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Questões Sobre Período Colonial - História - concurso

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741) Em sua obra Desagravos do Brasil e glórias de Pernambuco, datada de 1757, o padre Domingos Loreto Couto afirma: “Não é fácil determinar nestas províncias quais sejam os homens da plebe, porque todo aquele que é branco na cor, entende estar fora da esfera vulgar. Na sua opinião, o mesmo é ser alvo, que ser nobre, nem porque exercitam ofícios mecânicos perdem essa presunção […]. O vulgo da cor parda, com o imoderado desejo das honras de que o priva não tanto o acidente, como a substancia, mal se acomoda com as diferenças. O da cor preta tanto que se vê com a liberdade, cuida para que nada mais lhe falta para ser como os brancos.” (Carlos Guilheme Mota. Viagem Incompleta – formação: histórias).

  • A) à multiplicidade de grupos étnicos, que prejudica a distinção entre brancos, pardos e pretos pelo observador.

  • B) ao fato de brancos, pardos e pretos considerarem que podem alcançar a condição de nobreza, a partir de seus atos e ações.

  • C) à grande mobilidade daquela sociedade, que permite que pardos e pretos possam ascender aos patamares dos brancos.

  • D) ao não reconhecimento, por parte dos pardos e pretos, de sua condição vulgar e inferior em relação aos brancos.

  • E) ao grande número de pardos que executam ofícios mecânicos e pretos libertos que se colocam acima de sua condição de origem.

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A alternativa correta é letra B) ao fato de brancos, pardos e pretos considerarem que podem alcançar a condição de nobreza, a partir de seus atos e ações.

Gabarito: Letra B


Não se trata de uma questão tão simples de se resolver. Por interpretação poderia ser solucionada, mas lendo o texto base do qual foi retirado o trecho, a resposta ficaria mais clara, pois o texto de Stuart Schwartz discute as dificuldades de se criar um conceito de "povo" e como esse conceito passou por várias transformações históricas ao longo da sociedade colonial.
 
De início, cumpre informar que não é fácil para nós, historiadores, classificar os grupos sociais que proliferavam na colônia, imaginem para as autoridades coloniais e eclesiásticas.
 
No trecho, o padre parece se encontrar na mesma situação que nós quando observamos as fontes que trazem as classificações de cor.
 
É nesse contexto que o sacerdote menciona que não era simples determinar em Pernambuco quem seriam homens da “plebe”. Nos séculos XVII e XVIII, o conceito de “plebe” passou a caracterizar negativamente uma grande parcela da população brasileira e distinguia quem fazia parte ou não do “povo” da colônia. “Povo” entendido como uma camada superior dos habitantes da colônia, leia-se: brancos europeus.
 
De acordo com as autoridades coloniais e cronistas da época, a "plebe" era composta por brancos nascidos nas colônias, escravos, mulatos e mestiços. “Plebe” era quase sempre sinônimo de grupo desordeiro, arruaceiro, que trazia um perigo em potencial para uma sublevação.
 
Além do mais, diferentemente da América Espanhola, na América Portuguesa não havia signos de distinção, como, por exemplo, insígnias de ordens militares, brasão de armas e outros traços de nobreza, então, era necessário criar algum tipo de marca distintiva. A cor foi o elemento escolhido.
 
Essas distinções baseadas na cor afetavam a ocupação dos cargos na administração colonial e eclesiástica. Se havia um mínimo de possibilidade para os colonos brancos, mestiços e mulatos ocuparem esses cargos, as fontes da época demonstram como as autoridades portuguesas tratavam de criar mecanismos e ordenações que retirassem essas possibilidades de ascensão social.
 
Além disso, no dia a dia do Brasil dos séculos XVII e XVIII era difícil definir quem fazia parte da “plebe”, uma vez que as relações sociais na colônia eram tão miscigenadas e “promíscuas”, onde proprietários de escravos discutiam as relações de trabalho com seus cativos. Onde colonos brancos, que por terem a cor de pele de tonalidade branca, acreditavam em seu imaginário poder adquirir status de nobreza. Onde brancos pobres queriam se igualar aos brancos mais ricos da colônia. Da mesma forma, negros e pardos que realizando algum serviço para proprietários de terras ou mesmo para Coroa, como no caso das guerras, esperavam elevar-se à condição de fidalgos ou nobres. 
 
