Há uma história do tenentismo antes e depois de 1930. Os dois períodos dividem-se por uma diferença essencial.
(Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo/Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2000)
O tenentismo, antes e depois de 1930, respectivamente,
- A) esteve vinculado às ideias antiliberais dos anos 1920, o que explica a defesa de uma radical legislação de proteção ao trabalho; fez forte oposição ao Governo Provisório porque discordava da postura de Vargas em protelar a volta da constitucionalidade do país.
- B) organizava-se nacionalmente e teve participação central na eleição de Washington Luís em 1926; desprestigiado pela ordem surgida com a Revolução de 1930, agrupou-se no Partido Democrático, ficando sua força política restrita aos estados mais pobres do país.
- C) propunha uma reordenação política da nação por meio de um sistema eleitoral censitário; defendeu as políticas oriundas das forças oligárquicas alijadas do poder por meio da Revolução de 1930, o que justifica o apoio às forças paulistas no movimento de 1932.
- D) rebelou-se contra o Estado oligárquico, caso da Revolução de 1924, que tinha o objetivo de derrubar Artur Bernardes; teve participação no governo, com os “tenentes” assumindo interventorias nos estados, principalmente no Nordeste.
- E) demarcava com os princípios econômicos da socialdemocracia e tinha bastante clareza ideológica; participava ativamente da política até a instauração do Estado Novo e defendia que o Estado não deveria interferir na atividade econômica.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) rebelou-se contra o Estado oligárquico, caso da Revolução de 1924, que tinha o objetivo de derrubar Artur Bernardes; teve participação no governo, com os “tenentes” assumindo interventorias nos estados, principalmente no Nordeste.
Gabarito: ALTERNATIVA D
Há uma história do tenentismo antes e depois de 1930. Os dois períodos dividem-se por uma diferença essencial.
(Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo/Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2000)
- O tenentismo, antes e depois de 1930, respectivamente,
O tenentismo foi, de maneira geral, uma série de movimentos armados que partiram de parcelas do jovem oficialato do Exército que viam na República Velha uma traição aos princípios que animaram a Proclamação da República (1889). Para aqueles jovens, a realidade política brasileira e o estabelecimento das oligarquias agroexportadoras no centro do poder traíam os princípios fundamentais do positivismo que o próprio Exército encampara para derrubar a monarquia; e o tenentismo encarnava uma releitura e uma revitalização do pensamento positivista em ação na política brasileira. Assim, observemos as alternativas propostas.
- a) esteve vinculado às ideias antiliberais dos anos 1920, o que explica a defesa de uma radical legislação de proteção ao trabalho; fez forte oposição ao Governo Provisório porque discordava da postura de Vargas em protelar a volta da constitucionalidade do país.
É incorreto dizer que o tenentismo na década de 1920 fosse antiliberal. Em primeiro lugar, não havia uma expressão unificada desses movimentos, mas sim alguns elementos em comum: todos defendiam uma retomada dos princípios positivistas para guiar a vida republicana e uma modernização geral do país. Ao mesmo tempo em que havia, sim, aqueles que defendiam a transformação pela via autoritária, não se pode desconsiderar que muitos daqueles defendiam uma democracia séria com uma cidadania robusta. Quanto ao Governo Provisório (1930-1934), há de se entender que o próprio Vargas e a Revolução de 1930 são parte desse tenentismo, mas não podem ser tomados como o seu todo. As expressões mais alinhadas com o programa autoritário acabariam, sim, compondo forças com Vargas, ao passo que os liberais se distanciariam e formariam certa oposição frente à postura reticente sobre o restabalecimento da ordem constitucional. Alternativa errada.
- b) organizava-se nacionalmente e teve participação central na eleição de Washington Luís em 1926; desprestigiado pela ordem surgida com a Revolução de 1930, agrupou-se no Partido Democrático, ficando sua força política restrita aos estados mais pobres do país.
A alternativa é completamente despropositada. Washington Luís seria eleito em 1926 pelo Partido Republicano Paulista (PRP), que representava o centro do teatro das oligarquias - ou seja, era o símbolo maior do atraso e da traição aos princípios republicanos na ótica dos tenentistas. A expressão política tenentista seria organizada em torno da Aliança Liberal de 1930, sob a figura de Getúlio Vargas e com certo apoio das oligarquias dissidentes pelo país. Mas não se pode identificar o apoio à AL aos estados mais pobres do país. Alternativa errada.
