As imagens a seguir retratam a história da consolidação do programa de vacinação brasileira ao longo de mais de 100 anos e testemunham a história da virologia e da luta dos cientistas para a erradicação de moléstias no Brasil.
1908 – Epidemia de Varíola leva a população aos postos de vacinação,
no Rio de Janeiro (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)
1975 – Campanha Nacional de Vacinação contra a meningite, em
São Paulo (Museu de Saúde Pública Emílio Ribas/Instituto Butantã)
2021 – Primeira brasileira a ser vacinada contra a Covid-19, em São Paulo.
Fonte: oglobo.globo.com
A respeito da trajetória da vacinação no Brasil, as afirmativas a seguir estão corretas, à exceção de uma. Assinale-a.
- A) A atitude antivacina acompanhou essa trajetória como, por exemplo, na Revolta da Vacina de 1904, motivada pela indignação popular diante do descaso governamental em relação à difusão da febre amarela e da varíola no Rio de Janeiro.
- B) O Instituto Butantan e a Fiocruz foram pioneiros nos trabalhos de microbiologia, tendo se desenvolvido em um contexto de urbanização e imigração crescentes, no início do século XX, e lideram hoje a produção nacional de vacinas.
- C) O desenvolvimento científico contou com médicos, sanitaristas e microbiologistas como Adolpho Lutz, Vital Brazil, Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, que pesquisaram como combater doenças tropicais e produzir soros contra a toxina de animais peçonhentos.
- D) A associação entre pesquisa cientifica e trabalho de campo permitiu o desenvolvimento, a partir dos anos 1970, das campanhas de vacinação em grande escala, no contexto do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
- E) As altas coberturas vacinais alcançadas até o final do século XX permitiram erradicar a varíola e a poliomielite (paralisia infantil), colocando o país no rol das nações bem-sucedidas na extinção de doenças - que, no entanto, voltaram a incidir.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) A atitude antivacina acompanhou essa trajetória como, por exemplo, na Revolta da Vacina de 1904, motivada pela indignação popular diante do descaso governamental em relação à difusão da febre amarela e da varíola no Rio de Janeiro.
Gabarito: LETRA A
A respeito da trajetória da vacinação no Brasil, as afirmativas a seguir estão corretas, à exceção de uma. Assinale-a.
- a) A atitude antivacina acompanhou essa trajetória como, por exemplo, na Revolta da Vacina de 1904, motivada pela indignação popular diante do descaso governamental em relação à difusão da febre amarela e da varíola no Rio de Janeiro.
De fato, em 1904, ocorreu a Revolta da Vacina no Rio de Janeiro. Naquele momento, a capital federal estava vivendo as suas grandes reformas urbanísticas e sanitárias sob o comando do prefeito Pereira Passos. Por um lado, havia o plano da modernização e do embelezamento à europeia de toda a capital da República, abrindo largas avenidas e transformando a arquitetura do Rio de Janeiro. Por outro, havia um esforço de sanitização urbana, combatendo doenças endêmicas e enfrentando grandes desafios de saneamento básico e de higienização. No entanto, ao fundo de todas essas medidas, estava uma série de políticas públicas de baixíssima sensibilidade social, fazendo com que as classes menos favorecidas sofressem parte significativa das perdas e das perseguições em meio às reformas. Para a abertura das novas avenidas no antigo centro carioca, foram demolidos prédios que serviam de cortiços aos mais pobres, bem como se perseguia abertamente o entretenimento popular em nome da moralidade pública da capital. Consequentemente, uma grande massa de desvalidos foi condenada à repressão policial e a um gravíssimo achatamento da qualidade de vida: excluídos para subúrbios distantes, vendo o custo de vida disparar e sentindo a criminalização do seu cotidiano. As insatisfações sociais com as reformas chegavam a patamares explosivos sem que fosse dada qualquer forma de atenção mais séria. Em 1904, sob a orientação de Oswaldo Cruz, seria lançada a vacinação obrigatória contra a varíola, doença endêmica que afetava gravemente a cidade. Sem nenhuma forma de comunicação efetiva com a população, a campanha foi lançada sobre os mais pobres com a rotineira violência policial, impondo a vacinação e abrindo espaço para toda sorte de hipóteses conspiratórias depois de tantos abusos contra essa mesma população. Temendo a vacinação, a população se amotinou num movimento espontâneo e altamente explosivo, levando a capital ao caos social por dias. Por conter erros, esta é a ALTERNATIVA INCORRETA.