Por que as demais estão incorretas?
 
Letra A:  Se a resposta deve ser pensada de acordo com o século XVIII, então não podemos falar em etnicidade, pois esse conceito é um conceito atual. Sabe-se que na colônia Brasil havia uma multiplicidade de conceitos de cor, mas havia uma distinção bem clara entre ser branco e não ser branco. 
 
Letra C: Na verdade, a sociedade colonial tentava fechar o acesso à política e aos títulos a indivíduos considerados pertencentes à “plebe”. O que não quer dizer que conseguia fazer isso, pois dependendo do serviço desempenhado por um indivíduo pertencente à “plebe”, seria agraciado com um título e conquistaria prestígio social.
 
Letra D: “Condição vulgar” para o padre era sinônimo de fazer parte da “plebe” e nisso os colonos brancos também se enquadravam como pertencentes à “plebe”. Todos os componentes dessa categoria queriam se distinguir na colônia.
 
Letra E: O cronista não menciona relações de trabalho no trecho em questão.
 
Resposta baseada nas fontes:


FIGUEIROA-RÊGO, João de e OLIVAL, Fernanda. Cor da pele, distinções e cargos: Portugal e espaços atlânticos portugueses (séculos XVI a XVIII)Tempo [online]. 2011, vol.16, n.30, pp.115-145.


SCHWARTZ, Stuart. “Gente da terra braziliense da nasção”. Pensando o Brasil: a construção de um povo”. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.) Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). Formação: histórias. São Paulo: Ed. SENAC, 2000.
 

742) Maurício de Nassau, “…além de ser o chefe militar que a Holanda precisava para governar as províncias brasileiras invadidas, produtoras do açúcar tão cobiçado pela Europa, era também um homem culto, que quis cercar-se de cientistas e artistas talentosos para registrar o desconhecido que o aguardava, adivinhando de antemão o grande interesse que esta documentação despertaria entre os nobres europeus quando de sua volta à Holanda.”

  • A) Albert Eckhout
  • B) Jean B. Debret

  • C) Caspar Schamlkalden

  • D) Frans Post

  • E) Felipe Bettendorff

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A alternativa correta é letra D) Frans Post

Gabarito: Letra D

 

A questão poderia ser resolvida pela citação apresentada na referência que indica: “pinturas de Post sobre o Recife”.

 

Post é o sobrenome do pintor flamengo Frans Post que participou da comitiva de artistas que vieram ao Nordeste holandês retratar o  cotidiano, paisagens, animais e seres humanos do Nordeste.

 

Paisagista, Frans Post ficou encarregado de documentar a topografia, a arquitetura militar e civil, cenas de batalhas navais e terrestres.

 

As telas a óleo pintadas no Brasil não fazem concessão ao exotismo, sua paisagem é serena e subordinada à realidade.

 

Por que as demais estão incorretas?

 

Letra A: Pintor flamengo que também fez parte da comitiva de artistas que vieram ao Nordeste. No período em que esteve no Brasil desenvolveu intensa atividade como documentarista da fauna e da flora e como pintor de tipos humanos

 

Letra B: Importante nome da pintura francesa que esteve no Brasil durante o período joanino e nos primeiros anos do reinado de D. Pedro I.

 

Letra C: Desenhista e aquarelista alemão. Esteve no Brasil, residindo em Recife por três anos como soldado da Companhia das Índias Ocidentais. Nesse período, iniciou um diário com anotações e desenhos aquarelados, em que retrata tipos humanos, animais, cidades e mapas

 

Letra E: Pintor, desenhista, riscador luxemburguês que fazia parte da estrutura da Companhia de Jesus. Veio ao Brasil participar das missões jesuítas e se instalou na região norte.

  

Resposta baseada nas fontes:

 

ALBERT Eckhout. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10299/albert-eckhout. Acesso em: 28 de Abr. 2020. Verbete da Enciclopédia.

 

CASPAR Schmalkalden. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa22732/caspar-schmalkalden. Acesso em: 28 de Abr. 2020. Verbete da Enciclopédia.

 

Frans Post. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2004/06/01/frans-post-2/. Acesso: 28 abr.2020.

