Questões Sobre Pré-História Brasileira - História - concurso
Questão 21
Com relação ao tipo de organização social predominante entre os grupos indígenas que habitavam o litoral do
atual estado de Pernambuco no momento dos primeiros contatos com os europeus, assinale a alternativa
CORRETA.
- A)As tribos tupi do litoral de Pernambuco pré-colonial possuíam uma população de algumas centenas de indivíduos, divididos em pequenas aldeias espalhadas pelos quilômetros da costa entre o Rio São Francisco e o Canal de Santa Cruz.
- B)A maioria dos grupos indígenas que habitava a atual costa de Pernambuco no período da conquista era de língua Tupi, organizava-se em aldeias de milhares de indivíduos, cujos laços sociais principais eram firmados em linhagens e parentescos, e onde a divisão de trabalho baseava-se, principalmente, em quesitos de gênero e idade.
- C)Os grupos tupi que ocupavam o território do atual estado de Pernambuco no momento da conquista se organizavam em tribos de caçadores nômades que cultuavam divindades representando espíritos da natureza, como Tupã.
- D)Todos os grupos indígenas que ocupavam o atual estado do Pernambuco no momento da conquista praticavam rituais antropofágicos, associados com o culto às divindades bélicas.
- E)Os grupos indígenas tapuia que ocupavam todo o litoral do atual estado de Pernambuco durante o processo de conquista tinham suas estruturas sociais baseadas em linhagens e parentescos, divisão de trabalho por gênero e idade, praticavam a agricultura sazonal e possuíam uma cultura na qual os principais valores sociais giravam em torno da guerra.
A alternativa correta é B)
O estudo das organizações sociais indígenas no período pré-colonial é fundamental para compreender a complexidade cultural dos povos que habitavam o Brasil antes da chegada dos europeus. No caso específico do litoral de Pernambuco, a análise histórica e antropológica revela características marcantes da sociedade Tupi que predominava na região.
A alternativa correta (B) descreve com precisão a organização social desses grupos indígenas. Eles se estruturavam em aldeias numerosas, com populações que podiam alcançar milhares de indivíduos, contrariando a noção simplista de pequenos grupos isolados. A base de sua organização social era o parentesco e as linhagens, elementos centrais na estruturação do poder e das relações comunitárias.
A divisão de trabalho por gênero e idade era outra característica marcante dessas sociedades. Enquanto os homens se dedicavam principalmente à caça, pesca e atividades guerreiras, as mulheres assumiam a agricultura, o processamento de alimentos e o cuidado com as crianças. Essa divisão não representava hierarquia, mas sim uma complementaridade de funções essenciais para a sobrevivência do grupo.
É importante destacar que os Tupi praticavam uma agricultura sofisticada, baseada no sistema de coivara (queima controlada para preparo do solo), cultivando mandioca, milho, amendoim e outros alimentos. Essa prática agrícola permitia o estabelecimento de aldeias permanentes ou semipermanentes, contrariando a ideia errônea de que seriam caçadores-coletores nômades.
Os aspectos religiosos e culturais também merecem atenção. Embora cultuassem divindades naturais, sua religião era complexa e integrada a todos os aspectos da vida social. A antropofagia ritual, mencionada na alternativa D, era praticada por alguns grupos Tupi, mas não por todos os povos da região, e estava associada a rituais específicos de guerra e incorporação de virtudes do inimigo, não sendo uma prática generalizada ou cotidiana.
A alternativa correta destaca ainda a importância da língua Tupi como elemento unificador desses povos. A língua funcionava como marcador identitário e facilitador das relações entre diferentes aldeias, permitindo trocas culturais e matrimoniais que fortaleceram sua presença ao longo da costa brasileira.
Questão 22
“…não se pode ignorar o NE na hora de se discutir a antiguidade do homem na América e as vias de dispersão por ele
percorridas, não importando se foi há 20, 30 ou 40 mil anos… É conhecida de todos a longa sequência estratigráfica
lograda no Sítio do Boqueirão da Pedra Furada, que pode significar a permanência do homem pré-histórico nesse
sítio, a partir de 48 mil anos. Mas a Pedra furada não é um caso único.”
(MARTIM, G. Pré-História do Nordeste: pesquisas e pesquisadores. Clio Arqueológica, Recife: UFPE, n° 12, p. 7-15. ano 1997. p.11. Adaptado.
