Questões Sobre Tempo, Memória e Cultura - História - concurso

Desde que a História consolidou-se como uma área do conhecimento específica, no século XIX, a concepção de tempo se alterou inúmeras vezes. Hoje, os historiadores compreendem o tempo histórico como uma construção social, organizada e sistematizada pelas diferentes sociedades e responsável por ordenar aspectos como os ritmos de trabalho e lazer.

A alternativa correta é a D), pois reflete a visão contemporânea da História, que entende o tempo não como uma medida fixa ou natural, mas como uma categoria moldada pelas experiências e necessidades humanas. Diferentes culturas e períodos históricos organizam o tempo de maneiras distintas, influenciando desde a divisão do trabalho até as celebrações e rituais sociais.

As outras alternativas apresentam visões limitadas ou equivocadas sobre o tempo histórico. A alternativa A) reduz o tempo a uma medida física, ignorando sua dimensão cultural. A B) afasta os historiadores justamente das categorias essenciais para a análise histórica, como ruptura e continuidade. Já a C) restringe o tempo à experiência individual, sem considerar sua natureza coletiva e social.

Portanto, a compreensão do tempo como uma construção social permite aos historiadores analisar como as sociedades interpretam e organizam sua existência, revelando as dinâmicas que definem cada período histórico.

A história-problema, conforme proposta pela Escola dos Annales, representa uma ruptura com as tradicionais abordagens historiográficas que priorizavam narrativas políticas e eventos isolados. Marc Bloch e Lucien Febvre, seus fundadores, defendiam uma história engajada com as questões do presente, estabelecendo diálogos entre passado e atualidade para compreender as complexidades sociais.

A alternativa correta, A), sintetiza essa perspectiva ao destacar a busca pela compreensão das relações entre presente e passado. Essa abordagem não se limita à reconstituição cronológica de fatos (como sugerido em B)), nem busca verdades absolutas ou neutralidade (contrapondo-se a C) e D)). Em vez disso, propõe uma análise crítica que confere sentido ao conhecimento histórico através de problemas contemporâneos, articulando diferentes temporalidades para revelar contradições e transformações sociais.

Assim, a história-problema rejeita tanto o positivismo quanto a suposta imparcialidade, privilegiando a interrogação do passado a partir de demandas do tempo presente – método que revolucionou a historiografia ao incorporar dimensões econômicas, culturais e coletivas na interpretação histórica.

O trecho apresentado de Giovanni Levi, extraído de A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII, exemplifica claramente a abordagem historiográfica conhecida como Micro-história. Essa corrente, que ganhou força na segunda metade do século XX, busca analisar eventos e indivíduos aparentemente insignificantes ou cotidianos para revelar estruturas sociais, políticas e culturais mais amplas. Levi, ao focar na pequena aldeia de Santena e na figura do padre exorcista Giovan Batista Chiesa, demonstra como as ações locais estão entrelaçadas com dinâmicas maiores, como políticas e econômicas, que transcendem o controle direto dos indivíduos envolvidos.

A Micro-história se distingue de outras abordagens, como o Historicismo (A), que prioriza narrativas de grandes eventos e figuras, ou o Materialismo Histórico (D), que enfatiza as lutas de classes e estruturas econômicas. Também difere da História dos Annales (B), que, apesar de valorizar contextos sociais e mentais, muitas vezes trabalha em escalas mais amplas. A Nova História Cultural (C), por sua vez, embora compartilhe o interesse pelo simbólico e pelo cotidiano, não necessariamente se concentra na minúcia investigativa característica da Micro-história.

Portanto, a resposta correta é E) Micro-história, pois o texto de Levi encapsula a essência dessa abordagem: revelar o extraordinário no ordinário, desvendando as complexidades da vida política, social e econômica a partir de fragmentos aparentemente simples da realidade histórica.

Assinale a opção que caracteriza corretamente o papel das fontes na construção do conhecimento histórico.

• A) Fontes históricas são apenas os vestígios voluntários do passado.
• B) O historiador considera fontes críveis apenas os documentos oficiais.
• C) A crítica das fontes garante a verdade do relato histórico.
• D) As fontes históricas informam sobre como uma sociedade via a si mesma.
• E) O uso de fontes literárias torna o conhecimento histórico menos objetivo.

O gabarito correto é D).

As ruínas do povoado de Canudos, localizadas no sertão norte da Bahia, representam um marco histórico e cultural não apenas para a região, mas para todo o Brasil. Elas são fundamentais para compreender a Guerra de Canudos (1896-1897), um dos conflitos mais emblemáticos da história brasileira, e também revelam aspectos do cotidiano e da resistência dos sertanejos liderados por Antônio Conselheiro.

