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A capa da Revista Careta de 1925 divulgou uma charge na qual, no cume de um monte havia uma cadeira dourada com a inscrição “Presidência da República”, ladeada por dois personagens em cujos chapéus havia a inscrição “São Paulo” e “Minas”. Ao pé do monte, um conjunto de outros personagens (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Bahia, entre outros) tentava escalar o cume.

Fonte: Alfredo Storni (Storni). Revista Careta, ano XVIII, número 897, 29 de agosto de 1925, capa.

A charge representa um mecanismo político próprio da República Velha conhecido como

Resposta:

A alternativa correta é letra C) política do café com leite, ao mostrar a alternância de candidatos paulistas e mineiros na presidência da república.

Gabarito: ALTERNATIVA C

   

 

Fonte: Alfredo Storni (Storni). Revista Careta, ano XVIII, número 897, 29 de agosto de 1925, capa.

 
  • a)  coronelismo, ao caracterizar a presença de militares no governo brasileiro.

O termo "coronel" tem de ser entendido como a denominação atribuída às lideranças oligárquicas municipais características dos interiores brasileiros do século XIX e da primeira metade do século XX. Trata-se de um sistema oligárquico mantido fundamentalmente pelo processo de alienação e pelo controle direto sobre seu reduto eleitoral, estabelecendo uma confusão imediata entre o Estado e a figura poderosa do oligarca. Em certo sentido, o coronel é capaz de sequestrar para a sua vontade o controle do Estado no âmbito local, criando uma relação de distribuição de benesses e de obediência pessoal diretamente com a população de seu alcance político. Por outro lado, a proeminência econômica lhe dá tal grau assimétrico de ascensão sobre o restante da população que esta fica refém economicamente; além de haver um domínio sobre o uso da violência para manter a ordem e a conservação dos interesses da oligarquia naquele espaço. No contexto da República Velha (1889-1930) e da Política dos Governadores, esses líderes tinham o papel importante de controlar diretamente os eleitores, bem como de restringir o acesso dos candidatos às suas áreas de domínio. Em contrapartida, aqueles que eram eleitos para os cargos estaduais e federais tinham por dever a manutenção dessas estruturas locais de poder, fazendo afluir para lá os recursos necessários para a manutenção política dessas oligarquias locais. No entanto, o funcionamento do sistema poderia colocar em rota de colisão esses coronéis com as ascendentes classes urbanas, cujos interesses sobre as reformas administrativas enfraqueciam diretamente as relações de dependências que mantinham esse coronelato. É importante destacar que essas classes urbanas tinham cada vez mais capacidade de articulação e de pressão direta sobre governadores, dificultando em muito a vida política nas cidades. Ao mesmo tempo, a orientação agroexportadora das oligarquias centrais (com destaque para mineiros e paulistas) também pouco dialogava com o cotidiano de lenta decadência econômica de muitos desses coronéis, o que dificultava algumas negociações com o poder central. Ou seja, a ideia de coronelismo em nada dialoga com a colocação de militares em posições decisivas do Estado, mas sim de um fenômeno civil entre o poder central e as oligarquias locais que remonta ainda ao século XIX. Alternativa errada.

 
  • b)  clientelismo, pois enfatiza a dificuldade de os homens do campo participar da vida política pelas eleições.

Clientelismo é a prática de trocar apoio político por bens e serviços, e o que temos na ilustração não é uma relação propriamente de trocas, mas sim de exclusão sistemática e de controle sobre o Estado. Alternativa errada.

 
  • c)  política do café com leite, ao mostrar a alternância de candidatos paulistas e mineiros na presidência da república.