 

JOÃO Felipe Bettendorf. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa23574/joao-felipe-bettendorf. Acesso em: 28 de Abr. 2020. Verbete da Enciclopédia.

743) A imagem a seguir é do holandês Albert Eckhout que, no século XVII, pintou aspectos da vida e personagens americanos da região do atual Nordeste brasileiro.

  • A) expressa um ideal de colonização calvinista, voltada à interação comercial com as populações locais e não de conversão cristã.

  • B) apresenta uma preocupação de catalogação e divulgação das riquezas naturais a serem exploradas no Novo Mundo.

  • C) divulga um ideal eurocêntrico e civilizacional porque divulga a adoção de hábitos europeus por nativos da América.

  • D) traduz as intenções holandesas de submeterem o território a uma dominação sociopolítica e racial.

  • E) mostra o olhar artístico e a técnica do autor que procura interpretar aquilo que observa na paisagem.

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A alternativa correta é letra B) apresenta uma preocupação de catalogação e divulgação das riquezas naturais a serem exploradas no Novo Mundo.

Gabarito: ALTERNATIVA B

  

Essa obra de arte:

 
  • a)  expressa um ideal de colonização calvinista, voltada à interação comercial com as populações locais e não de conversão cristã.

Ao contrário do consórcio português-católico, a presença dos holandeses calvinistas na América não tinha um apelo tão forte no sentido da conversão cristã. As noções calvinistas sobre a predestinação e a manutenção da coesão das suas sociedades diminuíam o apelo em torno da cristianização, ainda que esta estivesse presente. De fato, a maior preocupação desses colonizadores holandeses era a interação comercial e o desenvolvimento mercantilista da região. No entanto, nada disso está representado na representação do mulato do quadro. Pelo contrário, seus traços miscigenados compõem tanto com a paisagem exótica quanto com as vestimentas da cristandade europeia, incluindo a cruz de sua espada. Não há referência alguma para as interações comerciais na pintura. Alternativa errada.

 
  • b)  apresenta uma preocupação de catalogação e divulgação das riquezas naturais a serem exploradas no Novo Mundo.

As missões culturais enviadas para a América no período colonial tinham uma busca muito forte pela catalogação daquele Novo Mundo e das maneiras de se viver naquelas regiões. Pintar um quadro como "Mulato" era uma maneira de documentar a forma de se viver naquelas colônias na América, representando tanto o domínio natural quanto o novo processo civilizacional que se anunciava naquelas paragens: o homem mestiço que tanto conhece os domínios naturais exóticos da América quanto carrega vestes e modos europeus. Portanto, uma das principais motivações da produção do quadro em análise era, de fato, a catalogação das riquezas naturais e a divulgação daquele Novo Mundo. ALTERNATIVA CORRETA.

 
  • c)  divulga um ideal eurocêntrico e civilizacional porque divulga a adoção de hábitos europeus por nativos da América.

Não se pode falar em um ideal eurocêntrico e civilizacional, uma vez que o quadro pretende representar (e divulgar) exatamente uma das personagens do processo de miscigenação: o mulato. Ou seja, o que está representado é exatamente a subversão do ideal eurocêntrico, o surgimento de uma nova forma de viver e de se organizar em sociedade, a possibilidade de misturar o Novo Mundo com a Europa na criação de algo absolutamente novo. O mulato enverga temas europeus ao mesmo tempo em que tem os pés no chão de uma terra com fauna e flora diferentes e nada disso é representado como símbolos de decadência ou inferioridade frente ao europeu, mas sim com o olhar do diferente. Não se tratava, portanto, de uma adoção acrítica de hábitos, mas antes da criação de algo realmente novo. Alternativa errada.

 
  • d)  traduz as intenções holandesas de submeterem o território a uma dominação sociopolítica e racial.

Como apontado nos comentários anteriores, a principal intenção holandesa era o estabelecimento e a prosperidade comercial na América. A noção de domínio do território e de dominação sociopolítica e racial era absolutamente secundária para aqueles colonizadores, tanto que o elemento holandês praticamente não existe em seus registros pictográficos do Brasil. O que se procura documentar ali era um novo processo civilizacional que acontecia na América, e não um possível processo de superioridade holandesa. Alternativa errada.

