Questões Sobre Primeira República - História - concurso
271) Durante a chamada Primeira República, ocorreu o predomínio das oligarquias agrário-estaduais na vida política nacional, em especial as de São Paulo e Minas Gerais. Qualquer possibilidade de oposição concreta era bem difícil, embora, em alguns momentos, tenha havido rupturas e divergências intra-oligárquicas. Exemplo disso foi a Reação Republicana de 1922, motivada pela
- A) oposição da oligarquia paulista articulada em torno de Rui Barbosa contra o candidato situacionista apoiado pela oligarquia mineira.
- B) reação da oligarquia mineira à indicação do nome de Antônio Carlos de Andrada para sucessão de Washington Luís.
- C) articulação das oligarquias do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul, contra o candidato oficial do Café-com-leite.
- D) adesão dos maragatos gaúchos aos ideais de Custódio Melo em favor de um governo parlamentarista.
A resposta correta desta questão é:
A alternativa correta é letra C) articulação das oligarquias do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul, contra o candidato oficial do Café-com-leite.
272) Nas revoltas e guerras, um dos sons mais significativos, pela carga de dor que traz e pelos desdobramentos político-sociais que produz, é o dos tiros. A década de 30 do século XX começou com um dos eventos mais decisivos da história do Brasil, não importando se sua designação consagrada — Revolução de 1930 — tenha suscitado muitos debates na área acadêmica sobre seu real ou autêntico caráter revolucionário, como movimento de transformação das estruturas socioeconômicas do país. Entre esses dramáticos sons de abertura e desfecho, ainda houve uma guerra civil (a Revolução Constitucionalista de 1932). Além disso, esse foi o momento em que eclodiu a Segunda Guerra Mundial, cujos impactos na vida política e econômica brasileira foram grandes.
- A) Certo
- B) Errado
A alternativa correta é letra A) Certo
Gabarito: CORRETO
Nas revoltas e guerras, um dos sons mais significativos, pela carga de dor que traz e pelos desdobramentos político-sociais que produz, é o dos tiros. A década de 30 do século XX começou com um dos eventos mais decisivos da história do Brasil, não importando se sua designação consagrada — Revolução de 1930 — tenha suscitado muitos debates na área acadêmica sobre seu real ou autêntico caráter revolucionário, como movimento de transformação das estruturas socioeconômicas do país. Entre esses dramáticos sons de abertura e desfecho, ainda houve uma guerra civil (a Revolução Constitucionalista de 1932). Além disso, esse foi o momento em que eclodiu a Segunda Guerra Mundial, cujos impactos na vida política e econômica brasileira foram grandes. Angela de Castro Gomes. As marcas do período. In: Lilia Moritz Schwarcz (Dir.). História do Brasil nação: 1808-2010. Vol. 4 (Olhando para dentro: 1930-1964). Madri: Fundación Mapfre; Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 24 (com adaptações).
Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item subsequente, considerando o contexto histórico brasileiro a partir da última década da Primeira República.
- A crise aguda da Primeira República já se pronunciava no quatriênio do mineiro Artur Bernardes, de que dá mostra o estado de sítio mantido por todo o seu governo. A sucessão de Washington Luís, vencida pelo também candidato paulista governista Júlio Prestes, tornou irreversível a ruptura do sistema político que tinha na alternância entre São Paulo e Minas Gerais na Presidência da República um de seus pontos de equilíbrio.
