Questões Sobre Primeira República - História - concurso
51) A formação do Arraial de Canudos e as sucessivas derrotas sofridas por tropas regulares diante dos sertanejos comandados por Antonio Conselheiro constituiu-se em um acontecimento importante na política brasileira. Tal evento ocorreu durante que fase da história nacional?
- A) Período Colonial.
- B) Primeiro Reinado.
- C) República Velha.
- D) Período Regencial.
- E) Segundo Reinado.
Resposta
A alternativa correta é letra C) República Velha.
O Arraial de Canudos foi um movimento messiânico liderado por Antônio Conselheiro, que ocorreu entre 1893 e 1897, no sertão da Bahia. A formação do arraial e as derrotas sofridas pelas tropas regulares brasileiras constituíram um importante evento político durante a República Velha, que foi o período da história brasileira que compreendeu os anos de 1889 a 1930.
52) É verdade que ele (Lampião) fizera uma romaria ao famoso Messias de Juazeiro, o Padre Cícero, pedindo sua benção antes de abraçar o cangaço, e é também verdade que o santo, embora debalde o exortasse a renunciar à vida marginal, dera-lhe um documento em que o nomeava capitão, e tenentes a seus dois irmãos. Contudo, a balada de onde extraí a maior parte desse relato não menciona qualquer desagravo de ofensas (exceto no seio do próprio bando), nenhum ato de tirar dos ricos para dar aos pobres, nenhuma dispensação de justiça. Registra batalhas, ferimentos, ataques a cidades (ou contra o que passava por cidades no sertão nordestino), sequestros, assaltos a ricos, combates com os soldados, aventuras com mulheres, episódios de fome e de sede, mas nada que lembre os Robin Hoods. Pelo contrário, registra “horrores”: como Lampião assassinou um prisioneiro, embora sua mulher o tivesse resgatado, como ele massacrava trabalhadores, como torturou uma velha que o amaldiçoara (sem saber de quem se tratava) fazendo-a dançar com um pé de mandacaru até morrer, como matou sadicamente um de seus homens, que o ofendera, obrigando-o a comer um litro de sal, e incidentes semelhantes. Causar terror e ser impiedoso é um atributo mais que importante para esse bandido do que ser amigo dos pobres.
- A) Não tinha nenhuma característica que o ligasse à população mais pobre.
- B) Agia com violência atacando apenas os mais pobres.
- C) Não tinha como objetivo principal acabar com as injustiças sociais.
- D) Tinha boas relações com autoridades religiosas do Sertão.
A alternativa correta é letra C) Não tinha como objetivo principal acabar com as injustiças sociais.
Gabarito: Letra C
Trata-se de uma questão que poderia ser respondida com base no conhecimento da obra do autor ou através da interpretação de texto.
Bandidos é um livro escrito e publicado pelo historiador Eric Hobsbawm em 1969. A obra inaugurou os estudos sobre banditismo, trazendo o conceito de banditismo social.
Posteriormente muitos estudiosos se debruçaram sobre o tema, instigados pela leitura da obra e passaram a levantar questionamentos sobre a pesquisa, como por exemplo, as fontes utilizadas e o modo como a pesquisa foi construída, sem levar em conta as particularidades dos casos tratados.
Banditismo social para Hobsbawm é um fenômeno existente em sociedades agrárias, compostas por camponeses e trabalhadores sem-terra, que são explorados por proprietários de terra, Estado, advogados ou bancos. É uma forma de rebelião individual ou minoritária no campo.
Bandidos sociais são pessoas que os proprietários e o Estado consideram como criminosos, mas a sociedade camponesa os consideram heróis, campeões, vingadores, pessoas que lutam por justiça e até mesmo libertadores.
Para o autor existem três categorias de bandidos:
1) Ladrão nobre ou Robin Hood
2) Haiduks
3) Vingadores
Lampião foi enquadrado na terceira categoria, como um vingador, e não tinha por objetivo acabar com as injustiças sociais no Sertão.
