Analise as afirmativas abaixo sobre os movimentos sociais de destaque durante a República Velha e, a seguir, assinale a alternativa correta.
I. Tenentismo: movimento político desencadeado durante a década de 20 por jovens oficiais, a maioria tenentes e capitães, em oposição ao governo e à alta oficialidade, que defendia os interesses da oligarquia. O ápice do movimento ocorreu durante a chamada Coluna Prestes que percorreu milhares de quilômetros pelo interior do país combatendo as tropas do governo e as forças oligárquicas.
II. A Guerra de Canudos: episódio ligado ao messianismo e ao revolucionarismo primitivo. A guerra ocorreu no sertão da Bahia e está relacionada às pregações anti-republicanas do beato Antônio Maciel, conhecido como Conselheiro. A violenta repressão culminou com a total destruição do arraial do Belo Monte.
III. A Revolta da Vacina: insurreição urbana ocorrida no Rio de Janeiro como reação ao programa público de saúde durante o governo de Rodrigues Alves quando era ministro da saúde o cientista Oswaldo Cruz. O movimento surge após a aprovação no Congresso em 31 de outubro de 1904, da lei que tornou a vacina da varíola obrigatória no Brasil e permitiu que brigadas sanitárias, acompanhadas de policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à força.
IV. A Revolta da Chibata: movimento associado aos maus tratos que os marinheiros sofriam nos navios. Os marinheiros, tendo João Cândido como líder, resolveram sublevar-se. Num golpe rápido, apoderaram-se dos principais navios da Marinha de Guerra brasileira e se aproximaram do Rio de Janeiro. Em seguida mandaram mensagem ao presidente da República e ao ministro da Marinha exigindo a extinção do uso da chibata, ou seja, dos castigos físicos, que ainda eram comuns na Marinha.
- A) Somente a I, a III e a IV estão corretas.
- B) Somente a II e a III estão corretas.
- C) Somente a I, a II e a IV estão corretas.
- D) Somente a II e a IV estão corretas.
- E) Todas estão corretas.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) Somente a I, a II e a IV estão corretas.
Gabarito: ALTERNATIVA C
I. Tenentismo: movimento político desencadeado durante a década de 20 por jovens oficiais, a maioria tenentes e capitães, em oposição ao governo e à alta oficialidade, que defendia os interesses da oligarquia. O ápice do movimento ocorreu durante a chamada Coluna Prestes que percorreu milhares de quilômetros pelo interior do país combatendo as tropas do governo e as forças oligárquicas.
O tenentismo foi, de maneira geral, uma série de movimentos armados que partiram de parcelas do jovem oficialato do Exército que viam na República Velha uma traição aos princípios que animaram a Proclamação da República (1889). Para aqueles jovens, a realidade política brasileira e o estabelecimento das oligarquias agroexportadoras no centro do poder traíam os princípios fundamentais do positivismo que o próprio Exército encampara para derrubar a monarquia; e o tenentismo encarnava uma releitura e uma revitalização do pensamento positivista em ação na política brasileira. Com os levantes armados de São Paulo (Revolta Paulista de 1924) e do Rio de Janeiro (Revolta dos 18 do Forte de 1922), o tenentismo, ainda que não tenha ameaçado de fato o governo central no campo de batalha, marcou uma posição importante na vida brasileira e abriu um ciclo de revoltas que marcaria a década de 1920. Entre 1925 e 1927, a Coluna Miguel Costa-Prestes percorreria todo o país sob esse horizonte positivista e com a vontade de superação do atraso estrutural brasileiro que era mantido pela República Velha. Desse caldo de cultura, Getúlio Vargas - claro herdeiro do positivismo gaúcho - disputaria as eleições presidenciais de 1930 com grandes chances de vitória após a cisão entre as oligarquias mineira e paulista. Sua candidatura contava com o apoio de elites descontentes com o governo central e dos dissidentes mineiros, que romperam com os paulistas após estes romperem os acordos de sucessão presidencial. O movimento de 1930 marcou a chegada do tenentismo/positivismo ao poder sob um acordo com algumas elites, de forma que o projeto de ruptura de estruturas e de modernização do país passaria por alguma instância de negociação com esses poderes estaduais. Paralelamente, uma outra versão desse tenentismo entendia que apenas uma ruptura total com as oligarquias poderia levar à verdadeira superação das mazelas brasileiras e acabou por, já na década de 1930, aproximar-se do comunismo sob a liderança de Luís Carlos Prestes. Essa nova identidade ideológica não se verificava nas manifestações originais do tenentismo, mas ganhou certa expressão entre os positivistas descontentes com Vargas e com as composições conservadoras do novo desenvolvimentismo e entrou em rota de colisão frontal com o governo resultante do movimento de 1930. AFIRMATIVA VERDADEIRA.
II. A Guerra de Canudos: episódio ligado ao messianismo e ao revolucionarismo primitivo. A guerra ocorreu no sertão da Bahia e está relacionada às pregações anti-republicanas do beato Antônio Maciel, conhecido como Conselheiro. A violenta repressão culminou com a total destruição do arraial do Belo Monte.
