Em 26 de janeiro de 1893 uma grande quantidade de pessoas se juntou para acompanhar a demolição do cortiço Cabeça de Porco. Assim como os outros cortiços que proliferaram pelas ruas do Rio no século XIX, ele serviu de moradia às classes pobres da Corte (trabalhadores livres, libertos e escravizados), que, com a necessidade de procurar serviço diariamente, optavam por residir no centro da cidade – local com maior demanda de mão de obra. […] Entre todos os cortiços, o Cabeça de Porco veio a se tornar um dos mais famosos e populosos: estima-se que lá moravam cerca de 2 mil pessoas. […] Alinhada ao discurso higienista, a Câmara Municipal criou uma série de posturas que visavam a dar fim às estalagens, principalmente, a partir dos anos 1870.
https://riomemorias.com.br/memoria/cabeca-de-porco/
O “discurso higienista” apresentado no texto propunha
- A) a erradicação dos espaços insalubres e o planejamento das zonas periféricas.
- B) a restauração das edificações seculares e a “gentrificação” destes espaços.
- C) o combate à especulação imobiliária e à cobrança de aluguéis abusivos.
- D) a reconstrução das moradias populares para liberar espaços nobres e centrais.
- E) a sanitização elitista e excludente que levou à favelização dos pobres urbanos.
Resposta:
A alternativa correta é letra E) a sanitização elitista e excludente que levou à favelização dos pobres urbanos.
Gabarito: ALTERNATIVA E
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- O “discurso higienista” apresentado no texto propunha
O discurso higienista é uma forma de intersecção entre um discurso científico e um projeto de sociedade marcado pela exclusão social sistemática. Parte-se de uma situação concreta: é necessário se pensar a salubridade e a sanitização das cidades para assegurar saúde e qualidade de vida à população. Ou seja, a ocupação do território urbano não se pode dar de maneira irregular e impensada, já que precisam ser dimensionados serviços públicos, bem como o interesse coletivo precisa ser gerido para garantir a viabilidade sanitária da cidade. Isso demanda a intervenção do poder público sobre o espaço público para transformá-lo a partir dessas necessidades fundamentais e equipado com o melhor da ciência para abordar os problemas inerentes aos aglomerados urbanos.
O higienismo se instaura quando todas essas discussões necessárias são instrumentalizadas para colocar em marcha um projeto de sociedade pensado a partir de uma lógica elitista e excludente, no qual se elege uma minoria à qual todos os serviços e todas as vantagens urbanas devem ser oferecidas sem que haja nenhuma ponderação sobre os destinos da esmagadora maioria da população excluída desse projeto. Nas cidades brasileiras, não são raros os casos em que obras de saneamento básico são precedidas por desapropriações violentas, excluindo os grupos mais pobres para regiões distantes, onde esses mesmos recursos de saneamento que as expulsaram dos seus locais de origem não chegam. Os casos mais dramáticos são os processo de favelização das grandes cidades e de crescimento desordenado de regiões metropolitanas, nos quais as intervenções feitas pelo poder público em áreas centrais leva à exclusão dos mais pobres sem nenhuma política habitacional séria. Com isso, essa população tem de procurar opções extremas como moradias muito precárias em áreas absolutamente esquecidas pelo Estado, o qual, comprometido com a minoria dominante, jamais fará intervenções sérias para levar direitos elementares a essas regiões desassistidas. Assim, observemos as alternativas propostas.
a) a erradicação dos espaços insalubres e o planejamento das zonas periféricas.
b) a restauração das edificações seculares e a “gentrificação” destes espaços.
c) o combate à especulação imobiliária e à cobrança de aluguéis abusivos.
d) a reconstrução das moradias populares para liberar espaços nobres e centrais.
e) a sanitização elitista e excludente que levou à favelização dos pobres urbanos.
Um dos casos mais recorrentes quando se trata de higienismo foi o caso das reformas Pereira Passos no início do século XX no Rio de Janeiro. Partindo das necessidades reais de sanitização da cidade, que convivia com epidemias e ciclos de infestação de pragas de toda sorte, o prefeito carioca se dedicou a um projeto de modernização geral no centro da cidade no qual os mais pobres foram terrivelmente afetados. O fornecimento de novos serviços públicos teve como contraparte imediata a destruição de vários imóveis em áreas mais pobres e degradadas, o que significou a expulsão de uma grande quantidade de pessoas para áreas então remotas, como os morros da cidade, o que originaria a favelização da área. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA E.
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