Questões Sobre Tempo, Memória e Cultura - História - concurso

Paulo Freire, em sua obra Educação como Prática da Liberdade, aborda a contradição presente no homem moderno: uma aparente postura otimista e proativa que mascara um profundo sentimento de impotência diante dos desafios contemporâneos. O autor destaca que essa paralisia frente às crises exige uma postura crítica constante, única forma de o indivíduo transcender a mera adaptação passiva e engajar-se ativamente na transformação de sua realidade.

A questão proposta apresenta alternativas para superar essa condição, sendo o desenvolvimento do pensamento autônomo (alternativa A) o caminho apontado por Freire como correto. Essa escolha se fundamenta na essência da pedagogia freireana, que valoriza a consciência crítica como instrumento de libertação. Ao contrário de soluções pragmáticas como qualificação profissional (B) ou aumento de renda (E), ou mesmo abordagens individualistas como realização de desejos pessoais (D), Freire propõe uma mudança epistemológica. O resgate de valores tradicionais (C) também não se alinha com seu pensamento, pois o autor defende uma leitura dinâmica e contextualizada da realidade, não uma volta ao passado.

Portanto, a alternativa A representa o cerne da proposta freireana: somente através do exercício da autonomia intelectual, da capacidade de questionar e reinterpretar o mundo, o ser humano poderá superar sua impotência e efetivamente intervir na construção de um futuro diferente. Essa perspectiva transformadora da educação como prática libertadora constitui a principal contribuição do pensamento de Paulo Freire para a pedagogia contemporânea.

O texto apresentado discute como o domínio da luz artificial transformou a relação humana com o tempo e o trabalho, rompendo com os ciclos naturais de dia e noite. Essa mudança permitiu que a noite, antes associada ao repouso, se tornasse um período potencialmente produtivo, alterando significativamente as dinâmicas laborais.

A principal consequência dessa transformação, conforme apontado no texto, foi a ampliação do período disponível para a jornada de trabalho (alternativa E). A iluminação artificial eliminou a barreira temporal imposta pela escuridão, permitindo que as atividades produtivas se estendessem além dos limites do dia natural. Isso representou uma mudança fundamental na organização do trabalho, possibilitando turnos noturnos e maior flexibilidade nos horários de produção.

As demais alternativas não se sustentam como consequências diretas da transformação descrita:

• A) O texto não menciona impactos na qualidade da produção
• B) Não há referência a migrações rurais
• C) O controle sobre os horários pelo trabalhador não é abordado
• D) Nada sugere redução no esforço com máquinas

Portanto, a alternativa correta é de fato a E), pois reflete adequadamente a principal consequência da invasão da luz artificial na noite: a expansão do tempo disponível para o trabalho produtivo, característica fundamental da modernização dos processos laborais.

O gerenciamento de arquivos históricos, especialmente os denominados "autos findos", é uma tarefa complexa que envolve não apenas a preservação física dos documentos, mas também a garantia de seu acesso público e valorização como patrimônio cultural. Dentre as alternativas apresentadas para a gestão desses acervos, a opção E) destoa claramente do interesse público, sendo considerada a resposta correta neste contexto.

A doação de acervos da Justiça do Trabalho a particulares, mesmo que sob condições específicas, representa uma ruptura com os princípios de transparência e democratização do acesso à informação histórica. Essa medida pode resultar na privatização de um patrimônio que, por sua natureza, deve ser mantido sob a guarda de instituições públicas ou com reconhecida finalidade social.

As demais alternativas apresentam propostas alinhadas com as boas práticas de gestão documental:

• A) A parceria com universidades e realização de exposições promove a valorização social do acervo
• B) A captação de recursos junto a agências de fomento assegura a preservação adequada
• C) O emprego de tecnologias como a microfilmagem resolve problemas de espaço e conservação
• D) A realização de inventários detalhados otimiza a gestão dos documentos

A opção E) se mostra problemática porque transfere para indivíduos particulares a responsabilidade por um patrimônio coletivo, criando riscos de perda, dispersão ou até mesmo comercialização indevida desses documentos. A guarda de acervos públicos deve sempre priorizar instituições com compromisso comprovado com a preservação e acesso democrático, nunca a posse privada, mesmo que por pessoas bem-intencionadas.

