Destes penhascos fez a natureza Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci: oh! quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza. Amor, que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara, Que não me foi bastante a fortaleza. Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano: Vós, que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas*, temei, que Amor tirano, Onde há mais resistência, mais se apura. COSTA, Cláudio Manuel da. In: PROENÇA FILHO, Domício (Org.). A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 95. *Penhas: designação de um cenário rochoso, montanhas.Em relação aos elementos evidenciados nesse soneto, assinale a alternativa incorreta.
Destes penhascos fez a natureza
Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza.
Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:
Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas*, temei, que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.
COSTA, Cláudio Manuel da. In: PROENÇA FILHO, Domício (Org.).
A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 95.
*Penhas: designação de um cenário rochoso, montanhas.
- A)O Amor é personificado como um forte guerreiro que vence tigres e que tem como alvo render o eu lírico, declarando-lhe guerra ao coração.
- B)O eu lírico dirige-se às pedras como interlocutor e diz-lhes para temerem a ferocidade do Amor, que mais se empenha onde há mais resistência.
- C)O cenário é relevante no desenvolvimento do soneto, pois, no poema, há oposição entre ele e o eu lírico de alma terna e um peito sem dureza.
- D)O eu lírico refere-se ao sentimento amoroso como um “cego engano” do qual conseguiu fugir, apesar de o Amor não lhe ter causado sofrimento.
Resposta:
A alternativa correta é D)
O soneto de Cláudio Manuel da Costa, poeta árcade e inconfidente, apresenta uma série de contrastes e personificações que constroem uma reflexão sobre a natureza do amor e sua relação com a resistência humana. A análise das alternativas revela que a opção D) é incorreta, pois o eu lírico não afirma ter conseguido fugir do "cego engano" do amor, muito menos que este não lhe causou sofrimento. Pelo contrário, o poema expressa justamente a incapacidade de escapar desse sentimento, mesmo diante do reconhecimento de seus perigos.
O poema se inicia com uma oposição marcante entre a dureza do cenário rochoso ("penhascos") e a suavidade do eu lírico, que possui "alma terna" e "peito sem dureza". Essa dicotomia entre o ambiente e o ser humano já sugere um conflito interno, amplificado pela personificação do Amor como um guerreiro implacável. O Amor, capaz de "vencer tigres", declara guerra ao coração do eu lírico, demonstrando sua força avassaladora.
A alternativa D) se mostra equivocada ao afirmar que o eu lírico "conseguiu fugir ao cego engano". Os versos claramente dizem: "Nunca pude fugir ao cego engano", indicando justamente a impossibilidade de escapar do amor, mesmo quando se está ciente dos riscos que ele representa. Além disso, a ideia de que o Amor não causou sofrimento é contraditória com o tom do poema, que retrata o sentimento como uma força tirânica e opressora.
As demais alternativas estão corretas: o Amor é de fato personificado como um guerreiro (A)); o eu lírico se dirige às pedras, alertando-as sobre o poder do Amor (B)); e o cenário rochoso contrasta com a fragilidade do eu lírico (C)). A incorreção da alternativa D) reside, portanto, na interpretação equivocada do verso e na negação do sofrimento causado pelo Amor, elementos centrais na construção do poema.
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