Questões Sobre Período Colonial - História - concurso
811) Sobre o catolicismo e as devoções no Brasil colonial, é correto afirmar o seguinte:
- A) as festas de santo ou de natureza religiosa, os ritos e as irmandades católicas de devoção de determinados santos ou santas se constituíram como espaços de luta e conflito étnico- religiosos entre os que viviam na colônia, fossem portugueses, indígenas ou africanos, existindo, por exemplo, irmandades somente de brancos, outras de escravos ou até de índios.
- B) a presença constante e permanente do Santo Ofício ou Tribunal da Inquisição na colônia foi a razão pela qual o catolicismo no Brasil foi marcado pela ausência de heresias ou desvios da fé católica, não havendo condições para a prática de feitiçarias ou pajelanças, da mesma forma que não era permitido que judeus vivessem na América portuguesa.
- C) em razão do domínio holandês no nordeste, houve a perseguição aos católicos e a propagação da fé protestante na colônia, uma vez que a Holanda era um país de maioria protestante, o que explica o fechamento de igrejas e a expulsão dos padres e ordens religiosas do Brasil holandês, fazendo com que as práticas religiosas católicas ficassem restritas ao ambiente doméstico de forma clandestina.
- D) o catolicismo popular na colônia não conseguiu se desenvolver, sendo as práticas religiosas cristãs fortemente marcadas pela ortodoxia católica emanada de Roma, sede da Igreja, uma vez que havia uma forte e disseminada presença do clero na América portuguesa, não apenas assistindo espiritualmente a população, mas instruindo, catequizando e vigiando os fiéis.
A alternativa correta é A)
A afirmação está correta porque, durante o período colonial, as festas de santo, os ritos e as irmandades católicas de devoção de determinados santos ou santas se constituíram como espaços de luta e conflito étnico-religiosos entre os que viviam na colônia. Isso ocorreu porque esses espaços eram utilizados para expressar identidades étnicas e religiosas, e, consequentemente, geravam conflitos entre os diferentes grupos que viviam na colônia, fossem portugueses, indígenas ou africanos.
Existe registro histórico de irmandades que eram compostas apenas por brancos, outras apenas por escravos ou até mesmo por índios. Essas irmandades eram espaços de sociabilidade e identificação étnica e religiosa, e, portanto, eram também espaços de conflito e luta.
812) O Barroco foi o estilo das formas dramáticas, grandiosas e opulentas, voltado ao intenso decorativismo e caracterizado pela exuberância dos dourados nas volutas e espirais. O Barroco exprimiu as incertezas de uma época – a Idade Moderna – que oscilava entre velhos e novos valores. Foi largamente utilizado pela Igreja da Contrarreforma como elemento de propaganda, destinado a atrair as criaturas pela pompa e magnificência. Através do Barroco, a Igreja compeliu Deus a vestir as mais suntuosas roupagens humanas, reproduzindo o Céu em toda a sua magnificência, grandeza e esplendor, extasiando e arrebatando os fiéis que frequentavam os templos.
- A) contestações aos domínios espiritual e terreno exercidos pelo papado.
- B) oposições ao absolutismo monárquico como base do poder político.
- C) divisões da nobreza fortalecida pelas expansões marítima e comercial.
- D) críticas ao heliocentrismo como modelo de funcionamento do cosmos.
- E) revoltas do campesinato oprimido pela multiplicidade de seitas religiosas.
A alternativa correta é letra A) contestações aos domínios espiritual e terreno exercidos pelo papado.
Gabarito: ALTERNATIVA A
LOPEZ, L. R. História do Brasil colonial. Porto Alegre: Novo Século, 2001.
O movimento estético-cultural no texto constitui-se historicamente em uma resposta às
- a) contestações aos domínios espiritual e terreno exercidos pelo papado.
A chave para compreender esta questão estava em observar que o Barroco estava associado à Igreja da Contrarreforma.