Apesar de conter muitas informações menores, pode-se identificar que o item tem por tema central a crise do pacto entre as oligarquias mineira e paulista. A chamada Política do Café com Leite preconizava um pacto tácito entre mineiros e paulistas segundo o qual as duas elites se mobilizariam em prol de um único candidato para a presidência, o que, na prática, estabelecia tanto o controle eleitoral quanto garantia a estabilidade política do regime. Em 1918, sucedendo o mineiro Venceslau Brás, o Partido Republicano Paulista (PRP) voltava à presidência com Rodrigues Alves; no entanto, o presidente eleito morreria antes de tomar posse, o que, seguindo a Constituição de 1891, exigia a realização de novas eleições. A oligarquia mineira tomaria para si a frente da nova eleição, mas os paulistas insistiriam na questão da alternância; disso resultaria na escolha e na vitória do paraibano Epitácio Pessoa, membro do Partido Republicano Mineiro (PRM), que governaria entre 1919 e 1922, cumprindo o mandato que coubera inicialmente a Rodrigues Alves e ao PRP. Até então, apenas o gaúcho marechal Hermes da Fonseca fora eleito presidente sem ser oriundo nem de São Paulo nem de Minas Gerais.
Quando da sucessão de Pessoa, o PRM entendeu que lhe competia a primazia para indicar o candidato à presidência, já que a última eleição fora marcada pela morte do candidato paulista e pela escolha de uma "terceira via". Nesse sentido, foi lançada a candidatura de Artur Bernardes pelo PRM numa eleição muito acirrada contra Nilo Peçanha, que contava com o apoio de importantes elites descontentes com o acordo entre paulistas e mineiros. Bernardes chegaria à presidência em 1922 em meio a uma grave crise com setores do Exército, na eminência dos levantes tenentistas que acabariam por marcar o seu governo e com a situação política no Rio Grande do Sul se deteriorando para uma guerra civil. Com todo o quadro de instabilidade se agravando, o novo presidente decretaria o estado de sítio logo no primeiro ano de governo e assim manteria até o final do mandato.
Em 1926, o PRP retornaria ao poder com Washington Luís, que não renovaria o estado de sítio, mas que não conseguiria reverter o esgarçamento político entre as elites, tampouco faria refluir de fato a insatisfação expressa pelo tenentismo. Em 1930, o PRP reclamaria para si o direito de indicar o presidente seguinte, uma vez que houvera dois mandatos consecutivos encabeçados pelo PRM (Epitácio Pessoa e Artur Bernardes), o qual, por sua vez, discordava dos paulistas pelas condições excepcionais da eleição de Pessoa. Sem acordo entre as oligarquias, o PRP lançaria Julio Prestes como candidato e o PRM se aliaria com as demais elites descontentes em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Num processo eleitoral eivado por fraudes escandalosas, Julio Prestes foi eleito presidente, mas a crise política tinha chegado a um ponto insustentável sem que houvesse mais a força do acordo entre as duas grandes oligarquias. Sem força política e com a ordem pública fragilizada por quase uma década de contestações, Washington Luís foi apeado do poder nos últimos dias do seu mandato pelo Golpe de 1930.
Note bem o estudante que, tendo como ponto focal a crise da Política do Café com Leite, o avaliador conseguiu incluir uma série de observações menores para aferir o conhecimento sobre a República Velha. Sem mais, o item está CORRETO.
273) Trecho I
- A) Democracia e Ditadura.
- B) Oligarquia e Aristocracia.
- C) Federalismo e Centralismo.
- D) Parlamentarismo e Presidencialismo.
A alternativa correta é letra C) Federalismo e Centralismo.
Gabarito: alternativa C)
Os dois trechos apresentados na questão tratam de dois sistemas políticos administrativos.
Quando menciona o unitarismo do império, o texto está falando da centralização do poder na figura do monarca, materializada mais notadamente pelas atuações de Dom Pedro I e Dom Pedro II no Brasil imperial.
Os trechos também falam do deslocamento de poder para os estados e da autonomia estadual como uma reivindicação, elementos que remontam ao sistema federalista de governo.
Dessa forma, os trechos estão apresentando argumentos que permeiam o embate entre o centralismo e o federalismo que esteve presente, sobretudo, no Brasil do século XIX e resultou em movimentos separatistas, como o que é mencionado no trecho II.
Portanto, o gabarito é c) Federalismo e Centralismo.
274) A campanha sucessória do presidente Nilo Peçanha provocou o rompimento temporário das relações café com leite. Os paulistas se viram ameaçados e decidiram romper o acordo com os mineiros, lançando Rui Barbosa como candidato civil em oposição ao militar Hermes da Fonseca.
