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De acordo com Sidney Chalhoub, em seu livro “Trabalho, lar e botequim”, o Rio Janeiro de 1906 era a única cidade brasileira com mais de 500 mil habitantes. Esta população, extremamente heterogênea, contava com 34% de pretos e mulatos e 34% de imigrantes, dentre os quais 20% eram portugueses. Todos eles engrossavam as fileiras do “trabalho livre”. (CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. São Paulo: Unicamp, 2008). Sobre esse contexto histórico, é correto afirmar:

Resposta:

A alternativa correta é letra B) Trata-se do período de implementação e imposição de uma ordem capitalista alicerçada na positivação da ideia de trabalho observada nas mudanças das relações “senhor-escravo” para as do “burguês-proletário”.

Gabarito: ALTERNATIVA B

  

De acordo com Sidney Chalhoub, em seu livro “Trabalho, lar e botequim”, o Rio Janeiro de 1906 era a única cidade brasileira com mais de 500 mil habitantes. Esta população, extremamente heterogênea, contava com 34% de pretos e mulatos e 34% de imigrantes, dentre os quais 20% eram portugueses. Todos eles engrossavam as fileiras do “trabalho livre”. (CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. São Paulo: Unicamp, 2008). Sobre esse contexto histórico, é correto afirmar:

 
  • a) Representa a descontinuidade, nos espaços urbanos e rurais, dos projetos mais amplos de dominação social e cultural oriundos do século XIX.

É difícil de imaginar o que a banca quis dizer nesta alternativa. O fato de a população carioca ser extremamente heterogênea no início do século XX não significa uma ruptura com os projetos do século XIX, mas sim um corolário de suas crises, dificuldades e transformações. O trabalho livre, há de ser observado, era uma realidade em plena mutação naquele contexto, já que a escravidão fora abolida em 1888, reconfigurando a força de trabalho livre. Havia sim uma ruptura da ordem monárquica e escravocrata, mas isso não implica dizer que não havia qualquer tipo de continuidade de projetos e de composições sociais. Alternativa errada.

 
  • b) Trata-se do período de implementação e imposição de uma ordem capitalista alicerçada na positivação da ideia de trabalho observada nas mudanças das relações “senhor-escravo” para as do “burguês-proletário”.

As estruturas de dominação que marcaram praticamente todo o período monárquico brasileiro (1822-1889) pressupunham o mando e a obediência da relação senhor-escravo numa dinâmica em que apenas uma fração da população gozava plenamente de direitos e de vida econômica. Com o fim da escravidão em 1888, as forças econômicas estavam sendo reorganizadas e reassentadas, principalmente nos espaços urbanos, decorrendo novas relações de trabalho e de economia. A queda da monarquia, por seu turno, também encerrava um ciclo de organização social baseada na aristocracia e nos privilégios inatos. Desta forma, as classes sociais se reorganizavam sob a vida republicana em novas dinâmicas, o que a leitura marxista prefere apontar como uma nova fase capitalista em que burgueses e proletários se contrapõem. No entanto, há de ser observado que a economia brasileira era profundamente agrícola e as nossas cidades conheciam rarefeitos esforços industriais: isto é, ainda não se pode falar na formação de um proletariado mais complexo no início do século XX a ponto de caracterizar toda a sociedade. Nossa burguesia, por seu turno, era composta de profissionais liberais e de comerciantes de grosso trato, ainda distante da realidade industrial da leitura marxista. Ainda que não apresente erros graves, a alternativa sofre de uma imprecisão muito profunda que merece mais atenção, mesmo que seja apontada como correta. Portanto, sob protestos, esta é a ALTERNATIVA CORRETA.

 
  • c) Ascende um projeto de expropriação do trabalhador expresso na manutenção de antigas ideologias de trabalho e no relaxamento das formas de repressão.

A nova composição do trabalho livre no começo do século XX demonstra de maneira significativa que houve uma superação das formas de trabalho do século anterior nas cidades brasileiras. Por outro lado, o impulso urbano de criar uma vida republicana e moderna pressionou para um aumento da complexidade das formas de repressão, que redundou numa política higienista das cidades brasileiras. O processo urbano brasileiro foi imposto por meio da força e da truculência policial, excluindo boa parte dessa nova classe do trabalho livre para áreas distantes, mesmo em meio à superação da escravidão como forma de trabalho. O paradoxo brasileiro sobre a questão se arrastaria ao longo das década seguintes, exaltando os mais pobres ao trabalho ao mesmo tempo que o Estado o exclui na luta por direitos. Alternativa errada.

 
  • d) Trata-se de um momento inaudito na História do Brasil República em que as rivalidades étnicas e nacionais são superadas pelo interesse comum dos trabalhadores dentro dos movimentos organizados.

Essa nova classe de trabalhadores livres se confundiu em processos sociais no início do século XX, inclusive ocupando os mesmos espaços de moradia e de trabalho dentro das cidades. No entanto, apenas na década seguinte os trabalhadores industrias conseguiriam demonstrar um grau importante de organização para a luta por direitos, o que culminaria nas greves gerais de 1917. As classes mais baixas do início da República ficaram confinadas num espaço reativo e de difícil organização frente ao aumento significativo da repressão e o controle do aparato estatal pelas novas oligarquias num contexto democrático fragilíssimo. Há de ser observado, por exemplo, que os analfabetos - que eram franca maioria entre esses trabalhadores - estavam completamente alijados do processo eleitoral. Alternativa errada.

 
  • e) Refere-se a um recorte temporal e espacial em que o “mundo do trabalho” é deslocado do “mundo da ordem” por afetar negativamente o princípio de propriedade.

A redação da alternativa é extremamente confusa. De qualquer maneira, o princípio da propriedade privada estava muito bem protegido durante a República Velha (1889-1930), durante o qual as oligarquias agrárias de Minas Gerais e de São Paulo dominavam o poder central e os postos mais altos do jogo político-eleitoral. As organizações operárias de cunho anarquista que surgiram nas décadas de 1910 e 1920 foram severamente reprimidas e o mundo do trabalho sempre foi mantido sob severo controle, sendo as classes trabalhadoras constantemente submetidas à repressão e alijadas do processo decisório central.

  

Sem mais, está correta a ALTERNATIVA B.

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