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Essa atmosfera de loucura e irrealidade, criada pela aparente ausência de propósitos, é a verdadeira cortina de ferro que esconde dos olhos do mundo todas as formas de campos de concentração. Vistos de fora, os campos e o que neles acontece só podem ser descritos com imagens extraterrenas, como se a vida fosse neles separada das finalidades deste mundo. Mais que o arame farpado, é a irrealidade dos detentos que ele confina que provoca uma crueldade tão incrível que termina levando à aceitação do extermínio como solução perfeitamente normal. ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (adaptado). A partir da análise da autora, no encontro das temporalidades históricas, evidencia-se uma crítica à naturalização do(a)

Essa atmosfera de loucura e irrealidade, criada
pela aparente ausência de propósitos, é a verdadeira
cortina de ferro que esconde dos olhos do mundo
todas as formas de campos de concentração. Vistos de
fora, os campos e o que neles acontece só podem ser
descritos com imagens extraterrenas, como se a vida
fosse neles separada das finalidades deste mundo.
Mais que o arame farpado, é a irrealidade dos detentos
que ele confina que provoca uma crueldade tão incrível
que termina levando à aceitação do extermínio como
solução perfeitamente normal.

ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo:
Cia. das Letras, 1989 (adaptado).

A partir da análise da autora, no encontro das
temporalidades históricas, evidencia-se uma crítica à
naturalização do(a)

Resposta:

A alternativa correta é D)

O trecho de Hannah Arendt em Origens do Totalitarismo expõe um mecanismo central dos regimes totalitários: a construção de uma realidade paralela que desumaniza os indivíduos confinados em campos de concentração. A autora descreve como a irrealidade imposta aos detentos – a sensação de que suas vidas perderam qualquer propósito ou conexão com o mundo exterior – funciona como uma "cortina de ferro" mais eficaz que o próprio arame farpado. Essa desumanização sistemática, segundo Arendt, leva à naturalização do extermínio como solução burocrática.

A crítica arendtiana revela-se especialmente contundente ao analisarmos a alternativa correta (D), que aponta para a naturalização da segregação humana como fundamento dos projetos biopolíticos. Os regimes totalitários do século XX operaram precisamente através dessa lógica: transformaram grupos humanos em categorias abstratas, passíveis de eliminação sistemática. A irrealidade mencionada no texto não é acidental, mas um dispositivo político para tornar pensável o impensável.

A passagem evidencia como a biopolítica moderna – o controle estatal sobre a vida biológica das populações – depende dessa segregação radical entre quem merece viver e quem pode ser eliminado. Arendt demonstra que o horror dos campos não reside apenas na violência explícita, mas na transformação do extermínio em procedimento administrativo, divorciado de qualquer consideração ética. A resposta correta (D) capta essa dimensão ao identificar a crítica à naturalização da segregação como base dos projetos que tratam seres humanos como problemas a serem geridos.

As demais alternativas, embora tratem de questões relevantes, não expressam o cerne da análise arendtiana. O texto não focaliza desigualdades sociais (A), justificativas individuais (B), tradições religiosas (C) ou comportamentos punitivos (E), mas sim a engrenagem burocrática que torna possível a eliminação em massa através da criação deliberada de uma realidade alternativa onde tais ações parecem "normais". É essa naturalização da segregação radical que fundamenta os projetos biopolíticos totalitários.

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