- A) o Paraná.
- B) a Paraíba.
- C) Pernambuco.
- D) a Bahia.
- E) Santa Catarina.
A alternativa correta é letra D) a Bahia.
Gabarito: Letra D
A questão versa sobre a Campanha Civilista de Rui Barbosa para a presidência da República em 1909. Analisemos as alternativas em busca da afirmativa correta.
a) o Paraná.
Alternativa Incorreta: Apenas os Estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro apoiaram a campanha civilista de Rui Barbosa para a presidência da República em 1909, o Paraná e os demais estados da federação apoiaram a candidatura de Hermes da Fonseca.
b) a Paraíba.
Alternativa Incorreta: Apenas os Estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro apoiaram a campanha civilista de Rui Barbosa para a presidência da República em 1909, a Paraíba e os demais estados da federação apoiaram a candidatura de Hermes da Fonseca.
c) Pernambuco.
Alternativa Incorreta: Apenas os Estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro apoiaram a campanha civilista de Rui Barbosa para a presidência da República em 1909, Pernambuco e os demais estados da federação apoiaram a candidatura de Hermes da Fonseca.
d) a Bahia.
Alternativa Correta: Em 1909, Rui Barbosa foi indicado pelas oligarquias paulista e baiana como candidato de oposição ao gaúcho Hermes da Fonseca. Rui representava a Campanha Civilista, apoiada pelo estado do Rio de Janeiro, na disputa pela presidência da República contra a campanha militar de Hermes da Fonseca.
e) Santa Catarina.
Alternativa Incorreta: Apenas os Estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro apoiaram a campanha civilista de Rui Barbosa para a presidência da República em 1909, Santa Catarina e os demais estados da federação apoiaram a candidatura de Hermes da Fonseca.
Referências:
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 3. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
VAINFAS, Ronaldo et ali. História: o mundo por um fio: do século XX ao XXI, volume 3. São Paulo: Saraiva, 2010.
275) Getúlio Vargas conseguiu destacar-se na cena política nacional, e por isso a primeira fase de governo dele na chefia da República, entre os anos 1930 e 1945, ficou conhecida como Era Vargas.
- A) ao fortalecimento das oligarquias.
- B) à aliança entre Minas e São Paulo.
- C) à ruptura política entre as oligarquias estaduais.
- D) ao fortalecimento da política do café com leite.
Resposta
A alternativa correta é letra C) à ruptura política entre as oligarquias estaduais.
Explicação
A ascensão de Getúlio Vargas à presidência do país em 1930 ocorreu devido à ruptura política entre as oligarquias estaduais. Isso porque as oligarquias, que eram grupos políticos que controlavam os governos estaduais, começaram a se desentender e a perder poder, o que criou um vácuo de poder que Vargas aproveitou para se eleger presidente.
276) Getúlio Vargas conseguiu destacar-se na cena política nacional, e por isso a primeira fase de governo dele na chefia da República, entre os anos 1930 e 1945, ficou conhecida como Era Vargas.
- A) ao fortalecimento das oligarquias.
- B) à aliança entre Minas e São Paulo.
- C) à ruptura política entre as oligarquias estaduais.
- D) ao fortalecimento da política do café com leite.
Resposta
A alternativa correta é letra C) à ruptura política entre as oligarquias estaduais.
Explicação
Getúlio Vargas ascendeu à presidência do país em 1930 após uma crise política que envolvia as oligarquias estaduais. A ruptura política entre essas oligarquias criou um vácuo de poder que permitiu a Vargas se consolidar como líder nacional.
As oligarquias estaduais, que eram grupos políticos que controlavam os governos estaduais, haviam se tornado muito poderosas e começaram a se confrontar entre si. Isso criou uma instabilidade política que permitiu a Vargas, que era o chefe do governo provisório, se consolidar como líder nacional e posteriormente se tornar presidente.