Como se pode ver no trecho, agia com violência indiscriminada e espalhava o terror, completamente diferente do modo de agir da primeira categoria denominada de Ladrão Nobre ou Robin Hood.
Indivíduos que foram enquadrados como Ladrões Nobres tinham por característica agir para corrigir erros e promover a equidade social.
Resposta baseada na fonte:
HOBSBAWM, Eric. Bandidos. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
53) A uma estrutura agrária marcada em vastas áreas, somava-se o total descaso das elites e do governo com as carências da população sertaneja. A tensão explodia com frequência, quase sempre em momentos de seca prolongada, como nas duas últimas décadas do século XIX.
- A) o Movimento Conselheirista de Canudos.
- B) a Revolta da Vacina.
- C) a Revolta dos Malês.
- D) a Conjuração Baiana.
- E) a Sabinada.
A alternativa correta é letra A) o Movimento Conselheirista de Canudos.
Gabarito: Letra A
(o Movimento Conselheirista de Canudos)
O texto está relacionado ao movimento social chamado de movimento de Canudos.
Os autores trazem um contexto prévio da região onde se desenvolveu o arraial de Canudos que foi combatido pelas forças de segurança do estado da Bahia e do governo federal. Canudos estava situado em uma área marcada pela concentração fundiária, por latifúndios improdutivos, pelo descaso dos governos locais para com a população sertaneja, além das constantes secas que afetavam a economia e vida local.
Assim, era propenso que surgissem indivíduos ancorados em crenças religiosas, pregando discursos e conselhos capazes de mobilizar pessoas ao seu redor, prometendo condições de vida melhores, espalhando a fé cristã, organizando uma sociedade alternativa àquela do mandonismo e da violência das fazendas.
Por que as demais estão incorretas?
Letra B: a Revolta da Vacina.
A Revolta da Vacina foi um episódio ocorrido durante a Primeira República na capital federal, no Rio de Janeiro. Não foi um movimento ocorrido no interior do Brasil.
Letra C: a Revolta dos Malês.
Trata-se de um movimento de escravizados ocorrido em Salvador no século XIX. Os principais participantes do movimento eram da religião islâmica, os malês, e pretendiam fundar um estado baseado nessa fé. Esse fato demonstra que o elemento religioso foi de extrema importância no levante.
Letra D: a Conjuração Baiana.
Foi um movimento que ocorreu na capital baiana. Foi um movimento urbano, que reuniu pessoas de camadas mais baixas e alguns intelectuais que pretendiam libertar a Bahia do domínio português. O elemento religioso não foi mobilizador da reunião das pessoas.
Letra E: a Sabinada.
Movimento que aconteceu no século XIX, durante o período regencial e tinha como objetivo garantir a autonomia da província da Bahia através da secessão até que D. Pedro II atingisse a maioridade. Situa-se no contexto da era das revoltas que basicamente tinham como pano de fundo a luta entre a centralização e a descentralização administrativa.
Referências:
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
SERIACOPI, Gislane Azevedo e SERIACOPI, Reinaldo. História: volume único. São Paulo: Ática, 2005.
54) Atenção: O texto abaixo refere-se à questão.
- A) da ideia de que todos têm direito ao acesso aos sistemas públicos de saúde.
- B) do princípio igualitário de que todos os cidadãos devem ser protegidos de epidemias.
- C) do direito dos cidadãos de não serem tratados de forma arbitrária e violenta pelo governo.
- D) da luta da população pela conquista de melhores condições de educação e segurança.
A alternativa correta é letra C) do direito dos cidadãos de não serem tratados de forma arbitrária e violenta pelo governo.
Vamos analisar cada alternativa para identificar o que a Revolta da Vacina representa na história brasileira.
A) da ideia de que todos têm direito ao acesso aos sistemas públicos de saúde.
