Questões Sobre Pré-História Brasileira - História - concurso
Questão 11
Leia o segmento abaixo, do escritor indígena
Ailton Krenak.
Os fatos e a história recente dos últimos 500 anos
têm indicado que o tempo desse encontro entre
as nossas culturas é um tempo que acontece e se
repete todo dia. Não houve um encontro entre as
culturas dos povos do Ocidente e a cultura do
continente americano numa data e num tempo
demarcado que pudéssemos chamar de 1500 ou
de 1800. Estamos convivendo com esse contato
desde sempre.
KRENAK, Ailton. O eterno retorno do encontro. In:
NOVAES, Adauto (org.). A outra margem do
Ocidente. São Paulo: Funarte, Companhia das
Letras, 1999. p. 25.
Considerando a história indígena no Brasil, a
principal ideia contida no segmento é
- A)negação da conquista europeia na América, em 1500.
- B)ausência de transformação social nas sociedades ameríndias.
- C)exclusão dos povos americanos da história ocidental.
- D)estagnação social do continente sul-americano após a chegada dos europeus.
- E)continuidade histórica do contato cultural entre ocidentais e indígenas.
A alternativa correta é E)
O segmento do escritor indígena Ailton Krenak apresenta uma reflexão profunda sobre a natureza do encontro entre as culturas ocidentais e os povos originários das Américas. Ao afirmar que esse encontro não se limita a uma data específica, como 1500 ou 1800, mas é um processo contínuo que se repete diariamente, Krenak destaca a ideia de uma continuidade histórica nas relações entre esses grupos. Essa perspectiva desafia a visão tradicional de um "descobrimento" pontual, enfatizando, em vez disso, um contato permanente e dinâmico que molda tanto as sociedades indígenas quanto as ocidentais.
A principal ideia do texto, portanto, não é negar a conquista europeia (alternativa A), mas sim reconhecer que o processo de interação cultural é contínuo e ininterrupto. Também não há menção à ausência de transformação social (B), exclusão dos povos americanos (C) ou estagnação do continente (D). A alternativa correta, E), capta justamente essa noção de que o contato entre culturas não é um evento isolado, mas um fenômeno histórico em constante renovação.
Essa visão ressalta a resistência e a adaptação dos povos indígenas ao longo dos séculos, mostrando como suas culturas seguem vivas e em diálogo – muitas vezes conflituoso – com a sociedade dominante. Krenak nos convida a perceber que o "encontro" não acabou em 1500: ele se refaz a cada dia, nas lutas, nas trocas e na coexistência entre mundos distintos.
Questão 12
taracuá […] Sabe V. Rvma. que para o índio a maloca é cozinha, dormitório, refeitório,
tenda de trabalho, lugar de reunião na estação de chuvas e sala de dança nas grandes
solenidades. […] A maloca é também, como costumava dizer o zeloso dom Bazola, a
“casa do diabo”, pois que ali se fazem as orgias infernais, maquinam-se as mais atrozes
vinganças contra os brancos e contra outros índios…
territorial. 2.ed. São Paulo: Loyola, 1999, p. 70. (Adaptado).
delineando-se, gradativamente, a imagem do nativo ocioso, preguiçoso, indisciplinado e desorganizado.
Esse ponto de vista atravessou séculos e sobrevive em nossos dias. Dessa maneira, de acordo com a
citação, derrubar a maloca seria uma ação necessária, pois a moradia indígena representava o(a)
- A)tradição da cultura pagã que contrariava os planos de conversão e domínio espiritual.
- B)baluarte de expressão da organização tribal, influência do contato com a cultura africana.
- C)símbolo de superioridade da cultura indígena, quando comparada à europeia.
- D)obstáculo que impedia o trabalho de catequese no espaço conhecido como reduções.