Para que um artefato, manifestação popular ou bem cultural seja reconhecido como Patrimônio Cultural no Brasil, é necessário que sua preservação represente um interesse público, conforme estabelecido na Constituição Federal e na legislação específica sobre o tema. O critério fundamental, como indica a alternativa correta (D), é que esse patrimônio seja portador de referências à identidade, à ação ou à memória dos diversos grupos que formam a sociedade brasileira.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não atua de forma isolada, mas em diálogo com as comunidades, garantindo que a preservação reflita os valores culturais compartilhados. Além disso, o tombamento ou registro de um bem cultural não exige necessariamente excepcionalidade artística ou originalidade absoluta, mas sim sua relevância como símbolo de uma tradição ou expressão coletiva.

Embora a participação de especialistas e o reconhecimento ao longo do tempo sejam fatores importantes, o que define um patrimônio cultural é seu vínculo afetivo e simbólico com a sociedade, e não apenas avaliações técnicas ou aprovações externas. Portanto, a alternativa D é a que melhor sintetiza os princípios que regem a proteção do patrimônio cultural no Brasil.

Considere os dois trechos abaixo.

I. (...) na ausência de depoimentos escritos, a expressão de camadas das classes trabalhadoras dos tempos atuais pode ser reconhecida por fotografias cotidianas.

II. A imagem é capaz de atingir todas as camadas sociais ao ultrapassar as diversas fronteiras sociais pelo alcance do sentido humano da visão.

(KNAUSS, Paulo. “O desafio de fazer história com imagens: arte e cultura visual". ArtCultura, Uberlândia, v. 8, n. 12, jan-jun 2006, p. 99)

As proposições I e II destacam, respectivamente,

• A) a importância da fotografia como registro histórico do cotidiano dos trabalhadores, e o poder de comunicação das imagens, acessíveis aos mais diversos públicos.

O gabarito correto é A).

Dentre os princípios metodológicos que norteiam a pesquisa com fontes da história oral, destaca-se a importância de se elaborar um roteiro prévio da entrevista e divulgar, de forma transparente ao entrevistado, os propósitos daquela gravação. Esse princípio, representado pela alternativa B), é fundamental para garantir a ética, a confiabilidade e a qualidade do registro histórico.

A história oral, como metodologia de pesquisa, baseia-se no diálogo e na construção colaborativa do conhecimento. A elaboração de um roteiro prévio permite ao entrevistador organizar os tópicos essenciais a serem abordados, sem, no entanto, engessar a narrativa do entrevistado. Além disso, a transparência sobre os objetivos da entrevista é crucial para estabelecer uma relação de confiança entre as partes, garantindo que o depoimento seja dado de forma consciente e voluntária.

As demais alternativas apresentam equívocos em relação aos princípios da história oral. A alternativa A) desconsidera a autenticidade da fala do entrevistado, que pode conter hesitações e particularidades próprias da oralidade. A alternativa C) impõe uma obrigatoriedade inadequada, já que os direitos autorais e o uso da imagem devem ser discutidos de forma ética, mas não necessariamente cedidos de forma absoluta. A alternativa D) ignora a flexibilidade necessária no processo, pois desvios do roteiro podem revelar informações valiosas. Por fim, a alternativa E) sugere uma filtragem indevida do conteúdo, enquanto a história oral valoriza a subjetividade e as múltiplas perspectivas, mesmo que pareçam fantasiosas.

Portanto, a alternativa B) é a que melhor representa um princípio metodológico essencial da história oral, alinhando-se com os valores de transparência, respeito e colaboração que fundamentam essa abordagem de pesquisa.

A Nova História, influenciada pela Escola dos Anais, representa uma transformação significativa na escrita e no ensino da História contemporânea. Ao contrário da historiografia tradicional, que priorizava eventos políticos e datas marcantes, a Nova História ampliou seu escopo para incluir aspectos sociais, econômicos, culturais e mentais, analisando processos históricos em diferentes temporalidades.