A Guerra de Canudos se desenrolou entre 1896 e 1897 no sertão baiano. Sob a liderança messiânica de Antônio Conselheiro, toda uma sociedade sertaneja levantou o arraial de Canudos no semiárido da Bahia logo nos primeiros anos da Primeira República (1889-1930). Com um discurso profundamente marcado pela religião, Conselheiro dava um sentido maior àquela comunidade marcada pela seca e pelas iniquidades da região, identificando na República uma corrupção contra a ordem divina, esperando um restabelecimento mítico da ordem monárquica, o que revelaria um período novo àquela população. Entre o milagre da fé popular e a compreensão aguda das dificuldades da vida sertaneja, a vida em Canudos ecoava tanto uma forma de sebastianismo tropical quanto uma crítica social contundente. O positivismo da República e do Exército brasileiro interpretou aquela manifestação como um risco maior à ordem geral do país, optando pelo enfrentamento armado após o arraial mostrar resistência às ordens do governo regular. Depois de resistir a três expedições do Exército brasileiro, o arraial caiu sob as forças do governo com ordens de esmagar a revolta sertaneja a todo custo. AFIRMATIVA VERDADEIRA.
III. A Revolta da Vacina: insurreição urbana ocorrida no Rio de Janeiro como reação ao programa público de saúde durante o governo de Rodrigues Alves quando era ministro da saúde o cientista Oswaldo Cruz. O movimento surge após a aprovação no Congresso em 31 de outubro de 1904, da lei que tornou a vacina da varíola obrigatória no Brasil e permitiu que brigadas sanitárias, acompanhadas de policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à força.
Em 1904, o Rio de Janeiro estava vivendo as suas grandes reformas urbanísticas e sanitárias sob o comando do prefeito Pereira Passos. Por um lado, havia o plano da modernização e do embelezamento à europeia de toda a capital da República, abrindo largas avenidas e transformando a arquitetura do Rio de Janeiro. Por outro, havia um esforço de sanitização urbana, combatendo doenças endêmicas e enfrentando grandes desafios de saneamento básico e de higienização. No entanto, ao fundo de todas essas medidas, estava uma série de políticas públicas de baixíssima sensibilidade social, fazendo com que as classes menos favorecidas sofressem parte significativa das perdas e das perseguições em meio às reformas. Para a abertura das novas avenidas no antigo centro carioca, foram demolidos prédios que serviam de cortiços aos mais pobres, bem como se perseguia abertamente o entretenimento popular em nome da moralidade pública da capital. Consequentemente, uma grande massa de desvalidos foi condenada à repressão policial e a um gravíssimo achatamento da qualidade de vida: excluídos para subúrbios distantes, vendo o custo de vida disparar e sentindo a criminalização do seu cotidiano. As insatisfações sociais com as reformas chegavam a patamares explosivos sem que fosse dada qualquer forma de atenção mais séria. Em 31 de outubro de 1904, sob a orientação de Oswaldo Cruz, seria aprovada a vacinação obrigatória contra a varíola, doença endêmica que afetava gravemente a cidade. Sem nenhuma forma de comunicação efetiva com a população, a campanha foi lançada sobre os mais pobres com a rotineira violência policial, impondo a vacinação e abrindo espaço para toda sorte de hipóteses conspiratórias depois de tantos abusos contra essa mesma população. Temendo a vacinação, a população se amotinou num movimento espontâneo e altamente explosivo, levando a capital ao caos social por dias. Ainda que a rebelião tenha, sim, colocado em risco a estabilidade do próprio governo federal de Rodrigues Alves; as principais medidas foram tomadas pela prefeitura carioca de Pereira Passos, sendo que Oswaldo Cruz era o responsável pela Diretoria Geral de Saúde Pública, e não o ministro da Saúde. Além disso, observe-se que sequer havia um Ministério da Saúde à época, o qual só seria criado em 1930 como Ministério dos Negócios da Educação e da Saúde Pública. Afirmativa errada.
IV. A Revolta da Chibata: movimento associado aos maus tratos que os marinheiros sofriam nos navios. Os marinheiros, tendo João Cândido como líder, resolveram sublevar-se. Num golpe rápido, apoderaram-se dos principais navios da Marinha de Guerra brasileira e se aproximaram do Rio de Janeiro. Em seguida mandaram mensagem ao presidente da República e ao ministro da Marinha exigindo a extinção do uso da chibata, ou seja, dos castigos físicos, que ainda eram comuns na Marinha.
A Revolta dos Marinheiros de 1910 (também conhecida como Revolta da Chibata) foi um levante de quatro dias ocorrido em novembro daquele ano sob a liderança de João Cândido. Naquele momento, a Marinha estava sendo modernizada ao mesmo tempo em que mantinha práticas de disciplina e de controle sobre os subalternos bastante atrasadas. Na prática, isso implicava em restringir a participação negra aos postos mais baixos da hierarquia ao mesmo tempo em que essa mesma hierarquia permitia que os oficiais (praticamente todos brancos) pudessem usar de castigos físicos contra os subalternos mesmo para transgressões leves. O plano dos amotinados foi assumir o controle dos dois modernos couraçados recém-adquiridos pela Marinha além de algumas outras embarcações centrais para o funcionamento da Força. Com os marinheiros no controle dos navios sem a possibilidade de resposta violenta livre grandes prejuízos para o Estado, o governo foi forçado a negociar e o Parlamento agiu para aprovar leis que flexibilizassem as relações entre os marinheiros negros e a Marinha e que proibiam o açoite como medida disciplinar. Ainda que os revoltosos tenham sido anistiados num primeiro momento, acabaram sendo perseguidos e expulsos da carreira militar nos meses seguintes. AFIRMATIVA VERDADEIRA.
Portanto, são verdadeiras as afirmativas I, II e IV.
a) Somente a I, a III e a IV estão corretas. b) Somente a II e a III estão corretas. c) Somente a I, a II e a IV estão corretas. d) Somente a II e a IV estão corretas.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA C. e) Todas estão corretas.
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