A alternativa correta é A)
O relato de Monsenhor Pedro Massa no início do século XX revela uma visão profundamente etnocêntrica e missionária sobre a cultura indígena, especialmente no que diz respeito à maloca. A descrição da destruição desse espaço central para a vida comunitária dos povos originários não é casual, mas sim parte de um projeto maior de dominação espiritual e cultural. A maloca, enquanto núcleo de sociabilidade, ritual e organização coletiva, era vista pelos colonizadores como um empecilho à conversão religiosa e à imposição de novos valores.
A associação da maloca à "casa do diabo" pelo padre Bazola explicita o caráter demonizador atribuído às tradições indígenas, justificando sua destruição como um ato de purificação. Essa narrativa servia aos interesses coloniais, pois ao desqualificar os espaços e práticas nativas, facilitava a imposição de uma nova ordem social e religiosa. A maloca representava, portanto, a resistência de uma cosmovisão autóctone que desafiava os dogmas europeus, sendo seu desmonte uma estratégia para enfraquecer a identidade coletiva indígena.
A alternativa correta (A) aponta precisamente para esse conflito: a maloca encarnava a tradição cultural pagã que se opunha aos objetivos de conversão e controle espiritual. Sua destruição não era apenas física, mas simbólica, visando apagar modos de vida incompatíveis com a visão colonial. Essa lógica persiste em diferentes formas até hoje, mostrando como o epistemicídio indígena foi fundamental para a construção de uma narrativa histórica que marginaliza e inferioriza os povos originários.
Questão 13
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 abr. 2017.
A persistência das reivindicações relativas à aplicação
desse preceito normativo tem em vista a vinculação
histórica fundamental entre
- A)etnia e miscigenação racial.
- B)sociedade e igualdade jurídica.
- C)espaço e sobrevivência cultural.
- D)progresso e educação ambiental.
- E)bem-estar e modernização econômica.
A alternativa correta é C)
O artigo 231 da Constituição Federal de 1988 reconhece e garante aos povos indígenas seus direitos fundamentais, incluindo sua organização social, costumes, línguas, crenças e, principalmente, os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Essa disposição legal reflete a importância da relação intrínseca entre o território e a preservação da identidade cultural dessas comunidades. A persistência das reivindicações indígenas em relação à aplicação desse dispositivo demonstra que a luta pela demarcação de terras não se resume apenas a uma questão fundiária, mas sim a uma necessidade vital para a sobrevivência física e cultural desses povos.
A alternativa correta, C) "espaço e sobrevivência cultural", evidencia essa conexão essencial. As terras indígenas não são meras propriedades, mas espaços onde se desenvolvem práticas ancestrais, modos de vida e visões de mundo específicas. A perda ou a invasão desses territórios ameaça diretamente a continuidade das tradições, línguas e conhecimentos tradicionais, elementos que constituem a base da identidade indígena. Portanto, a garantia desses territórios é condição indispensável para a manutenção da diversidade cultural brasileira, conforme previsto na Constituição.
Questão 14
Analise as proposições abaixo sobre a população indígena no Brasil colonial e,
em seguida, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta.
I. Os grupos indígenas encontrados no litoral pelo português eram
principalmente tribos do tronco tupi.
II. O povo Tupi encontrado pelos portugueses praticava a agricultura, dentre
os roçados estavam o da mandioca, o do milho e o do tabaco.
III. A unidade linguística e cultural dos povos indígenas contribuíram para a
formação de duradoras confederações regionais que impediram o inimigo
de conquistar várias áreas do litoral.
IV. A prática da antropofagia foi iniciada com a chegada dos portugueses
como uma forma de amedrontrar os invasores.
- A)Somente I e III estão corretas.
- B)Somente II e III estão corretas.
- C)Somente I e II estão corretas.
- D)Somente II e IV estão corretas.
- E)Somente III e IV estão corretas.
A alternativa correta é C)
O estudo da população indígena no Brasil colonial revela aspectos fundamentais sobre a organização social, econômica e cultural desses povos antes e durante o processo de colonização portuguesa. Analisando as proposições apresentadas, é possível identificar os elementos corretos e incorretos sobre essa temática.