O item em questão afirma que a Nova História situa cronologicamente o fato na perspectiva da longa duração, conceito desenvolvido por Fernand Braudel. No entanto, essa afirmação é equivocada, pois a Nova História não se limita apenas à longa duração. Ela trabalha com múltiplas temporalidades, incluindo também a média duração (conjunturas) e a curta duração (eventos), conforme proposto pela Escola dos Anais.

Portanto, o gabarito correto é E) ERRADO, já que a Nova História não se restringe exclusivamente à longa duração, mas integra diversas escalas de tempo em sua abordagem metodológica.

Considerando as transformações no campo da historiografia contemporânea, especialmente a partir da influência da Escola dos Anais, é correto afirmar que a História, em sua concepção atual, é compreendida como a ciência que estuda o homem no tempo. Essa perspectiva reflete uma abordagem mais ampla e interdisciplinar, distanciando-se de visões tradicionais que priorizavam apenas eventos políticos e narrativas de grandes figuras.

A Escola dos Anais, surgida no século XX, revolucionou a escrita da História ao incorporar métodos das ciências sociais, enfatizando estruturas econômicas, práticas culturais e processos de longa duração. Essa mudança permitiu que o estudo histórico passasse a considerar a complexidade das relações humanas em diferentes temporalidades, integrando aspectos sociais, econômicos e culturais.

No ensino atual da História, essa visão se consolida ao incentivar análises críticas que vão além da memorização de datas e fatos. A disciplina busca desenvolver nos estudantes a capacidade de interpretar contextos, compreender múltiplas perspectivas e reconhecer a dinâmica das sociedades ao longo do tempo. Portanto, a afirmação de que a História é a ciência que estuda o homem no tempo está correta, pois sintetiza essa evolução teórica e metodológica.

Resposta: C) CERTO.

A afirmação de que a Nova História elimina a cronologia de suas preocupações e repudia as datas como componente de seu campo de trabalho é incorreta, conforme indicado pelo gabarito (E) ERRADO.

A Escola dos Anais, marco fundamental na renovação da historiografia no século XX, não descartou a cronologia ou as datas, mas sim ampliou o olhar sobre o passado, incorporando novas abordagens e metodologias. A Nova História, influenciada por essa corrente, buscou superar o excessivo foco em eventos políticos e datas isoladas, característicos da história tradicional, sem, no entanto, abandonar a dimensão temporal.

Pelo contrário, a Nova História valoriza a compreensão dos processos históricos em suas múltiplas temporalidades, integrando aspectos sociais, culturais, econômicos e mentais. As datas continuam sendo um instrumento importante para contextualizar e periodizar os fenômenos estudados, ainda que não sejam mais o eixo exclusivo da narrativa histórica.

Portanto, a cronologia não foi eliminada, mas ressignificada dentro de uma perspectiva mais ampla e interdisciplinar, que busca captar as complexidades e durações diversas dos fenômenos históricos.

Considerando a evolução da escrita da História na contemporaneidade, especialmente após o surgimento da Escola dos Anais, também conhecida como Escola Francesa, é importante analisar a afirmação de que a narrativa foi abolida da moderna concepção de História por se confundir com literatura.

A Escola dos Anais, fundada no início do século XX por historiadores como Marc Bloch e Lucien Febvre, revolucionou a historiografia ao incorporar novas abordagens e métodos. Um dos principais legados dessa escola foi justamente a valorização da narrativa como ferramenta essencial para a compreensão dos fenômenos históricos. Ao contrário de abolir a narrativa, os Annales ampliaram seu uso, integrando-a com análises sociais, econômicas e culturais.

A moderna concepção de História não rejeita a narrativa, mas a utiliza de maneira crítica e contextualizada, distanciando-se de uma visão puramente factual ou literária. A narrativa histórica contemporânea busca articular fatos com interpretações, sem perder o rigor metodológico. Portanto, a afirmação apresentada está incorreta.

O gabarito correto é E) ERRADO, pois a narrativa não foi abolida, mas sim ressignificada dentro da historiografia moderna.