As outras opções não são corretas porque:
- A) O fortalecimento das oligarquias estaduais não foi o fator que permitiu a ascensão de Vargas, mas sim a ruptura entre elas.
- B) A aliança entre Minas e São Paulo foi uma tentativa de estabilizar a situação política, mas não foi o fator que permitiu a ascensão de Vargas.
- D) A política do café com leite foi uma aliança entre os estados de São Paulo e Minas Gerais que dominou a política brasileira durante a República Velha, mas não foi o fator que permitiu a ascensão de Vargas.
277) Nunca houve tempo em que se inventassem, com tanta perfeição, tantas ladroeiras legais. A fortuna particular de alguns, em menos de dez anos, quase que quintuplicou; mas o Estado, os pequenos burgueses e o povo, pouco a pouco, foram caindo na miséria mais atroz.
- A) Uma aliança dos primeiros governos com o Partido Comunista, através da sua legalização e da participação de lideres comunistas em ministérios, permitiu o controle dos sindicatos pelo Governo Federal.
- B) A “Política dos Governadores” foi responsável pela extinção de revoltas internas, como a de Canudos e a do Contestado, a primeira de caráter messiânico e a segunda de características apenas socioeconômicas.
- C) O Exército foi excluído da política governamental, passando a dedicar-se unicamente às questões da "caserna”.
- D) A falta de uma ideologia política de classe tornou impossível a união do operariado, que se manteve, consequentemente, longe da política e incapacitado de lutar pelos seus direitos.
- E) A Crise de 1929 contribuiu para o desequilíbrio da economia, devido à retração da demanda do café no mercado internacional e ao fracasso da política de valorização artificial desse produto.
A alternativa correta é letra E) A Crise de 1929 contribuiu para o desequilíbrio da economia, devido à retração da demanda do café no mercado internacional e ao fracasso da política de valorização artificial desse produto.
Gabarito: Letra A
A Crise de 1929 contribuiu para o desequilíbrio da economia, devido à retração da demanda do café no mercado internacional e ao fracasso da política de valorização artificial desse produto.
O trecho de texto apresentado pela questão pertence ao escritor Lima Barreto, que foi um grande crítico da Primeira República brasileira.
No final da Primeira República ocorreu uma crise econômica e política que levou ao fim desse período inicial da republicano.
A crise econômica brasileira teve início com um importante acontecimento mundial a ser observado: a crise de 1929. A partir dessa crise, iniciada nos Estados Unidos, vários países foram abalados economicamente, inclusive o Brasil, ainda dependente da economia norte-americana.
No Brasil, a crise do capitalismo causou a queda brusca das exportações cafeeiras. Com a recessão econômica vivida pelos Estados Unidos e a consequente redução de vendas, comerciantes estadunidenses também reduziram suas compras. Isso afetou gravemente a economia das nações que dependiam das importações dos EUA.
Foi o caso do Brasil que já vinha produzindo café em grande escala e deixou de vender milhões de sacas para o mercado desse país. Como a política de valorização do café, estabelecida no Convênio de Taubaté, em 1906, havia se encerrado em 1924 e, em 1929, o presidente Washington Luís se negava a conceder novos financiamentos aos cafeicultores, levando-os ao enfraquecimento de seu poder econômico, estabeleceu-se também uma crise política e, nesse contexto, a transição da Primeira República para a Era Vargas.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: Uma aliança dos primeiros governos com o Partido Comunista, através da sua legalização e da participação de líderes comunistas em ministérios, permitiu o controle dos sindicatos pelo Governo Federal.
Não houve uma aliança dos primeiros governos republicanos com o Partido Comunista. Os primeiros governos da República brasileira destacaram-se pela presença de militares no poder e duraram até 1894. Já o Partido Comunista só seria fundado no Brasil em 1922.
Letra B: A “Política dos Governadores” foi responsável pela extinção de revoltas internas, como a de Canudos e a do Contestado, a primeira de caráter messiânico e a segunda de características apenas socioeconômicas.
