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“Há uma história do tenentismo antes e depois de 1930. Os dois períodos dividem-se por uma diferença essencial. Antes de 1930, o tenentismo foi um movimento de rebeldia contra o governo da República; depois de 1930, os ‘tenentes’ entraram no governo e procuraram lhe dar um rumo que promovesse seus objetivos.”

Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo. Edusp. 1995. p. 307.

O movimento conhecido como tenentismo tem sido interpretado pela historiografia especializada com base na trajetória do próprio Exército brasileiro. Deste ponto de vista, a mobilização política dos tenentes teve origem na

Resposta:

A alternativa correta é letra E) profissionalização do Exército nas primeiras décadas do século XX.

Gabarito: ALTERNATIVA E

   

Tratamos aqui do momento final das instabilidades vividas pela Primeira República (1889-1930), que enfrentou uma série de levantes armados em vários pontos do território e acabaria derrubada justamente por tenentistas. O tenentismo foi, de maneira geral, uma série de movimentos armados que partiram de parcelas do jovem oficialato do Exército que viam na República Velha uma traição aos princípios que animaram a Proclamação da República (1889). Para aqueles jovens, a realidade política brasileira e o estabelecimento das oligarquias agroexportadoras no centro do poder traíam os princípios fundamentais do positivismo que o próprio Exército encampara para derrubar a monarquia; e o tenentismo encarnava uma releitura e uma revitalização do pensamento positivista em ação na política brasileira.

 

Com os levantes armados de São Paulo (Revolta Paulista de 1924) e do Rio de Janeiro (Revolta dos 18 do Forte de 1922), o tenentismo, ainda que não tenha ameaçado de fato o governo central no campo de batalha, marcou uma posição importante na vida brasileira e abriu um ciclo de revoltas que marcaria a década de 1920. Entre 1925 e 1927, a Coluna Miguel Costa-Prestes percorreria todo o país sob esse horizonte positivista e com a vontade de superação do atraso estrutural brasileiro que era mantido pela República Velha. Desse caldo de cultura, Getúlio Vargas - claro herdeiro do positivismo gaúcho - disputaria as eleições presidenciais de 1930 com grandes chances de vitória após a cisão entre as oligarquias mineira e paulista. Sua candidatura contava com o apoio de elites descontentes com o governo central e dos dissidentes mineiros, que romperam com os paulistas após estes romperem os acordos de sucessão presidencial.

 

O movimento de 1930 marcou a chegada do tenentismo/positivismo ao poder sob um acordo com algumas elites, de forma que o projeto de ruptura de estruturas e de modernização do país passaria por alguma instância de negociação com esses poderes estaduais. Paralelamente, uma outra versão desse tenentismo entendia que apenas uma ruptura total com as oligarquias poderia levar à verdadeira superação das mazelas brasileiras e acabou por, já na década de 1930, aproximar-se do comunismo sob a liderança de Luís Carlos Prestes. Essa nova identidade ideológica não se verificava nas manifestações originais do tenentismo, mas ganhou certa expressão entre os positivistas descontentes com Vargas e com as composições conservadoras do novo desenvolvimentismo e entrou em rota de colisão frontal com o governo resultante do movimento de 1930. Observemos, então as alternativas propostas.

   

  • a)  insatisfação de oficiais veteranos da Guerra do Paraguai.

A alternativa não faz o menor sentido, já que a Guerra do Paraguai se encerrou em 1870; ou seja, mais de cinquenta anos antes do início dos movimentos tenentistas. Ou seja, se ainda houvesse algum oficial que serviu no Paraguai vivo à época, certamente ele contaria com mais de 75 anos - ou seja, dificilmente seria alguém ainda ativo na vida política e contando com números suficientes para se opor ao governo central. Além disso, o tenentismo atingia, fundamentalmente, o jovem oficialato do Exército, e não velhos oficiais do tempo do Império. Alternativa errada.

 
  • b)  formação de soldados-cidadãos com base no modelo prussiano.

A Prússia já havia deixado de existir como Estado independente em 1871, quando da unificação da Alemanha - ou seja, trata-se de algo muito anterior ao período em tela. Além disso, o oficialato das Forças brasileiras tinha sistemática predileção pelas doutrinas francesas de guerra, o que incluía uma formação dos seus oficiais com base no Positivismo de Auguste Comte e de Benjamim Constant. Alternativa errada.

 
  • c)  rebeldia difundida entre os quadros do alto oficialato.

Como já explicado, os movimentos rebeldes partiam, sobretudo, do jovem oficialato do Exército. Além disso, tenente é a patente mais baixa entre os oficiais das Forças, não fazendo sentido se pensar que os altos quadros teriam esse nome. Alternativa errada.

 
  • d)  articulação dos militares com o movimento popular organizado.

Ainda que contasse com certa simpatia urbana, principalmente entre uma classe média educada das principais cidades brasileiras; o tenentismo era muito fechado dentro da caserna e sem maiores preocupações com a mobilização popular. Pelo contrário, de uma maneira geral, os tenentistas tinham uma visão muito verticalizada de sociedade, na qual o processo de desenvolvimento deveria se dar de cima para baixo, com os princípios gerais do Positivismo sendo sobrepostos a qualquer vantagem popular. Não por acaso, a expressão tenentista que chegou ao poder acabaria por assumir a forma de um governo autoritário que insistia na necessidade de imposição estatal. Alternativa errada.

 
  • e)  profissionalização do Exército nas primeiras décadas do século XX.

A alternativa é um tanto quanto imprecisa. De fato, historicamente, a Marinha sempre foi tida como a Arma preferida do Império, sendo sempre a mais prestigiada e detentora de melhor organização. No entanto, a Guerra do Paraguai (1864-1870) provaria que os anos de descuido com o Exército gerava grandes limitações à sua operação, exigindo esforços significativos para a reorganização geral e a profissionalização. Já na década de 1870 essas transformações começariam a ser implementadas e, na década seguinte, dariam sinais claros com um oficialato profundamente marcado pelo Positivismo, o que levaria à adesão da Força à causa republicana. Na década de 1910, de fato, algumas transformações importantes surgiriam, principalmente a contratação da Missão Militar Francesa em 1919, que reformou as doutrinas de guerra e várias das práticas do Exército como um todo. No entanto, é muito delicado dizer qual momento foi mais decisivo ou dizer que a profissionalização do oficialato só se daria de fato em 1919, uma vez que asa escolas superiores já existiam desde o século XIX. Ou seja, não é possível afirmar que a alternativa está inteiramente correta, apesar de todas as outras estarem claramente erradas.

   

Como fica claro acima, não resta nenhuma alternativa completamente correta. Na nossa opinião, a imperícia da banca deveria redundar na ANULAÇÃO da questão em tela.

 

Nosso gabarito: ANULADA

Gabarito da banca: ALTERNATIVA E

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