 
  • e)  mostra o olhar artístico e a técnica do autor que procura interpretar aquilo que observa na paisagem.

O quadro em questão tem por fundamento a ideia de arte figurativa, isto é, reproduzir na tela a realidade física do que o artista observa. Neste tipo de arte, procura-se, antes, a objetividade de observação e, portanto, a superação de qualquer dimensão interpretativa do artista sobre a paisagem. O intuito documental daquela arte tinha por base a representação mais fidedigna o possível, sem transmitir interpretações ou reflexões sobre o que ocorria: a paisagem deveria ser representada tal como ela era. Alternativa errada.

  

Nesse tipo de questão, é muito importante que o candidato se atenha àquilo que foi realmente perguntado; isto é, deveria concentrar seus esforços sobre o quadro apresentado e buscar a alternativa que apresentasse a melhor relação. Aquele candidato que foi buscar diretamente a correção historiográfica nas alternativas pode ter enfrentado dificuldades desnecessárias na solução da questão. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA B.

744) “Os índios dessa província são inumeráveis pela terra a dentro, de várias nações e costumes e linguagem e muitos deles são como selvagens e não se lhes pode entender sua língua e há pouco remédio para sua salvação, exceto alguns inocentes ou adultos que se batizam in extremis e se vão para o céu. São de mui pouca capacidade natural, se bem que para sua avaliação têm juízo bastante e não são tão boçais e rudes como por lá se imagina”. (ANCHIETA, José de)

  • A) rigidez dos rituais católicos nas missões e aldeamentos, promovendo a imediata incorporação de hábitos católicos pelos índios.

  • B) habilidade de superexplorar a mão de obra nativa sem, no entanto, recorrer à escravidão e à custosa compra de trabalhadores.

  • C) capacidade de manipular um número grande de ameríndios, provendo um grande poder de autonomia dessa Ordem religiosa.

  • D) percepção da humanidade dos nativos, incentivando assim a desenvolver procedimentos capazes de atingir a sua sensibilidade.

  • E) propagação de práticas catequéticas e educacionais que asseguravam o sucesso da Ordem na conversão dos índios.

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A alternativa correta é letra D) percepção da humanidade dos nativos, incentivando assim a desenvolver procedimentos capazes de atingir a sua sensibilidade.

Gabarito: ALTERNATIVA D

  

“Os índios dessa província são inumeráveis pela terra a dentro, de várias nações e costumes e linguagem e muitos deles são como selvagens e não se lhes pode entender sua língua e há pouco remédio para sua salvação, exceto alguns inocentes ou adultos que se batizam in extremis e se vão para o céu. São de mui pouca capacidade natural, se bem que para sua avaliação têm juízo bastante e não são tão boçais e rudes como por lá se imagina”. (ANCHIETA, José de)

 

Os jesuítas se notabilizaram pela atuação junto aos nativos da América, e o diferencial desta ordem está na:

 
  • a)  rigidez dos rituais católicos nas missões e aldeamentos, promovendo a imediata incorporação de hábitos católicos pelos índios.

Para inviabilizar essa alternativa, bastava que o candidato tivesse lido com alguma atenção o excerto do texto do padre Anchieta, que afirma que pouquíssimos indígenas daquela província se dispunham a tomar os sacramentos e ao batismo, além de falar em "hábitos selvagens" que os distanciam da vida católica. Ou seja, isso é completamente incompatível com a noção de "imediata incorporação de hábitos católicos pelos índios". Além disso, cumpre destacar que os jesuítas, apesar de alguma rigidez na catequização, também foram capazes de observar com certo cuidado os diferentes hábitos das diferentes nações indígenas, inclusive lhes catalogando aspectos culturais e linguísticos. Alternativa errada.

 
  • b)  habilidade de superexplorar a mão de obra nativa sem, no entanto, recorrer à escravidão e à custosa compra de trabalhadores.