INCORRETO. O texto não indica que a revolta foi motivada pela reivindicação de acesso universal à saúde pública. A população estava resistindo à vacinação obrigatória, que era uma medida de saúde pública, mas não porque estavam lutando pelo direito ao acesso à saúde. Eles estavam, na verdade, resistindo a uma medida de saúde pública específica que consideravam arbitrária e invasiva. Alternativa errada.
B) do princípio igualitário de que todos os cidadãos devem ser protegidos de epidemias.
INCORRETO. A Revolta da Vacina não foi um movimento em defesa do princípio de que todos os cidadãos devem ser protegidos de epidemias. Na verdade, os revoltosos estavam resistindo a uma medida de saúde pública que tinha como objetivo protegê-los de uma epidemia. Eles estavam céticos quanto à eficácia da vacina e acreditavam que ela era um meio de contrair a doença. Alternativa errada.
C) do direito dos cidadãos de não serem tratados de forma arbitrária e violenta pelo governo.
CORRETO. O texto mostra que a Revolta da Vacina foi uma reação popular contra uma medida governamental que foi percebida como arbitrária e violenta. A vacinação obrigatória foi imposta sem esclarecimentos adequados à população e foi realizada à força, com a ajuda da polícia. Essa percepção de arbitrariedade e violência por parte do governo é que motivou a resistência e a revolta. Portanto, a Revolta da Vacina pode ser vista como um movimento em defesa do direito dos cidadãos de não serem tratados de forma arbitrária e violenta pelo governo.
D) da luta da população pela conquista de melhores condições de educação e segurança.
INCORRETO. O texto não menciona a luta por melhores condições de educação e segurança como um dos motivos da Revolta da Vacina. A revolta foi uma reação a uma medida específica de saúde pública que foi percebida como arbitrária e violenta. Não há indicação de que a revolta estava ligada a uma luta mais ampla por melhores condições de educação e segurança. Alternativa errada.
Portanto, a alternativa correta é a LETRA C.
55) Atenção: O texto abaixo refere-se à questão.
- A) resultou de um projeto governamental de saneamento autoritário que refletia uma visão elitista da sociedade.
- B) defendia a intervenção do Estado republicano no saneamento para melhorar a situação da saúde pública.
- C) lutava contra o progresso da pesquisa científica por considerar que acentuaria o processo de exclusão social.
- D) acabou com a necessidade de resguardar aspectos da vida privada, ameaçados pelos agentes do governo.
A alternativa correta é letra A) resultou de um projeto governamental de saneamento autoritário que refletia uma visão elitista da sociedade.
Vamos analisar cada alternativa, para identificar a que melhor se adequa ao texto.
A) Resultou de um projeto governamental de saneamento autoritário que refletia uma visão elitista da sociedade.
CORRETO. O texto menciona que Oswaldo Cruz agiu com base em seus conhecimentos médicos, sem preocupação de esclarecer a opinião pública. Além disso, ele colocou vacinadores na rua que, apoiados por policiais, vacinavam à força. Esse comportamento pode ser interpretado como autoritário. O texto também menciona que um projeto de lei tornou a vacinação obrigatória, o que reforça essa interpretação. Quanto à visão elitista, o texto não fornece informações diretas, mas é possível inferir que o governo estava agindo de acordo com o conhecimento médico da época, sem levar em conta as crenças e medos da população, o que pode ser visto como uma visão elitista.
B) Defendia a intervenção do Estado republicano no saneamento para melhorar a situação da saúde pública.
INCORRETO. O texto não menciona que a Revolta da Vacina defendia a intervenção do Estado. Pelo contrário, a revolta foi uma reação contra a intervenção do Estado, que tornou a vacinação obrigatória.
C) Lutava contra o progresso da pesquisa científica por considerar que acentuaria o processo de exclusão social.
INCORRETO. O texto não menciona que a Revolta da Vacina lutava contra o progresso da pesquisa científica. A revolta foi contra a vacinação obrigatória, que era vista pela população como um meio de contrair a doença.