Em 1517, Martinho Lutero publicou as obras que ficariam conhecidas como marcos fundamentais da Reforma Protestante, na qual denunciava gravíssimas contradições da Igreja Católica, como a infalibilidade papal, a venda de indulgências e abusos do clero em geral. Para Lutero, os princípios cristãos estavam se corrompendo com as práticas eclesiásticas católicas, inclusive a insistência em não permitir a tradução da Bíblia para as línguas modernas - uma vez que, em latim, as Escrituras permaneciam sob o monopólio do clero. Inclusive, seria Lutero o responsável pela primeira tradução da Bíblia para uma língua moderna. Já a Contrarreforma é o nome dado ao conjunto de decisões tomadas pelo Concílio de Trento (1545-1563). Na oportunidade, foram discutidas as proposições de Lutero e a Reforma Protestante como um todo e a Igreja Católica optou por reforçar os seus dogmas de fé e as suas estruturas eclesiásticas. Ou seja, a Igreja se fechava ainda mais contra as propostas protestantes e reforçava as relações de disciplina e de obediência a Roma. Portanto, a estética barroca estava alinhada nesse enfrentamento aos questionamentos aos dogmas católicos, fazendo pela opulência o caminho da conquista de fieis em meio ao esforço da Contrarreforma. ALTERNATIVA CORRETA.
- b) oposições ao absolutismo monárquico como base do poder político.
Característico dos séculos XVII e XVIII, o Barroco viveu sob o esplendor do absolutismo monárquico, cuja crise só se faria sentir no final do século XVIII. Ou seja, não tem porque se associar o Barroco à crise do absolutismo. Alternativa errada.
- c) divisões da nobreza fortalecida pelas expansões marítima e comercial.
A expansão marítima e comercial reforçou a centralização política do Antigo Regime e ampliou as possibilidades da burguesia comercial. Portanto, não há que se falar de uma nobreza fortalecida e, como aponta o texto do enunciado, tampouco era esse o foco dos artistas barrocos. Alternativa errada.
- d) críticas ao heliocentrismo como modelo de funcionamento do cosmos.
A revolução copernicana, que estabeleceu o modelo heliocêntrico, se deu no início do século XVI. Portanto, trata-se de acontecimento muito anterior à ascensão do Barroco como estética dominante. Além disso, o pensamento heliocêntrico permitiria aos barrocos o pensamento antropocêntrico que lhe era característico. Alternativa errada.
- e) revoltas do campesinato oprimido pela multiplicidade de seitas religiosas.
Como explicado no texto do enunciado, estamos tratando com o período da Contrarreforma católica. Não se tratava de conter seitas religiosas, mas sim de enfrentar a expansão do protestantismo. Alternativa errada.
Note o estudante que a leitura atenta do texto do enunciado é fundamental para a resolução da questão, principalmente em provas do ENEM. É conduta recorrente da banca deixar a chave para a resposta em texto que introduz a questão. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA A.
813) Foi no século XVIII, nas terras de uma fazenda, que surgiu a Vila Distinta e Real de Sobral. O desenvolvimento da localidade se deu por estar próxima ao Rio Acaraú, que ligava os estados de Pernambuco, Piauí e Maranhão. O tombamento de Sobral trouxe, ainda, como peculiaridade no Ceará o envolvimento dos moradores. Quem passa pela cidade pode ver construções que trazem os estilos coloniais, ecléticos, art déco e vernaculares.
- A) harmonização de espaços sociais.
- B) valorização de reservas ecológicas.
- C) ampliação de conjuntos residenciais.
- D) manutenção de comunidades de pescadores.
- E) preservação de artefatos de memória
A alternativa correta é letra E) preservação de artefatos de memória
Gabarito: ALTERNATIVA E
No interior do Ceará, município de Sobral guarda a arte colonial brasileira. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br. Acesso em: 14 jul. 2015 (adaptado).
- A condição atribuída ao complexo arquitetônico da cidade, conforme mencionada no texto, proporcionou a
"A condição atribuída ao complexo arquitetônico" de Sobral é o chamado tombamento. Tombar um patrimônio material é um ato administrativo que visa a preservação de um bem considerado histórico por meio de regramentos específicos para bens tombados. O tombamento de Sobral se presta a um esforço de preservação desse passado colonial da cidade em sua riqueza arquitetônica, o que, na prática, veda intervenções não autorizadas nesse patrimônio histórico, protegendo-o das ações da contemporaneidade por meio de uma legislação própria. Assim, observemos as alternativas propostas.
a) harmonização de espaços sociais.
b) valorização de reservas ecológicas.
c) ampliação de conjuntos residenciais.
d) manutenção de comunidades de pescadores.
e) preservação de artefatos de memória
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA E.
