Questões Sobre Período Entre-Guerras: Totalitarismos - História - concurso

“Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça.”

                  Marc Bloch. “A história, os homens e o tempo”, Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, [primeira edição 1949], p. 54.

O trecho acima é parte do último livro do famoso historiador francês, conhecido como um dos mais criativos e importantes do século XX. Escrita em circunstâncias especiais, a obra pode ser lida como uma espécie de testamento acadêmico de Marc Bloch. O texto, contudo, não chegou a ser finalizado, pois Bloch, que era judeu, estava preso e fora torturado pela Gestapo — polícia secreta alemã —, sendo fuzilado perto de Lyon no dia 16 de julho de 1944.

Tendo as informações acima como referência inicial, julgue o item subsequente.

Em nome da pretensa pureza do povo alemão e da raça ariana, considerada superior pelos nazistas, foram perseguidos e assassinados milhares de judeus, deficientes físicos e mentais, homossexuais e ciganos.

• C) CERTO
• E) ERRADO

O gabarito correto é C).

O texto apresentado destaca as condições históricas que favoreceram o surgimento dos regimes fascistas na Europa no período entre as duas guerras mundiais. Segundo a análise de Renzo De Felice, o fascismo emergiu em contextos marcados por crises econômicas profundas, como inflação, desemprego e carestia, somadas a uma crise do sistema parlamentar. Essa conjuntura reforçava a percepção de que não havia alternativas viáveis dentro do sistema democrático para resolver os problemas enfrentados pela sociedade.

A interpretação correta do texto, portanto, leva à conclusão de que os regimes fascistas se estabeleceram em um cenário de dificuldades econômicas combinadas com a descrença na capacidade da democracia de solucioná-las. Essa análise está perfeitamente alinhada com a alternativa C), que afirma: "dificuldades econômicas conjugadas com a descrença na capacidade de sua solução pelos meios democráticos".

As demais alternativas não correspondem ao contexto histórico descrito no texto. A alternativa A) menciona a abolição das economias nacionais, o que não se aplica ao fascismo, que, pelo contrário, reforçava o nacionalismo econômico. A alternativa B) fala de blocos econômicos internacionais com países socialistas, algo irrelevante para a ascensão do fascismo. A alternativa D) aborda a independência das colônias africanas, um tema alheio ao texto. Por fim, a alternativa E) menciona o enfraquecimento do Estado, quando, na realidade, o fascismo fortaleceu o Estado de forma autoritária.

Portanto, a resposta correta é de fato a alternativa C), pois reflete com precisão o quadro histórico descrito por De Felice como propício ao surgimento do fascismo.

A ascensão dos partidos fascistas na Itália e na Alemanha, em 1922 e 1933 respectivamente, foi um fenômeno complexo, marcado tanto por diferenças quanto por semelhanças. Analisando as afirmativas apresentadas, é possível identificar os aspectos que melhor explicam esse processo histórico.

A afirmativa I está correta, pois diversos grupos sociais na Alemanha e na Itália, especialmente as elites conservadoras, a classe média e setores descontentes com a crise econômica, sentiam-se ameaçados pelo avanço dos movimentos de esquerda após a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa. O medo do comunismo foi um fator crucial para o apoio ao fascismo.

A afirmativa II está incorreta. Embora o discurso racial fosse central para o nazismo alemão, não era um elemento unificador entre os dois regimes. O fascismo italiano, inicialmente, não tinha um caráter racial tão explícito, e a aliança entre os dois partidos foi mais estratégica do que ideológica.

A afirmativa III está correta. O período pós-Primeira Guerra foi marcado por uma crise de confiança na democracia liberal, especialmente devido às dificuldades econômicas e à instabilidade política. Isso abriu espaço para ideias autoritárias, que prometiam ordem e eficiência, atraindo amplos setores da população.

A afirmativa IV está incorreta. A ascensão dos partidos fascistas ocorreu em um contexto de crise econômica e fragilidade, não de recuperação. A Itália enfrentava problemas pós-guerra, e a Alemanha sofria com as consequências do Tratado de Versalhes. A plataforma militarista e expansionista foi uma consequência, não uma causa, da chegada ao poder desses grupos.

Portanto, as afirmativas corretas são I e III, correspondendo à alternativa B).

