“O Rio de Janeiro, no começo do século XX, era a porta de entrada dos navios estrangeiros que se estabeleciam e afligiam a cidade, contatos econômicos com o Brasil. Capital da República, a cidade também era marcada pela desordem urbana, oriunda da ausência de planejamento na ocupação e pelos perigos oferecidos dos viajantes em relação às várias problemáticas sociais que afligiam a cidade. As principais capitais europeias passavam pelos mesmos problemas, bem como por tentativas de redefinição do espaço urbano.”
(ZALUAR, Alba e ALVITO, Marcos, 1998. Com adaptações.)
Nesse contexto, permeado também por discrepâncias sociais e insatisfação política, eclodiram inúmeros movimentos sociais entre os quais podemos destacar:
- A) A Insurreição de Canudos, uma insatisfação dos marinheiros com os castigos físicos.
- B) A Praieira, dirigida principalmente por um grupo coeso de intelectuais, que além de criticar a ordem vigente, preconizavam o liberalismo político.
- C) A Revolta da Vacina, que caracterizou uma revolta contra a política sanitarista, ao mesmo tempo que trazia em si, outras questões culturais latentes.
- D) A Sabinada, uma rebelião de cunho especificamente político, que chegou a angariar a simpatia de classes médias urbanas, bem como de classes menos abastadas.
- E) A Revolta da Armada, que apesar de ter uma motivação de um grupo específico da sociedade, acabou por se expandir a outros nichos, tornando-se, acima de tudo, uma questão política.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) A Revolta da Vacina, que caracterizou uma revolta contra a política sanitarista, ao mesmo tempo que trazia em si, outras questões culturais latentes.
Gabarito: Letra C
(A Revolta da Vacina, que caracterizou uma revolta contra a política sanitarista, ao mesmo tempo que trazia em si, outras questões culturais latentes.)
Essa questão poderia ser resolvida através da escolha de uma alternativa que tratasse de uma revolta que ocorreu no século XX e na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República.
Portanto, a única alternativa possível é a Revolta da Vacina, episódio que ocorreu em 1904, na área central da cidade do Rio de Janeiro.
Foi uma revolta popular contra a política higienista e sanitarista promovida pelo governo federal, que tinha como representante da área da saúde, o médico Oswaldo Cruz. A revolta era contra a vacinação obrigatória da varíola tornada lei pelo congresso nacional. Cabe salientar que o governo federal não fez nenhum trabalho de conscientização e esclarecimento sobre essa vacinação, não fez por exemplo nenhuma campanha de orientação da população.
Além disso, a população se revoltou também devido às reformas na cidade que tinham pretextos “modernizadores e embelezadores” promovida pelos executivos federal e municipal, na pessoa de Rodrigues Alves e Pereira Passos respectivamente. Essas reformas abriram ruas, avenidas, parques e derrubaram cortiços, outras moradias habitacionais, fecharam quiosques e casas de comércio, além de derrubarem parte de morros, como o Morro do Castelo, acabaram expulsando a população para outros morros do centro da capital e para o subúrbio.
A revolta contra a vacina também era uma resistência na mentalidade cultural da população que não desejava ser vacinada, muitos maridos não queriam ver suas esposas sendo “espetadas” por outros homens como se dizia na época.
Para a população que seguia as tradições africanas, a vacinação impedia a ação do orixá Omolu, que tinha o poder de espalhar a doença e, ao mesmo tempo, ser o único capaz de proteger esse grupo social.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: A Insurreição de Canudos, uma insatisfação dos marinheiros com os castigos físicos.
A Guerra de Canudos ocorreu em fins do século XIX, nos sertão baiano e não foi por causa dos castigos físicos, mas pela formação de uma comunidade rural sertaneja que retirava a mão de obra dos fazendeiros locais. A guerra foi uma aliança entre governo local, estadual e federal que não aceitavam a formação dessa comunidade. A Revolta da Chibata é que tinha dentre os motivos para a eclosão os castigos físicos aplicados pela Marinha.
Letra B: A Praieira, dirigida principalmente por um grupo coeso de intelectuais, que além de criticar a ordem vigente, preconizavam o liberalismo político.
A Revolta da Praieira ocorreu em 1848, no Segundo Reinado, no Recife. Portanto, não foi no Rio de Janeiro e nem no século XX.
Letra D: A Sabinada, uma rebelião de cunho especificamente político, que chegou a angariar a simpatia de classes médias urbanas, bem como de classes menos abastadas.
A Sabinada foi uma rebelião ocorrida durante o período regencial, portanto, no século XIX em Salvador, na Bahia.
Letra E: A Revolta da Armada, que apesar de ter uma motivação de um grupo específico da sociedade, acabou por se expandir a outros nichos, tornando-se, acima de tudo, uma questão política.
A Revolta da Armada ocorreu em dois momentos distintos da república em fins do século XIX. Foi promovida por setores específicos da Marinha e era contra o governo de Deodoro e depois de Floriano Peixoto. Entre os motivos da revolta podemos destacar a impopularidade de Deodoro, a demissão de ministros da Marinha, as acusações do governo federal de apoiar um governo estadual que era considerado uma ditadura.
Referência:
BENCHIMOL, Jaime Larry. “Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro”. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930 – Primeira República (1889-1930). Volume 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
FLORES, Elio Chaves. “A consolidação da República: rebeliões de ordem e progresso”. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930 – Primeira República (1889-1930). Volume 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
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