Haitiana, mas sim na Independência dos Estados Unidos e na Ilustração europeia. Além disso, os inconfidentes não consideravam positiva a política colonial de D. Maria I, mas sim criticavam a exploração colonial e a opressão das autoridades portuguesas. Portanto, essa alternativa é incorreta.
D) Uma conspiração da elite letrada das Minas Gerais, assim como dos traficantes de escravos, contra o aumento das restrições mercantilistas, que impedia a circulação de mercadorias entre as capitanias do Brasil.
INCORRETO. Embora a Inconfidência Mineira tenha sido uma conspiração da elite colonial, não há evidências de que os traficantes de escravos tenham participado do movimento. Além disso, o movimento não era apenas contra o aumento das restrições mercantilistas, mas também contra a exploração colonial e a opressão das autoridades portuguesas. Portanto, essa alternativa é incorreta.
E) Um movimento bastante heterogêneo, tanto no que respeita à extração social dos agentes e suas motivações econômicas quanto às ideias que alimentavam acerca do sentido último do projeto sedicioso.
CORRETO. A Inconfidência Mineira foi um movimento bastante heterogêneo, envolvendo membros de diferentes setores da sociedade colonial, como fazendeiros, comerciantes, clérigos e militares. As motivações econômicas dos inconfidentes também eram diversas, incluindo a insatisfação com a derrama (cobrança de impostos atrasados) e as restrições mercantilistas. Além disso, as ideias dos inconfidentes sobre o sentido do movimento eram diversas, variando desde a simples autonomia de Minas Gerais até a independência do Brasil e a formação de uma república. Portanto, essa alternativa é correta.
Portanto, a alternativa correta é a LETRA E.
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