Leia o trecho abaixo:
“Se houve um projeto a que o governo Médici se dedicou com a máxima satisfação, foi a Rodovia Transamazônica. Ele tinha dois poderosos atrativos para a liderança militar: segurança nacional e desenvolvimento econômico.”
DROSDOFF, Daniel. Linha dura no Brasil. In: CAMPOS, Flávio de. Oficina de história: história do Brasil. São Paulo: Moderna, 1999, p. 297.
Com base no que Drosdoff afirma sobre os governos militares, é correto afirmar que
- A) a Amazônia foi apresentada ideologicamente como a última e grande fronteira do país, que apresentava um ‘vazio’ demográfico, precisando manter suas riquezas minerometalúrgicas e florestais intactas, para atender às necessidades ecológicas do capital internacional e ao desejo de integração nacional.
- B) os dois atrativos citados trouxeram a solução para os problemas fundiários da região, uma vez que a Transamazônica, que começa em território nacional e se estende até as fronteiras com o Peru e a Bolívia, permitiu a instalação de famílias de agricultores em toda a sua extensão, dificultando a ação de grupos guerrilheiros ao longo da rodovia.
- C) o projeto da abertura da Transamazônica previa o assentamento de famílias de colonos em toda a sua extensão até 100 km, pois a terra estava sob a tutela dos governos estaduais, por meio do Projeto Calha Norte, que visava controlar as fronteiras nacionais e protegê-las da ação de grupos econômicos internacionais.
- D) a construção da Transamazônica era uma estratégia do governo Médici para dotar a Amazônia de uma rede de transportes que permitisse a integração espacial da região, criando uma infra-estrutura para a implantação dos projetos de colonização oficial. Além disso, temia-se a formação de focos revolucionários na região.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) a construção da Transamazônica era uma estratégia do governo Médici para dotar a Amazônia de uma rede de transportes que permitisse a integração espacial da região, criando uma infra-estrutura para a implantação dos projetos de colonização oficial. Além disso, temia-se a formação de focos revolucionários na região.
Gabarito: ALTERNATIVA D
Leia o trecho abaixo:
“Se houve um projeto a que o governo Médici se dedicou com a máxima satisfação, foi a Rodovia Transamazônica. Ele tinha dois poderosos atrativos para a liderança militar: segurança nacional e desenvolvimento econômico.”
DROSDOFF, Daniel. Linha dura no Brasil. In: CAMPOS, Flávio de. Oficina de história: história do Brasil. São Paulo: Moderna, 1999, p. 297.
Com base no que Drosdoff afirma sobre os governos militares, é correto afirmar que
- a) a Amazônia foi apresentada ideologicamente como a última e grande fronteira do país, que apresentava um ‘vazio’ demográfico, precisando manter suas riquezas minerometalúrgicas e florestais intactas, para atender às necessidades ecológicas do capital internacional e ao desejo de integração nacional.
A primeira parte da alternativa é bastante acertada e consegue condensar bem as ideias básicas sobre o tema. A região amazônica, como aponta o texto do enunciado, foi interpretada pelos governos militares à luz das questões de segurança nacional e das possibilidades de desenvolvimento. Pouco habitada e desconectada do restante do país, a Amazônia era vista tanto como uma região de enorme potencial de expansão econômica quanto um risco às fronteiras e ao combate aos opositores do regime. Integrar, colonizar e controlar efetivamente essa grande porção do território brasileiro foram algumas das grandes fixações do regime militar em diferentes fases - compondo um projeto integrado para toda a região a partir das questões de segurança nacional. No entanto, a compreensão econômica estava a pleno serviço do nacional-desenvolvimentismo característico do período. Explorar economicamente a Amazônia estava relacionado aos modelos tradicionais de desenvolvimento, nos quais praticamente inexistia qualquer preocupação ecológica ou de sustentabilidade. Além disso, havia uma grande preocupação de afastar o capital estrangeiro da região por considerá-la estratégia do ponto de vista de defesa. Alternativa errada.
- b) os dois atrativos citados trouxeram a solução para os problemas fundiários da região, uma vez que a Transamazônica, que começa em território nacional e se estende até as fronteiras com o Peru e a Bolívia, permitiu a instalação de famílias de agricultores em toda a sua extensão, dificultando a ação de grupos guerrilheiros ao longo da rodovia.
Mais conhecida como Transamazônica, a BR-230 liga os extremos oeste e leste do território brasileiro, estendendo-se por mais de quatro mil quilômetros entre a Paraíba e o Amazonas. Seu projeto original, no entanto, nunca foi cumprido integralmente, já que visava a integração com as rodovias do Peru e da Colômbia no município de Benjamim Constant; porém, a construção foi interrompida em Lábrea, no sul do estado do Amazonas. Sua construção foi cercada por gravíssimas dificuldades operacionais e nunca foi completamente pavimentada. Além disso, a colonização das suas margens se deu com a expulsão de famílias de agricultores e a instalação de latifúndios em nome da estabilidade e do maior controle sobre o território - o que, de fato, dificultou a ação de grupos guerrilheiros na região. Alternativa errada.
- c) o projeto da abertura da Transamazônica previa o assentamento de famílias de colonos em toda a sua extensão até 100 km, pois a terra estava sob a tutela dos governos estaduais, por meio do Projeto Calha Norte, que visava controlar as fronteiras nacionais e protegê-las da ação de grupos econômicos internacionais.
A alternativa inverte a ordem dos acontecimentos que cercaram a Transamazônica. A lógica de estabilização de fronteiras e de integração e controle territoriais impôs uma linha de raciocínio diferente: grandes unidades fundiárias são necessárias para se ampliar o controle e a ocupação do território, dificultando a ação de grupos econômicos internacionais. Ou seja, as pequenas unidades agrícolas tradicionalmente instaladas na região foram entendidas como um empecilho às questões de defesa nacional e de controle das fronteiras. Uma vasta faixa de território às margens da Transamazônica foi desapropriada e destinada à colonização, formando latifúndios importantes e agravando as tensões fundiárias em toda a região. As famílias de colonos tradicionais foram desalojadas violentamente e passaram a viver graves lutas pela terra com grandes proprietários numa região em que o poder público tem capacidades muito limitadas de ação. Por sua vez, o Projeto Calha Norte foi criado já na redemocratização visando o desenvolvimento e a defesa da Bacia do Rio Amazonas. Alternativa errada.
- d) a construção da Transamazônica era uma estratégia do governo Médici para dotar a Amazônia de uma rede de transportes que permitisse a integração espacial da região, criando uma infra-estrutura para a implantação dos projetos de colonização oficial. Além disso, temia-se a formação de focos revolucionários na região.
Como comentado acima, a Amazônia foi lida como um problema de segurança nacional e como um potencial de desenvolvimento econômico. Na visão dos militares brasileiros, era necessário estender sobre a região toda uma rede de infra-estrutura para dar suporte e para impulsionar a colonização efetiva da região, chave para a defesa e para o desenvolvimento. A Transamazônica teria uma função crucial nesse esforço, promovendo a integração por terra do território ao mesmo tempo em que lideraria uma série de projetos mais complexos de investimentos, que seriam facilitados pela integração espacial da região. Além disso, havia uma flagrante obsessão dos militares pelo discurso da segurança doméstica; isto é, na repressão contra as oposições e contra os movimentos de resistência armada ao regime. Isto é, ampliar o controle sobre o território era uma medida estratégica para ampliar as capacidades de repressão contra grupos guerrilheiros que se interiorizavam. ALTERNATIVA CORRETA.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA D.
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