A Política dos Governadores ou Política dos Estados, não foi uma política de extinção de revoltas internas. Na verdade tratava-se de uma aliança política que unia o governo federal aos governos dos estados, reproduzindo a lógica clientelista de troca de favores, que já ocorria a nível regional, também a nível federal e estadual. Além disso, tanto a revolta de Canudos quanto a do Contestado possuíam caráter messiânico.
Letra C: O Exército foi excluído da política governamental, passando a dedicar-se unicamente às questões da "caserna”.
O exército não foi excluído da política governamental durante a Primeira República. Ao contrário, foi um dos principais grupos envolvidos na proclamação e os primeiros governos republicanos foram chefiados por militares.
Letra D: A falta de uma ideologia política de classe tornou impossível a união do operariado, que se manteve, consequentemente, longe da política e incapacitado de lutar pelos seus direitos.
Nem faltou uma ideologia política a classe trabalhadora e nem essa se manteve longe da política durante a Primeira República, o movimento operário foi atuante no Brasil durante esse período.
Referências:
AZEVEDO, Gislane Campos e SERIACOPI, Reinaldo. História: volume único. São Paulo: Ática, 2005.
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 3. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
VAINFAS, Ronaldo et ali. História: o mundo por um fio: do século XX ao XXI, volume 3. São Paulo: Saraiva, 2010.
278) A história da República brasileira foi marcada por rupturas institucionais. Com relação às crises na República, julgue (C ou E) o seguinte item.
- A) Certo
- B) Errado
A alternativa correta é letra A) Certo
Gabarito: CORRETO
A história da República brasileira foi marcada por rupturas institucionais. Com relação às crises na República, julgue (C ou E) o seguinte item.
- A governabilidade do Brasil durante a chamada República Oligárquica foi alcançada com o que a historiografia convencionou chamar de Política dos Governadores, instituída por Campos Sales. Essa medida tornou possível a articulação entre os interesses das oligarquias estaduais e os do governo federal. O frágil equilíbrio então alcançado teve fim com a crise da década de 20 do século passado, que levou a disputas entre as oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais e resultou no início do Governo Vargas em 1930.
Segundo presidente civil da República Velha (1889-1930), Campos Sales (1898-1902) acabou por dar a forma mais bem acabada do sistema de governabilidade do primeiro período republicano brasileiro, a Política dos Governadores. A legislação eleitoral da época facilitava que as elites locais tivessem grande controle sobre o eleitorado, conseguindo fazer valer suas preferências políticas sobre as urnas, seja pelo voto de cabresto ou pelas recorrentes fraudes eleitorais. Isto é, a realidade eleitoral brasileira tinha de ser pensada sempre em contato direto com essas lideranças fortes de espaços diminutos. No contexto do “teatro das oligarquias” no epicentro do poder político brasileiro, a Política dos Governadores foi fundamental para assentar as demandas fundamentais em torno de um pacto bem organizado de distribuição de recursos e de fidelidade eleitoral.
É fundamental que o candidato tenha em mente que se tratava de um pacto entre elites nos mais diferentes níveis da realidade política nacional, com pouco apego aos compromissos democráticos e republicanos tradicionais. O sistema eleitoral da época previa o voto aberto e censitário, facilitando o controle eleitoral pelo chamado voto de cabresto; além disso, a convergência das autoridades para um pacto entre elites favorecia a ocorrência de fraudes eleitorais. Isto é, o voto e a “voz das urnas” podiam ser facilmente condicionadas pelos chefes políticos locais. No entanto, tais chefes não dispunham de todos os recursos necessários para manter seus prestígios políticos locais, uma vez que o país vivia um pacto federativo frágil, que ainda sofria com as dificuldades de se estabelecer uma estrutura tributária doméstica.
