É verdade que ele (Lampião) fizera uma romaria ao famoso Messias de Juazeiro, o Padre Cícero, pedindo sua benção antes de abraçar o cangaço, e é também verdade que o santo, embora debalde o exortasse a renunciar à vida marginal, dera-lhe um documento em que o nomeava capitão, e tenentes a seus dois irmãos. Contudo, a balada de onde extraí a maior parte desse relato não menciona qualquer desagravo de ofensas (exceto no seio do próprio bando), nenhum ato de tirar dos ricos para dar aos pobres, nenhuma dispensação de justiça. Registra batalhas, ferimentos, ataques a cidades (ou contra o que passava por cidades no sertão nordestino), sequestros, assaltos a ricos, combates com os soldados, aventuras com mulheres, episódios de fome e de sede, mas nada que lembre os Robin Hoods. Pelo contrário, registra “horrores”: como Lampião assassinou um prisioneiro, embora sua mulher o tivesse resgatado, como ele massacrava trabalhadores, como torturou uma velha que o amaldiçoara (sem saber de quem se tratava) fazendo-a dançar com um pé de mandacaru até morrer, como matou sadicamente um de seus homens, que o ofendera, obrigando-o a comer um litro de sal, e incidentes semelhantes. Causar terror e ser impiedoso é um atributo mais que importante para esse bandido do que ser amigo dos pobres.
Hobsbawm, Eric. Bandidos. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1969.
A tese do banditismo social foi bastante utilizada no Brasil para explicar o surgimento do cangaço. Para o historiador Eric Hobsbawm, Lampião não pode ser considerado um bandido social, pois:
- A) Não tinha nenhuma característica que o ligasse à população mais pobre.
- B) Agia com violência atacando apenas os mais pobres.
- C) Não tinha como objetivo principal acabar com as injustiças sociais.
- D) Tinha boas relações com autoridades religiosas do Sertão.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) Não tinha como objetivo principal acabar com as injustiças sociais.
Gabarito: Letra C
Trata-se de uma questão que poderia ser respondida com base no conhecimento da obra do autor ou através da interpretação de texto.
Bandidos é um livro escrito e publicado pelo historiador Eric Hobsbawm em 1969. A obra inaugurou os estudos sobre banditismo, trazendo o conceito de banditismo social.
Posteriormente muitos estudiosos se debruçaram sobre o tema, instigados pela leitura da obra e passaram a levantar questionamentos sobre a pesquisa, como por exemplo, as fontes utilizadas e o modo como a pesquisa foi construída, sem levar em conta as particularidades dos casos tratados.
Banditismo social para Hobsbawm é um fenômeno existente em sociedades agrárias, compostas por camponeses e trabalhadores sem-terra, que são explorados por proprietários de terra, Estado, advogados ou bancos. É uma forma de rebelião individual ou minoritária no campo.
Bandidos sociais são pessoas que os proprietários e o Estado consideram como criminosos, mas a sociedade camponesa os consideram heróis, campeões, vingadores, pessoas que lutam por justiça e até mesmo libertadores.
Para o autor existem três categorias de bandidos:
1) Ladrão nobre ou Robin Hood
2) Haiduks
3) Vingadores
Lampião foi enquadrado na terceira categoria, como um vingador, e não tinha por objetivo acabar com as injustiças sociais no Sertão.
Como se pode ver no trecho, agia com violência indiscriminada e espalhava o terror, completamente diferente do modo de agir da primeira categoria denominada de Ladrão Nobre ou Robin Hood.
Indivíduos que foram enquadrados como Ladrões Nobres tinham por característica agir para corrigir erros e promover a equidade social.
Resposta baseada na fonte:
HOBSBAWM, Eric. Bandidos. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
Deixe um comentário