A primeira proposição afirma que os grupos indígenas encontrados no litoral pelos portugueses eram principalmente tribos do tronco tupi, o que está correto. De fato, os tupis predominavam na região costeira, facilitando o primeiro contato com os colonizadores. Já a segunda proposição também está correta ao destacar que os tupis praticavam a agricultura, cultivando mandioca, milho e tabaco, elementos essenciais para sua subsistência e trocas.
Entretanto, a terceira proposição está incorreta ao sugerir que a unidade linguística e cultural dos indígenas resultou em confederações duradouras contra os invasores. Na realidade, as tribos eram diversas e frequentemente rivais, o que foi explorado pelos portugueses para dominá-las. Por fim, a quarta proposição também está errada, pois a antropofagia já era praticada antes da chegada dos europeus, vinculada a rituais e não como estratégia de guerra.
Portanto, a alternativa correta é C) Somente I e II estão corretas, pois reflete com precisão os conhecimentos históricos sobre os povos indígenas no período colonial.
Questão 15
INSTRUÇÃO: Para responder à questão, considere
as afirmações sobre a viagem de Pedro Álvares
Cabral, que aportou no litoral brasileiro em abril de
1500, dando origem ao “descobrimento do Brasil”.
I. A expedição foi um empreendimento estatal comandado
e controlado pela Coroa Portuguesa, sem que
houvesse participação de investimentos privados na
sua montagem e execução.
II. A viagem de Cabral contou com o apoio da Igreja
Católica, que desejava expandir o cristianismo para
além da Europa; ademais, o reconhecimento oficial
da Igreja conferia legitimidade às novas conquistas.
III. A escolha do comandante da esquadra portuguesa
teve como principais critérios a competência e a
experiência profissional de Cabral, sinalizando o
rompimento do Estado português com os privilégios
aristocráticos na sua burocracia.
IV. A expedição tinha como objetivo final estabelecer
rotas comerciais de especiarias com o Oriente; a
“descoberta do Brasil”, porém, estava entre os resultados
possíveis, devido ao interesse português
em controlar a navegação no Atlântico Sul.
Estão corretas apenas as afirmativas
- A)I e II.
- B)II e IV.
- C)I, II e III.
- D)I, III e IV.
- E)II, III e IV.
A alternativa correta é B)
O descobrimento do Brasil pela expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500 é um evento histórico cercado de nuances políticas, econômicas e religiosas. Ao analisar as afirmações apresentadas, é possível identificar quais delas estão corretas e quais não correspondem à realidade histórica.
A afirmativa I está incorreta, pois a expedição de Cabral não foi exclusivamente um empreendimento estatal. Embora a Coroa Portuguesa tivesse um papel central, havia também participação de investidores privados, como comerciantes interessados no lucro das rotas comerciais. A iniciativa combinava interesses do Estado e da iniciativa privada.
A afirmativa II está correta. A Igreja Católica apoiou a expedição, pois via na expansão marítima uma oportunidade de difundir o cristianismo. Além disso, a legitimação religiosa era crucial para justificar as conquistas territoriais perante outras potências europeias.
A afirmativa III é incorreta. Embora Cabral fosse um navegador competente, sua nomeação não representou um rompimento com os privilégios aristocráticos. Pelo contrário, sua escolha estava ligada a sua origem nobre e às relações políticas da época, mantendo a tradição de privilegiar a elite na administração do Estado.
Por fim, a afirmativa IV está correta. O principal objetivo da expedição era estabelecer rotas comerciais com as Índias, mas o controle do Atlântico Sul já era uma preocupação portuguesa. O "acaso" do descobrimento do Brasil estava dentro das possibilidades estratégicas de Portugal.
Portanto, as afirmativas corretas são II e IV, correspondendo à alternativa B.
Questão 16
na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, um crânio feminino batizado de Luzia. A constatação da presença de traços
negroides desse crânio, contribuiu para
- A)a formulação de novas interpretações acerca do processo de povoamento de nosso continente e do globo, levando em conta a possibilidade de o Homo sapiens ter se desenvolvido aqui e não na África.