Mais uma vez, a leitura do texto-base seria suficiente para refutar a alternativa. O trabalho dos jesuítas esbarrou muitas vezes em dificuldades impostas por nações que sequer aceitavam sua aproximação real, assumindo diversos contornos o trabalho empregado. A superexploração da mão de obra nativa sem a instituição da escravidão também esteve presente em vários aldeamentos jesuítas, principalmente aqueles que conseguiram acessar as drogas do sertão; mas isso não pode ser atribuído como grande marca distintiva dos jesuítas. Ao longo dos séculos, muitos colonos portugueses que partiram para o interior também alcançaram posição semelhante; da mesma maneira que houve missões jesuíticas que não se baseava nesse tipo de exploração da mão de obra. Alternativa errada.

 
  • c)  capacidade de manipular um número grande de ameríndios, provendo um grande poder de autonomia dessa Ordem religiosa.

O texto é bem claro que havia dificuldades importantes para o desenvolvimento das missões em alguns lugares da colônia, inclusive alguns contatos absolutamente frustrados. Ainda que os jesuítas tenham de fato conseguido estabelecer contatos e missões com diferentes nações indígenas, é exagerado falar que isso redundou numa grande manipulação que viabilizou a autonomia da ordem. Pelo contrário, os missionários tiveram importantes choques com os colonos portugueses e necessitaram da intervenção direta de Lisboa em seu favor. Portanto, a alternativa, apesar de ter elementos reais, exagera em muito a capacidade de ação dos jesuítas.

 
  • d)  percepção da humanidade dos nativos, incentivando assim a desenvolver procedimentos capazes de atingir a sua sensibilidade.

A chave para a compreensão dessa alternativa está no último período citado de Anchieta: "são de mui pouca capacidade natural, se bem que para sua avaliação têm juízo bastante e não são tão boçais e rudes como por lá se imagina". Isto é, a maneira de abordagem dos jesuítas permitia que eles percebessem a humanidade dos nativos ainda quando as condições de contato lhes eram muito desfavoráveis. A lógica dos jesuítas partia da ideia da presença divina em todos os seres humanos; ou seja, todos são portadores de uma humanidade, ainda que a expressem de maneiras diferentes. Ao reconhecer no indígenas formas de racionalidade e sensibilidade existentes, mas diversas daquelas europeias, os jesuítas conseguiam adaptar seus procedimentos para atingir essas pessoas em suas missões evangelizadoras. Aproximar-se das nações em suas diferentes nuances, bem como reconhecer-lhes a razão e a cultura, foram características cruciais para que a ordem jesuítica tenha conseguido colocar suas mensagem religiosas em termos assimiláveis para aqueles indígenas. Por óbvio, isso foi decisivo para o sucesso de muitas das missões. Como se pode ver no texto de Anchieta, mesmo quando os contatos eram praticamente inviáveis, o jesuíta tentava notar a existência de diferentes línguas, culturas, nações e dinâmicas nos interiores da colônia; sempre contando que a simples narrativa da barbárie não era suficiente para apreender aqueles fenômenos. Portanto, ALTERNATIVA CORRETA.

 
  • e)  propagação de práticas catequéticas e educacionais que asseguravam o sucesso da Ordem na conversão dos índios.

Mais uma vez, a alternativa pode ser inviabilizada apenas pela leitura do texto. Anchieta é muito claro ao falar sobre as dificuldades da conversão de muitas nações indígenas; ou seja, é impossível falar em assegurar "o sucesso da Ordem na conversão dos índios". O catecismo e a educação formal eram, sim, práticas jesuíticas, mas isso jamais implicou na construção de um método infalível para a conversão. Alternativa errada.

  

As maiores dificuldades da questão estavam entre as alternativas B e D, cujos temas exigiam um pouco mais de conhecimento histórico. Todas as demais poderiam ser descartadas pela mais simples leitura do texto que lhes servia de base. O candidato que entender a importância desses textos em muitas das provas de concurso tende a ter grande vantagem. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA D.

745) Ao longo do período colonial brasileiro, uma parte das crianças abandonadas era deixada

  • A) sob a tutela do Estado, que as entregava a orfanatos públicos presentes nas grandes cidades brasileiras.
  • B) em creches especialmente criadas para crianças de até 7 anos, o que seguia um inovador modelo francês.
  • C) nas portas das Santas Casas de Misericórdia, onde eram deixadas nas rodas dos expostos.
  • D) em Fundações de Bem-Estar do Menor, especialmente criadas pela Coroa portuguesa.
  • E) nas Câmaras municipais, que as encaminhavam para serem adotadas e educadas pelas famílias ricas da cidade.