814) A liberdade pouco valia para o indivíduo pobre que o mundo da produção e os aparelhos de poder esmagavam sem trégua, e no entanto ele era homem livre numa sociedade escravista. Aproveitado de modo intermitente mas regular pelo Estado e pelos homens bons, a sua utilidade real e empiricamente detectável era revestida por um ônus que o deixava sem razão de ser. A formulação dessa inutilidade justificava o sistema escravista, e o atributo da vadiagem passava a englobar toda uma camada social, desclassificando-a: no meio fluido dos homens livres pobres, todos passavam a ser vadios para a óptica dominante. Vadios e inúteis, era como se não existissem, como se o país não tivesse povo — pois, cativo, o escravo não era cidadão. E assim, inexistindo ou sendo identificado à animalidade, o homem livre pobre permaneceu esquecido através do século.
- A) uma camada marcada pela ambiguidade e que revelava os mecanismos de exclusão sociopolíticos do período.
- B) uma classe potencialmente rebelde, que recorria a ações clandestinas e ilegais para subverter a ordem social.
- C) um setor improdutivo da economia local, que gerava gastos para os governantes, mas sem produzir ganhos e rendimentos.
- D) um grupo à margem da sociedade, que conseguia escapar dos tributos e dos rigores do trabalho.
- E) um segmento de técnicos e profissionais liberais, que era socialmente desprezado, mas fundamental na exploração de ouro.
A alternativa correta é letra A) uma camada marcada pela ambiguidade e que revelava os mecanismos de exclusão sociopolíticos do período.
Gabarito: ALTERNATIVA A
(Laura de Mello e Souza. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII, 2015. Adaptado.)
Ao tratar dos “desclassificados” na sociedade das Minas Gerais do século XVIII, o texto caracteriza-os como
- a) uma camada marcada pela ambiguidade e que revelava os mecanismos de exclusão sociopolíticos do período.
A ambiguidade a que a alternativa faz referência é a condição do homem livre e pobre na sociedade colonial. Esse grupo era sistematicamente excluído do funcionamento da sociedade e, mesmo conservando sua condição de homem livre, eram sintomaticamente enquadrados como inúteis e desclassificados dentro da sociedade. Ou seja, não eram abarcados pela organização social, o que revela os tais mecanismo de exclusão. ALTERNATIVA CORRETA.
- b) uma classe potencialmente rebelde, que recorria a ações clandestinas e ilegais para subverter a ordem social.
O excerto citado no enunciado não faz referência alguma a movimentos de subversão da ordem social. Apenas diz que eram desclassificados e sistematicamente excluídos da sociedade, sendo eventualmente utilizados por suas estruturas, mas jamais sendo de fato incluídos. Alternativa errada.
- c) um setor improdutivo da economia local, que gerava gastos para os governantes, mas sem produzir ganhos e rendimentos.
Segundo o texto do enunciado, esse grupo social era invisibilizado pela administração pública, sendo esquecidos pelas políticas públicas. Ou seja, não havia gastos governamentais destinados a esses indivíduos, que, no máximo, eram usados pela máquina pública eventualmente. Alternativa errada.
- d) um grupo à margem da sociedade, que conseguia escapar dos tributos e dos rigores do trabalho.
Não se tratava de um grupo que procurasse fugir dos rigores do trabalho ou dos tributos, mas sim de desvalidos e excluídos da sociedade. Ou seja, não era uma iniciativa voluntária, mas sim uma forma de exclusão social. Alternativa errada.
- e) um segmento de técnicos e profissionais liberais, que era socialmente desprezado, mas fundamental na exploração de ouro.
Ao que aponta o excerto, eram pessoas vadias, ou seja, sem nenhuma ocupação fixa. Portanto, não há que se falar em técnicos ou profissionais liberais. Alternativa errada.
Veja o estudante que a questão era totalmente ancorada no excerto citado no enunciado. Ou seja, tratava-se de um esforço de interpretação de texto, e não de compreensão acerca da sociedade colonial do século XVIII. Assim, está correta a ALTERNATIVA A.
815) “A ascensão de Dom José I ao trono de Portugal, em 1750, e a nomeação de Sebastião José de Carvalho e Melo para a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra representaram uma mudança radical na forma de conceber o poder e o papel do Estado. Inspirado pelo pensamento Ilustrado, ambos defendiam um Estado laico, que deveria concentrar os seus esforços na modernização do país, no fortalecimento de sua presença na Metrópole e Colônia.”