Em Pernambuco, por exemplo, localizado no município de Buíque, o sítio de “Alcobaça” possui um dos maiores e
mais representativos painéis de figura rupestre do estado, que, por seu tamanho e complexidade, é de grande
relevância para o entendimento da pré-história local e nacional. Em relação ao estudo do período pré-colonial sobre
o atual estado de Pernambuco, assinale a alternativa INCORRETA.
- A)O sítio “Furna do Estrago”, localizado no município do Brejo da Madre de Deus, é de grande importância para o entendimento dos grupos que habitaram o atual agreste nordestino, uma vez que permite se entender um pouco mais sobre os rituais funerários da época.
- B)O material arqueológico, encontrado nos sítios que remontam ao período pré-colonial do estado, é fundamental para se entender o povoamento da região, bem como parte das características socioculturais daqueles que os utilizaram.
- C)As figuras rupestres, encontradas em vários sítios de Pernambuco, são de grande relevância para a compreensão das populações que habitaram as terras pertencentes hoje a esse estado.
- D)Embora a região da Zona da Mata também possua vestígios da presença dos Homo Sapiens Sapiens, o Agreste e o Sertão pernambucano, durante o longo período pré-colonial, são os locais onde pode ser encontrado o maior número de sítios arqueológicos do Estado.
- E)Embora “Alcobaça” possua grande representatividade entre os arqueólogos, o estado de Pernambuco, como um todo, tem pouca importância para o entendimento do período pré-colonial. Isso se deve, dentre outras coisas, ao pequeno número de sítios encontrados em seu território.
A alternativa correta é E)
O estudo da pré-história no Nordeste brasileiro, especialmente em Pernambuco, revela uma riqueza arqueológica fundamental para compreender o povoamento humano nas Américas. Como destacado no texto, o Sítio do Boqueirão da Pedra Furada, com evidências que remontam a 48 mil anos, e o sítio "Alcobaça", em Buíque, com seus impressionantes painéis rupestres, demonstram a relevância da região para a arqueologia nacional.
A alternativa E) é incorreta porque contradiz as evidências apresentadas no texto e na literatura arqueológica. Pernambuco possui diversos sítios importantes como a Furna do Estrago (Brejo da Madre de Deus) e Alcobaça (Buíque), que comprovam sua significativa contribuição para os estudos pré-coloniais. A afirmação de que o estado tem "pouca importância" e "pequeno número de sítios" é equivocada, considerando a densidade de vestígios arqueológicos encontrados em suas diferentes regiões (Zona da Mata, Agreste e Sertão).
As pesquisas em Pernambuco têm revelado informações valiosas sobre:
- Rituais funerários (Furna do Estrago)
- Expressões artísticas rupestres (Alcobaça)
- Padrões de ocupação humana
- Desenvolvimento cultural dos povos pré-coloniais
Portanto, longe de ser irrelevante, Pernambuco se destaca como uma área-chave para entender a pré-história brasileira, com sítios arqueológicos que abrangem desde períodos remotos até o contato com os colonizadores europeus.
Questão 23
TEXTO 1
Queimada
À fúria da rubra língua
do fogo
na queimada
envolve e lambe
o campinzal
estiolado em focos
enos
sinal.
É um correr desesperado
de animais silvestres
o que vai, ali, pelo mundo
incendiado e fundo,
talvez,
como o canto da araponga
nos vãos da brisa!
Tambores na tempestade
[…]
E os tambores
e os tambores
e os tambores
soando na tempestade,
ao efêmero de sua eterna idade.
[…]
Onde?
Eu vos contemplo
à inércia do que me leva
ao movimento
de naufragar-me
eternamente
na secura de suas águas
mais à frente!
Ó tambores
ruflai
sacudi suas dores!
Eu
que não me sei
não me venho
por ser
busco apenas ser somenos
no viver,
nada mais que isso!
(VIEIRA, Delermando. Os tambores da tempestade.
Goiânia: Poligráfica, 2010. p. 164, 544, 552.)
Os versos do Texto 1 tratam da destruição da fauna
e da flora em uma queimada e de tambores. Esse cenário nos lembra a situação da América antes da conquista
dos europeus. O continente era habitado por cerca de 50
milhões de pessoas, que possuíam diversos níveis culturais.