Nesse contexto, portanto, estabelecia-se um circuito de recursos e de votos centrado nos governadores estaduais. Se um presidente não podia pressionar cada chefe político local para garantir votos no parlamento, também não tinham forças essas lideranças para negociar com o governo federal. Focalizando o epicentro das trocas nos gabinetes estaduais, o governo federal exigia lealdade parlamentar para liberar recursos públicos, que abasteceriam as vidas políticas estadual e municipais. Por sua vez, os chefes municipais negociavam com o governo estadual a garantia de apoio eleitoral para o governo federal, para o governador e para os congressistas em troca de repasses dos governos. Isto é, os governadores se tornaram um ponto de contato diáfano entre União e municípios, pressionando parlamentares e eleitores para a manutenção do sistema e da governabilidade ao mesmo tempo em que elites locais e governadores tinham suas capacidades políticas ampliadas em seus redutos eleitorais por conseguirem assegurar a chegada de novos recursos. A fidelidade ao governo federal fazia com que este tivesse maior governabilidade, o que viabilizava maiores repasses governadores fiéis, os quais faziam girar o sistema de votos e de verbas.
A crise do pacto entre as oligarquias mineira e paulista se estabeleceu dentro da Política dos Governadores na década de 1920. A chamada Política do Café com Leite preconizava um pacto tácito entre mineiros e paulistas segundo o qual as duas elites se mobilizariam em prol de um único candidato para a presidência, o que, na prática, estabelecia tanto o controle eleitoral quanto garantia a estabilidade política do regime. Em 1918, sucedendo o mineiro Venceslau Brás, o Partido Republicano Paulista (PRP) voltava à presidência com Rodrigues Alves; no entanto, o presidente eleito morreria antes de tomar posse, o que, seguindo a Constituição de 1891, exigia a realização de novas eleições. A oligarquia mineira tomaria para si a frente da nova eleição, mas os paulistas insistiriam na questão da alternância; disso resultaria na escolha e na vitória do paraibano Epitácio Pessoa, membro do Partido Republicano Mineiro (PRM), que governaria entre 1919 e 1922, cumprindo o mandato que coubera inicialmente a Rodrigues Alves e ao PRP. Até então, apenas o gaúcho marechal Hermes da Fonseca fora eleito presidente sem ser oriundo nem de São Paulo nem de Minas Gerais.
Quando da sucessão de Pessoa, o PRM entendeu que lhe competia a primazia para indicar o candidato à presidência, já que a última eleição fora marcada pela morte do candidato paulista e pela escolha de uma "terceira via". Nesse sentido, foi lançada a candidatura de Artur Bernardes pelo PRM numa eleição muito acirrada contra Nilo Peçanha, que contava com o apoio de importantes elites descontentes com o acordo entre paulistas e mineiros. Bernardes chegaria à presidência em 1922 em meio a uma grave crise com setores do Exército, na eminência dos levantes tenentistas que acabariam por marcar o seu governo e com a situação política no Rio Grande do Sul se deteriorando para uma guerra civil. Com todo o quadro de instabilidade se agravando, o novo presidente decretaria o estado de sítio logo no primeiro ano de governo e assim manteria até o final do mandato.
Em 1926, o PRP retornaria ao poder com Washington Luís, que não renovaria o estado de sítio, mas que não conseguiria reverter o esgarçamento político entre as elites, tampouco faria refluir de fato a insatisfação expressa pelo tenentismo. Em 1930, o PRP reclamaria para si o direito de indicar o presidente seguinte, uma vez que houvera dois mandatos consecutivos encabeçados pelo PRM (Epitácio Pessoa e Artur Bernardes), o qual, por sua vez, discordava dos paulistas pelas condições excepcionais da eleição de Pessoa. Sem acordo entre as oligarquias, o PRP lançaria Julio Prestes como candidato e o PRM se aliaria com as demais elites descontentes em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Num processo eleitoral eivado por fraudes escandalosas, Julio Prestes foi eleito presidente, mas a crise política tinha chegado a um ponto insustentável sem que houvesse mais a força do acordo entre as duas grandes oligarquias. Sem força política e com a ordem pública fragilizada por quase uma década de contestações, Washington Luís foi apeado do poder nos últimos dias do seu mandato pelo Golpe de 1930.