- A) O esforço modernizador contou com ampla participação da nobreza e das ordens religiosas, principalmente os jesuítas.
- B) A consecução plena dos fins material e espiritual do homem exigia que Estado e Igreja estivessem aliados em um mesmo propósito.
- C) A administração no período Josefino lutou contra uma estrutura agrária e semifeudal, domínio social e político da nobreza e clero.
- D) As reformas foram efetuadas no período Josefino, principalmente aquelas direcionadas à perpetuação do poder temporal diante da secularização do Estado.
A alternativa correta é letra C) A administração no período Josefino lutou contra uma estrutura agrária e semifeudal, domínio social e político da nobreza e clero.
Gabarito: Letra C
A administração no período Josefino lutou contra uma estrutura agrária e semifeudal, domínio social e político da nobreza e clero.
A segunda metade do século XVIII português é marcada por uma tentativa do reino empreender reformas para acabar com o atraso econômico se comparado com outros reinos europeus. Atraso justificado por alguns pensadores tendo como origem a estrutura agrária e semifeudal do reino, que preservava o domínio social e político dos nobres e do clero.
Assim, a partir de 1750 teve início o período conhecido como época pombalina (1750-1777), momento no qual o rei D. José I e seu "primeiro-ministro", Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal.
Pombal foi o responsável pela criação de ações políticas, econômicas e culturais para a monarquia portuguesa tendo por base ideias iluministas e reformistas. À frente da pasta de secretário de estado dos negócios interiores do reino, cargo equivalente ao de primeiro-ministro, Pombal renovou grande parte das estruturas político institucionais da Coroa Portuguesa à luz do pensamento ilustrado corrente à sua época lutando contra os privilégios concedidos à nobreza e às ordens religiosas dentro da Coroa Portuguesa.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: O esforço modernizador contou com ampla participação da nobreza e das ordens religiosas, principalmente os jesuítas.
O esforço modernizador contou com a resistência da nobreza e das ordens religiosas, principalmente os jesuítas. Pombal objetivava diminuir ou eliminar a influência desses dois grupos na organização política do reino.
Letra B: A consecução plena dos fins material e espiritual do homem exigia que Estado e Igreja estivessem aliados em um mesmo propósito.
Essa alternativa aponta para a ideia defendida pela Igreja e não por Pombal. O pensamento religioso defendia que o Estado reconhecesse a superioridade da Igreja, inclusive, a supremacia papal sobre a real. Pombal, como adepto das ideologias iluministas, acreditava o contrário, que a Igreja, principalmente as ordens religiosas, deveriam estar submissas ao poder régio. O poder que essas instituições construíram ao longo do tempo era um obstáculo à consecução das políticas econômicas do reino. Assim, Estado e Igreja entraram em conflito, pois as políticas promovidas pelo ministro iam na direção do fortalecimento do estado e enfraquecimento do poder religioso.
Letra D: As reformas foram efetuadas no período Josefino, principalmente aquelas direcionadas à perpetuação do poder temporal diante da secularização do Estado.
As reformas foram efetuadas para retirar o poder temporal da Igreja, aquele poder em que essa instituição ganhou em matéria política e econômica, podendo decidir os rumos da política da Coroa Portuguesa. Pombal desejava subordinar a Igreja ao poder régio e para isso tomou uma série de medidas que retiravam a participação da Igreja na política portuguesa, como, por exemplo, em relação ao ensino e na administração dos indígenas das aldeias.
Referências:
CARDOSO, Ciro Flamarion. "A crise do colonialismo luso na América Portuguesa". In: LINHARES, Maria Yedda. História Geral do Brasil. 14ª ed. Rio de Janeiro. Elsevier: 2016.
SOUZA JUNIOR, José Alves de. Tramas do cotidiano: religião, política, guerra e negócios no Grão-Pará do setecentos - um estudo sobre a Companhia de Jesus e a política pombalina. Tese de Doutorado em História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009.
816) Pensar a produção e a repercussão das leituras que a cultura e a mentalidade europeia produziram sobre aspectos específicos do Brasil, entre os séculos XVII e XIX, é um exercício complexo, porque tais representações são, em algumas medidas, divergentes, principalmente nas formas e conteúdos; só observamos dois expoentes deste período: Antônio Vieira e Alexandre Rodrigues Ferreira. Sobre as representações realizadas neste período, é correto afirmar que:
- A) Todos, de algum modo, por meio de sermões, ou na pragmática das luzes, encontravam um meio de representar a natureza brasileira.