Assinale a alternativa que indica corretamente tal
diversidade entre os povos ameríndios e suas respectivas
regiões:
- A)Os Tupiniquins, que povoavam o interior brasileiro, e os povos Moicanos, que povoavam o litoral norte-americano, ficaram famosos por sua crueldade nas guerras, mas os primeiros nunca estabeleceram um império, enquanto os últimos conseguiram edificar cidades suntuosas com seus parcos recursos.
- B)Enquanto os Maias possuíam enormes cidades no atual território norte-americano, os povos Que-chua, do atual Brasil, eram caracterizados por sua habilidade comercial. Eles abriram caminhos tão perfeitos nas florestas que, posteriormente, vieram a ser utilizados nas construções de estradas atuais.
- C)Os povos Incas, que habitavam a atual região da Argentina, foram hábeis guerreiros e conseguiram expandir seu império até as terras da Venezuela. Contudo, no conflito com os Guaranis, que habitavam o Sul do Brasil, foram facilmente derrotados.
- D)Os povos Astecas, que habitavam o atual território mexicano, e os povos Tupinambás, do litoral brasileiro, possuíam uma organização social bem distinta, mas mantiveram a prática comum de sacrifícios humanos em rituais.
A alternativa correta é D)
O texto poético apresentado, extraído da obra Os Tambores da Tempestade de Delermando Vieira, evoca imagens intensas de destruição e movimento, simbolizadas pela queimada e pelos tambores. Esses elementos remetem a um cenário de transformação e conflito, que pode ser associado à situação da América antes da chegada dos europeus, quando o continente era habitado por uma diversidade de povos com distintos níveis culturais.
A questão proposta busca relacionar essa diversidade cultural dos povos ameríndios com suas respectivas regiões geográficas. Analisando as alternativas:
- Alternativa A) Apresenta informações incorretas sobre os Tupiniquins e os Moicanos, além de distorções históricas sobre suas organizações políticas e territoriais.
- Alternativa B) Contém equívocos geográficos graves, situando os Maias na América do Norte e os Quechua no Brasil, quando na verdade esses povos ocupavam regiões completamente diferentes.
- Alternativa C) Apresenta uma localização completamente equivocada do Império Inca, que se desenvolveu na região andina, não na Argentina, além de informações incorretas sobre conflitos com os Guaranis.
A alternativa D) é a correta, pois apresenta informações precisas sobre os Astecas no México e os Tupinambás no litoral brasileiro, destacando tanto suas diferenças organizacionais quanto a prática compartilhada de sacrifícios humanos em rituais. Essa resposta demonstra compreensão da complexa diversidade cultural dos povos pré-colombianos, que vai ao encontro da riqueza sugerida pelo texto poético inicial.
Assim como os versos de Vieira capturam a intensidade de transformações violentas (a queimada) e a força ritualística (os tambores), a história dos povos ameríndios antes da conquista europeia foi marcada por essa dualidade entre destruição e tradição, entre mudança e permanência cultural.
Questão 24
Sobre a questão indígena, no século XVIII, na história
do Brasil leia, o texto a seguir.
“No Rio de Janeiro, a transformação das aldeias em vilas e lugares portugueses não impediu que
continuassem sendo identificadas como aldeias
indígenas, inclusive pela documentação oficial. As
câmaras municipais e os moradores incentivados
pela legislação intensificavam as investidas sobre as
terras das aldeias, enquanto os índios procuravam
preservá-las com base nos direitos adquiridos pela
condição de índios aliados à Coroa, para a qual ainda
prestavam serviços. Aldeia de São Francisco Xavier,
por exemplo, chegou a ser extinta, mas foi restaurada
por pressão dos índios […]”.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de.Comunidades indígenas e
Estado nacional: histórias, memórias e identidades em
construção
. In: Cultura política e leituras do passado, 2007.
De acordo com o texto, e com seus conhecimentos
sobre a questão indígena no Brasil, é correto afirmar
que:
- A)a recente luta dos indígenas demonstra uma desigualdade social, que marca apenas os dias atuais.
- B)o desenrolar da luta dos indígenas sugere uma solução favorável a eles, proposta pelo Estado.
- C)vinda de longa data, a disputa por terras marca a história da questão indígena no Brasil.
- D)o Estado português, anteriormente, e o Estado brasileiro, na atualidade, se comportam de forma igual na questão indígena.
- E)a conquista dos índios pelo reconhecimento de seu direito à terra, já se tornou uma realidade efetiva no Brasil atual.