De maneira bastante banal, o avaliador fez referência aqui à chamada "política do café com leite", que caracterizou parte significativa da Primeira República. Nesse período, houve um forte predomínio político de Minas Gerais e de São Paulo na vida brasileira. As elites mineira e paulista conseguiram organizar-se em torno do projeto republicano ainda durante o Império (1822-1889) e chegaram ao período republicano com partidos fortes e bem organizados. Por exemplo, o Partido Republicano Paulista (PRP) já vinha ganhando forças e criando consensos internos desde a década de 1870, conseguindo galvanizar praticamente toda a elite econômica paulista ainda no século XIX. Com o advento da República, em 1889, essas elites conseguiram tanto deslocar a aristocracia fluminense (que dependia das estruturas monárquicas) quanto traduzir seu protagonismo econômico em força política. É importante que o candidato tenha em mente que o café já era o principal produto brasileiro desde a década de 1840 e que os cafeicultores paulistas se tornaram os maiores produtores ainda durante a década de 1870; bem como, no início do século XX, a elite mineira detinha importante controle sobre o capital financeiro brasileiro. Além disso, a legislação eleitoral do período permitia que os partidos políticos fossem estabelecidos sem bases nacionais, permitindo que as oligarquias estaduais se organizassem partidariamente e disputassem o poder central sem que fossem baseados em construções políticas de alcance nacional. Não por acaso, PRP e Partido Republicano Mineiro (PRM) foram os dois mais importantes partidos do período, sendo as siglas de oito dos onze presidentes eleitos durante a República Velha, além de terem sido os fiadores políticos de praticamente todos os presidentes entre 1898 e 1930. Na prática, PRP e PRM pactuaram por uma alternância controlada no poder e conseguiram estabelecer um sistema muito eficiente de governabilidade, controlando o Parlamento e afastando, com o poder orçamentário, elites descontentes. A política acabou batizada de "café com leite" por conta dos grandes produtos agropecuários dos dois estados: o café paulista e o leite mineiro. Ainda assim, haveria pequeno interstício dessa sucessão, quando da eleição de Hermes da Fonseca (1910-1914) pelo Partido Republicano Conservador, que se distanciara da política do café com leite. ALTERNATIVA CORRETA.

 
  • d)  patrimonialismo, uma vez que representa o poder político nas mãos de grandes proprietários.

O patrimonialismo se baseia, fundamentalmente, na confusão entre o público e o privado nos assuntos do Estado. Isto é, a classe dirigente que ascende ao controle da máquina pública dispõe daquilo que é coletivo como se fosse assunto particular seu, priorizando interesses de classe em detrimento das urgências e das exigências inerentes à coisa pública. O patrimonialismo era, sim, uma componente da vida política representada na ilustração, mas não se pode dizer que seja o principal assunto abordado nesta questão. Além disso, a definição de patrimonialismo apresentada pela alternativa é muito frágil para se poder defender. Alternativa errada.

 
  • e)  federalismo, ao mostrar a disputa dos estados por maior autonomia em relação ao poder central.

O que está retratado na ilustração é o controle do poder central por duas oligarquias estaduais enquanto outras oligarquias menores tentam ascender ao mesmo patamar. A questão federalista chamava muita atenção desde o início da Primeira República (1889-1930) e exige muito cuidado por parte do candidato. São Paulo e Minas Gerais eram renhidos defensores de um modelo federalista com grande autonomia para os estados desde o Segundo Reinado (1840-1889). Na visão das oligarquias paulista e mineira, com o enfraquecimento do poder central, as oligarquias estaduais com maior poder econômico e com maior capacidade de organização poderiam controlar o poder central e, a partir do Rio de Janeiro, infiltrar o país inteiro com uma ordem que lhes fosse favorável. Ou seja, o que os outros estados da ilustração buscam não é exatamente apenas a autonomia local, mas sim uma reorganização do pacto federativo para que o poder central não pudesse ser sequestrado pelas oligarquias mais fortes de modo a esvaziar qualquer discussão séria acerca de uma redistribuição de recursos e de visão sistêmica de país. Alternativa errada.

   

Sem mais, está correta a ALTERNATIVA C.

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