- B)a confirmação da teoria chamada de Consenso Clóvis, desenvolvida nos Estados Unidos, de que as regiões da África e da América do Sul formavam um só bloco continental, o que facilitava a circulação dos grupos humanos.
- C)a hipótese de a ocupação ter se iniciado pela América do Sul a partir de fluxos migratórios provenientes da costa africana por terra e por mar, diferentemente das teses sustentadas pela comunidade científica internacional durante décadas.
- D)o desenvolvimento das pesquisas sobre os paleoameríndios, populações coletoras e caçadoras que não deixaram vestígios e sobre as quais pairam muitas dúvidas e considerações hipotéticas.
- E)a comprovação de que a ocupação do continente aconteceu a partir da vinda simultânea de grupos de origem mongoloide e negroide pelo estreito de Behring, em um contexto geográfico marcado pelo congelamento das águas.
A alternativa correta é C)
A descoberta do crânio de Luzia em Lagoa Santa, Minas Gerais, na década de 1970, trouxe contribuições significativas para a revisão das teorias sobre o povoamento das Américas. A análise dos traços negroides do fóssil sugeriu uma origem distinta daquela defendida pelo Consenso Clóvis, que afirmava a ocupação do continente por grupos vindos da Ásia através do estreito de Bering. Em vez disso, Luzia apontou para a possibilidade de migrações mais antigas, provenientes da África, tanto por rotas terrestres quanto marítimas, direcionadas para a América do Sul.
Essa hipótese, representada pela alternativa C), desafiava as narrativas tradicionais ao propor que os primeiros habitantes das Américas poderiam ter chegado antes do que se imaginava e por caminhos diferentes. A presença de características africanas em Luzia reforçou a ideia de uma diversidade populacional mais complexa no processo de ocupação do continente, abrindo espaço para novas investigações sobre as rotas migratórias e a adaptação humana em diferentes contextos geográficos.
Assim, a descoberta não apenas enriqueceu o debate científico, mas também destacou a importância da América do Sul no estudo das migrações humanas primitivas, reforçando a necessidade de continuar explorando evidências arqueológicas para compreender melhor nossa história ancestral.
Questão 17
O eixo temático I da Proposta Curricular envolve o
estudo dos povos indígenas: diversidade e migrações.
Baseando-se nas recomendações Centro de Referência
Virtual da Secretaria de Estado de Educação de Minas
Gerais, assinale a alternativa incorreta.
- A)Os povos indígenas à época do “descobrimento” possuíam características específicas conforme a tribo e a região.
- B)Seguindo as orientações contidas no Conteúdo Básico Comum (CBC) de História, desconsidera-se as especificidades e a complexidade dos povos indígenas no território do Brasil.
- C)O tópico permite desenvolver a noção de historicidade, visto que o estudo do passado colonial permite estabelecer um diálogo com o presente, ressaltando as peculiaridades do tempo passado e as permanências encontradas no tempo presente.
- D)Um ponto importante de ser estudado é a prática de antropofagia entre os índios.
A alternativa correta é B)
O estudo dos povos indígenas no contexto da Proposta Curricular, especialmente no eixo temático I, aborda a diversidade e as migrações desses povos, destacando sua importância histórica e cultural. Conforme as recomendações do Centro de Referência Virtual da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, é fundamental compreender as particularidades desses grupos, bem como sua relação com o passado colonial e o presente.
Entre as alternativas apresentadas, a incorreta é a B), pois contradiz as orientações do Conteúdo Básico Comum (CBC) de História. O CBC, na verdade, valoriza as especificidades e a complexidade dos povos indígenas no território brasileiro, reconhecendo sua diversidade cultural e histórica. Ignorar essas características seria um equívoco, já que o estudo desses povos é essencial para entender a formação do Brasil e suas dinâmicas sociais.
As demais alternativas estão corretas: a A) ressalta a diversidade indígena à época do "descobrimento"; a C) enfatiza a noção de historicidade, relacionando passado e presente; e a D) menciona a antropofagia como um aspecto relevante para análise, dentro de seu contexto cultural.