A alternativa correta é C)
De acordo com o texto fornecido e com os conhecimentos sobre a questão indígena no Brasil, a alternativa correta é a letra C): "vinda de longa data, a disputa por terras marca a história da questão indígena no Brasil."
O trecho citado demonstra que, já no século XVIII, havia uma tensão constante entre as comunidades indígenas e os colonizadores portugueses, especialmente no que diz respeito à posse de terras. Apesar das tentativas de transformação das aldeias em vilas portuguesas, essas áreas continuaram sendo reconhecidas como territórios indígenas, mesmo que sob pressão de autoridades locais e moradores interessados em expandir seus domínios. A resistência indígena, como no caso da Aldeia de São Francisco Xavier, mostra que a luta pela terra é um conflito histórico, não restrito à contemporaneidade.
As demais alternativas não correspondem à análise apresentada no texto ou à realidade histórica e atual. A letra A) ignora o caráter histórico da desigualdade, enquanto a B) sugere uma solução estatal favorável aos indígenas, o que não é confirmado pelo contexto. A letra D) simplifica a complexidade das ações do Estado em diferentes períodos, e a E) afirma uma conquista já consolidada, o que não condiz com os persistentes desafios enfrentados pelos povos indígenas no Brasil hoje.
Questão 25
Por aqui lhe urdem os portugueses muitas brigas com que se desavêm umas nações com as outras, com o
qual ardil os entramos e desbaratamos, que todos juntos ninguém pudera com eles […]
(Documento de 1580 citado por WEHLING, A.; WEHLING, M. J. Formação do Brasil
Colonial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.)
O trecho do documento acima faz referência a uma estratégia largamente utilizada pelos portugueses na
conquista da América, tanto para a incorporação de terras como para a escravização dos indígenas. Assinale a
alternativa que apresenta essa estratégia.
- A)Estímulo às rivalidades existentes entre grupos indígenas.
- B)Massacre sistemático das populações pré-cabralinas.
- C)Aldeamento dos índios pelos jesuítas.
- D)Aliança política com as elites indígenas.
A alternativa correta é A)
O trecho do documento histórico citado revela uma estratégia fundamental utilizada pelos portugueses durante o processo de colonização da América: o aproveitamento das rivalidades existentes entre os diferentes grupos indígenas. A passagem descreve como os colonizadores instigavam conflitos entre as nações nativas ("muitas brigas com que se desavêm umas nações com as outras"), utilizando essas divisões internas como um "ardil" para dominá-los e derrotá-los ("os entramos e desbaratamos").
Esta prática consistia em explorar as animosidades pré-existentes entre tribos indígenas, muitas vezes fornecendo armas e apoio a um grupo contra outro, criando assim divisões que enfraqueciam a resistência nativa como um todo. A estratégia permitiu aos portugueses conquistar territórios e subjugar populações que, se unidas, teriam sido muito mais difíceis de dominar ("todos juntos ninguém pudera com eles").
A alternativa correta (A) - "Estímulo às rivalidades existentes entre grupos indígenas" - reflete precisamente esta tática colonial de "dividir para conquistar", que se mostrou extremamente eficaz no processo de ocupação do território brasileiro e na escravização das populações nativas.
Questão 26
Considere o texto.
A árvore de pau-brasil era frondosa, com folhas de um verde acinzentado quase metálico e belas
flores amarelas. Havia exemplares extraordinários, tão grossos que três homens não poderiam abraçá-los. O
tronco vermelho ferruginoso chegava a ter, algumas vezes, 30 metros (…)
Náufragos, Degredados e Traficantes. Eduardo Bueno
Em 1550, segundo o pastor francês Jean de Lery, em um único depósito havia cem mil toras. Sobre essa
riqueza, neste período da História do Brasil, podemos afirmar:
- A)O extrativismo foi rigidamente controlado para evitar o esgotamento da madeira.
- B)Provocou intenso povoamento e colonização, já que demandava muita mão-de-obra.
- C)Explorado com mão-de-obra indígena, através do escambo, gerou feitorias ao longo da costa; seu intenso extrativismo levou ao esgotamento da madeira.
- D)O litoral brasileiro não era ainda alvo de traficantes e corsários franceses e de outras nacionalidades, já que a madeira não tinha valor comercial.
A alternativa correta é C)
O texto apresentado descreve a exuberância do pau-brasil, árvore símbolo do período inicial da colonização do Brasil, destacando sua beleza e dimensões impressionantes. Além disso, menciona a intensa exploração desse recurso natural, evidenciada pelo relato do pastor Jean de Lery sobre a existência de cem mil toras em um único depósito por volta de 1550. Essa informação revela a escala da atividade extrativista no período.