Os sistemas políticos totalitários utilizaram-se da violência e tumultuaram os sonhos dos democratas durante o século XX. Formaram-se ditaduras que defendiam a intolerância contra os adversários e o reforço das tradições mais conservadoras. Na Espanha, por exemplo, o totalitarismo:

• A) ocorreu nas primeiras décadas do século citado, com forte apoio do nazismo alemão e com a reação dos combates anarquistas.
• B) teve apoio de muitos membros da Igreja Católica e perseguiu os anarquistas que lhe faziam oposição.
• C) conseguiu a ajuda militar de Portugal e da Itália, ficando no poder durante duas décadas, marcadas, assim, pela opressão política.
• D) contou com o apoio da Igreja Católica, mas não firmou alianças com os outros totalitarismos da época.
• E) organizou seus principais quadros políticos na cidade de Barcelona, criando brigadas e polícias secretas violentas.

O gabarito correto é B).

Ao longo do período compreendido entre o fim da Primeira Guerra Mundial (1918) e o início da Segunda Guerra Mundial (1939), o mundo testemunhou uma profunda crise das sociedades liberais ocidentais. Nesse contexto, surgiram movimentos e partidos políticos que se opunham tanto ao Estado Liberal quanto ao socialismo marxista, destacando-se o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha.

Ambos os regimes, liderados por Benito Mussolini e Adolf Hitler, respectivamente, compartilhavam características autoritárias e totalitárias. Ao chegarem ao poder, em 1922 e 1933, implementaram políticas que centralizavam o controle nas mãos do Estado, suprimindo qualquer forma de oposição política e negando liberdades individuais.

A alternativa correta, D), reflete essa realidade histórica: tanto o fascismo italiano quanto o nazismo alemão eliminaram outros partidos políticos e anularam direitos fundamentais, subordinando completamente o indivíduo ao Estado. Essa foi uma marca distintiva desses regimes, que buscavam o controle absoluto sobre a sociedade.

As demais alternativas apresentam equívocos históricos. Nem Mussolini nem Hitler se aliaram aos comunistas (A), não utilizaram o marxismo como base teórica (B), não foram impedidos pelo livre-comércio (C) e tampouco socializaram os meios de produção (E). Pelo contrário, mantiveram alianças com setores da elite industrial e financeira, preservando a estrutura de classes sob um rígido controle estatal.

O texto de Norberto Bobbio apresenta três tipos distintos de poder — tradicional, racional e carismático —, cada um associado a diferentes motivações para a obediência. O poder carismático, em particular, baseia-se na crença nos dotes extraordinários do líder, o que o torna uma forma de dominação marcada pela personalidade e pelo apelo emocional do governante.

Entre as opções apresentadas, a República Fascista Italiana no século XX (alternativa B) é o período em que o poder carismático predominou. O regime fascista de Benito Mussolini foi amplamente sustentado pelo culto à sua personalidade, pela retórica inflamada e pela capacidade de mobilizar as massas por meio de um discurso nacionalista e autoritário. Mussolini era visto como um líder excepcional, capaz de conduzir a Itália a um suposto renascimento, característica típica do poder carismático.

As demais alternativas não se encaixam nessa definição: a Monarquia Teocrática do Egito Antigo (C) e a Monarquia Absoluta Francesa no século XVII (D) são exemplos de poder tradicional, baseado na sacralidade do soberano. Já a República Federalista Norte-Americana (A) e a Monarquia Constitucional Brasileira no século XIX (E) estão mais associadas ao poder racional, fundamentado em leis e instituições.

Portanto, a resposta correta é B) República Fascista Italiana no século XX, por representar um contexto histórico em que a obediência estava diretamente ligada à figura carismática do líder.

O fascismo italiano, sob o comando de Benito Mussolini, foi um movimento político marcado por ideologias que buscavam reviver a grandeza do Império Romano, combinando elementos de nacionalismo extremo, militarização e expansionismo. Os três lemas citados no enunciado refletem claramente os princípios fundamentais do regime fascista, que incluíam a exaltação da força, a glorificação da guerra e a busca por um destino imperial para a Itália.

A primeira frase, "A Itália deseja a paz, mas não teme a guerra", evidencia a postura beligerante do fascismo, que via o conflito como um meio legítimo para alcançar seus objetivos. O segundo lema, "A justiça sem a força é uma palavra sem sentido", reforça a ideia de que o poder e a autoridade deveriam ser sustentados pela violência e pelo controle rígido, desprezando a noção de justiça baseada apenas em princípios morais. Por fim, "Nós sonhamos com a Itália romana", revela o desejo expansionista e a nostalgia por um passado glorioso, no qual a Itália dominava vastos territórios.