- B) Por meio de pensamento Ilustrado, os autores representaram aspectos importantes, como natureza, homem e ciência; sendo essencial para as ideias edênicas.
- C) É comum, aos dois autores, a mesma matriz teológica em seus pensamentos, seja por meio de sermão, ou por escrituras sagradas, assim representam o que há de mais fiel no Brasil.
- D) Ambos os autores, embora divergissem em alguns assuntos, possuíam a mesma matriz intelectual; assim, representavam o que era mais comum no pensamento europeu do período.
A alternativa correta é letra A) Todos, de algum modo, por meio de sermões, ou na pragmática das luzes, encontravam um meio de representar a natureza brasileira.
Gabarito: Letra A
Todos, de algum modo, por meio de sermões, ou na pragmática das luzes, encontravam um meio de representar a natureza brasileira.
Antônio Vieira e Alexandre Rodrigues Ferreira, cada um a seu modo, usaram seus conhecimentos para descrever e representar a natureza e as populações que habitavam o Brasil em momentos diferentes.
Antônio Vieira foi um dos mais importantes missionários no Brasil, importante figura da ideologia jesuíta e instrumento da Coroa Portuguesa no processo de aprofundamento da colonização do seu território na América. Antônio Vieira, através de seus sermões, descreveu um quadro da natureza e da sociedade onde pregava, sendo considerado um defensor da liberdade dos indígenas desde que eles fossem aldeados. O missionário proferiu e redigiu seus sermões entre meados e fim do século XVII.
Por sua vez, Alexandre Rodrigues Ferreira, não era um religioso, mas um pesquisador da universidade de Coimbra, portanto, dentro da esfera do secular. Ele foi um exemplo de como o Iluminismo atuou dentro da Coroa Portuguesa já que após se formar em filosofia natural ficou encarregado de comandar uma expedição cujo objetivo era catalogar espécies de animais e de vegetais, além de produzir estudos sobre agricultura, vilas, povoados e mapas cartográficos do Brasil. Todo esse acervo composto de diários seria usado pela Coroa para explorar racionalmente e economicamente o Brasil, o que poderíamos chamar de luzes pragmáticas portuguesa.
Por que as demais estão incorretas?
Letra B: Por meio de pensamento Ilustrado, os autores representaram aspectos importantes, como natureza, homem e ciência; sendo essencial para as ideias edênicas.
Antônio Vieira não é considerado um homem das luzes. Seu pensamento está atrelado aos dogmas da Igreja Católica e não há qualquer defesa de uma secularização ou cientificidade que é característica da Ilustração.
Letra C: É comum, aos dois autores, a mesma matriz teológica em seus pensamentos, seja por meio de sermão, ou por escrituras sagradas, assim representam o que há de mais fiel no Brasil.
Antônio Vieira e Alexandre Rodrigues Ferreira não possuem a mesma matriz de pensamento, pois foram educados em instituições diferentes. Enquanto Vieira está envolto da ideologia jesuíta, pois foi formado em colégios dessa filosofia religiosa, Rodrigues Ferreira se formou em Coimbra em um curso de filosofia natural, no contexto de reforma do ensino português, justamente objetivando a secularização do conhecimento e o cientificismo.
Letra D: Ambos os autores, embora divergissem em alguns assuntos, possuíam a mesma matriz intelectual; assim, representavam o que era mais comum no pensamento europeu do período.
Os dois autores não possuíam a mesma matriz intelectual, pois viveram em contextos distintos, momentos diferentes e isso impactou na formação de suas ideologias. Enquanto Vieira está envolto da ideologia jesuíta, Rodrigues Ferreira fez seus estudos no século XVIII, o século das Luzes, onde a razão e a ciência são os pilares mais importantes do conhecimento humano e chegam a confrontar com os dogmas religiosos.
Referências:
HERMANN, Jacqueline. "Padre Antônio Vieira". In: VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
RAMINELLI, Ronald. "Alexandre Rodrigues Ferreira". In: VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
817) Quando um campesinato afro-brasileiro surgiu no final do século XVIII, os agricultores do litoral da Bahia misturaram conhecimentos agrícolas e etnobotânicos da África e do Brasil para fazer proliferar o dendê africano. Mosaicos de mata atlântica e campos de mandioca transformaram o litoral da Bahia em um simulacro transatlântico do complexo de palmeiras da África Ocidental, criando uma paisagem afro-brasileira. A Costa do Dendê, no sul da Bahia, resultante desse processo, permanece como um testemunho de contribuições africanas e de afrodescendentes para o desenvolvimento econômico, ecológico e cultural das Américas.
