Os seus líderes terminaram presos e assassinados. A “marujada” rebelde foi inteiramente expulsa da esquadra. Num sentido histórico, porém, eles foram vitoriosos. A “chibata” e outros castigos físicos infamantes nunca mais foram oficialmente utilizados; a partir de então, os marinheiros – agora respeitados – teriam suas condições de vida melhoradas significativamente. Sem dúvida fizeram avançar a História.
MAESTRI, M. 1910: a revolta dos marinheiros – uma saga negra. São Paulo: Global, 1982.
A eclosão desse conflito foi resultado da tensão acumulada na Marinha do Brasil pelo (a)
- A) engajamento de civis analfabetos após a emergência de guerras externas.
- B) insatisfação de militares positivistas após a consolidação da política dos governadores.
- C) rebaixamento de comandantes veteranos após a repressão a insurreições milenaristas.
- D) sublevação das classes populares do campo após a instituição do alistamento obrigatório.
- E) manutenção da mentalidade escravocrata da oficialidade após a queda do regime imperial.
Resposta:
A alternativa correta é letra E) manutenção da mentalidade escravocrata da oficialidade após a queda do regime imperial.
Gabarito: ALTERNATIVA E
Os seus líderes terminaram presos e assassinados. A “marujada” rebelde foi inteiramente expulsa da esquadra. Num sentido histórico, porém, eles foram vitoriosos. A “chibata” e outros castigos físicos infamantes nunca mais foram oficialmente utilizados; a partir de então, os marinheiros - agora respeitados - teriam suas condições de vida melhoradas significativamente. Sem dúvida fizeram avançar a História. MAESTRI, M. 1910: a revolta dos marinheiros - uma saga negra. São Paulo: Global, 1982.
- A eclosão desse conflito foi resultado da tensão acumulada na Marinha do Brasil pelo (a)
Como é típico do ENEM, a estrutura da questão está voltada para a interpretação de texto bastante simples e sem exigir um conhecimento aprofundado sobre o tema em si. O trecho citado do livro de Mário Maestri Filho faz referência à vitória, em perspectiva histórica, dos marinheiros revoltosos de 1910: o fim dos castigos físicos na Marinha brasileira. Ora, se este é o sintoma da vitória de longo prazo, pode-se inferir que o motivo das tensões que levaram à revolta era a aplicação desses castigos sobre os marinheiros - correlação lógica bastante evidente. De toda forma, é interessante que o estudante saiba que a Revolta dos Marinheiros de 1910 (também conhecida como Revolta da Chibata) foi um levante de quatro dias ocorrido em novembro daquele ano sob a liderança de João Cândido. Naquele momento, a Marinha estava sendo modernizada ao mesmo tempo em que mantinha práticas de disciplina e de controle sobre os subalternos bastante atrasadas; na prática, isso implicava em restringir a participação negra aos postos mais baixos da hierarquia ao mesmo tempo em que essa mesma hierarquia permitia que os oficiais (praticamente todos brancos) pudessem usar de castigos físicos contra os subalternos mesmo para transgressões leves. O plano dos amotinados foi assumir o controle dos dois modernos couraçados recém-adquiridos pela Marinha além de algumas outras embarcações centrais para o funcionamento da Força. Com os marinheiros no controle dos navios sem a possibilidade de resposta violenta sem grandes prejuízos pelo Estado, o governo foi forçado a negociar e o Parlamento agiu para aprovar leis que flexibilizassem as relações entre os marinheiros negros e a Marinha e que proibiam o açoite como medida disciplinar. Ainda que os revoltosos tenham sido anistiados num primeiro momento, acabaram sendo perseguidos e expulsos da carreira militar nos meses seguintes. À luz desses primeiros esclarecimentos, observemos as alternativas que seguem.
- a) engajamento de civis analfabetos após a emergência de guerras externas.
Em 1910, fazia exatos quarenta anos que o Brasil não se engajava em nenhuma guerra, tendo sido a última a Guerra do Paraguai (1864-1870). Além disso, foi o Exército, e não a Marinha, quem sofreu as transformações mais importantes depois do conflito no Paraguai, sendo necessário reorganizar a maneira de pensar os efetivos armados do país. Alternativa errada.
- b) insatisfação de militares positivistas após a consolidação da política dos governadores.
De fato, havia uma expressiva insatisfação dos militares positivistas com os governos civis da Primeira República (1889-1930), que organizou a política dos governadores para que as oligarquias controlassem o Estado pela manutenção do status quo, o que implicava no aparelhamento estatal a favor dos interesses das oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais. Na prática, isso significava o aprofundamento da agroexportação e o distanciamento dos ideias de modernização e de profissionalismo do positivismo, fundamentais no momento da Proclamação da República. No entanto, essas insatisfações militares com base no pensamento positivista só se adensariam de maneira decisiva na década de 1920 no momento do tenentismo, quando vários movimentos armados partiram dos quartéis para contestar a estrutura política brasileira. Alternativa errada.
- c) rebaixamento de comandantes veteranos após a repressão a insurreições milenaristas.
As insurreições milenaristas são aquelas fundamentadas num radicalismo religioso segundo o qual o triunfo da insurreição resultaria no retorno de Jesus Cristo para estabelecer um reino de mil anos. Ou seja, uma mistura de messianismo com fundamentalismo sendo vocalizada por um movimento armado contra uma ordem instaurada, que, na visão dos revoltosos, concentraria todos os vícios condenados pela fé. No Brasil, houve algumas claras insurreições dessa natureza, como a Guerra do Contestado (1912-1916), o caso da Pedra Bonita (1836-1838) e o caso do Catulé (1955). Apenas na Guerra do Contestado houve uma intervenção militar mais forte e dela não resultou nenhuma punição contra os oficiais, cuja ação de força foi apoiada pelo governo central. Alternativa errada.
- d) sublevação das classes populares do campo após a instituição do alistamento obrigatório.
Ora, como está bem claro no texto citado no enunciado, tratou-se de uma rebelião na Marinha entre marinheiros já bem estabelecidos. Ou seja, não há correlação nenhuma com o campo brasileiro ou com novos conscritos. Alternativa errada.
- e) manutenção da mentalidade escravocrata da oficialidade após a queda do regime imperial.
O corte racista inerente ao escravismo brasileiro permaneceu em muitas estruturas sociais durante muitas décadas. No caso da Marinha, os castigos físicos refletiam e aprofundavam esta questão, uma vez que dava aos oficiais brancos dispor fisicamente dos seus subalternos negros sem nenhuma forma efetiva de controle ou de limitação. O abuso perpetuado no tempo adensou contradições no Brasil republicano numa revolta grave contra as práticas anacrônicas da Marinha, ainda pertencentes, em parte, às mentalidades escravocratas do período monárquico. ALTERNATIVA CORRETA.
Note bem o estudante que a banca só fez associar os castigos físicos à mentalidade escravocrata opondo o oficialato branco aos marinheiros negros no contexto da Revolta da Chibata. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA E.
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