Analisando as alternativas, a opção D) é a que melhor sintetiza essas características: a beligerância (disposição para a guerra), o culto à ação (valorização da violência e do dinamismo revolucionário) e o esforço expansionista (busca por conquistas territoriais). Outras alternativas apresentam elementos que, embora possam ter sido secundários no regime, não representam seus pilares centrais. A perseguição aos judeus, por exemplo, foi uma política mais associada ao nazismo alemão do que ao fascismo italiano em seus primeiros anos. Já o pacifismo e a socialização da economia são ideias contrárias ao que o fascismo pregava.

Portanto, a resposta correta é D), pois captura a essência do fascismo italiano: uma doutrina que enaltecia a guerra, a força e a reconstrução de um império inspirado na Roma Antiga.

O eixo Berlim-Roma, formado pela aliança entre a Alemanha nazista e a Itália fascista em 1936, surgiu em um contexto de isolamento internacional de ambos os países. Esse isolamento, no caso da Alemanha, estava diretamente relacionado à política externa agressiva adotada por Adolf Hitler e ao expansionismo militarista baseado no conceito de "espaço vital" (Lebensraum).

A alternativa B é a correta, pois reflete a postura belicista e expansionista da Alemanha nazista, que violava acordos internacionais e ameaçava a estabilidade europeia. Hitler buscava anexar territórios para garantir o domínio alemão, desrespeitando fronteiras e desafiando outras potências. Essa postura, somada ao rearmamento e às invasões, levou ao afastamento diplomático da Alemanha.

As demais alternativas estão incorretas: a Alemanha nazista não defendia direitos individuais (A), não foi neutra na Guerra Civil Espanhola (apoiava Franco) (C), não protegeu a Polônia (D) e a perseguição a judeus e ciganos foi iniciativa própria do regime, não uma imposição francesa (E).

Portanto, o isolamento alemão decorreu de sua política expansionista e belicista, consolidando a aliança com a Itália como uma forma de romper com o cerco diplomático.

Esse mundo novo de extermínio em massa e aniquilação cultural patrocinados pelo Estado deu origem a um novo termo – genocídio, que surgiu em 1944 (...)
(Mark Mazower. Continente sombrio. SP: Companhia das Letras, 2001.)

O termo genocídio foi historicamente cunhado com o extermínio:

• A) dos anarquistas ucranianos durante a revolução bolchevique
• B) dos judeus durante a vigência do nazismo.
• C) dos romenos no seu processo de independência
• D) dos etíopes na invasão italiana.
• E) dos zulus durante o governo racista da África do Sul.

O gabarito correto é B).

O editorial do jornal O Globo, publicado em 1961, reflete um momento histórico marcado pela polarização ideológica da Guerra Fria, em que a retórica antissoviética era amplamente difundida no Ocidente. Ao comparar Nikita Khrushtchev a figuras como Hitler e Gengis Khan, o texto não apenas condena as ações do líder soviético, mas também reforça o discurso anticomunista predominante na época. A explosão da bomba de 50 megatons e as ameaças dirigidas à Inglaterra são apresentadas como exemplos da "insensibilidade brutal" de Khrushtchev, enquadrando-o dentro de uma narrativa que associa o regime soviético à barbárie e ao terror.

O item em questão afirma que os regimes totalitários do século XX, como os de Hitler, Mussolini e Stálin, caracterizavam-se pela construção mítica da imagem de seus líderes, e que Getúlio Vargas, durante o Estado Novo, também seguiu esse modelo. Essa afirmação está correta, pois o culto à personalidade foi uma estratégia comum nos regimes autoritários da época. Na Alemanha nazista, Hitler era retratado como o salvador da nação; na Itália fascista, Mussolini era o "Duce" infalível; e na URSS, Stálin foi elevado à condição de líder supremo e guia do povo. No Brasil, Getúlio Vargas utilizou-se de propaganda massiva e controle da mídia para construir uma imagem paternalista e centralizadora, alinhando-se, em certa medida, a esse padrão de liderança carismática e autoritária.

Portanto, a resposta correta para o item é C) CERTO, uma vez que a construção da imagem mítica do líder foi de fato uma característica marcante dos regimes totalitários e autoritários do século XX, incluindo o Estado Novo varguista.