- A) A formação histórica da paisagem da Costa do Dendê, na Bahia, é resultado da produção em larga escala de azeite de dendê nos grandes latifúndios monocultores que utilizavam mão de obra escrava africana e indígena desde o século XVI.
- B) A desigualdade sócio-econômica que marcou a história da formação do campesinato brasileiro é um fator que inviabiliza o desenvolvimento econômico e ambiental do Brasil com base na produção de combustível sustentável a partir de dendê.
- C) Os dendezeiros do litoral brasileiro são resultado de tecnologias de cruzamento entre espécies de palmeiras africanas, asiáticas e nativas que eram cultivadas secularmente pelos indígenas em toda a América do Sul.
- D) Os bosques de dendezeiros no litoral baiano formam uma paisagem que testemunha o protagonismo histórico dos africanos e seus descendentes a partir de seus hábitos alimentares, conhecimentos sobre as plantas e práticas agrícolas.
A alternativa correta é letra D) Os bosques de dendezeiros no litoral baiano formam uma paisagem que testemunha o protagonismo histórico dos africanos e seus descendentes a partir de seus hábitos alimentares, conhecimentos sobre as plantas e práticas agrícolas.
Gabarito: Letra D
Os bosques de dendezeiros no litoral baiano formam uma paisagem que testemunha o protagonismo histórico dos africanos e seus descendentes a partir de seus hábitos alimentares, conhecimentos sobre as plantas e práticas agrícolas.
De acordo com Case Watkins, a cultura dos dendezeiros na Bahia pode ser considerada uma forma de resistência cotidiana dos escravizados. Para o autor, os escravizados, libertos e os afrodescendentes utilizaram um conhecimento da fauna e da flora para transfomar as paisagens coloniais. Ao aplicar e adaptar o conhecimento cultural ao meio ambiente , os escravizados exploraram espaços estreitos de negociação para realizar suas próprias preferências culinárias, espirituais, medicinais e econômicas.
Portanto, a cultura dos dendezeiros forma uma paisagem que evidencia o protagonismo histórico dos africanos e seus descendentes, do período colonial até os dias atuais.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: A formação histórica da paisagem da Costa do Dendê, na Bahia, é resultado da produção em larga escala de azeite de dendê nos grandes latifúndios monocultores que utilizavam mão de obra escrava africana e indígena desde o século XVI.
Embora o azeite de dendê fosse um item bastante valorizado no mercado internacional, sua cultura e a formação histórica da paisagem dos dendezeiros não está ligada à produção em larga escala como a de uma plantation. As fontes sobre os dendezeiros no Brasil não indicam a forma como era plantado e nem quem plantava. O que se pode deduzir é que os africanos trazidos para o Brasil era a principal mão de obra usada nas plantações da palmeira do dendê. Esta árvore necessita de solos ricos em sal e passou a ser cultivada em áreas alagadas como nos manguezais o que difere dos solos onde foram cultivados açúcar, tabaco e mandioca. Além disso, a produção do azeite de dendê era feita para abastecimento do mercado interno e os excessos eram comercializados no mercado internacional. Portanto, as áreas de aparecimento das palmeiras de dendê não foram as mesmas das plantation.
Letra B: A desigualdade sócio-econômica que marcou a história da formação do campesinato brasileiro é um fator que inviabiliza o desenvolvimento econômico e ambiental do Brasil com base na produção de combustível sustentável a partir de dendê.
O desenvolvimento econômico e ambiental do Brasil a partir de qualquer matéria-prima não está atrelado à desigualdade sócio
econômica que marcou a formação do campesinato, mas a ausência ou diminuição de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade.
Letra C: Os dendezeiros do litoral brasileiro são resultado de tecnologias de cruzamento entre espécies de palmeiras africanas, asiáticas e nativas que eram cultivadas secularmente pelos indígenas em toda a América do Sul.
