Charge capa da revista “O Malho”, de 1904. Disponível em: http://1.bp.blogspot.com.
A imagem representa as manifestações nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, na primeira década do século XX, que integraram a Revolta da Vacina. Considerando o contexto político-social da época, essa revolta revela
- A) a insatisfação da população com os benefícios de uma modernização urbana autoritária.
- B) a consciência da população pobre sobre a necessidade de vacinação para a erradicação das epidemias.
- C) a garantia do processo democrático instaurado com a República, através da defesa da liberdade de expressão da população.
- D) o planejamento do governo republicano na área de saúde, que abrangia a população em geral.
- E) o apoio ao governo republicano pela atitude de vacinar toda a população em vez de privilegiar a elite.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) a insatisfação da população com os benefícios de uma modernização urbana autoritária.
Gabarito: Letra A
Entendendo o contexto:
- Governo Rodrigues Alves (1902-1906)
- Gestão municipal Pereira Passos (1902-1906)
Quando Rodrigues Alves foi eleito presidente do Brasil em 1902, elaborou um programa para modernizar a capital para que ela pudesse servir de vitrine para o capital internacional. O governo federal ficou encarregado da reforma e modernização do porto.
A competência de reformar a cidade coube ao prefeito Pereira Passos e delegou-se ao médico sanitarista Oswaldo Cruz, às políticas de higienização da capital federal.
A capital passou por um período de intensas modificações, com abertura de avenidas, ruas, desmontes iniciais de morros, derrubadas de prédios e construções de novas edificações.
Lilia Moritz Schwarcz afirma que nas revistas ilustradas da época, como por exemplo, O Malho, Oswaldo Cruz e "seu exército de higienistas" foram transformados nos grandes vilões diante de uma população que manifestava seu descontentamento ante a política exclusivista da Primeira República.
Esse descontentamento teve seu auge na Revolta da Vacina em 1904. Oswaldo Cruz organizou a política sanitarista como se estivesse indo à guerra, com funcionários alistados para as brigadas de mata-mosquitos e dividindo a cidade em áreas sanitárias para combate aos focos das doenças.
Além disso, muitos dos funcionários da saúde adentravam nas casas com utilização da violência.
O estopim do autoritarismo foi o decreto de vacinação obrigatória contra a varíola.
O acontecimento foi uma das muitas manifestações populares que convulsionaram o cotidiano republicano. Ainda de acordo com a autora, longe da imagem da apatia popular, o que se viu foi o oposto: o protesto, a participação crítica e a emergência das multidões urbanas como novo fenômeno político.
As reformas feitas durante a gestão Pereira Passos causaram resistência por parte da população, sobretudo, das camadas mais populares, que tinham que ser enquadrados em um modelo “civilizatório” pensado pelos políticos da época.
Por que as demais estão incorretas?
Letra B: A população mais pobre não foi conscientizada sobre a necessidade de ser vacinada. A ausência de uma explicação ou uma campanha de vacinação por parte do governo aliada a forma autoritária como a vacinação se desenrolou pode ser uma das causas da revolta.
Letra C: Embora a República fosse proclamada com a bandeira da liberdade, nos primeiros anos da mesma, notamos um processo de liberalismo excludente. No Rio de Janeiro, a reforma urbana estava sendo conduzida de modo autoritário, eliminando muitas das práticas populares que vigoravam há muito tempo, como por exemplo, vender produtos nas ruas do centro da cidade.
Letra D: Na verdade, a população não estava pensando em questões maiores como a política de saúde adotada pelo governo Rodrigues Alves e Pereira Passos. Suas insatisfações decorriam do cotidiano, dos acontecimentos do dia a dia, por exemplo, as derrubadas de casas, de prédios, a migração para outros espaços mais distantes do centro urbano e para coroar a violência republicana, o decreto de vacinação obrigatória sem esclarecimentos.
Letra E: A população foi às ruas na Revolta da Vacina devido ao caráter autoritário que o governo republicano exerceu para vacinar os cidadãos do Rio de Janeiro.
BENCHIMOL, Jaime. “Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O Brasil Republicano: O tempo do liberalismo excludente - da proclamação da república à revolução de 1930. Livro 1. Ed. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2008.
SCHWARCZ, Lilia M; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
VICENTINO, Cláudio et ali. Teláris. História, 9º ano. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2018.
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