Note bem o estudante que, tendo como ponto focal a crise da Política do Café com Leite, o avaliador conseguiu incluir uma série de observações menores para aferir o conhecimento sobre a República Velha. Sem mais, o item está CORRETO.
279) A charge a seguir foi publicada no Brasil em 1929.
- A) Formação de uma nova e estratégica aliança, o que sinalizava, ao mesmo tempo, a dissidência das tradicionais oligarquias.
- B) Unidade calculada entre políticos rivais, que eram até então tradicionalmente alijados do poder nacional.
- C) Desespero dos grupos oligárquicos inimigos diante da crise mundial que prejudicava seus interesses econômicos.
- D) Estratégia dos tradicionais políticos mineiros de assumirem o poder nacional por meio de acordos até então improváveis.
A alternativa correta é letra A) Formação de uma nova e estratégica aliança, o que sinalizava, ao mesmo tempo, a dissidência das tradicionais oligarquias.
Explicação:
A charge faz referência à política do café com leite, onde as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais se alternavam no poder durante a Primeira República. No entanto, a crise de 1929 e a subsequente Revolução de 1930 desencadearam mudanças significativas no cenário político brasileiro. A aliança estratégica formada, satirizada na charge, indica a dissidência dentro das oligarquias tradicionais, que buscavam novas formas de manter o poder em meio a um contexto de instabilidade econômica e insatisfação popular.
280) A Coluna Prestes iniciou a marcha com cerca de 1500 homens, a maioria militar. Contudo, civis e mulheres adotaram o Levante. O movimento percorreu, aproximadamente, 25000 quilômetros e passou por 11 estados brasileiros. Por onde passaram, os integrantes da Coluna Prestes informavam à população as ações do Governo e a situação social do Brasil e apontavam suas propostas para melhorar o cenário político e social do País.
- A) o povoamento produzido pelas expedições de Entradas e Bandeiras que, buscando o apresamento de índios e a descoberta do ouro e de pedras preciosas, transferiram populações urbanas do interior para o litoral do Brasil.
- B) a chamada “marcha para o Oeste”, na década de 40 do século XX, pensada, inicialmente, para a transformação das regiões Oeste e Norte em regiões agrícolas, voltadas para o abastecimento das áreas litorâneas.
- C) a fundação de Brasília, na década de 60 do século XX, visando ocupar o pantanal brasileiro e impedir a atuação e expansão das guerrilhas armadas orientadas pelo Partido Integralista e financiadas pela Venezuela bolivariana.
- D) a abertura da estrada Transamazônica, na década de 70 do século XX, com o objetivo de salvar tribos indígenas primitivas da atuação de missionários protestantes e católicos de origem estadunidense e argentina, respectivamente, que agiam na região.
- E) o Projeto Xingu, criado pelos irmãos Vilas-Boas, que levou à ocupação e à urbanização do alto Xingu, na década de 80 do século XX, por meio da transferência de famílias sem-terra, oriundas da Região Sul do Brasil, para se dedicarem à plantação da soja.
A alternativa correta é letra B) a chamada “marcha para o Oeste”, na década de 40 do século XX, pensada, inicialmente, para a transformação das regiões Oeste e Norte em regiões agrícolas, voltadas para o abastecimento das áreas litorâneas.
Gabarito: Letra B
A chamada “marcha para o Oeste”, na década de 40 do século XX, pensada, inicialmente, para a transformação das regiões Oeste e Norte em regiões agrícolas, voltadas para o abastecimento das áreas litorâneas.
Podemos localizar a “marcha para o Oeste” entre os movimentos de integração de regiões do interior do Brasil à dinâmica da política e do cotidiano brasileiro.
A chamada "Marcha para o Oeste" foi empreendida pelo governo Vargas tendo como diretriz a integração territorial do país. Atuando nas regiões norte e centro-oeste, podemos definir a marcha como uma das faces da política econômica de Getúlio Vargas.