D) Acabou com a necessidade de resguardar aspectos da vida privada, ameaçados pelos agentes do governo.
INCORRETO. O texto não menciona que a Revolta da Vacina acabou com a necessidade de resguardar aspectos da vida privada. A revolta foi uma reação contra a vacinação obrigatória, que era feita à força e, portanto, invadia a vida privada das pessoas.
Portanto, a alternativa correta é a LETRA A.
56) Um dos primeiros e mais importantes movimentos messiânicos a eclodir no Brasil foi o que se estabeleceu em Canudos, na Bahia, sendo liderado por
- A) João Maria.
- B) Padre Cícero.
- C) Frei Damião.
- D) Antônio Conselheiro.
- E) Francisco Julião.
Resposta correta:
- D) Antônio Conselheiro.
O movimento messiânico de Canudos, na Bahia, foi liderado por Antônio Conselheiro. Esse movimento ganhou destaque durante a Primeira República no Brasil, sendo um dos principais exemplos de resistência social e religiosa contra as condições adversas da época. Antônio Conselheiro e seus seguidores buscavam um modelo alternativo de sociedade baseado em princípios religiosos e comunitários, o que culminou em conflitos com as autoridades republicanas e na trágica guerra de Canudos em 1896.
57) A Revolta da Vacina, ocorrida entre 10 e 16 de novembro de 1904 no Rio de Janeiro, foi:
- A) um levante popular que se opôs à política de saúde pública por conta dos preconceitos populares relativos aos procedimentos da medicina científica.
- B) uma revolta popular contra as formas de opressão, exclusão e segregação urbana aos pobres do centro do Rio de Janeiro promovida pelo governo municipal.
- C) uma mobilização popular pautada na descrença da população quanto à eficácia da vacina contra a varíola.
- D) uma insurreição de caráter monarquista, que pretendia abalar o poder republicano e promover o retorno de D. Pedro II ao poder.
- E) um motim originado por grupos militares positivistas, que se alastrou entre a população habitante de cortiços da Capital da República.
ESTA QUESTÃO FOI ANULADA, NÃO POSSUI ALTERNATIVA CORRETA
Gabarito: ANULADA
- A Revolta da Vacina, ocorrida entre 10 e 16 de novembro de 1904 no Rio de Janeiro, foi:
Infelizmente, já não é possível localizar a justificativa apresentada pela banca para optar pela anulação da presente questão. De toda maneira, para fins de estudo, comentaremos as alternativas propostas.
- a) um levante popular que se opôs à política de saúde pública por conta dos preconceitos populares relativos aos procedimentos da medicina científica.
Por ter sido uma revolta popular sem lideranças e pautas claríssimas, fica muito difícil enquadrar a Revolta da Vacina em poucas palavras. Em 1904, o Rio de Janeiro estava vivendo as suas grandes reformas urbanísticas e sanitárias sob o comando do prefeito Pereira Passos. Por um lado, havia o plano da modernização e do embelezamento à europeia de toda a capital da República, abrindo largas avenidas e transformando a arquitetura do Rio de Janeiro. Por outro, havia um esforço de sanitização urbana, combatendo doenças endêmicas e enfrentando grandes desafios de saneamento básico e de higienização. No entanto, ao fundo de todas essas medidas, estava uma série de políticas públicas de baixíssima sensibilidade social, fazendo com que as classes menos favorecidas sofressem parte significativa das perdas e das perseguições em meio às reformas. Para a abertura das novas avenidas no antigo centro carioca, foram demolidos prédios que serviam de cortiços aos mais pobres, bem como se perseguia abertamente o entretenimento popular em nome da moralidade pública da capital. Consequentemente, uma grande massa de desvalidos foi condenada à repressão policial e a um gravíssimo achatamento da qualidade de vida: excluídos para subúrbios distantes, vendo o custo de vida disparar e sentindo a criminalização do seu cotidiano. As insatisfações sociais com as reformas chegavam a patamares explosivos sem que fosse dada qualquer forma de atenção mais séria. Em 1904, sob a orientação de Oswaldo Cruz, seria lançada a vacinação obrigatória contra a varíola, doença endêmica que afetava gravemente a cidade. Sem nenhuma forma de comunicação efetiva com a população, a campanha foi lançada sobre os mais pobres com a rotineira violência policial, impondo a vacinação e abrindo espaço para toda sorte de hipóteses conspiratórias depois de tantos abusos contra essa mesma população. Temendo a vacinação, a população se amotinou num movimento espontâneo e altamente explosivo, levando a capital ao caos social por dias. Portanto, é muito simplista se dizer que havia uma reação popular contra os procedimentos da medicina e contra as políticas de saúde pública. Ainda que esses não deixassem de ser elementos importantes, não se pode reduzir tanto assim todo o universo de tensões que estava presente na revolta.