Os dendezeiros do litoral baiano são resultado da diáspora das sementes em função do tráfego transatlântico de africanos. É provável que as espécies do dendê tenham chegado ao Brasil concomitantemente ao tráfico de escravizados e, portanto, não seriam cruzamentos de espécies de palmeiras africanas, asiáticas e nativas.
Referência:
WATKINS, Case. Palmeiras Africanas em Solos Brasileiros: Transformação Socioecológica e a Construção de uma Paisagem Afro-Brasileira. Tradução de Ivonete Bueno dos Santos e Samira Peruchi Moretto. HALAC – Historia Ambiental, Latinoamericana y Caribeña, n.1 (2020), p. 150-193.
818) A migração de populações indígenas para o interior da colônia brasileira gerou uma escassez de sua mão de obra, sobre as consequências desse movimento migratório, assinale a alternativa correta.
- A) A escassez de mão de obra nativa nas redondezas intensificou e interiorizou as expedições de apresamento de escravos e expos mais as populações indígenas ao morticínio e epidemias
- B) Esse movimento migratório criou uma nova relação de trabalho indígena baseada na troca de serviços
- C) Obrigou os nativos a retornaram ao litoral devida o a escassez alimentar no interior
- D) Significou uma nova forma de resistência indígena que se aproveitando da vantagem de conhecer o território, resistiu e derrotou as tentativas europeias de expansão territoriais
A alternativa correta é letra A) A escassez de mão de obra nativa nas redondezas intensificou e interiorizou as expedições de apresamento de escravos e expos mais as populações indígenas ao morticínio e epidemias
Vamos analisar cada alternativa, para identificar a correta sobre as consequências da migração de populações indígenas para o interior da colônia brasileira.
A) A escassez de mão de obra nativa nas redondezas intensificou e interiorizou as expedições de apresamento de escravos e expos mais as populações indígenas ao morticínio e epidemias.
CORRETO. A escassez de mão de obra indígena nas redondezas das áreas colonizadas pelos europeus realmente intensificou as expedições de apresamento de escravos, conhecidas como "bandeiras". Estas expedições adentravam o interior do Brasil em busca de indígenas para serem escravizados. Neste processo, muitos indígenas foram mortos ou expostos a doenças trazidas pelos europeus, às quais não tinham imunidade. Portanto, esta alternativa está correta.
B) Esse movimento migratório criou uma nova relação de trabalho indígena baseada na troca de serviços.
INCORRETO. O movimento migratório dos indígenas para o interior não resultou em uma nova relação de trabalho baseada na troca de serviços. Na verdade, a relação de trabalho predominante era a escravidão. Os indígenas eram capturados e forçados a trabalhar nas fazendas e engenhos de açúcar dos colonizadores. Portanto, esta alternativa está incorreta.
C) Obrigou os nativos a retornaram ao litoral devida o a escassez alimentar no interior.
INCORRETO. A migração dos indígenas para o interior não os obrigou a retornar ao litoral devido à escassez de alimentos. Na verdade, os indígenas tinham um profundo conhecimento do território brasileiro e eram capazes de se adaptar a diferentes ambientes e encontrar fontes de alimento. Além disso, muitos grupos indígenas se deslocaram para o interior como uma forma de resistência, para fugir do apresamento e da escravidão. Portanto, esta alternativa está incorreta.
D) Significou uma nova forma de resistência indígena que se aproveitando da vantagem de conhecer o território, resistiu e derrotou as tentativas europeias de expansão territoriais.
INCORRETO. A migração para o interior foi, de fato, uma forma de resistência dos indígenas. No entanto, não é correto afirmar que eles conseguiram derrotar as tentativas europeias de expansão territorial. Os europeus continuaram a expandir seus territórios na colônia brasileira, muitas vezes com o uso de violência e através do apresamento de indígenas. Portanto, esta alternativa está incorreta.
Portanto, a alternativa correta é a LETRA A.
819) Texto associado
- A) objeto tombado e museográfico.
- B) herança religiosa e sacralizada.
- C) cenário bucólico e paisagístico.
- D) riqueza individual e efêmera.
- E) patrimônio cultural e afetivo.
A alternativa correta é letra E) patrimônio cultural e afetivo.
O texto apresenta a importância do rio para o povo Kambeba, destacando sua ligação com a origem do povo e sua relação com a natureza. A narrativa indígena apresentada no texto destaca a importância do rio como um elemento fundamental para a identidade e a cultura do povo Kambeba. Além disso, a história de Márcia Wayna Kambeba e seu pai ilustra a importância do rio como um local de aprendizado e conexão com a natureza. Portanto, o rio é visto como um patrimônio cultural e afetivo para o povo Kambeba.
