Cinco paradigmas históricos foram identificados na História da Política Exterior do Brasil, de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, correspondendo cada um deles a uma periodização, com a qual se procurou inserir a conjuntura nas estruturas históricas e articular micro- e macro-história para se obter uma interpretação categorial e sistemática da evolução da política exterior do Brasil nos últimos dois séculos. Assim foram apresentados por Cervo e Bueno: a) o das concessões sem barganha da época da independência (1808–1828), pelo qual se sacrificou o interesse nacional sob múltiplos aspectos, com efeitos nefastos sobre a formação nacional até meados da década de 40 do século XIX; b) o da leitura complexa do interesse nacional, aliado à determinação de preservar o exercício soberano da vontade nacional (1844–1889); c) a diplomacia da agroexportação e dos grandes alinhamentos com que a República, que subordinaria o serviço da diplomacia aos interesses do segmento interno socialmente hegemônico, particularmente plantadores e exportadores de café (1889–1930); d) o modelo de política exterior do nacional-desenvolvimentismo que acoplou, finalmente, a face extern a da política às demandas do moderno desenvolvimento, dos anos 30 à década de 80 do século XX; e) a dança dos três paradigmas disponíveis simultaneamente, no tempo mais recente da política externa do Brasil (os anos 90 e o início do novo século): o da sobrevivência limitada do nacional desenvolvimentismo, o da expansão do liberalismo desenfreado e do Estado logístico, que equilibra os dois anteriores.
José Flávio Sombra Saraiva. Um percurso acadêmico modelar: Amado Luiz Cervo e a afirmação da historiografia das relações internacionais no Brasil. Apud: Estevão Chaves de Rezende Martins (Org.). Relações internacionais: visões do Brasil e da América Latina. Br asília: IBRI, 2003, p. 27 (com a d a p t a ç õ e s ) .
Tendo o texto acima como referência inicial, julgue o item subseqüente, relativos à política internacional e à inserção histórica do Brasil no cenário mundial.
O primeiro período republicano no Brasil dá início à denominada diplomacia do café, a qual, mais que simples esforço de promoção comercial, também envolvia a negociação de empré s timos, além da defesa contra acusações de cartelização e abuso de poder dominante.
- A) Certo
- B) Errado
Resposta:
A alternativa correta é letra A) Certo
Gabarito: CERTO
Cinco paradigmas históricos foram identificados na História da Política Exterior do Brasil, de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, correspondendo cada um deles a uma periodização, com a qual se procurou inserir a conjuntura nas estruturas históricas e articular micro- e macro-história para se obter uma interpretação categorial e sistemática da evolução da política exterior do Brasil nos últimos dois séculos. Assim foram apresentados por Cervo e Bueno: a) o das concessões sem barganha da época da independência (1808–1828), pelo qual se sacrificou o interesse nacional sob múltiplos aspectos, com efeitos nefastos sobre a formação nacional até meados da década de 40 do século XIX; b) o da leitura complexa do interesse nacional, aliado à determinação de preservar o exercício soberano da vontade nacional (1844–1889); c) a diplomacia da agroexportação e dos grandes alinhamentos com que a República, que subordinaria o serviço da diplomacia aos interesses do segmento interno socialmente hegemônico, particularmente plantadores e exportadores de café (1889–1930); d) o modelo de política exterior do nacional-desenvolvimentismo que acoplou, finalmente, a face externa da política às demandas do moderno desenvolvimento, dos anos 30 à década de 80 do século XX; e) a dança dos três paradigmas disponíveis simultaneamente, no tempo mais recente da política externa do Brasil (os anos 90 e o início do novo século): o da sobrevivência limitada do nacional desenvolvimentismo, o da expansão do liberalismo desenfreado e do Estado logístico, que equilibra os dois anteriores.
José Flávio Sombra Saraiva. Um percurso acadêmico modelar: Amado Luiz Cervo e a afirmação da historiografia das relações internacionais no Brasil. Apud: Estevão Chaves de Rezende Martins (Org.). Relações internacionais: visões do Brasil e da América Latina. Brasília: IBRI, 2003, p. 27 (com a d a p t a ç õ e s ) .
- O primeiro período republicano no Brasil dá início à denominada diplomacia do café, a qual, mais que simples esforço de promoção comercial, também envolvia a negociação de empréstimos, além da defesa contra acusações de cartelização e abuso de poder dominante.
Como fica claro no texto citado no enunciado, a Primeira República (1889-1930) ficaria marcada pelo sequestro do Estado pelas oligarquias agroexportadoras, com grande destaque para a cafeicultura. No final do século, o Brasil era o maior exportador de café do mundo e a sua exportação era a primeira atividade econômica do país. Para a política externa, o predomínio das oligarquias cafeeiras significou o abandono parcial das linhas anteriores de uma inserção internacional complexa para dar amplo privilégio à defesa do café brasileiro nos mercados internacionais.
Ainda que a chancelaria de Rio Branco (1902-1912) tenha sido, sim, um período importantíssimo para a sofisticação conceitual e para leituras mais refinadas sobre a política externa e o mundo, a diplomacia do café, num quadro mais amplo, tinha como eixo central a esquematização de formas de manter os preços internacionais em patamares mínimos. Nesse sentido, o controle sobre os estoques era fundamental para controlar a demanda, bem como a contratação de empréstimos internacionais para o financiamento de projetos produtivos da cafeicultura. Capaz de influenciar unilateralmente os preços internacionais, cabia ao Brasil também se defender das acusações de formação de cartel e de abuso sobre as práticas para sustentar os preços internacionais - afinal, tratava-se de uma das grandes forças agrícolas do mundo naquele início do século XX.
Quanto à política de promoção comercial, havia certa atividade, mas pouco estruturada e sistematizada. As ações de promoção do café brasileiro, a despeito de toda a sua importância econômica, não foi vocalizada de maneira complexa pela política externa do país, insistindo em formas pálidas de promoção comercial. Portanto, item CORRETO.
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