- b) uma revolta popular contra as formas de opressão, exclusão e segregação urbana aos pobres do centro do Rio de Janeiro promovida pelo governo municipal.
De fato, esses elementos também compunham o caldo de cultura explosivo do qual emergiria a Revolta da Vacina. A destruição dos cortiços no centro do Rio de Janeiro se deu sob expressivo emprego da violência policial, bem como não houve maiores sensibilidades sociais para reacomodar efetivamente os deslocados daquela política. No limite, as reformas Pereira Passos tinham um caráter de higienização social, expulsando os desvalidos para as periferias e para os, então, desabitados morros cariocas. No entanto, não se pode compreender todo esse esforço apenas como medidas do governo municipal, já que o presidente Rodrigues Alves tinha interesse direto nas reformas da capital e nomeou Pereira Passos como prefeito com esse intuito. O alvo da revolta foi, de fato, a instituição da vacinação obrigatória sob intensa violência policial, mas havia todo um universo de segregação e piora da vida dos mais pobres que antecedeu a toda essa movimentação.
- c) uma mobilização popular pautada na descrença da população quanto à eficácia da vacina contra a varíola.
No período, existiam muitos boatos quanto ao funcionamento da vacina contra a varíola e é difícil mensurar exatamente o quão longe iria a crença popular nisso. Com pouquíssima comunicação governamental, a vacinação obrigatória foi instituída sem que se desse reais chances para que a população compreendesse sobre o que se tratava aquilo tudo. Entre a boataria e a insatisfação geral, desconfianças contra a vacina em si também circulavam em meio à revolta popular, mas não se pode dizer que tenha sido essa a única causa.
- d) uma insurreição de caráter monarquista, que pretendia abalar o poder republicano e promover o retorno de D. Pedro II ao poder.
A alternativa é completamente descabida e não tem adesão alguma com a realidade. Ainda que existisse um claro enfrentamento popular contra as instâncias do poder, não havia nenhum clamor sério sobre o restabelecimento monárquico. Àquela altura, com suas dificuldades e contradições, a República brasileira era uma realidade estabelecida e não corria maiores riscos. Além disso, D. Pedro II falecera em Paris em 1891; ou seja, treze anos antes da eclosão da Revolta da Vacina. Não faria sentido algum, então, um movimento para o seu retorno.
- e) um motim originado por grupos militares positivistas, que se alastrou entre a população habitante de cortiços da Capital da República.
A Revolta da Vacina teve uma orientação puramente popular, galvanizando as massas desvalidas afetadas pelas reformas Pereira Passos no Rio de Janeiro do início do século XX. Os militares positivistas, pelo contrário, eram francamente favoráveis à reorganização ordenada da capital, buscando na ciência e na racionalidade plena a construção de uma nova ordem para se pensar a república como um todo. Os cortiços e as doenças tropicais combatidos pelas reformas urbanísticas e sanitárias eram entendidos por esses militares como marcas inequívocas e lamentáveis do Estado brasileiro como um todo.