Diante das alternativas apresentadas, a opção C) é a que melhor sintetiza o impacto da exploração do pau-brasil naquele contexto histórico. A alternativa corretamente aponta que:
- A exploração foi realizada utilizando mão-de-obra indígena, através do sistema de escambo (troca de mercadorias por trabalho);
- Provocou o estabelecimento de feitorias ao longo do litoral, estruturas básicas para armazenamento e controle da madeira;
- O extrativismo intenso e predatório levou ao esgotamento progressivo da espécie, um dos primeiros exemplos de degradação ambiental no Brasil colonial.
As demais alternativas apresentam informações incorretas ou imprecisas. O extrativismo não foi controlado (A), não provocou um povoamento significativo (B) - já que a exploração era sazonal e não exigia colonização permanente - e o litoral brasileiro foi, sim, alvo constante de corsários e traficantes estrangeiros, especialmente franceses, interessados no valioso pau-brasil (D).
Portanto, a alternativa C) é a única que reflete com precisão as consequências econômicas, sociais e ambientais da exploração do pau-brasil no século XVI.
Questão 27
Relativamente ao processo de ocupação inicial do território brasileiro e a questão indígena por ele suscitada, julgue o item que se segue.
Diferentemente do ocorrido nas demais regiões americanas, os
povos indígenas que viviam no Brasil apresentavam
impressionante homogeneidade cultural.
- C) CERTO
- E) ERRADO
A alternativa correta é E)
O processo de ocupação inicial do território brasileiro e a consequente questão indígena são temas complexos que envolvem uma diversidade cultural frequentemente subestimada. O item em análise afirma que, diferentemente do ocorrido em outras regiões americanas, os povos indígenas do Brasil apresentavam uma "impressionante homogeneidade cultural". Essa afirmação é incorreta, conforme indicado pelo gabarito (E) ERRADO.
O Brasil, antes da chegada dos colonizadores europeus, era habitado por uma vasta gama de povos indígenas, cada um com suas próprias línguas, costumes, organizações sociais e visões de mundo. Estima-se que existiam mais de mil línguas indígenas distintas no território, pertencentes a troncos linguísticos diferentes, como Tupi, Macro-Jê e Aruak. Essa diversidade reflete uma realidade cultural extremamente heterogênea, marcada por diferenças significativas entre grupos.
Além disso, as formas de organização social, práticas agrícolas, rituais e crenças variavam enormemente entre as etnias. Enquanto alguns povos eram nômades e viviam da caça e coleta, outros desenvolviam agricultura avançada e tinham sociedades hierarquizadas. Portanto, a ideia de homogeneidade cultural é uma simplificação que não corresponde à realidade histórica.
A afirmação do item pode ter surgido de uma visão reducionista, influenciada pelo predomínio inicial do tronco Tupi em certas regiões litorâneas, onde os colonizadores tiveram maior contato. No entanto, mesmo entre os povos Tupi havia diferenças culturais significativas. Dessa forma, é essencial reconhecer a riqueza e a pluralidade das culturas indígenas brasileiras, que foram e continuam sendo diversas e complexas.
Questão 28
Relativamente ao processo de ocupação inicial do território brasileiro e a questão indígena por ele suscitada, julgue o item que se segue.
localizadas no Brasil com a chegada dos europeus ao território
por elas ocupado.
- C) CERTO
- E) ERRADO
A alternativa correta é E)
O impacto sofrido pelas sociedades indígenas no Brasil com a chegada dos europeus foi profundamente relevante e transformador, tornando a afirmação apresentada no item claramente equivocada. A colonização europeia desencadeou uma série de consequências devastadoras para os povos originários, que vão muito além da simples ocupação territorial.
Em primeiro lugar, a chegada dos portugueses e de outros europeus trouxe consigo doenças até então desconhecidas pelos indígenas, como varíola, gripe e sarampo. Essas enfermidades causaram epidemias que dizimaram grande parte da população nativa, enfraquecendo suas estruturas sociais e capacidade de resistência. Além disso, a violência associada ao processo de colonização, incluindo guerras, escravização e deslocamentos forçados, agravou ainda mais a situação.