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A alternativa correta é letra C) nas portas das Santas Casas de Misericórdia, onde eram deixadas nas rodas dos expostos.

Vamos analisar cada alternativa, para identificar a maneira correta de como as crianças abandonadas eram tratadas no período colonial brasileiro.

   

A) sob a tutela do Estado, que as entregava a orfanatos públicos presentes nas grandes cidades brasileiras.

INCORRETO. Durante o período colonial brasileiro, o Estado não assumia a responsabilidade direta pelo cuidado das crianças abandonadas. A assistência à infância desamparada era, na verdade, delegada a instituições religiosas ou de caridade, que eram mais ativas e presentes na sociedade colonial do que o Estado. Alternativa errada.

   

B) em creches especialmente criadas para crianças de até 7 anos, o que seguia um inovador modelo francês.

INCORRETO. A ideia de creches como instituições dedicadas ao cuidado de crianças pequenas, especialmente em um modelo semelhante ao francês, não existia no Brasil colonial. O conceito de creche como conhecemos hoje é um desenvolvimento mais recente, surgindo apenas no século XIX na Europa e posteriormente sendo adotado em outras partes do mundo. Alternativa errada.

   

C) nas portas das Santas Casas de Misericórdia, onde eram deixadas nas rodas dos expostos.

CORRETO. Durante o período colonial brasileiro, era comum que as crianças abandonadas fossem deixadas nas chamadas "rodas dos expostos" nas Santas Casas de Misericórdia. As rodas dos expostos eram dispositivos que permitiam que uma pessoa deixasse uma criança anonimamente. A criança era colocada em uma espécie de janela ou porta giratória, que era então girada para que a criança fosse levada para dentro do edifício. Essa prática era uma maneira de tentar garantir que as crianças abandonadas recebessem cuidados e não fossem deixadas para morrer nas ruas.

   

D) em Fundações de Bem-Estar do Menor, especialmente criadas pela Coroa portuguesa.

INCORRETO. As Fundações de Bem-Estar do Menor são uma criação do século XX, não existindo durante o período colonial brasileiro. Além disso, a Coroa Portuguesa não criou instituições específicas para o cuidado de crianças abandonadas durante esse período. Como mencionado anteriormente, a responsabilidade pelo cuidado dessas crianças era geralmente delegada a instituições religiosas ou de caridade. Alternativa errada.

   

E) nas Câmaras municipais, que as encaminhavam para serem adotadas e educadas pelas famílias ricas da cidade.

INCORRETO. As Câmaras Municipais não tinham como função principal o encaminhamento de crianças abandonadas para adoção. Além disso, não era comum que as famílias ricas adotassem e educassem essas crianças. Em muitos casos, as crianças abandonadas acabavam sendo criadas por famílias mais pobres, que as acolhiam em troca de trabalho quando se tornassem mais velhas. Alternativa errada.

   

Portanto, a alternativa correta é a LETRA C.

746) As ideias messiânicas foram apropriadas por Fernão Lopes, que construiu a imagem de D. João como uma espécie de chefe messiânico, cujas atitudes são sancionadas por Deus. As suas ações possuem proximidade com os reis do Antigo Testamento e a própria figura de do Mestre de Avis tem analogias a Cristo, sendo Nuno Álvares, seu comandante militar, associado a S. Pedro, que levaria o povo eleito, a uma terra de leite e mel. Esse messias é incondicionalmente apoiado pelo povo português, o “povo do Messias de Lisboa”. Os que são partidários do Mestre, neste discurso são os bons cristãos e considerados “bons portugueses”: a população de Lisboa e os nobres segundos. Já a nobreza tradicional e o rei de Castela, que por sua vez apoia o papa de Avignon, passam a ser apresentados no discurso do cronista como o “outro”, a representação do Mal. D. João é visto como o verdadeiro “protetor” da nacionalidade portuguesa, com apoio de Deus e do povo português.