Como pode bem ver o estudante, nenhuma das alternativas está completamente certa e há imprecisões gravíssimas nas três primeiras. Ainda que possamos eliminar com toda a certeza as duas últimas, cairíamos numa discussão sem fim sobre as três primeiras sem que a justiça e a isonomia do concurso público pudesse ser mantida. Não há resposta inteiramente correta nessa questão, e nem mesmo os processos de exclusão nos permitem apontar uma única delas como a mais provável. Assim, fez muito bem a banca ao optar pela ANULAÇÃO da questão.
58) No início da República, as regiões mais pobres do Brasil eram terreno fértil para o aparecimento de lideranças religiosas de caráter messiânico. Na área do Contestado (região entre Paraná e Santa Catarina) não foi diferente, pois, diante da crise econômica e insatisfação popular em viviam muitos camponeses, ganhou força a figura de um beato. Este pregava a criação de um mundo novo, regido pelas leis de Deus, onde todos viveriam em paz, com prosperidade justiça e terras para trabalhar. O beato conseguiu reunir milhares de seguidores, principalmente de camponeses sem terras.
- A) José de Deus.
- B) José Maria.
- C) Francisco José.
- D) Antonio Conselheiro.
A resposta correta é a letra B) José Maria.
O texto descreve um beato que pregava a criação de um mundo novo, regido pelas leis de Deus, onde todos viveriam em paz, com prosperidade, justiça e terras para trabalhar. Este beato é conhecido como José Maria, que liderou o movimento do Contestado, uma revolta popular que ocorreu na região entre Paraná e Santa Catarina, no início do século XX.
59) Nunca se viu uma campanha como esta, em que ambas as partes sustentaram ferozmente as suas aspirações opostas. Vencidos os inimigos, vós lhes ordenáveis que levantassem um viva à República e eles o levantavam à Monarquia e, ato contínuo, atiravam-se às fogueiras que incendiavam a cidade, convencidos de que tinham cumprido o seu dever de fiéis defensores da Monarquia.
- A) restauração monárquica, embora hoje saibamos que a rejeição à República era apenas uma das razões da rebeldia.
- B) valorização dos senhores rurais, ligados ao monarca, cujo poder era ameaçado pelo crescimento e enriquecimento das cidades.
- C) restauração monárquica, que, hoje sabemos, era de fato a única razão da longa resistência dos sertanejos.
- D) valorização do meio rural, embora hoje saibamos que Antônio Conselheiro não apoiava os incêndios provocados por monarquistas nas cidades republicanas.
- E) restauração monárquica, o que fez com que a luta de Antônio Conselheiro recebesse amplo apoio dos monarquistas do sul do Brasil.
A alternativa correta é letra A) restauração monárquica, embora hoje saibamos que a rejeição à República era apenas uma das razões da rebeldia.
Gabarito: Letra A
Restauração monárquica, embora hoje saibamos que a rejeição à República era apenas uma das razões da rebeldia.
Pela interpretação do texto podemos perceber que o general Artur Oscar considerava o movimento de Canudos uma luta pela restauração monárquica.
Essa visão de que a comunidade de Canudos era composta apenas por fanáticos religiosos, loucos e monarquistas foi inclusive a que predominou na época e que durante muito tempo foi reproduzida como única verdade.
Tal associação originava-se na discordância do líder messiânico do movimento, Antônio Conselheiro, de algumas das mudanças implementadas pela República, como o casamento civil, e de sua visão de legitimidade do imperador destronado segundo a ótica de que este governava pela vontade de Deus. Daí ter sido identificado pelos seus adversários como monarquista e religioso fanático.
Contudo, hoje sabemos que a formação da comunidade de Canudos era fruto das necessidades dos sertanejos de escapar da fome e da violência, e que, diante do completo abandono do poder público, viram na comunidade de Canudos uma oportunidade de construírem uma nova vida com mais paz e justiça social diante da fome e seca do sertão.