Outro aspecto crucial foi a destruição de modos de vida tradicionais. Os europeus impuseram uma lógica de exploração econômica que ignorava as relações harmoniosas que muitas sociedades indígenas mantinham com o meio ambiente. A perda de terras, a conversão religiosa forçada e a assimilação cultural representaram um ataque direto à autonomia e identidade desses povos.
Portanto, afirmar que o impacto foi irrelevante é negar uma das maiores tragédias demográficas e culturais da história do Brasil. A marca desse processo ainda é visível hoje na luta dos povos indígenas por direitos, territórios e reconhecimento. A resposta correta, de fato, é ERRADO, pois a chegada dos europeus alterou drasticamente o destino das sociedades nativas.
Questão 29
Relativamente ao processo de ocupação inicial do território
brasileiro e a questão indígena por ele suscitada, julgue o item que
se segue.
A colonização portuguesa no Brasil iniciou-se com a extração
de metais preciosos e a conseqüente ocupação das
denominadas áreas do sertão, afastadas do litoral atlântico.
- C) CERTO
- E) ERRADO
A alternativa correta é E)
Relativamente ao processo de ocupação inicial do território brasileiro e a questão indígena por ele suscitada, é importante analisar criticamente a afirmação apresentada.
A colonização portuguesa no Brasil não se iniciou com a extração de metais preciosos e a ocupação do sertão, como sugere o item. Na verdade, os primeiros ciclos econômicos da colonização estiveram voltados para a exploração do pau-brasil (no litoral) e, posteriormente, para a agricultura canavieira (também concentrada nas regiões costeiras).
A ocupação do sertão e a busca por metais preciosos só ganhariam força mais tarde, principalmente a partir do século XVIII, com as bandeiras e entradas no interior do território e, sobretudo, com a descoberta de ouro em Minas Gerais.
Portanto, o item está ERRADO ao inverter a ordem cronológica e as prioridades iniciais do processo colonizador português no Brasil.
Além disso, é fundamental lembrar que esse processo de ocupação teve profundos impactos nas populações indígenas, seja através do deslocamento forçado, da escravização ou do extermínio de diversas etnias.
Questão 30
A colonização, apesar de toda violência e disrupção, não
excluiu processos de reconstrução e recriação cultural
conduzidos pelos povos indígenas. É um erro comum crer
que a história da conquista representa, para os índios, uma
sucessão linear de perdas em vidas, terras e distintividade
cultural. A cultura xinguana – que aparecerá para a nação
brasileira nos anos 1940 como símbolo de uma tradição
estática, original e intocada – é, ao inverso, o resultado de
uma história de contatos e mudanças, que tem início no
século X d.C. e continua até hoje.
Carlos Fausto. Os índios antes do Brasil.
Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
Com base no trecho acima, é correto afirmar que
- A)o processo colonizador europeu não foi violento como se costuma afirmar, já que ele preservou e até mesmo valorizou várias culturas indígenas.
- B)várias culturas indígenas resistiram e sobreviveram, mesmo com alterações, ao processo colonizador europeu, como a xinguana.
- C)a cultura indígena, extinta graças ao processo colonizador europeu, foi recriada de modo mitológico no Brasil dos anos 1940.
- D)a cultura xinguana, ao contrário de outras culturas indígenas, não foi afetada pelo processo colonizador europeu.
- E)não há relação direta entre, de um lado, o processo colonizador europeu e, de outro, a mortalidade indígena e a perda de sua identidade cultural.
A alternativa correta é B)
Com base no trecho apresentado, a alternativa correta é a letra B, pois o texto de Carlos Fausto destaca a capacidade de resistência e adaptação dos povos indígenas, em especial a cultura xinguana, que mesmo após séculos de contato e mudanças, manteve sua distintividade cultural. O autor refuta a ideia de uma história linear de perdas, apontando para processos de reconstrução e recriação cultural conduzidos pelos próprios indígenas.
A alternativa A está incorreta, pois o texto não minimiza a violência do processo colonizador, apenas ressalta que ele não resultou em uma extinção cultural passiva. A alternativa C é falsa, já que o autor afirma que a cultura indígena não foi extinta, mas sim transformada. A alternativa D também está errada, porque o texto deixa claro que a cultura xinguana foi afetada pelo contato, ainda que tenha se reinventado. Por fim, a alternativa E é incorreta, pois o texto não nega a relação entre colonização e perdas indígenas, mas complexifica essa narrativa ao mostrar a agência dos povos originários.