Com relação ao quadro geral das relações sociais características da Primeira República, assinale V para a afirmação verdadeira e F para a falsa.
( ) A organização do movimento operário em torno dos ideais anarquistas, em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, teve como efeito a aprovação de uma legislação trabalhista mínima, que garantia jornada de oito horas semanais e férias remuneradas.
( ) Os movimentos sociais como Canudos, na Bahia, e Contestado, em Santa Catarina, resultaram da combinação de conteúdo religioso e carência social, na medida em que seus líderes pregavam ideais ascéticos de vida combinados com o desprendimento de bens materiais como a posse da terra.
( ) O clientelismo representou a forma geral das relações sociopolíticas na Primeira República, tendo como exemplo a influência dos coronéis, que eram a base local de poder no âmbito dos municípios.
As afirmativas são, respectivamente,
- A) F, V e F.
- B) F, V e V.
- C) V, F e F.
- D) V, V e F.
- E) F, F e V.
Resposta:
A alternativa correta é letra E) F, F e V.
Gabarito: Letra E
A sequência correta é: F, F e V.
Analisemos as afirmativas:
(F) A organização do movimento operário em torno dos ideais anarquistas, em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, teve como efeito a aprovação de uma legislação trabalhista mínima, que garantia jornada de oito horas semanais e férias remuneradas.
A aprovação de uma legislação mínima, que garantia jornada de oito horas diárias (não semanais) e férias remuneradas só foi aprovada e realmente colocada em prática durante o período da Era Vargas (1930-1945), não houve isso durante a Primeira República.
Ideais anarquistas e socialistas, trazidos para o Brasil por imigrantes europeus, estiveram presentes nas lutas operárias da Primeira República. Em julho de 1917, os anarquistas lideraram uma grande greve em São Paulo que logo ganhou a adesão dos trabalhadores do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Calcula-se que somente na cidade de São Paulo 700 mil trabalhadores tenham paralisado suas atividades. A onda grevista foi provocada principalmente pela brusca queda do poder aquisitivo dos trabalhadores, em um momento que, devido a Primeira Guerra Mundial, o custo de vida subiu sem que os salários acompanhassem esse aumento.
Como resultado dessa primeira greve geral da história do Brasil, o governo e os patrões resolveram negociar e concederam reajustes salariais. Mas a partir daí, a perseguição policial aos anarquistas se tornou sistemática. Na década seguinte, o Congresso Nacional chegou a discutir e aprovar algumas leis sociais, como limitação da jornada de trabalho infantil, férias e a formação de um sistema de aposentadorias, porém, na prática, nenhuma dessas leis chegou a ser implementada.
(F) Os movimentos sociais como Canudos, na Bahia, e Contestado, em Santa Catarina, resultaram da combinação de conteúdo religioso e carência social, na medida em que seus líderes pregavam ideais ascéticos de vida combinados com o desprendimento de bens materiais como a posse da terra.
Chamados de messiânicos, os dois principais movimentos sociais ligados a líderes político-religiosos (conhecidos como líderes messiânicos) da Primeira República foram o de Canudos, no sertão baiano, e o do Contestado, na fronteira entre Paraná e Santa Catarina, numa região contestada (disputada) por esses dois estados. Tais movimentos reuniram milhares de sertanejos de áreas rurais pobres que sob o comando de um líder religioso fundaram comunidades.
Essas comunidades messiânicas foram criadas por e para pessoas castigadas pelo sofrimento cotidiano, pela miséria e pelas injustiças sociais e que tinham necessidade de ter esperança em uma vida melhor. Contudo seus líderes não pregavam os desprendimentos de bens sociais, como a posse da terra, e sim buscavam possuir um pedaço de terra onde pudessem desenvolver um sistema comunitário igualitário e com normas próprias. Inclusive, um dos lemas principais de Antônio Conselheiro, líder do movimento de Canudos, era “A terra não tem dono, a terra é de todos”.
(V) O clientelismo representou a forma geral das relações sociopolíticas na Primeira República, tendo como exemplo a influência dos coronéis, que eram a base local de poder no âmbito dos municípios.
As relações políticas da Primeira República giravam em torno do poder de influência, dominação e mando dos coronéis de cada região nos resultados das eleições, processo possível graças ao fim do voto censitário e instituição do voto aberto, que permitia, fraudes, manipulações e o exercício de uma pressão política sobre os eleitores, seja através da violência, seja através das relações clientelistas.
Uma das principais características do coronelismo eram as relações clientelistas que eles mantinham com os eleitores de cada região e a sua capacidade de barganha. O que era possível graças ao prestígio do coronel e a sua capacidade de conceder empregos e cargos ou mesmo favores públicos ao grupo de pessoas apadrinhadas, que em troca lhe demonstrava fidelidade política, votando nos candidatos indicados pelo coronel.
Essas práticas, de conceder favores públicos em troca de votos, chamadas de clientelistas, estavam amplamente disseminadas na sociedade e na política da Primeira República, sendo baseadas numa estrutura de poder que ligava os coronéis mais influentes aos governos estaduais e federal.
Referências:
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 3. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
VAINFAS, Ronaldo et ali. História: o mundo por um fio: do século XX ao XXI, volume 3. São Paulo: Saraiva, 2010.
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