Também sabemos que a revolta de Canudos originou-se em 1896 quando comerciantes de Juazeiro se recusaram a entregar madeiras compradas por Conselheiro para a construção de uma nova Igreja no Arraial e os moradores de Canudos foram cobrar a entrega. Acontece que, aproveitando-se disso, o governador da Bahia, seguido posteriormente pelo governo Federal, atacou a comunidade que passou a se defender das investidas de ambos os governos (estadual e federal).
A ideia de que a resistência de Canudos estava ligada a uma intenção da comunidade de restaurar a Monarquia serviu para mobilizar a sociedade brasileira contra Canudos. Uma comunidade que passou a incomodar fazendeiros baianos, proprietários de terras, elites políticas e o governo estadual por ocupar um pedaço de chão e nele buscar construir uma sociedade mais igualitária (que funcionava a partir de um sistema comunitário). A comunidade de Canudos os incomodava não somente pela ocupação de terras, mas também por não se subordinar ao Estado.
Por que as demais estão incorretas?
Letra B: valorização dos senhores rurais, ligados ao monarca, cujo poder era ameaçado pelo crescimento e enriquecimento das cidades.
O general Artur Oscar considerava a resistência de Canudos uma resistência monarquista e não um movimento visando a valorização dos senhores rurais como afirma a alternativa. Além disso, precisamos destacar que os senhores de terra da Bahia eram contrários ao movimento de Canudos pela ocupação de terras e pela não submissão deste ao Estado.
Letra C: restauração monárquica, que, hoje sabemos, era de fato a única razão da longa resistência dos sertanejos.
Como vimos, a ideia de que a resistência de Canudos representava uma busca da comunidade por restaurar a monarquia foi amplamente divulgada à época como forma de mobilizar a sociedade brasileira contra a comunidade. Dessa forma, a restauração monárquica não era “a única razão da longa resistência dos sertanejos”.
Letra D: valorização do meio rural, embora hoje saibamos que Antônio Conselheiro não apoiava os incêndios provocados por monarquistas nas cidades republicanas.
O general Artur Oscar considerava a resistência de Canudos uma resistência monarquista e não um movimento visando a valorização do meio rural como afirma a alternativa.
Letra E: restauração monárquica, o que fez com que a luta de Antônio Conselheiro recebesse amplo apoio dos monarquistas do sul do Brasil.
Não houve um amplo apoio dos monarquistas do sul do Brasil ao movimento de Canudos como afirma a alternativa.
Referências:
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 3. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
VAINFAS, Ronaldo et ali. História: o mundo por um fio: do século XX ao XXI, volume 3. São Paulo: Saraiva, 2010.
60) Na história do Brasil, o termo “messianismo” é usado no estudo de alguns movimentos sociais. Assinale a única alternativa que apresenta um desses movimentos e seu respectivo líder.
- A) Revolta de Canudos / Antônio Conselheiro.
- B) Revolta da Vacina / João Maria.
- C) Guerra do Contestado, Euclides da Cunha.
- D) Os 18 do Forte de Copacabana / Miguel Lucena.
- E) Coluna Prestes / Luís Carlos Prestes.
A alternativa correta é letra A) Revolta de Canudos / Antônio Conselheiro.
Gabarito: ALTERNATIVA A
Na história do Brasil, o termo “messianismo” é usado no estudo de alguns movimentos sociais. Assinale a única alternativa que apresenta um desses movimentos e seu respectivo líder.
- a) Revolta de Canudos / Antônio Conselheiro.