820) Os estudiosos não conseguem estimar quantos indígenas habitavam a América do Sul na época da conquista. Mas todos concordam que a colonização europeia gerou uma “catástrofe demográfica”. Alguns avaliam que entre 1492 e 1650 a América perdeu um quarto de sua população; outros consideram que a de população foi da ordem de 95%.
- A) As epidemias, uma vez que, na América, a barreira epidemiológica era desfavorável à população aborígene e favorável aos europeus.
- B) A política de concentração em aldeamentos missionários, o que favorecia o contágio, como no caso do sarampo e da varíola que se alastrava nas aldeias da Bahia.
- C) As guerras, estimuladas pela conquista e pelas tropas de apresamento, entre indígenas aliados aos portugueses e índios hostis e entre tapuias e afrodescendentes.
- D) As grandes fomes, que acompanhavam as guerras e geravam fugas para novas regiões, habitadas por grupos hostis e onde os recursos eram desconhecidos
- E) A exploração intensa do trabalho indígena, com a consequente desestruturação social e a elevação das taxas de mortalidade dos povos silvícolas.
A alternativa correta é letra C) As guerras, estimuladas pela conquista e pelas tropas de apresamento, entre indígenas aliados aos portugueses e índios hostis e entre tapuias e afrodescendentes.
Gabarito: ALTERNATIVA C
As afirmativas a seguir descrevem corretamente os principais fatores que causaram a de população indígena no século XVI, na parcela do território americano que corresponde ao Brasil, à exceção de uma. Assinale-a.
- a) As epidemias, uma vez que, na América, a barreira epidemiológica era desfavorável à população aborígene e favorável aos europeus.
A ocupação da América pelos colonizadores europeus significou também a chegada de patógenos estranhos à realidade local. Vírus como a gripe e a varíola foram fatores de grande devastação para as populações locais, uma vez que os povos originários não tinham defesas naturais contra essas doenças. Ou seja, a "barreira epidemiológica" teve efeitos desastrosos para a população aborígene. Sem erros na alternativa.
- b) A política de concentração em aldeamentos missionários, o que favorecia o contágio, como no caso do sarampo e da varíola que se alastrava nas aldeias da Bahia.
Do ponto de vista sanitário, a política de aldeamentos indígenas propiciava, em grande medida, a circulação de patógenos. Entre as várias viroses de origem europeia em circulação nesses aldeamentos, podemos citar a varíola, o sarampo, a tuberculose e a pneumonia. Sem erros na alternativa.
- c) As guerras, estimuladas pela conquista e pelas tropas de apresamento, entre indígenas aliados aos portugueses e índios hostis e entre tapuias e afrodescendentes.
Tapuia era um palavra em tupi para designar todas as nações indígenas que não falavam o tupi. Ou seja, não faz sentido opor "tapuias" aos escravos africanos, uma vez que se tratava de uma rivalidade entre diferentes nações indígenas. No mais, de fato, há de se observar que houve alianças entre portugueses e tupis para enfrentar nações hostis e potências europeias invasoras. Por conter erros, esta é a ALTERNATIVA CORRETA.
- d) As grandes fomes, que acompanhavam as guerras e geravam fugas para novas regiões, habitadas por grupos hostis e onde os recursos eram desconhecidos
Os ciclos de fome foram uma realidade entre nações indígenas no período. Os enfrentamentos contra as forças invasoras e contra outras nações indígenas, por muitas vezes, desorganizavam os meios de vida indígenas, obrigando a migração interna e quebrando as cadeias de nutrição adequadas. Sem erros na alternativa.
- e) A exploração intensa do trabalho indígena, com a consequente desestruturação social e a elevação das taxas de mortalidade dos povos silvícolas.
Já no século XVI foi iniciada a exploração da mão de obra indígena por meio da escravização. Isso implicava na desorganização das formas sociais para a submissão desses indivíduos à condição de cativos. Com isso, saberes tradicionais eram fragilizados, comprometendo modos de vida e prejudicando sobremaneira a mortalidade desses povos. Sem erros na alternativa.
Sem mais, a única a apresentar erros é a ALTERNATIVA C.