  • A) A Revolução de Avis foi questionada, o que levou o governo português a forjar uma história oficial mítica, com o objetivo de encerrar uma guerra civil provocada pela ascensão ao poder do monarca considerado pelos inimigos como ilegítimo.
  • B) O autor busca transformar o monarca bastardo como símbolo da identidade portuguesa, relacionando-o a elementos religiosos e ao povo português, como forma de legitimar o primeiro rei da linhagem de Avis.
  • C) O cronista procurou criar a teoria do direito divino dos reis como forma de legitimar o governo absolutista nascente, idealizando Dom João como protetor na nação portuguesa, como se fosse apoiado por Deus e pelo povo.
  • D) A associação entre Dom João I e o messianismo foi a estratégia adotada pelo cronista para enfraquecer a nobreza tradicional e a de Castela, para garantir a vitória da Revolução de Avis e consolidar a nascente dinastia.

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Resposta

A alternativa correta é B) O autor busca transformar o monarca bastardo como símbolo da identidade portuguesa, relacionando-o a elementos religiosos e ao povo português, como forma de legitimar o primeiro rei da linhagem de Avis.

Essa alternativa é a correta porque o cronista Fernão Lopes, ao construir a imagem de D. João I como um messias, busca legitimar o seu poder e a sua dinastia, relacionando-o a elementos religiosos e ao povo português. Isso ocorre porque D. João I era considerado um monarca bastardo, e o cronista precisava criar uma narrativa que justificasse a sua ascensão ao poder.

O messianismo é uma ferramenta utilizada pelo cronista para criar uma imagem de D. João I como um líder escolhido por Deus, que tem o apoio do povo português. Isso serve para legitimar o poder do monarca e consolidar a dinastia de Avis.

747) Sobre os povos indígenas no Brasil, é correto afirmar:

  • A) Em torno de 90% dos indígenas vivem em terras indígenas demarcadas.
  • B) A legislação vigente reconhece como índio o indivíduo que fala o idioma da sua etnia.
  • C) O Estatuto do Índio proíbe o estabelecimento de missões religiosas nas aldeias.
  • D) No Censo 2010, havia mais de 890 mil pessoas que se declaravam ou se consideravam indígenas.
  • E) Atualmente, não há mais comunidades indígenas que não foram contatadas ou são consideradas isoladas.

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A alternativa correta é letra D) No Censo 2010, havia mais de 890 mil pessoas que se declaravam ou se consideravam indígenas.

Essa alternativa é a única que apresenta uma informação verdadeira e comprovada. De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 896.917 pessoas que se declaravam indígenas no Brasil.

As outras alternativas são incorretas:

  • A) A grande maioria dos indígenas não vive em terras indígenas demarcadas.
  • B) A legislação vigente não reconhece como índio apenas o indivíduo que fala o idioma da sua etnia, mas sim aquele que se identifica como pertencente a uma etnia indígena.
  • C) O Estatuto do Índio não proíbe o estabelecimento de missões religiosas nas aldeias.
  • E) Existem ainda comunidades indígenas que não foram contatadas ou são consideradas isoladas no Brasil.

748) Leia com atenção o texto a seguir.

  • A) (1) vilas • (2) ateus
  • B) (1) povos • (2) hereges
  • C) (1) missões • (2) bugres
  • D) (1) reduções • (2) almas
  • E) (1) aldeamentos • (2) gentios

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A resposta correta para a questão sobre o período colonial é a alternativa E: (1) aldeamentos e (2) gentios.

Explicação:

Durante o período colonial, os missionários ibéricos, principalmente jesuítas, construíram aldeamentos para abrigar as populações indígenas que encontraram. Isso aconteceu como uma tentativa de proteger esses povos da escravidão imposta pelos colonos, uma vez que os missionários consideravam os indígenas como gentios, ou seja, indivíduos que poderiam ser convertidos ao catolicismo. Essa condição era vista como uma forma de evitar a escravização.

Portanto, a palavra correta para preencher a lacuna (1) é "aldeamentos", e para a lacuna (2) é "gentios".

749) A formação da sociedade colonial brasileira teve, fundamentalmente, três grandes grupos étnicos: o índio americano; o negro africano; o branco europeu. Como resultado da miscigenação entre estes três grupos foram originados vários tipos de mestiços. A miscigenação de que resultou o mameluco foi:

  • A) negro com índio.

  • B) branco com negro.

  • C) índio com branco.

  • D) branco com cafuzo.

