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Em 21 de março de 1916, era lançado na Bahia um requerimento ao presidente Venceslau Brás pedindo a abolição dos festejos de Tuiuti e Riachuelo. O texto do requerimento, aqui reproduzido em parte, é o seguinte:

 

Há mais de nove lustros que o Paraguai e o Brasil mantêm os mais amistosos desígnios nas suas relações internacionais. Relembrar, portanto, em meio de públicas solenidades os atos de guerra havidos entre os dois povos irmãos […] ofende aos intuitos e destoa dos ditames de uma sã política racional orientada para a confraternização dos povos […] E, considerando um nobilíssimo dever cívico render homenagens aos que no passado souberam amar e sentir a Pátria Brasileira, quer nos campos de batalha, quer nas outras esferas da atividade humana, pedimos designe o Governo da República um dia para que anualmente se prestem, em todos os recantos do País, públicos preitos de amor e gratidão aos que, na paz e na guerra, honraram o nome brasileiro. Para esse dia de culto cívico lembramos o 26 de janeiro, aniversário da “capitulação da Campina do Taborda”, glorioso epílogo da luta defensiva sustentada durante 24 anos, em prol da integridade do pátrio território, pelos guerreiros heroicos do indígena Felippe Camarão, do negro Henriques Dias e dos brancos André Vidal e Fernandes Vieira.

 

[Francisco Alambert, O Brasil no espelho do Paraguai.

Em: Carlos Guilherme Mota (org).

Viagem incompleta. A experiência brasileira.

Formação: histórias (1500-2000)]

 

 

O requerimento revela que seus autores objetivam

Resposta:

A alternativa correta é letra B) substituir o culto da guerra a um povo irmão pela celebração do país das três raças irmanadas, em uma clara disputa pela memória histórica.

Gabarito: ALTERNATIVA B

  

Em 21 de março de 1916, era lançado na Bahia um requerimento ao presidente Venceslau Brás pedindo a abolição dos festejos de Tuiuti e Riachuelo. O texto do requerimento, aqui reproduzido em parte, é o seguinte:

 

Há mais de nove lustros que o Paraguai e o Brasil mantêm os mais amistosos desígnios nas suas relações internacionais. Relembrar, portanto, em meio de públicas solenidades os atos de guerra havidos entre os dois povos irmãos [...] ofende aos intuitos e destoa dos ditames de uma sã política racional orientada para a confraternização dos povos [...] E, considerando um nobilíssimo dever cívico render homenagens aos que no passado souberam amar e sentir a Pátria Brasileira, quer nos campos de batalha, quer nas outras esferas da atividade humana, pedimos designe o Governo da República um dia para que anualmente se prestem, em todos os recantos do País, públicos preitos de amor e gratidão aos que, na paz e na guerra, honraram o nome brasileiro. Para esse dia de culto cívico lembramos o 26 de janeiro, aniversário da “capitulação da Campina do Taborda”, glorioso epílogo da luta defensiva sustentada durante 24 anos, em prol da integridade do pátrio território, pelos guerreiros heroicos do indígena Felippe Camarão, do negro Henriques Dias e dos brancos André Vidal e Fernandes Vieira. [Francisco Alambert, O Brasil no espelho do Paraguai. Em: Carlos Guilherme Mota (org). Viagem incompleta. A experiência brasileira. Formação: histórias (1500-2000)]

  
  • O requerimento revela que seus autores objetivam

Note bem o estudante que esta é uma questão que exige diretamente a capacidade de interpretação de texto por parte do candidato. É fundamental, portanto, uma leitura atenta e embasada do texto proposto no enunciado. Não deveria, portanto, o candidato se perder em digressões e opiniões alheias ao que se coloca objetivamente no texto.

  • a)  apontar para os riscos do estabelecimento de um culto cívico em uma nação que não reconhece a sua formação étnica-cultural.

O questionamento central dos autores recaía sobre festejos em referência às vitórias brasileiras da Guerra do Paraguai (1864-1870) - a batalha de Tuiuti e a batalha naval do Riachuelo. Para os autores, era equivocado festejar uma vitória sobre um país vizinho com o qual se mantém relações amistosas, uma vez superadas as questões da guerra em si. Alternativa errada.

 
  • b)  substituir o culto da guerra a um povo irmão pela celebração do país das três raças irmanadas, em uma clara disputa pela memória histórica.

A alternativa é bastante completa e não tem muito espaço para discussões. Os autores do recurso consideram muito equivocada a medida de comemorar feitos da Guerra do Paraguai uma vez que também marca uma grande derrota do Paraguai, que se tornou um país amigo após o conflito. A proposta de se passar a comemorar a "capitulação da Campina do Taborda" tem em mente um fenômeno profundamente brasileiro, a união de brancos, negros e indígenas (o mito da união irmanada das três raças), a irmandade formando um povo num fenômeno que supera a questão colonial. Sinaliza-se, portanto, pelo fortalecimento da nacionalidade brasileira, e não para a força militar contra uma nação amiga. ALTERNATIVA CORRETA.

 
  • c)  criticar o governo republicano pela sua incapacidade em criar comemorações que exaltem o amor à Pátria.

Não se trata de de uma crítica contra a inexistência de comemorações, mas sim a uma proposta de reformulação das exaltações nacionais. Reconhecia-se a existência, sim, dessas comemorações, porém os autores as consideravam inadequadas para os princípios fundamentais que o país, sob a forma da república, defendia. Alternativa errada.

 
  • d)  apontar como a nacionalidade brasileira foi forjada por meio de guerra de expansão, caso da Guerra do Paraguai.

Pelo contrário, o raciocínio dos autores vai no sentido de compreender que a nacionalidade brasileira é muito maior do que uma guerra contra um país vizinho. A nacionalidade brasileira seria algo muito anterior, constituída em seus próprios termos, na confluência das três raças e em processos que remontam à colonização. Ou seja, não caberia à república recém-instalada ficar repisando uma conquista militar do Império. Alternativa errada.

 
  • e)  destacar o heroísmo do Exército nacional durante a guerra contra os paraguaios na segunda metade do século XIX.

O trecho é bastante claro quanto a isso: os autores não questionavam a importância da Guerra do Paraguai, mas sim a imensa inconveniência de ficar festejando uma vitória militar contra um país que se tornou uma nação amiga. Portanto, não se negava a glória militar, mas sim a conveniência de se tomar isso uma grande festa nacional. Alternativa errada.

  

Sem mais, está correta a ALTERNATIVA B.

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