Enfermo a 14 de novembro, na segunda-feira o velho Lima voltou ao trabalho, ignorando que no entretempo caíra o regime. Sentou-se e viu que tinham tirado da parede a velha litografia representando D. Pedro de Alcântara. Como na ocasião passasse um contínuo, perguntou-lhe:
— Por que tiraram da parede o retrato de Sua Majestade?
O contínuo respondeu, num tom lentamente desdenhoso:
— Ora, cidadão, que fazia ali a figura do Pedro Banana?
— Pedro Banana! — repetiu raivoso o velho Lima.
E, sentando-se, pensou com tristeza:
— Não dou três anos para que isso seja uma República!
AZEVEDO, A. Vidas alheias. Porto Alegre: s.e, 1901 (adaptado).
A crônica de Artur Azevedo, retratando os dias imediatos à instauração da República no Brasil, refere-se ao(à)
- A) ausência de participação popular no processo de queda da Monarquia.
- B) tensão social envolvida no processo de instauração do novo regime.
- C) mobilização de setores sociais na restauração do antigo regime.
- D) temor dos setores burocráticos com o novo regime.
- E) demora na consolidação do novo regime.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) ausência de participação popular no processo de queda da Monarquia.
Gabarito: Letra A
A queda do regime monárquico e a proclamação da República ocorreram praticamente sem a participação popular. O movimento contou com a participação de militares, intelectuais e políticos e tudo aconteceu num clima de ordem e concórdia entre as elites. A ideia, ao que tudo indica, era a de transformar a forma de governo sem que houvesse revolução, por isso, a população não foi convocada a participar desse processo.
Um relato que ficou famoso nesse sentido, foi o do jornalista e ministro do primeiro governo republicano Aristides Lobo que afirmou que o povo assistiu a tudo “bestializado” acreditando que o movimento de tropas conduzido por Deodoro da Fonseca na manhã do dia 15 de novembro de 1889 fosse apenas uma parada militar. Tal expressão utilizada pelo jornalista à época expressa a ausência popular nas movimentações em torna da proclamação.
O texto indicado na questão traça o mesmo caminho da frase de Aristides Lobo, buscando demonstrar o quanto a população esteve alheia a esse episódio da história brasileira.
Por que as demais estão incorretas?
Essa questão pede que se interprete o texto indicado para a reflexão, as demais alternativas fogem do sentido e significado do texto oferecido para interpretação.
Letra B: tensão social envolvida no processo de instauração do novo regime.
Pelo contrário, sem a participação popular, o processo de instauração do novo regime ocorreu sem muitas tensões, num clima de concordância e ordem.
Letra C: mobilização de setores sociais na restauração do antigo regime.
Não houve uma mobilização de setores sociais visando a restauração do antigo regime (monarquia brasileira). Até porque, de acordo com o relato de Aristides Lobo, a população ficou sem entender o que realmente estava acontecendo no dia da proclamação.
Letra D: temor dos setores burocráticos com o novo regime.
O texto indicado pela questão não faz nenhuma referência a um temor de setores burocráticos com o regime republicano, o que ele mostra é o alheamento da população durante a proclamação da República.
Letra E: demora na consolidação do novo regime.
Apesar dos primeiros anos de turbulência do novo regime, este não disputou espaço com a monarquia, visto que a partir da proclamação da República o novo regime foi instituído e a monarquia saiu de cena no Brasil. Além disso, o texto indicado pela questão não faz nenhuma referência a uma demora na consolidação do regime republicano e sim ao alheamento da população durante a proclamação do mesmo.
Referências:
AZEVEDO, Gislane Campos e SERIACOPI, Reinaldo. História: volume único. São Paulo: Ática, 2005.
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 3. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
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