Sob a liderança messiânica de Antônio Conselheiro, toda uma sociedade sertaneja levantou o arraial de Canudos no semi-árido da Bahia entre 1896 e 1897, logo nos primeiros anos da Primeira República (1889-1930). Com um discurso profundamente marcado pela religião, Conselheiro dava um sentido maior àquela comunidade marcada pela seca e pelas iniquidades da região, identificando na República uma corrupção contra a ordem divina, esperando um restabelecimento mítico da ordem monárquica, o que revelaria um período novo àquela população. Entre o milagre da fé popular e a compreensão aguda das dificuldades da vida sertaneja, a vida em Canudos ecoava tanto uma forma de sebastianismo tropical quanto uma crítica social contundente. O positivismo da República e do Exército brasileiro interpretou aquela manifestação como um risco maior à ordem geral do país, optando pelo enfrentamento armado após o arraial mostrar resistência às ordens do governo regular. ALTERNATIVA CORRETA.
- b) Revolta da Vacina / João Maria.
Motim popular ocorrido no Rio de Janeiro em 1904. Em meio às grandes reformas urbanísticas e sanitárias da capital federal naquele início do século, governo decretara a obrigatoriedade da vacina contra a varíola sem antes organizar nenhuma forma de conscientização e de abordagem de saúde pública. As violações contra a individualidade e o sistemático desrespeito contra as classes mais baixas geraram uma gravíssima tensão na cidade, que foi traduzida num levante generalizado e desorganizado da população. Alternativa errada.
- c) Guerra do Contestado, Euclides da Cunha.
Ocorrida na faixa oeste entre Santa Catarina e Paraná, a Guerra do Contestado unia a profunda insatisfação de pequenos proprietários contra violações à propriedade durante obras de expansão da malha ferroviária na região com um profundo sentimento religioso de ordem messiânica. Interpretando aquelas formas de progresso e de desenvolvimento levadas pelos governos feral e estaduais como manifestações do mal, essas populações arrastaram uma guerra civil na região entre 1912 e 1916. Seu líder messiânico seria o beato José Maria de Santo Agostinho. Euclides da Cunha foi o escritor enviado pelo jornal O Estado de S. Paulo para cobrir a Guerra de Canudos. Do seu trabalho, surgiria a obra Os Sertões, relato maior sobre a crise no sertão baiano. Alternativa errada.
- d) Os 18 do Forte de Copacabana / Miguel Lucena.
Em 1922, em reação a mais um desmando do poder central, que decretara a prisão de Hermes da Fonseca, jovens oficiais do Exército tomaram o Forte de Copacabana como forma de oposição maior contra o governo. Cercados, saíram às ruas em mais de trezentos homens contra as forças regulares da República. O movimento ficaria conhecido como os "18 do Forte" porque, após a debandada de vários dos revoltosos, apenas dezoito deles seguiram caminhando contra as forças legalistas como forma de manifestação profunda contra o arbítrio das oligarquias e contra o desvirtuamento dos ideias republicanos. Seria o primeiro de uma série de movimentos de contestação contra a Primeira República (1889-1930), que ficaria conhecido como Tenentismo por mobilizar vários oficiais de baixa patente do Exército. Alternativa errada.
- e) Coluna Prestes / Luís Carlos Prestes.
O impopularíssimo governo de Arthur Bernardes concentrou vários dos principais movimentos tenentistas, o que o levou a governar durante praticamente todo o tempo sob estado de sítio. Partindo do Rio Grande do Sul, Luís Carlos Prestes foi um dos grandes líderes dessa expressão tenentista preocupada com as questões sociais, que eram claramente menosprezadas pelas oligarquias que controlavam o governo. Esse sentimento ebulia a partir das insatisfações e das expectativas positivistas frustradas dentro das Forças Armadas. Reunindo em seu auge cerca de 1500 homens e percorrendo 25 mil quilômetros pelo território brasileiro, o movimento tanto se aproximou das populações mais desassistidas para criar consciência contra as elites agrárias quanto enfrentou tropas regulares e até mesmo o cangaço em combates campais. Jamais tendo sido de fato derrotada em campo, a coluna se internaria no sentido Leste até se dissolver na Bolívia em 1927. Alternativa errada.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA A.