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A alternativa correta é letra C) índio com branco.

Gabarito: ALTERNATIVA C

  
  • A formação da sociedade colonial brasileira teve, fundamentalmente, três grandes grupos étnicos: o índio americano; o negro africano; o branco europeu. Como resultado da miscigenação entre estes três grupos foram originados vários tipos de mestiços. A miscigenação de que resultou o mameluco foi:

Esse tipo de classificação étnica em bases quase que exclusivamente raciais está em desuso pelas ciências sociais contemporâneas por conta de suas raízes bastante racistas. A ideia de "grupos originários" e de miscigenação, hoje, é percebida de maneira muito mais complexa, principalmente por compreender o fenômeno a partir do ponto de vista cultural. De toda sorte, cumpre comentarmos as alternativas propostas a partir a compreensão racial sobre os grupos étnicos brasileiros.

 
  • a)  negro com índio.

Os descendentes da miscigenação entre negros e indígenas são denominados, por esse viés de análise, como cafuzos. Alternativa errada.

 
  • b)  branco com negro.

Os descendentes da miscigenação entre negros e indígenas são denominados, por esse viés de análise, como mulatos. Alternativa errada.

 
  • c)  índio com branco.

Os descendentes da miscigenação entre negros e indígenas são denominados, por esse viés de análise, como mamelucos (ou caboclos). ALTERNATIVA CORRETA.

 
  • d)  branco com cafuzo.

Não se costuma atribuir denominação específica para a mestiçagem entre os três tipos originais e os tipos derivados. Alternativa errada.

  

Reforçada a necessária ressalva contra o viés racista dessa interpretação das etnias, está correta a ALTERNATIVA C.

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750) No período colonial, em Aracati, “o modelo arquitetônico do telhado das casas para frente, de bica, beira e sobre-beira, se era, de um lado, uma adaptação ao clima, era de outra parte, também, um símbolo de status social”, Leal (1995). Assim, originou-se o tão afamado adágio popular, “é um fulano sem eira nem beira”. Este adágio foi herdado do modelo arquitetônico da casa que:

  • A) possuía, bica, beira e sobre-beira.

  • B)  possuía, a bica e beira.

  • C)  possuía a bica.

  • D) possuía a sobre-beira.

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ESTA QUESTÃO FOI ANULADA, NÃO POSSUI ALTERNATIVA CORRETA

Gabarito: ANULADA

  
  • No período colonial, em Aracati, “o modelo arquitetônico do telhado das casas para frente, de bica, beira e sobre-beira, se era, de um lado, uma adaptação ao clima, era de outra parte, também, um símbolo de status social”, Leal (1995). Assim, originou-se o tão afamado adágio popular, “é um fulano sem eira nem beira”. Este adágio foi herdado do modelo arquitetônico da casa que:

A construção do enunciado é muito confusa e dificulta sobremaneira a resolução adequada da questão. Podemos supor que a banca propunha um exercício banal de interpretação de texto, já que a expressão "sem eira nem beira" remete à ideia de um indivíduo desprovido de posses e de prestígio social, alguém muito pobre. Como apontado no enunciado, o estilo arquitetônico colonial também refletia posições sociais e os telhados em três camadas eram uma expressão desse poderio econômico. A bica também era chamada de "eira", que também tem outros significados; portanto, uma casa sem eira nem beira era a manifestação concreta da pobreza de seus donos, cujos recursos permitiam apenas uma das camadas adequadas do telhado. Observemos as alternativas que seguem.

 

a)  possuía, bica, beira e sobre-beira (SIC).

b)  possuía, a bica e beira (SIC).

c)  possuía a bica.

d)  possuía a sobre-beira.

  

Neste concurso, todas as questões inscritas sob a rubrica do conteúdo "Conhecimentos sobre o município de Aracati" foram anuladas por determinação do Ministério Público de Contas do Ceará. Ainda que constassem no caderno de provas, as questões foram anuladas e a decisão foi comunicada antes mesmo da realização do concurso. Assim, a banca não forneceu um gabarito oficial para a questão, sequer preliminarmente. Como a construção do enunciado é muito confusa, podemos apenas supor que estaria correta a ALTERNATIVA B; no entanto, seria o caso mesmo de manter a questão ANULADA.

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