Portanto, o estudo dos povos indígenas deve ser abordado com profundidade, considerando suas múltiplas dimensões e evitando generalizações que desrespeitem sua riqueza histórica e cultural.
Questão 18
TEXTO I
Documentos do século XVI algumas vezes se
referem aos habitantes indígenas como “os brasis”,
ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século
XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as
referências ao status econômico e jurídico desses
eram muito mais populares. Assim, os termos “negro
da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência
do que qualquer outro.
SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de
um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-2000).
São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).
TEXTO II
Índio é um conceito construído no processo de
conquista da América pelos europeus. Desinteressados
pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito
para com o outro, o indivíduo de outras culturas,
espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões
terminaram por denominar da mesma forma povos tão
díspares quanto os tupinambás e os astecas.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.
Ao comparar os textos, as formas de designação dos
grupos nativos pelos europeus, durante o período
analisado, são reveladoras da
- A)concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado.
- B)percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias.
- C)compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados.
- D)transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval.
- E)visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza.
A alternativa correta é C)
A comparação entre os dois textos revela como a designação dos grupos nativos pelos europeus durante os séculos XVI e XVII estava profundamente marcada por uma compreensão etnocêntrica das populações encontradas nos territórios conquistados. No Texto I, observa-se que os termos utilizados para se referir aos indígenas, como "negro da terra" e "índios", estavam mais associados ao seu status econômico e jurídico do que a uma identificação cultural ou étnica. Já o Texto II destaca como o termo "índio" foi uma construção europeia, que ignorou a diversidade cultural dos povos nativos, homogeneizando-os sob uma mesma denominação.
Essa uniformização linguística reflete o preconceito e o desinteresse dos colonizadores em compreender as particularidades das diferentes culturas ameríndias. Ao invés de reconhecer as distinções entre povos como os tupinambás e os astecas, os europeus impuseram uma visão simplificada e hierárquica, enquadrando todos os nativos em categorias que serviam aos seus interesses coloniais. Portanto, a alternativa C é a correta, pois evidencia como as designações utilizadas eram fruto de uma perspectiva etnocêntrica, que subjugava a complexidade das sociedades nativas a uma lógica de dominação e exploração.
Questão 19
Considerando as contribuições da cultura indígena
no Brasil, analise os itens abaixo, julgue-os e em
seguida assinale a alternativa correta:
I. A influência cultural indígena na sociedade
brasileira perpassa o hibridismo quanto a
assimilação da língua portuguesa e suas
influências das línguas indígenas. Várias
palavras de origem indígena se encontram em
nosso vocabulário cotidiano, como palavras
ligadas à flora e à fauna (como abacaxi, caju,
mandioca, tatu) e palavras que são utilizadas
como nomes próprios (como o parque do
Ibirapuera, em São Paulo, que significa, “lugar
que já foi mato”, em que “ibira” quer dizer
árvore e “puera” tem o sentido de algo que já
foi. O rio Tietê em São Paulo também é um
nome indígena que significa “rio verdadeiro”)
II. Além da influência indígena na culinária
brasileira, herdamos também a crença nas
práticas populares de cura derivadas das
plantas. Por isso se recorre ao pó de guaraná, ao
boldo, ao óleo de copaíba, à catuaba, à semente
de sucupira, entre outros, para curar alguma
enfermidade.
III. A culinária brasileira herdou vários hábitos e
costumes da cultura indígena, como a utilização
da mandioca e seus derivados (farinha de
mandioca, beiju, polvilho), o costume de se
alimentar com peixes, carne socada no pilão de
madeira (conhecida como paçoca) e pratos
derivados da caça (como picadinho de jacaré e pato ao tucupi), além do costume de comer
frutas (principalmente o cupuaçu, bacuri,
graviola, caju, açaí e o buriti).
IV. Por volta de 1500, momento da chegada dos
europeus, até os dias atuais, século XXI, a
população indígena diminuiu drasticamente, de
três a cinco milhões de índios para, atualmente,
segundo a FUNAI (Fundação Nacional do
Índio), 358 mil índios.