- c) propunha uma reordenação política da nação por meio de um sistema eleitoral censitário; defendeu as políticas oriundas das forças oligárquicas alijadas do poder por meio da Revolução de 1930, o que justifica o apoio às forças paulistas no movimento de 1932.
Novamente, o avaliador equipara os interesses dos tenentistas com os seus maiores adversários: as oligarquias dominantes da Primeira República. O modelo republicano defendido pressupunha o fim dos cortes censitários de votação, respeitando os princípios fundamentais da cidadania e dos direitos individuais. Além disso, era a base do tenentismo alijar aquelas elites do poder, não fazendo sentido se falar numa luta para restabelecê-las. Alternativa errada.
- d) rebelou-se contra o Estado oligárquico, caso da Revolução de 1924, que tinha o objetivo de derrubar Artur Bernardes; teve participação no governo, com os “tenentes” assumindo interventorias nos estados, principalmente no Nordeste.
Com os levantes armados de São Paulo (Revolta Paulista de 1924) e do Rio de Janeiro (Revolta dos 18 do Forte de 1922), o tenentismo, ainda que não tenha ameaçado de fato o governo central no campo de batalha, marcou uma posição importante na vida brasileira e abriu um ciclo de revoltas que marcaria a década de 1920. Entre 1925 e 1927, a Coluna Miguel Costa-Prestes percorreria todo o país sob esse horizonte positivista e com a vontade de superação do atraso estrutural brasileiro que era mantido pela República Velha. Desse caldo de cultura, Getúlio Vargas - claro herdeiro do positivismo gaúcho - disputaria as eleições presidenciais de 1930 com grandes chances de vitória após a cisão entre as oligarquias mineira e paulista. Sua candidatura contava com o apoio de elites descontentes com o governo central e dos dissidentes mineiros, que romperam com os paulistas após estes romperem os acordos de sucessão presidencial. O movimento de 1930 marcou a chegada do tenentismo/positivismo ao poder sob um acordo com algumas elites, de forma que o projeto de ruptura de estruturas e de modernização do país passaria por alguma instância de negociação com esses poderes estaduais. Paralelamente, uma outra versão desse tenentismo entendia que apenas uma ruptura total com as oligarquias poderia levar à verdadeira superação das mazelas brasileiras e acabou por, já na década de 1930, aproximar-se do comunismo sob a liderança de Luís Carlos Prestes. Essa nova identidade ideológica não se verificava nas manifestações originais do tenentismo, mas ganhou certa expressão entre os positivistas descontentes com Vargas e com as composições conservadoras do novo desenvolvimentismo e entrou em rota de colisão frontal com o governo resultante do movimento de 1930. Ou seja, ainda que houvesse uma cisão dentro do tenentismo, não se pode esquecer que vários dos seus maiores entusiastas tiveram destacada atuação na Era Vargas (1930-1945). Amparado na justificativa da instabilidade decorrente dos movimentos tenentistas Artur Bernardes governou o país sob estado de sítio em praticamente todo o seu mandato (1922-1926). Além da excepcionalidade legal, Bernardes foi responsável pela ampliação de várias medidas de repressão e de perseguição contra opositores, o que agravou enormemente a crise em torno da sua presidência. ALTERNATIVA CORRETA.
- e) demarcava com os princípios econômicos da socialdemocracia e tinha bastante clareza ideológica; participava ativamente da política até a instauração do Estado Novo e defendia que o Estado não deveria interferir na atividade econômica.
A alternativa é um contrassenso em seus próprios termos: o Estado Novo tinha inspirações totalitárias, o que o levava a intervir na vida econômica com certa frequência. Além disso, como exposto acima, o tenentismo nunca teve clareza ideológica, ainda que se possa identificá-lo com a luta contra o domínio oligárquico na Primeira República. Por fim, a socialdemocracia jamais figurou nas defesas de nenhum movimento tenentista, que não tinham propriamente uma compreensão sofisticada da economia. Alternativa errada.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA D.
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