O reconhecimento dessas ruínas como patrimônio cultural material pelo Iphan se deve ao fato de elas abrigarem um conjunto significativo de objetos arqueológicos e paisagísticos. Esses elementos tangíveis permitem reconstituir a organização espacial do arraial, as técnicas construtivas da época e até mesmo os vestígios da vida comunitária dos revoltosos. Além disso, a paisagem ao redor das ruínas também carrega memórias do conflito, reforçando seu valor histórico e simbólico.

Embora outras alternativas mencionem aspectos relevantes da cultura – como acervos museológicos, núcleos urbanos ou expressões sociais –, a justificativa para o tombamento pelo Iphan está diretamente ligada à materialidade das ruínas e aos artefatos arqueológicos encontrados no local. Esses vestígios físicos são essenciais para pesquisas que buscam desvendar tanto a guerra quanto o modo de vida daquela sociedade extinta, confirmando a opção A como a correta.

Segundo João Eurípedes Franklin Leal, a Paleografia é o estudo técnico de textos antigos, na sua forma exterior, que compreende o conhecimento dos materiais e instrumentos para escrever a história da escrita e a evolução das letras, objetivando sua leitura e transcrição. Ao transcrever um documento manuscrito, qual dos procedimentos abaixo NÃO deve ser seguido?

• A) Transcrever de forma separada as palavras unidas indevidamente no texto original.
• B) Onde existirem enganos, omissões, repetições e truncamentos que comprometem a compreensão do texto, usar a palavra latina [sic], entre colchetes e grifada.
• C) Atualizar a ortografia para permitir a melhor compreensão do conteúdo, sendo realizadas correções gramaticais quando necessárias.
• D) Imprimir entre colchetes as palavras que se apresentam total ou parcialmente ilegíveis, mas cujo sentido textual permita a sua reconstituição.
• E) Manter as notas marginais em seus lugares ou em sequência ao texto principal com a indicação de localização no documento original.

O gabarito correto é C).

Analise o excerto a seguir:

“Há múltiplas histórias a serem contadas já que os grupos sociais, étnicos, sexuais, generacionais, de baixo ou de cima, se constituem de maneiras diversas, mas têm diferentes modos de narrá-las. A História pode mostrar formas diferentes de pensar, de organizar a vida, de problematizar, vivenciadas por outras sociedades, em outros momentos históricos”.

RAGO, M.L. “Estudo reavalia rumo da escola dos Annales”. In: O Estado de São Paulo, São Paulo, 11-06-2000, D2.

Segundo a autora, a História é:

• A) metódica e cíclica, com início, meio e fim.
• B) unilateral, indica o futuro em relação ao passado.
• C) única e voltada para a descrição do que propriamente aconteceu.
• D) rica e plural com valorização dos sujeitos.

O gabarito correto é D.

A interdisciplinaridade e o conceito de longa duração na história são fundamentais para uma compreensão mais ampla e precisa dos processos históricos. O trabalho do historiador não se limita apenas à análise de documentos ou à narrativa de eventos passados, mas também exige a integração de conhecimentos de diversas áreas do saber.

A afirmação de que "a aptidão experimental do trabalho histórico exige, muitas vezes, conhecimento de técnicas e ciências correlatas e outras disciplinas que possam colaborar para a elucidação das explicações na história" está correta. A história, como disciplina, dialoga constantemente com outras ciências, como a antropologia, a sociologia, a arqueologia, a economia e até mesmo as ciências naturais, dependendo do objeto de estudo.

Essa abordagem interdisciplinar permite ao historiador reconstruir contextos mais complexos, interpretar fontes de maneira mais crítica e oferecer explicações mais robustas sobre os fenômenos históricos. Por exemplo, o estudo de uma sociedade antiga pode exigir conhecimentos de arqueologia para analisar artefatos, de antropologia para compreender suas estruturas sociais e de climatologia para entender como mudanças ambientais influenciaram seu desenvolvimento.

Portanto, o item está CERTO, pois a interdisciplinaridade é uma característica essencial do trabalho histórico, enriquecendo suas análises e interpretações.

Constituem o patrimônio cultural brasileiro:

1. obras, objetos, documentos e edificações destinados a manifestações artísticas e culturais.
2. criações artísticas, científicas e tecnológicas.
3. modos de criar, fazer e viver.
4. sítios de valor paisagístico.
5. formas de expressão.

A quantidade de itens certos é igual a:

• A) 1.
• B) 2.
• C) 3.
• D) 4.
• E) 5.

O gabarito correto é E) 5.