- A)Os itens I, II, III e IV estão corretos.
- B)Os itens I, II e III estão corretos e o IV está incorreto.
- C)O item IV está correto e os itens I, II e III fazem inferências aparentemente equivocadas sobre o tema abordado.
- D)Os itens I e II são complementares e os itens III e VI são concorrentes, pois estes últimos fazem uma análise fenomenológica sobre o tema.
- E)Os itens II e III podem ser didaticamente tratados como contraditórios enquanto os itens I e IV mostram associações temporais antagônicas.
A alternativa correta é A)
Questão 20
Leia o texto para responder à questão.
Prova da barbárie e, para alguns, da natureza não humana do ameríndio, a antropofagia condenava as tribos que a praticavam a sofrer pelas armas portuguesas a “guerra justa”.
Nesse contexto, um dos autores renascentistas que escreveram sobre o Brasil, o calvinista francês Jean de Léry, morador do atual Rio de Janeiro na segunda metade da década de 1550 e quase vítima dos massacres do Dia de São Bartolomeu (24.08.1572), ponto alto das guerras de religião na França, compara a violência dos tupinambás com a dos católicos franceses que naquele dia fatídico trucidaram e, em alguns casos, devoraram seus compatriotas protestantes:
“E o que vimos na França (durante o São Bartolomeu)? Sou francês e pesa-me dizê-lo. O fígado e o coração e outras partes do corpo de alguns indivíduos não foram comidos por furiosos assassinos de que se horrorizam os infernos? Não é preciso ir à América, nem mesmo sair de nosso país, para ver coisas tão monstruosas”.
(Luís Felipe Alencastro. “Canibalismo deu pretexto para escravizar”.
Folha de S.Paulo, 12.10.1991. Adaptado.)
A partir do texto e de seus conhecimentos, é correto afirmar que
- A)as experiências de canibalismo relatadas tinham significados opostos, pois representavam, entre os tupinambás, a rejeição ao catolicismo e, entre os franceses, a adesão à Igreja de Roma.
- B)o calvinista francês acusava os colonizadores portugueses de aceitar o canibalismo dos tupinambás, pois a prática fazia parte da tradição religiosa católica.
- C)o calvinista francês defendia a tolerância ao canibalismo, pois o considerava uma forma adequada de derrotar e submeter os inimigos religiosos.
- D)as experiências de canibalismo relatadas tinham origem diversa, pois representavam, entre os tupinambás, um ritual religioso e, no caso dos franceses, vingança.
- E)as experiências de canibalismo relatadas mostram que a antropofagia era prática religiosa comum na América e na Europa e, em virtude disso, os colonizadores erravam ao condenar os tupinambás.
A alternativa correta é D)
O texto apresentado aborda a questão do canibalismo entre os tupinambás e os católicos franceses durante o período colonial, destacando as diferentes motivações por trás dessa prática em cada contexto. A análise do calvinista francês Jean de Léry serve como base para compreender essas diferenças.
No caso dos tupinambás, o canibalismo era parte de um ritual religioso e cultural, enquanto entre os católicos franceses, como relatado durante o massacre do Dia de São Bartolomeu, a prática estava associada a atos de vingança e violência extrema contra os protestantes. Essa distinção é fundamental para entender as diferentes naturezas do canibalismo em cada sociedade.
O autor do texto original, Luís Felipe Alencastro, reforça essa ideia ao mostrar que a antropofagia entre os indígenas brasileiros foi usada como justificativa para a "guerra justa" pelos portugueses, enquanto na Europa, o mesmo ato era cometido por motivos completamente distintos. A comparação feita por Jean de Léry evidencia que a barbárie não era exclusividade dos povos ameríndios, mas também ocorria em sociedades consideradas civilizadas.
Portanto, a alternativa correta é a D), pois ela reconhece que as experiências de canibalismo tinham origens distintas: ritual religioso entre os tupinambás e vingança entre os franceses. As demais alternativas apresentam interpretações equivocadas ou distorções do texto original.