No início do século XX (1904), ocorreu no Rio de Janeiro uma revolta popular contra medidas que visavam erradicar a febre amarela. A população pobre, principalmente, reagia à vacinação obrigatória contra a varíola. Da parte da República, a questão era mencionada de forma objetiva: era necessário priorizar a saúde, tema que era parte da agenda intelectual e política brasileira desde fins do século XIX. Os intelectuais estavam atentos à forte incidência de moléstias tropicais e outras doenças da cidade e do meio rural. A respeito desse contexto, assinale a alternativa INCORRETA.
- A) Apesar de questionáveis as teorias elaboradas ao longo do século XIX por profissionais brasileiros como Nina Rodrigues, o país sofria com uma série de epidemias e nas estatísticas médicas a lista de moléstias contagiosas era enorme.
- B) As patologias do Brasil atingiam a todos, eram consideradas um problema emergencial e os grandes alvos das expedições higienistas eram os moradores do centro das cidades, proprietários de escravos e grandes comerciantes, que desejavam prevenir os males.
- C) A manifestação contra a operação liderada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz foi resultado da má informação. A incompreensão provocou a quebra de meios de transportes, a depredação de edifícios e ataques a agentes higienistas. O governo reagiu com violência e decretou estado de sítio.
- D) Naquele contexto, a mestiçagem era considerada um grande mal, visto que, de acordo com o darwinismo racial e a antropologia criminal de Cesare Lombroso, os mestiços eram passíveis de todo o tipo de degeneração hereditária: eles estariam mais propensos à criminalidade, à loucura e outros estigmas.
- E) O cenário das epidemias da cólera, febre amarela, varíola e peste bubônica era agravado pelo predomínio de habitações populares que eram chamadas de choças. Eram feitas de barro, o habitat natural para o inseto barbeiro, transmissor da doença de Chagas.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) As patologias do Brasil atingiam a todos, eram consideradas um problema emergencial e os grandes alvos das expedições higienistas eram os moradores do centro das cidades, proprietários de escravos e grandes comerciantes, que desejavam prevenir os males.
Gabarito: Letra B
A questão quer saber qual alternativa é a incorreta.
Em 1904 as ruas do Rio de Janeiro, capital da República, foram tomadas por uma onda de protestos e conflitos contra medidas que visavam erradicar uma série de doenças, dentre as quais, a febre amarela e a varíola.
A população mais pobre da capital estava sendo alvejada pelas medidas sanitaristas do governo republicano que adentrava o século XX com a ótica de fazer do Brasil uma vitrine para o capital estrangeiro.
As campanhas sanitaristas de Oswaldo Cruz fazem parte de um conjunto de medidas que visavam à melhoria da capital federal, que incluiu também a reforma do porto e das principais ruas e avenidas da cidade.
Naquela época, as doenças atingiam a todos, mas os principais alvos das ações higienistas eram as populações do campo, os ex-escravizados, os moradores dos cortiços e favelas, os imigrantes e os marinheiros.
As demais estão corretas, pois:
Letra A: Apesar de questionáveis as teorias elaboradas ao longo do século XIX por profissionais brasileiros como Nina Rodrigues, o país sofria com uma série de epidemias e nas estatísticas médicas a lista de moléstias contagiosas era enorme.
Desde o final do século XIX, o tema da saúde estava na agenda intelectual e política brasileira, gerando preocupações. As autoridades médicas diziam que o país era um “imenso hospital” devido à quantidade de moléstias que constavam nas estatísticas médicas. Podemos citar a cólera, a doença de Chagas, a sífilis, a tuberculose, o tracoma, a febre amarela, a varíola e a peste bubônica.
Letra C: A manifestação contra a operação liderada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz foi resultado da má informação. A incompreensão provocou a quebra de meios de transportes, a depredação de edifícios e ataques a agentes higienistas. O governo reagiu com violência e decretou estado de sítio.
De acordo com Lilia M. Schwarcz, a manifestação de 1904 foi deflagrada contra a operação liderada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz foi resultado da má informação. Durante uma semana houve quebra de meios de transporte, depredação de edifícios e ataques a agentes higienistas. O governo por sua vez reagiu à violência popular com mais violência, decretando estado de sítio, suspendendo direitos constitucionais, prendendo líderes do movimento e os deportando para o Acre.
Letra D: Naquele contexto, a mestiçagem era considerada um grande mal, visto que, de acordo com o darwinismo racial e a antropologia criminal de Cesare Lombroso, os mestiços eram passíveis de todo o tipo de degeneração hereditária: eles estariam mais propensos à criminalidade, à loucura e outros estigmas.
Nos debates promovidos por intelectuais, políticos, médicos, a mestiçagem era vista como um mal. Teorias como darwinismo racial e a antropologia criminal de Cesare Lombroso faziam sucesso no país. Os argumentos usados à época defendiam que os mestiços estariam mais propensos à criminalidade, à loucura e a outros estigmas próprios de seu grupo racial.
Letra E: O cenário das epidemias da cólera, febre amarela, varíola e peste bubônica era agravado pelo predomínio de habitações populares que eram chamadas de choças. Eram feitas de barro, o habitat natural para o inseto barbeiro, transmissor da doença de Chagas.
Com um quadro grave de doenças, ainda havia locais considerados como propagadores ou mesmo como foco dessas doenças. As autoridades sanitárias tinham como principal alvo as casas populares chamadas de choças, que eram feitas de barro. O barro é um importante esconderijo para o inseto chamado de barbeiro, transmissor da doença de Chagas.
Referência:
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
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