- b) O Instituto Butantan e a Fiocruz foram pioneiros nos trabalhos de microbiologia, tendo se desenvolvido em um contexto de urbanização e imigração crescentes, no início do século XX, e lideram hoje a produção nacional de vacinas.
Sob a liderança de Vital Brazil, o Instituto Butantan surgiu em 1899 sob o escopo do Instituto Adolfo Lutz para produzir soro antipestoso para o enfrentamento paulista a um grave surto de peste bubônica ocorrido no porto de Santos naquele momento. Tornando-se autônomo em 1901, o Instituto Butantan se consolidou na área de microbiologia no Brasil, concentrando-se em áreas como soro antiofídico e vacinas. Já a Fundação Instituto Oswaldo Cruz foi criada em 1900 como Instituto Soroterápico Federal, concentrando o esforço do governo central para o desenvolvimento e a fabricação de soros e de vacinas. Tal como o Butantan, a Fiocruz teve como primeira missão o enfrentamento à epidemia de peste bubônica e, posteriormente, consolidou seu lugar dentro do sanitarismo brasileiro e dos grandes esforços de vacinação. Ainda que com avanços e retrocessos, ambas as instituições chegaram ao final do século XX como as maiores referências da área no Brasil e com respeitáveis reputações internacionais. Sem erros na alternativa.
- c) O desenvolvimento científico contou com médicos, sanitaristas e microbiologistas como Adolpho Lutz, Vital Brazil, Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, que pesquisaram como combater doenças tropicais e produzir soros contra a toxina de animais peçonhentos.
O Brasil contou com gerações de sanitaristas do mais alto nível no início do século XX. Os nomes citados são absolutas referências internacionais em medicina tropical e em sanitarismo e lideraram grandes e complexos esforços nacionais para o enfrentamento de doenças endêmicas que arrasavam as cidades. Ainda que sob as graves contradições brasileiras, foram figuras centrais para consolidação da cultura de imunização e de enfrentamento às doenças tropicais. Ainda se pode destacar a importante tradição de produção de soros antiofídicos no Brasil, produto exportado para vários países com reconhecida excelência da produção nacional. Sem erros na alternativa.
- d) A associação entre pesquisa cientifica e trabalho de campo permitiu o desenvolvimento, a partir dos anos 1970, das campanhas de vacinação em grande escala, no contexto do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Um dos maiores sucessos da saúde pública brasileira, o Programa Nacional de Imunizações foi responsável pelo enfrentamento sistemático a grandes mazelas sanitárias do país. Se já havia programas anteriores, o PNI significou um salto definitivo do país na erradicação de doenças como a varíola, a poliomielite e, no final do século, o sarampo. Tratou-se de um esforço de grandes proporções que seria mantido com a redemocratização, tornando-se uma importante especialidade do serviço público de saúde do Brasil. Sem erros na alternativa.
- e) As altas coberturas vacinais alcançadas até o final do século XX permitiram erradicar a varíola e a poliomielite (paralisia infantil), colocando o país no rol das nações bem-sucedidas na extinção de doenças - que, no entanto, voltaram a incidir.
Como apontado acima, o PNI foi responsável pelo triunfo brasileiro sobre doenças epidêmicas que significaram o flagelo de várias gerações. Com campanhas de imunização em massa e com o estabelecimento de um calendário vacinal para crianças, o país conseguiu atingir patamares excelentes de imunização coletiva, implicando na erradicação de várias doenças como o sarampo, a varíola e a poliomielite. No entanto, na década de 2010, o sistema passou a sofrer graves desafios: ampliação do movimento anti-vacina e introdução de novos patógenos pelos fluxos migratórios. Séries de boatos animaram setores da população à recusa vacinal num contexto de gravíssima polarização política agravada pelo negacionismo, o que fragilizou a imunidade coletiva do país. Por outro lado, as crises na Venezuela e no Haiti importaram na entrada de contingentes de refugiados oriundos de países em situação bastante frágil e sem a mesma capacidade de imunização do Brasil. Consequentemente, vírus outrora erradicados voltaram a circular no país e encontraram parte da população descoberta pela recusa à vacinação, o que permitiu o surgimento de novos casos de sarampo, por exemplo, após longos anos sem nenhum caso registrado no Brasil. Sem erros na alternativa.
Sem mais, a única a apresentar erros é a ALTERNATIVA A.
Deixe um comentário