No início dos anos 20, no Brasil surgiu uma crise no interior do movimento anarquista, de um lado pelos resultados obtidos pelas greves e, de outro, pelo triunfo dos comunistas na Rússia revolucionária. No Brasil, os comunistas tinham projetos que se distinguiam, grosso modo,dos ideais anarquistas. Entre eles, podemos citar:
- A) os comunistas defendiam a valorização do Estado e uma transição passando pela ditadura do proletariado, enquanto os anarquistas viam a questão política e os partidos como campo de emergência de novas desigualdades.
- B) os anarquistas negavam a propriedade privada e o Estado, enquanto os comunistas aceitavam a propriedade privada dos meios de produção e a conciliação com a burguesia nacional.
- C) os comunistas negavam o Estado e a propriedade privada, enquanto os anarquistas defendiam um estado popular centralizado e o acesso à propriedade fundiária para os camponeses.
- D) os anarquistas lutavam pelo mutualismo contratualista, enquanto os comunistas defendiam o Estado descentralizado e a manutenção da propriedade privada em mãos do proletariado.
- E) os comunistas lutavam pelo direito à greve operária e à formação de sindicatos, enquanto os anarquistas defendiam a negociação com a burguesia através de sindicatos conciliadores dos conflitos capital-trabalho.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) os comunistas defendiam a valorização do Estado e uma transição passando pela ditadura do proletariado, enquanto os anarquistas viam a questão política e os partidos como campo de emergência de novas desigualdades.
Gabarito: ALTERNATIVA A
A construção do enunciado é um pouco truncada, chegando a dar a impressão de que as diferenças entre anarquismo e comunismo só podiam ser verificadas no Brasil da década de 1920, enquanto há diferenças conceituais profundíssimas entre as duas correntes de pensamento. Factualmente, no entanto, há de se observar que havia uma cisão política entre anarquistas e comunistas naquele momento brasileiro. Ocorre que, trazido por operários europeus (destacadamente italianos), o anarco-sindicalismo foi o esteio elementar da organização dos trabalhadores brasileiros entre o fim do século XIX e o início do século seguinte. Seriam os anarco-sindicalistas as forças mais importantes para a viabilização da greve geral de 1917, que afetou as principais cidades brasileiras e mostrou a força do movimento, mas seria duramente reprimida, inclusive com a deportação de importantes lideranças. Ou seja, ao passo que Lênin mostrava a força do comunismo a partir da Revolução Russa (1917), o anarquismo deu uma demonstração de força no Brasil, mas seus efeitos e os reveses gerais do movimento levantavam dúvidas sobre a sua viabilidade. Com isso, o comunismo passou a ser crescente na organização trabalhista brasileira, que foi, progressivamente, afastando-se de suas raízes anarquistas.
A Revolução Russa foi paradigmática para as esquerdas revolucionárias de todo mundo, principalmente com o triunfo do leninismo na experiência russa, que se conformaria na União Soviética. Para Lênin, caberia à vanguarda do proletariado acelerar o processo histórico descrito por Marx, demolindo as bases estruturais do capitalismo por meio de um estágio intermediário socialista anterior ao comunismo durante o qual se estabeleceria uma ditadura do proletariado à testa de um Estado robusto capaz de fazer todas as intervenções necessárias e de guiar a sociedade para a coletivização plena. Desta forma, instalava-se um aparato estatal muito centralizado e forte para que os meios de produção fossem expropriados pelo Estado em nome das massas pensando a coletivização dos meios e das riquezas em si. Isto é, acelerava-se acentuadamente o processo de transformação para que as forças dirigentes guiassem a população no sentido da transformação decisiva em favor do comunismo e da futura abolição do Estado.
O anarquismo, pelo contrário, pressupõe a abolição total do Estado e a liberdade individual sem qualquer forma de limitação ou de constrangimento. Ou seja, os comunistas entendiam que era necessário, primeiro, apear o controle burguês do Estado por meio da instalação de uma ditadura do proletariado robusta - o que, não raro, implicaria em regimes totalitários muito violentos -; enquanto os anarquistas queriam simplesmente abolir toda e qualquer forma de Estado sem qualquer transição. Nessa segunda leitura, era necessário agir na direção de extinguir todas as formas de controle, independente de quem faria este controle; uma vez quem, para o anarquismo, a liberdade e a igualdade só poderiam ser de fato alcançadas pela extinção completa das relações de controle. Assim, observemos as alternativas propostas.
a) os comunistas defendiam a valorização do Estado e uma transição passando pela ditadura do proletariado, enquanto os anarquistas viam a questão política e os partidos como campo de emergência de novas desigualdades.
b) os anarquistas negavam a propriedade privada e o Estado, enquanto os comunistas aceitavam a propriedade privada dos meios de produção e a conciliação com a burguesia nacional.
c) os comunistas negavam o Estado e a propriedade privada, enquanto os anarquistas defendiam um estado popular centralizado e o acesso à propriedade fundiária para os camponeses.
d) os anarquistas lutavam pelo mutualismo contratualista, enquanto os comunistas defendiam o Estado descentralizado e a manutenção da propriedade privada em mãos do proletariado.
e) os comunistas lutavam pelo direito à greve operária e à formação de sindicatos, enquanto os anarquistas defendiam a negociação com a burguesia através de sindicatos conciliadores dos conflitos capital-trabalho.
Portanto, está correta a ALTERNATIVA A.
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