Acerca das principais linhas de ação e vertentes da política externa brasileira desde 1967, julgue (C ou E) o seguinte item.A dívida externa assumiu relevância na ação internacional do Brasil a partir do início da década de 1980, sendo tratada de acordo com duas estratégias: a primeira, de orientação economicista, afastava a diplomacia das negociações acerca do tema e favorecia a busca de soluções monetaristas, negociadas bilateral e diretamente com a comunidade financeira internacional; a segunda, configurada no Consenso de Cartagena de 1984, propugnava um tratamento político da questão que equacionasse o pagamento da dívida com o crescimento econômico da América Latina. Prevaleceu, desde o início, esta última estratégia.
- A) Certo
- B) Errado
Resposta:
A alternativa correta é letra B) Errado
Gabarito: ERRADO
Acerca das principais linhas de ação e vertentes da política externa brasileira desde 1967, julgue (C ou E) o seguinte item.
A dívida externa assumiu relevância na ação internacional do Brasil a partir do início da década de 1980, sendo tratada de acordo com duas estratégias: a primeira, de orientação economicista, afastava a diplomacia das negociações acerca do tema e favorecia a busca de soluções monetaristas, negociadas bilateral e diretamente com a comunidade financeira internacional; a segunda, configurada no Consenso de Cartagena de 1984, propugnava um tratamento político da questão que equacionasse o pagamento da dívida com o crescimento econômico da América Latina. Prevaleceu, desde o início, esta última estratégia.
A crise internacional das dívidas latino-americanas dominaram parte significativa da agenda econômica a partir de 1980. A abundância de capitais internacionais nas décadas anteriores gerou taxas de juros incomparavelmente baixas no mercado internacional, o que foi aprofundado no enfrentamento americano ao Primeiro Choque do Petróleo. Para a América Latina, isso significou a possibilidade de contrair vultosos empréstimos para acelerar projetos nacionais a custo relativamente baixo. No caso brasileiro, o endividamento externo foi a principal forma de financiar as grandes obras de infraestrutura, de industrialização e de integração territorial que o nacional-desenvolvimentismo previa desde a década de 1930 - processo este que foi severamente aprofundado pelo Regime Militar (1964-1985).
No entanto, o Segundo Choque do Petróleo, consequência direta da Revolução Iraniana (1979) e da Guerra Irã-Iraque (1980-1988), gerou uma contração generalizada do crédito internacional e um princípio de aumento dos juros internacionais, impactando no fluxo das dívidas latino-americanas. Decorrente desse primeiro ciclo de aumento dos juros internacionais, a moratória mexicana de 1980 disparou um gravíssimo processo de contaminação dos mercados internacionais por sérias desconfianças sobre a solvência econômica da semi-periferia, levando a uma nova rodada de aumento dos juros. A consequência desse processo foi o estrangulamento econômico de muitas desses países emergentes, que, exauridos com a crise energética, nem conseguiam manter os seus projetos desenvolvimentistas - fundamentais para a saúde econômica - nem conseguiam manter o pagamento das dívidas em dia. Com mais incerteza no mercado, os juros seguiram subindo e agravando a posição dos países endividados e restringindo dramaticamente o acesso ao crédito.
Para o caso brasileiro, o salto industrial para a tecnologia de ponta seria estrangulado nesse exato momento com uma base industrial de competitividade declinante. O aprofundamento do endividamento para enfrentar o Segundo Choque do Petróleo teria um peso gravíssimo na década de 1980, quando a capacidade de investimento do Estado estava exaurida e o processo inflacionário já havia se instalado como uma realidade insuperável - inaugurava-se a terrível estagflação brasileira, que só seria equacionada de fato com o Plano Real (1994). No plano internacional, de fato, duas vias se apresentavam para o enfrentamento das contradições decorrentes da dívida. A via economicista insistia num receituário técnico esvaziado de conteúdo político: as negociações deveriam ser embasadas em questões econômicas para tentar equacionar a crise. Assim, o saneamento fiscal e os compromissos internacionais sem a componente diplomático-política eram consideradas cruciais para a construção de uma saída monetarista da crise - que era pensada apenas em termos brasileiros, sem buscar qualquer forma de coordenação com os outros países latino-americanos devastados pelo estouro das dívidas.
A via diplomática, no entanto, dava preferência para a coordenação da crise por negociações políticas. Dado que não era uma configuração exclusiva deste ou daquele país, mas sim uma conjuntura extremamente adversa; essa linha defendia que a componente política de negociação deveria ser acionada. Em conjunto com os demais países, o Brasil deveria liderar um esforço para que as contradições do sistema financeiro internacional fossem politicamente corrigidas para viabilizar a solução da crise de forma multilateral. Reunindo onze países na cidade, o Consenso de Cartagena foi uma tentativa de criar um enfrentamento conjunto para a crise das dívidas em 1984, quando se chegou a pensar numa moratória parcial conjunta, o que seria capaz de abalar as instituições centrais e obrigar uma renegociação geral sobre o tema, abandonando o cumprimento estreito dos acordos firmados em situações muito diferente daquela crise generalizada. Além disso, havia uma pressão para que, pela solução política, fosse possível manter no centro da discussão as necessidades desenvolvimentistas típicas da América Latina, o que era descartado pelo raciocínio monetarista.
No entanto, ao longo da década de 1980 e do aprofundamento da crise brasileira, foi-se consolidando uma tendência em favor das soluções monetaristas e esvaziando o teor político das negociações. A pressa doméstica pela superação da inflação não permitia o surgimento de energias políticas necessárias para se buscar uma concertação internacional mais sofisticada, restringindo o problema às soluções puramente econômicas. Na década de 1990, com o governo Collor de Mello e a chamada "normalização do Estado", esvaziou-se complemente a via política, dando completo privilégio às cartilhas econômicas das instituições centrais, abraçando o neoliberalismo e procurando inserir o país internacionalmente à maneira delimitada pelos países centrais. Portanto, item ERRADO.
Deixe um comentário