Entre os principais objetivos da Marcha para o Oeste estava a criação de colônias agrícolas, responsáveis por povoar espaços vazios do território nacional, potencializar o abastecimento de áreas litorâneas, através do aumento da produção, e ainda realizar uma espécie de reforma agrária.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: o povoamento produzido pelas expedições de Entradas e Bandeiras que, buscando o apresamento de índios e a descoberta do ouro e de pedras preciosas, transferiram populações urbanas do interior para o litoral do Brasil.
As Entradas e Bandeiras, iniciadas entre os séculos XVI e XVII, na busca por ouro ou metais preciosos e para o apresamento de índios levou ao desbravamento de áreas ainda não conhecidas pelos colonos e que portanto não possuíam nenhum tipo de urbanização. Assim sendo, não houve, com as Entradas e Bandeiras, a transferência de populações urbanas do interior para o litoral.
Letra C: a fundação de Brasília, na década de 60 do século XX, visando ocupar o pantanal brasileiro e impedir a atuação e expansão das guerrilhas armadas orientadas pelo Partido Integralista e financiadas pela Venezuela bolivariana.
A fundação de Brasília, na década de 1960, tinha objetivos produtivos, de ocupação do interior e de integração nacional, mas não visava ocupar o pantanal brasileiro (localizado no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), mas sim a região central, tendo Brasília sido construída dentro do Estado de Goiás. Também não pretendia impedir a atuação e expansão de guerrilhas armadas, muito menos orientadas pelos integralistas (visto que o Partido Integralista teve fim em 1938) e financiadas pela Venezuela bolivariana.
Letra D: a abertura da estrada Transamazônica, na década de 70 do século XX, com o objetivo de salvar tribos indígenas primitivas da atuação de missionários protestantes e católicos de origem estadunidense e argentina, respectivamente, que agiam na região.
A abertura da estrada Transamazônica, na década de 1970, tinha por objetivos a integração nacional, o desenvolvimento econômico e a segurança nacional, e não a pretensão de salvar tribos indígenas primitivas da atuação de missionários protestantes e católicos estadunidenses ou argentinos.
Letra E: o Projeto Xingu, criado pelos irmãos Vilas-Boas, que levou à ocupação e à urbanização do alto Xingu, na década de 80 do século XX, por meio da transferência de famílias sem-terra, oriundas da Região Sul do Brasil, para se dedicarem à plantação da soja.
O Projeto Xingu, iniciado em 1965, é um projeto de extensão universitária do Departamento de Medicina Preventiva, da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP). Não se trata de um projeto de transferência de famílias sem-terra, mas sim de um programa de saúde para assistir aos indígenas do Parque Indígena do Xingu (PIX), visando o cuidado com a saúde da população indígena (avaliação das condições de saúde da população e do quadro epidemiológico reinante, medidas curativas e preventivas), a produção de conhecimentos e práticas voltadas para o campo da saúde indígena, o fortalecimento e assessoria dos processos de formação e educação profissional de indígenas e não indígenas para o trabalho em saúde em contextos interculturais.
Referências:
CAMPOS, Flavio de. A escrita da história: ensino médio: volume único. 1ª ed. São Paulo: Escala Educacional, 2005.
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 2. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 3. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
DOSSIÊ O Governo de Juscelino Kubitschek. FGV CPDOC. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Brasilia/ConquistaOeste#:~:text=A%20criação%201937%20do%20Departamento,integração%20territorial%20para%20o%20país Acesso em 18 de fevereiro de 2022.
PROJETO XINGU. Sobre o Projeto Xingu. Disponível em: https://projetoxingu.unifesp.br/index.php/projeto-xingu/sobre-o-projeto-xingu Acesso em 04 de abr. de 2022.
SILVA, Daniel Neves. "Estado Novo e a Marcha para o Oeste"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/estado-novo-marcha-para-oeste.htm Acesso em 18 de fevereiro de 2022.
VAINFAS, Ronaldo et ali. História: o mundo por um fio: do século XX ao XXI, volume 3. São Paulo: Saraiva, 2010.