Charge da Revista Tagarela, publicada em agosto de 1904, em que três doenças – febre amarela, peste bubônica e varíola – realizam conferência na cidade do Rio de Janeiro.
A capital da República não pode continuar a ser apontada como sede de vida difícil, quando tem fartos elementos para constituir o mais notável centro de atração de braços, de atividade e de capitais nesta parte do mundo.
RODRIGUES ALVES, presidente da República, 1902-1906.
Adaptado de FIDÉLIS, C.; FALLEIROS, I. (Org.). Na corda bamba de sombrinha: a saúde no fio da história. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC; Fiocruz/EPSJV, 2010.
No início do século XX, enquanto a charge ironizava um dos graves problemas que afetava a população da cidade do Rio de Janeiro, o pronunciamento do então presidente Rodrigues Alves enfatizava a preocupação com o que poderia comprometer o desenvolvimento da capital da República.
Naquele contexto, uma ação governamental para promover tal desenvolvimento e um resultado obtido, foram, respectivamente:
- A) reforma urbana – qualificação da mão de obra
- B) combate à insalubridade – incremento da imigração
- C) ampliação da rede hospitalar – controle da natalidade
- D) expansão do saneamento básico – erradicação da pobreza
Resposta:
A alternativa correta é letra B) combate à insalubridade – incremento da imigração
Gabarito: Letra B
(combate à insalubridade – incremento da imigração)
Lilia M. Schwarcz destaca que dois fenômenos caracterizaram o Brasil na virada do século XIX para o XX: a entrada da imigração estrangeira em larga escala, com incentivo dos governos ou não e a aceleração do crescimento e da modernização das grandes cidades.
Os dois fenômenos estão diretamente ligados nas primeiras décadas republicanas. Enquanto o fim da escravidão modificou a situação da mão de obra no país onde procurou-se incentivar o ingresso de imigrantes europeus e asiáticos para inicialmente realizarem trabalhos na lavoura, mais tarde com a crise da agricultura em fins da década de 1900, parte dos braços imigrantes deslocou-se para as principais cidades do país para trabalhos nas fábricas de calçados, tecidos e no comércio em geral.
Em relação às cidades, eram comuns os discursos de "civilização" defendidos pelas elites intelectuais e políticas, que eram a favor do ingresso de alguns espaços urbanos na lógica da modernidade. Assim, a fala do presidente Rodrigues Alves associa-se a esse contexto que procurou remodelar o espaço físico e social da capital federal. O Rio de Janeiro era uma cidade com crescimento populacional, mas que enfrentava problemas sanitários e de insalubridade. Problemas que eram vistos como entraves ao desenvolvimento do capitalismo na cidade.
Assim, as reformas urbanas na capital visaram ampliar e modernizar a estrutura portuária a fim de expandir o comércio externo e ao combate às epidemias e aos focos de insalubridade que eram marcas do atraso do país. As reformas levaram a um reordenamento do espaço social da cidade que atrairia mais pessoas para o mercado de trabalho e também para a aplicação de investimentos.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: reforma urbana – qualificação da mão de obra
Essa alternativa traz uma opção correta que são as reformas urbanas como ações do governo para desenvolver a capital da República, mas está incorreta quando uma de suas consequências foi a qualificação da mão de obra, uma vez que boa parte dos trabalhos não precisavam de pessoas qualificadas para o exercício. Embora, os imigrantes estrangeiros fossem uma mão de obra qualificada, estes disputavam os postos de trabalho com os nacionais, recém-saídos da escravidão ou desempregados pela falta de uma política de geração de empregos.
Letra C: ampliação da rede hospitalar – controle da natalidade
Não houve ampliação da rede hospitalar. O foco da saúde pública nesse momento eram os combates aos transmissores das doenças a fim de erradicá-los. Não existiu uma política pública de criação de hospitais, bem como de controle da natalidade.
Letra D: expansão do saneamento básico – erradicação da pobreza
Os primeiros anos da República ainda eram de ausência de políticas voltadas a solucionar o problema do saneamento básico, bem como da pobreza e da renda.
Referência:
SCHWARCZ, Lilia M. “População e sociedade”. In: SCHWARCZ, Lilia M (Org.) História do Brasil Nação: 1808-2010, volume 3, a abertura para o mundo (1889-1930). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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